Por Alexandre Galante*

Conheci os aviões militares suecos ainda na adolescência, através dos livros que ganhei. Logo me apaixonei pelo Saab J32 Lansen, Saab J35 Draken e Saab 37 Viggen.

Anos depois, quando estava servindo à Marinha do Brasil, acompanhei as notícias do primeiro voo do Saab JAS 39 Gripen pelas revistas, em 1988. O Gripen me fascinou desde o primeiro momento por ser mais leve que o Viggen, adotando a mesma configuração de asas em delta com canards, tecnologicamente mais avançado e verdadeiramente multifunção, substituindo várias versões do seu antecessor.

Naquela época, eu sonhava ver um dia o Gripen na Força Aérea Brasileira (FAB), mas sabia que seria um sonho muito difícil de realizar. Com o fim da Guerra Fria e a diminuição dos gastos de defesa, os planos de reequipamento foram adiados e o sonho ficou mais distante ainda.

Caças da Saab: 37 Viggen, J 35 Draken e JAS 39 Gripen

No início do ano 2000, já trabalhando no jornal O Globo, acompanhei entusiasmado a concorrência F-X para um novo caça da FAB, na qual o Gripen era um dos favoritos.

O F-X acabou cancelado em 2005 e mais uma vez meu sonho de ver o Gripen na FAB foi adiado. No final da primeira década de 2000, com a nova concorrência F-X2, o sonho renasceu. Em 2008, já fora do jornal, criei o site Poder Aéreo e passamos a cobrir a concorrência diligentemente.

JAS 39C Gripen e Mirage IIIEBR em Anápolis em 1998

Em 2010, para minha felicidade e surpresa, recebi um convite da Saab para visitar sua fábrica em Linköping na Suécia.

Tive a oportunidade de assistir à reinauguração do Museu da Força Aérea Sueca e jantar numa base subterrânea, onde ficava a fábrica da Saab na época da Guerra Fria. Praticamente um cenário de filme de James Bond, uma experiência inesquecível.

Para completar, ainda assistimos a um show aéreo na Base Aérea de Malmen, com as aeronaves clássicas suecas e exibições do Gripen NG Demo e Gripen C/D, dentre outras.

Na Suécia, em 2010, com o J 32 Lansen e J 29 Tunnan ao fundo

Na volta ao Brasil, tivemos que cobrir e aguardar mais quatro anos de notícias sobre a concorrência, até que finalmente o governo brasileiro decidiu pela proposta da Saab no final de 2013, escolhendo o Gripen NG como vencedor do Programa F-X2. Foi um dia de festa, devidamente comemorado pela equipe editorial do Poder Aéreo.

Nestes últimos 10 anos, continuamos acompanhando e divulgando com esmero e entusiasmo cada etapa do desenvolvimento do Gripen E/F, seu primeiro voo, o treinamento dos pilotos da FAB, a inauguração da fábrica da Saab em São Bernardo do Campo (SP), do GDDN (Gripen Design and Development Network) em Gavião Peixoto (SP), a chegada do primeiro F-39 Gripen ao Brasil, a inauguração da linha de montagem na Embraer, a chegada dos demais aviões e a entrada em operação na FAB.

Em agosto de 2022, visitei a Suécia pela segunda vez a convite da Saab, para atualização de informações em Estocolmo. A visita também incluiu o show aéreo na Ala F16 em Uppsala, onde voamos o simulador do Gripen e fizemos um walkaround no novo caça.

Em maio de 2024, participei novamente de mais uma Press Trip da Saab, desta vez retornando a Linköping, depois de 14 anos, para visitar a linha de montagem do Gripen, onde estavam os primeiros Gripen F, modelo biposto da FAB. Foi emocionante ver a nova versão tomando forma.

No dia 21 daquele mês, fomos até a Ala F7 da Força Aérea Sueca em Såtenäs, para acompanhar um exercício de dispersão em rodovia.

“Vimos os caças Gripen operando bem de perto, quase ao alcance da mão.”

Na operação, vimos os caças Gripen operando bem de perto, quase ao alcance da mão, relembrando os dias da Guerra Fria, quando a Força Aérea Sueca adotou o sistema BAS de dispersão, no qual as unidades eram desdobradas pelas rodovias usadas como pistas de pouso e decolagem e ocultando os sistemas de comando e controle e depósitos de combustível e armamento nas florestas.

Foi uma experiência incrível assistir o Gripen pousar e decolar em rodovia, e poder registrar o evento em imagens.

O Gripen faz jus à criatura mitológica que lhe deu nome: domina tanto a terra quanto o ar, deixando uma impressão de agilidade e poder.


*Alexandre Galante é jornalista especializado em assuntos militares, editor-chefe da trilogia brasileira de sites Poder Naval (naval.com.br), Poder Aéreo (aereo.jor.br) e Forças Terrestres (forte.jor.br). Serviu anteriormente na Marinha do Brasil no final da Guerra Fria, incluindo a bordo da fragata Niterói (F40). Após deixar o serviço naval, escreveu para várias revistas de defesa, também trabalhando para o jornal O Globo por 12 anos. De 2011 a 2015, editou e publicou a revista impressa Forças de Defesa.

FONTE: Revista Saab em Foco 2 – 2024

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