Dassault acena com montagem do Rafale na Malásia, se país escolher o caça
–
Diretor executivo da empresa diz que linha de montagem na Malásia é uma opção e lembra que a França tem forte apoio político no país, que já adquiriu navios e submarinos franceses
–
Nesta terça-feira, 26 de março, a AFP noticiou que a fabricante do caça Rafale afirmou que poderia montá-lo na Malásia, caso este país selecione a aeronave como seu novo jato de combate. A informação foi dada numa entrevista por telefone pelo diretor executivo da Dassault Aviation, Eric Trappier, que está participando do LIMA 2013 (Langkawi International Maritime and Aerospace Exhibition) na Malásia. Dois caças Rafale estão sendo exibidos no evento.
Trappier afirmou: “Estamos considerando uma linha de montagem na Malásia, esta é uma opção.” O país busca adquirir 18 caças para substituir seus MiG-29 de origem russa. Na disputa, além do Rafale da Dassault francesa estão o consórcio europeu Eurofighter, o norte-americano F-18 da Boeing e o Gripen da sueca Saab. A Malásia deseja que empresas locais estejam envolvidas na fabricação, e Trappier disse que a Dassault já investiu considerável esforço junto a fornecedores locais, para o caso do Rafale ser selecionado. Acordos com as empresas malaias CTRM (especialista em materiais compostos), Zetro Aerospace e Sapura (parceira de longa data da Thales na área eletrônica) já foram assinados, segundo o executivo, que visita o país pela terceira vez desde dezembro de 2011.
Porém, deve-se destacar que a fase RFP (pedido de propostas) da competição malaia, denominada MRCA (Multi-Role Combat Aircraft – avião de combate multitarefa) ainda não foi lançada pela Força Aérea Real da Malásia, que por hora conduz análises técnicas sobre os caças, baseada num pedido de informações (RFI) emitido em 2011. Ainda assim, a delegação francesa no LIMA 2013 é grande, com muitos integrantes da Direção Geral de Armamento (DGA), afinal trata-se de um evento que também envolve a área naval e a Malásia já adquiriu submarinos e corvetas da francesa DCNS. Nesse sentido, Trappier afirma que os franceses se beneficiam de “um forte apoio político” no país.
A França busca uma primeira venda internacional do Rafale, que vem lutando bastante para encontrar compradores, de modo a apioar um projeto que custou dezenas de bilhões de euros. A Índia selecionou o caça e a maioria dos 126 jatos que pretende adquirir deverão ser fabricados pelos indianos, caso o contrato final seja assinado neste ano, como se espera. A Malásia vem acompanhando de perto o desenrolar da negociação indiana.
FONTE: Globalpost e La Tribune, com informações da AFP(tradução e edição do Poder Aéreo a partir de originais em inglês e francês)
FOTOS: Dassault
NOTA DO EDITOR: o estabelecimento de linhas de montagem final de aeronaves militares normalmente é um componente muito valorizado em concorrências internacionais. Por exemplo, os concorrentes da disputa brasileira F-X2 acenam com o estabelecimento de uma linha de montagem no país, confiando que o programa eventualmente ultrapasse as 36 aeronaves iniciais. Para o programa LAS da USAF, que escolheu o Super Tucano da Embraer / Sierra Nevada, o estabelecimento de uma linha de montagem local também era um ponto fundamental.
Como exemplo de que nem tudo segue o figurino inicial está a Suíça. Originariamente, os suíços desejavam beneficiar sua indústria aeronáutica com uma linha de montagem para o caça a ser escolhido no programa TTE, de substituição parcial do F-5. Após o anúncio da seleção do Gripen e com a negociação sobre os custos finais, a Suíça decidiu economizar o que seria gasto para estabelecer uma linha de montagem local de apenas 22 jatos, e buscou focar em formas de participação industrial mais compensadoras.
