Para ministério, satélite brasileiro pode ser vulnerável
Guilherme Serodio
O coronel Edwin Pinheiro da Costa, chefe da seção de Telemática do Ministério da Defesa e responsável pelo Sistema de Comunicações Militares (Siscomis), reconheceu ontem a preocupação do governo com espionagem em relação ao projeto do satélite geoestacionário brasileiro, uma vez que os equipamentos em solo envolvidos na operação do sistema ainda serão importados. O risco é que peças como roteadores importados possam ter uma porta de saída – “backdoor”, na linguagem técnica – que permita a captura de informações sigilosas por terceiros. O governo pretende assinar os contratos para a fabricação e lançamento do satélite até o fim do mês.
“Nos preocupa porque não temos a indústria nacional ainda em condições de dar suporte com equipamentos”, afirmou o coronel Costa. Para a operação do satélite, cujo lançamento é previsto para 2016, equipamentos como roteadores continuarão a ser importados. As principais companhias no mercado global de roteadores são a americana Cisco e a chinesa Huawei. “Quando houver um mercado nacional forte podemos partir para isso [integração local]. Uma empresa nacional que faça uma integração [a fabricação desses equipamentos] para nós é o ideal, melhor do que importar esse material”, disse Costa ontem, durante o Congresso Latino-Americano de Satélites, que prossegue até hoje no Rio.
O custo do projeto do satélite está estimado em cerca de R$ 1,1 bilhão, entre fabricação, lançamento e seguros. Segundo o coronel, a fabricação demandará dois contratos, um da Telebras , por meio da Visiona – joint venture que criou com a Embraer para o projeto – e outro da Visiona com as fornecedoras. “Nossa previsão é [assinar] no final de setembro”.
Assinatura de contratos para fabricação e lançamento do equipamento está prevista para este mês
O satélite será fabricado pela franco-italiana Thales, com garantia de transferência de tecnologia, e lançado pelo consórcio europeu Arianespace. O objetivo do governo com o Sistema Geoestacionário Brasileiro é concentrar as comunicações governamentais e de defesa em uma rede nacional. Um segundo satélite está previsto para lançamento em 2022 e um terceiro, para 2026. Os equipamentos serão operados pelas Forças Armadas e Telebras, por meio de duas estações em solo, cujas construções estão programadas para começar em 2014.
O presidente da Telebras, Caio Bonilha, afirmou que a operação será segura. “O satélite vai ser totalmente operado e controlado no Brasil. As comunicações governamentais, militares e civis terão total segurança. Nós temos plena confiança em [futuros] equipamentos nacionais”, disse, sem citar os equipamentos de solo. Segundo ele, a opção do governo por um satélite brasileiro se deve também à segurança. “Satélites estrangeiros, até por conta de leis, têm necessariamente papel de coleta de informações, e isso torna qualquer rede vulnerável”, afirmou.
De acordo com o coronel Costa, pelo lado do Ministério da Defesa não há risco à rede militar. “Temos criptografia, uma rede segregada sem acesso à internet e servidores próprios [dentro de instalações das Forças Armadas]”, disse. Para ele, a preocupação sobre espionagem é maior no que se refere à utilização da internet e telefonia.
O satélite vai cobrir 2,3 mil municípios com acesso à internet em alta velocidade, conforme previsto no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). O objetivo é universalizar o serviço no Brasil.
FONTE: Valor Econômico, via resenha do EB
FOTO: meramente ilustrativa