Acidente em Washington reacende preocupações sobre falhas na segurança de voo

A colisão fatal entre um helicóptero do Exército dos EUA UH-60 Black Hawk e um jato de passageiros da American Airlines, ocorrida na quarta-feira à noite, levanta preocupações sobre falhas no sistema de segurança aérea.

Segundo registros de voo e um relatório preliminar da Administração Federal de Aviação (FAA), vários mecanismos de segurança podem ter falhado. O helicóptero saiu de sua rota autorizada, os pilotos do jato provavelmente não viram a aeronave próxima, e o controlador de tráfego aéreo estava sobrecarregado, desempenhando duas funções simultaneamente.

A FAA afirmou que ainda não pode comentar sobre a investigação em andamento, liderada pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB). Os investigadores revisarão dados de voo, gravações da cabine e informações meteorológicas, além de entrevistar envolvidos para entender as causas do acidente. No entanto, especialistas alertam há anos sobre brechas no sistema de segurança aérea, que poderiam levar a tragédias como essa, que deixou 67 mortos no rio Potomac.

Na noite do acidente, um único controlador de tráfego aéreo foi encarregado de coordenar tanto helicópteros quanto aviões no aeroporto Reagan National. Normalmente, essa fusão de funções ocorre após 9h30 da noite, quando o tráfego diminui. No entanto, o supervisor autorizou essa mudança antes do horário habitual, permitindo que outro controlador deixasse o serviço. O acidente aconteceu antes das 9h da noite, em um momento de grande movimento aéreo.

Segundo especialistas e ex-controladores de tráfego aéreo, a torre deveria ter dado instruções mais diretas para garantir a separação entre as aeronaves. Em vez disso, o controlador apenas pediu que o helicóptero evitasse o avião. A falta de visibilidade à noite pode ter dificultado para os pilotos avaliar corretamente a distância entre as aeronaves, possivelmente levando os pilotos do Black Hawk a confundir outra aeronave com o jato da American Airlines.

VÍDEO: A colisão entre o UH-60 e o jato CRJ700

O helicóptero deveria estar voando a menos de 200 pés (aproximadamente 60 metros) de altitude, seguindo a Rota 4, um corredor aéreo específico para helicópteros ao longo do rio Potomac. No entanto, relatos indicam que o Black Hawk estava a mais de 300 pés de altura e desviou pelo menos meia milha de sua rota original antes da colisão.

Um oficial sênior do Exército pediu cautela nas conclusões até que a caixa-preta do helicóptero seja recuperada e analisada. Ele ressaltou que os pilotos eram experientes e conheciam bem as restrições de altitude e os procedimentos da região. No entanto, a crescente congestão nos aeroportos dos EUA, aliada a falhas no gerenciamento do tráfego aéreo, tem gerado um número alarmante de incidentes nos últimos anos.

A falta de controladores de tráfego aéreo é um problema antigo nos Estados Unidos. Muitos profissionais trabalham seis dias por semana e turnos exaustivos de 10 horas, o que pode afetar sua capacidade de tomar decisões críticas. Uma investigação do New York Times em 2023 revelou que vários aeroportos, incluindo o Reagan National, operam com equipes abaixo do necessário. Em setembro de 2023, o aeroporto tinha apenas 19 controladores certificados, quando o ideal seria 30. Atualmente, há 25 controladores certificados, com a meta sendo 28.

Outro fator que pode ter contribuído para o acidente foi uma mudança de última hora na pista de pouso do jato da American Airlines. Originalmente, os pilotos foram autorizados a pousar na pista principal (Pista 1), mas o controle de tráfego redirecionou a aeronave para a Pista 33, uma pista mais curta e que exige maior concentração dos pilotos. Essa alteração pode ter aumentado a complexidade da aproximação e dificultado a percepção dos pilotos sobre a presença do helicóptero.

O diretor-executivo da American Airlines, Robert Isom, declarou em uma coletiva de imprensa que os pilotos do voo eram experientes, tendo anos de trabalho na PSA Airlines, subsidiária da American Airlines. O capitão estava na empresa há quase seis anos, enquanto o copiloto acumulava dois anos de experiência.

O acidente expôs fragilidades estruturais no controle do tráfego aéreo dos EUA, como sobrecarga de trabalho dos controladores, mudanças operacionais sem planejamento adequado e falhas na comunicação entre aeronaves. As investigações devem fornecer mais detalhes sobre as responsabilidades envolvidas e possíveis medidas para evitar novas tragédias nos céus americanos.

FONTE: The New York Times