Fica então uma pergunta para o debate dos leitores. Levando em conta que o programa MRCA da Malásia visa apenas 18 caças (lembrando que o país vem adquirindo Su-30 da Rússia e também possui jatos F-18 Hornet relativamente novos), comparado ao programa indiano MMRCA de 126 jatos que selecionou o Rafale, na sua opinião o que traria mais custo-benefício para a Malásia no caso de selecionar o caça francês: estabelecer uma linha de montagem no país para apenas 18 jatos ou, já que empresas locais possuem acordos com o consórcio Rafale visando produção local de componentes, eventualmente enviar as partes fabricadas localmente para montagem final na Índia (caso esta assine o contrato com a Dassault), que fica praticamente ali do lado?
VEJA TAMBÉM:
- Placar ‘pré-jogo’ do LIMA 2013 da Malásia: Typhoon 4, Rafale 2
- Malásia adia retirada de serviço dos MiG-29N
- Empresa da Malásia quer fabricar motor Snecma M88 do Rafale
- Razões para comprar o Rafale, por Merialdo
- Flanker com aviônica francesa
- Irkut Corporation finaliza entrega dos SU-30МКМ à Malásia
- Para jornal francês, Rafale com RBE2 AESA é motivo de temor para os EUA
- Diga-me sobre quem voas e te direi quem és
- Os programas ‘F-X’ na Ásia, no mundo e na revista Forças de Defesa 4
- Cadência de produção do Rafale na Índia será maior que na França
- MMRCA: Dassault quer clareza sobre o papel da HAL no Rafale indiano
- HAL, que deverá montar o Rafale na Índia, está com diversos projetos atrasados
Será que vai ter ToT irrestrita também??
[]’s
Nick, no mínimo tem que ter a transferência de tecnologia para montar o caça, se for estabelecida uma linha de montagem. Se isso é transferência “necessária” ou “irrestrita” eu não sei, mas o fato é que, tempos atrás, houve um memorando assinado referente ao motor M88 entre a Snecma e a empresa local GTA: http://www.aereo.jor.br/2012/04/17/empresa-da-malasia-quer-fabricar-motor-do-rafale/ Voltando à questão da linha de montagem que coloquei lá em cima, na matéria: imaginemos que a negociação na Índia seja concluída para montagem local de 108 dos 126 caças do MMRCA, e vamos supor que o Rafale também ganhe no Brasil e na Malásia,… Read more »
Conversa fiada…
Não quero voltar para a política do Café por aviões, ou navios, mas daqui a pouco é quase isso que alguns vão propor.
Bacana Nunao, mas nao creio mais em Rafale no Brasil (embora o ache lindo visualmente )mas, montar Gripens aqui sera tao gratificante quanto montar SH por ser um caça leve e creio eu ter menos restriçoes na escolha de clientes na AL. Mas o que vier, claro,é lucro!
Caro Nunão,
Acredito que investir em uma linha de montagem valeria a pena para pelo menos uns 8/10 anos. Por exemplo, montar uma linha para ficar aberta durante 3 anos? E depois? Se não houver encomendas adicionais já era.
No caso do FX-2: Pelo menos deve estar nos planos da FAB um segundo lote do caça vencedor do FX-2. Ou seja uma encomenda de 72/96 caças. Ae já dá conversa. Se ficar nos 36, já fica complicado….
[]’s
Blz, Eduardo, mas lembro a todos que a pergunta ao final da matéria está relacionada, inicialmente, a uma linha de montagem na Malásia.
Se estivessem no lugar de um decisor da Malásia que já tivesse selecionado o Rafale, qual das duas opções da nota do editor vocês prefeririam?
Montar 18 caças no próprio país ou mandar partes produzidas localmente para a possível / futura linha de montagem da Índia, lá do lado?
Off Topic: Governo do estado PE vai firmar parceria com a Boeing para transferência de tecnologia.
Fonte: Diário de Pernambuco.
Os únicos com bom senso são os suíços.
Eu estava justamente pensando nisto ao ler uma matéria sobre o corte simbólico da fita de inauguração das instalações da Embraer em Jacksonville na Flórida. Tudo é uma questão matemática que envolve muitos números oriundos de avaliações prévias sob aspectos reais e alguns futurísticos, digamos assim, mas não nos enganemos, não há almoço grátis. Mesmo que seja uma simples “fabrica” ou “linha de produção” para montagem CDK…. há sim um custo, um valor embutido na negociação. Eu, pela minha experiência, não vejo sentido econômico em se construir uma linha de produção pra tão poucas unidades sejam para o ST no… Read more »
Linha de montagem nacional não serve para nada, só para encarecer o preço.
A Dassault só está querendo subir o preço final, ou justificar porque que ele já é tão alto.
No mais eu me pergunto: será que os sindicatos franceses sabem disso? Será que eles foram informados que a linha de montagem do Rafale, que já está no mínimo necessário para não ter prejuízo, será dividia com a Malásia?
Duvido. E se eu fosse sindicalista do setor, ficaria bem fulo com a Dassault.
Vader, boa noite.
Interessante essa sua preocupação com os sindicatos franceses.
Você deve ter conceito semelhante com relação aos empregados suecos, não?
Por outro lado, não vejo muitos brasileiros preocupados com a montagem dos Super Tucanos nos Estados Unidos e com os empregos gerados lá.
Será que vender o avião não é mais importante do ter exclusividade na sua produção?
Afinal, sempre há o aumento de escala e uma boa quantidade de partes, armas e equipamentos que continuarão sendo produzidos na origem.
Abraço,
Justin
Hehehe Justin, os sindicatos franceses sabem se virar muito bem sem minha “preocupação”… 😉
Trappier só se esqueceu de mencionar as propinas pagas, pela aquisição dos submarinos Scórpene.
Bem mas isto é c/ a DCNS, não c/ a Dassault.
No mais não vejo os sindicatos franceses renunciarem a mais de ano e meio de trabalho, na exígua cadência atual de produção, assim tão facilmente.
É somente uma artimanha, p/ justificar o absurdo custo de Le Jaca, nada mais.
Esses ga-ga-ga-gauleses sao uns lo-lo-loucos! Hahahaha!!!!
Linha de montagem para 18 aeronaves? Visando exportar peças pra India, que ta comprando 126 quiçá 180 aeronaves pra produzir o maximo possivel em casa? Além da linha de montagem na Francia?
Querer seguir sozinho e desenvolver um caça do zero para atender uma demanda de 286 unidades ja era loucura. Abrir quatro linhas de montagem final e produção de peças em quatro países (FR, BR, IN e MY) para pouco mais de 300 unidades é PIADA!
Amigos, Há vários níveis de “linha de montagem”, o que não quer dizer obrigatoriamente que tenha que haver produção local. Praticamente todos aqueles países que queiram realizar revisão geral das aeronaves sem enviá-las ao exterior devem adquirir essa capacidade de montá-los e testá-los antes do voo. A “linha de montagem” nesse caso, seria a confirmação dessa condição. Pode até haver uma capacitação mais simples, equivalente à realização de uma inspeção média, que permite que os aviões sejam remontados depois de terem sido trasladados como carga. Não há grande ganho tecnológico em trazer linha de montagem. A Embraer faz isso desde… Read more »
“Praticamente todos aqueles países que queiram realizar revisão geral das aeronaves sem enviá-las ao exterior devem adquirir essa capacidade de montá-los e testá-los antes do voo.” De fato, Justin, mas há diferenças nesse postulado que vale a pena ressaltar. Não estou contestando sua afirmação, apenas complementando. No caso do F-5, por exemplo, essa capacidade de revisão geral foi instalada no Brasil mesmo sem termos montado esses caças sob licença, e diversas partes estruturais etc acabaram sendo produzidas por aqui para manter os caças. A Suíça faz essas mesmas revisões por lá, na RUAG, mas montou seus caças F-5 sob licença.… Read more »
Ter extensas capacidades de manutenção de uma aeronave, não significa ter capacidade de fabricá-la.
De fato, Maurício. E até mesmo ter a linha de montagem da aeronave no país não significa necessariamente ter total capacidade (leia-se com o máximo possível de independência) de fabricá-la. É o caso do Typhoon e suas quatro linhas de montagem. Apesar de montado em quatro países, cada um deles contribui com componentes específicos que um outro não fabrica. Tem país que só fabrica a asa esquerda, outro só a asa direita. Muitos, volta e meia, falam de “ressucitar” o AMX, porque tínhamos aqui uma linha de montagem e produzíamos componentes. Mas é sempre bom lembrar que muitas partes importantes… Read more »