Conheça como funciona a linha de montagem do caça Saab Gripen nas instalações da Embraer em Gavião Peixoto (SP) – as atividades cresceram desde a inauguração no ano passado, junto com os desafios para cumprir cronogramas atuais e futuros de entregas

Por Fernando “Nunão” De Martini*

Nesta última quarta-feira, 5 de junho de 2024, o Poder Aéreo visitou pela segunda vez a linha de montagem brasileira do caça Saab Gripen, instalada num grande hangar do complexo industrial da Embraer em Gavião Peixoto (SP) e conferiu como a linha se desenvolveu desde a última visita, há pouco mais de um ano. Naquela ocasião, em 9 de maio de 2023, quem visitou as instalações foi o editor Guilherme Poggio, quando conferiu a cerimônia de inauguração e o início das atividades.

Poggio apurou muitos detalhes sobre o funcionamento das estações de trabalho da linha de montagem brasileira (incluindo comparações com as instalações da Saab na cidade sueca de Linköping), e discorreu sobre como as atividades poderiam ser ampliadas. Clique nos links a seguir para conferir a parte 1, parte 2 e parte 3 da matéria sobre a inauguração. Mas volte logo pra cá após a leitura da reportagem do ano passado, pois temos ainda mais conteúdos para apresentar agora.

Um cronograma apertado

Foi com esse histórico na cabeça, sobre a situação da linha ä época de sua inauguração, que viajei para Gavião Peixoto a convite da Saab. Meu principal objetivo foi conferir o quanto a linha progrediu desde então e questionar como ela atenderá ao exigente cronograma da FAB para os últimos anos de entregas, 2026 e 2027. São dois anos em que mais da metade (21) dos 36 caças Gripen encomendados deverão ser entregues, e a maior parte deles corresponderá aos 15 Gripen E alocados à linha de montagem brasileira. É possível compreender essa demanda a partir da análise do cronograma abaixo, apresentado pela FAB em 2023, representando mudanças feitas por aditivos ao contrato. Essas alterações resultaram numa concentração de boa parte das entregas nos anos finais:

Por esse cronograma, até o final deste ano de 2024 todas as entregas de caças Gripen para a FAB serão exclusivamente do tipo monoposto (Gripen E), que vêm sendo produzidos na Suécia e entregues por via marítima. Lembremos que o contrato engloba 28 aviões de um só lugar, o Gripen E, somados a 8 de dois lugares, o Gripen F, sendo que estes últimos só serão produzidos na linha de montagem sueca (falaremos mais disso em outra matéria). Também não se pode esquecer que, além dos 3 caças Gripen E originariamente programados para este ano, ainda falta entregar um exemplar que atrasou, dos 4 previstos para 2023.

Comparando o cronograma nos anos de 2022 a 2023 com as entregas já noticiadas aqui, vemos que há 8 caças Gripen E entregues e voando hoje no Brasil, sendo 7 operacionais no 1º GDA, Esquadrão Jaguar, da Base Aérea de Anápolis (em Goiás) e um exemplar, o Gripen E de matrícula 4100, em testes operacionais, mas que não aparece no cronograma desses anos por não fazer parte oficialmente da frota da FAB (explicarei a seguir).

Como já divulgado na quarta-feira (clique para acessar matéria publicada a partir de nota à imprensa da Saab), o primeiro exemplar da linha de montagem brasileira tem entrega prevista para 2025, ano em que a linha sueca deverá, por sua vez, entregar os 2 primeiros aviões dos 8 encomendados do tipo biposto. Da Suécia também deverá vir, no ano que vem, o caça que provavelmente será o último da quota sueca de entregas do monoposto, somando 13 Gripen E (os quais, acrescentados aos 8 Gripen F, resultam em 21 caças produzidos na Suécia).

A partir de 2026, todos os caças Gripen E serão, pela análise do cronograma, da quota brasileira de 15 exemplares com montagem em Gavião Peixoto, com os 14 restantes (após a entrega do primeiro em 2025) divididos entre 6 aeronaves em 2026 e 8 em 2027. Um notável aumento da cadência de entregas.

E sim, você viu direito: há 9 exemplares de Gripen E, no cronograma, para o ano de 2027, e não os 8 que mencionamos acima. Mas estamos entendendo (a partir de informações apuradas ao longo do tempo) que o nono Gripen E de 2027 será o primeiro Gripen que foi enviado ao Brasil, com matrícula 4100. No momento ele é empregado como avião de testes, sendo que sua propriedade não foi passada em definitivo à FAB. Pelo que sabemos isso se dá por razões contratuais, incluindo a responsabilidade pela campanha de certificação, mantendo esse Gripen ainda como propriedade da Saab. A transferência definitiva do 4100 deverá ocorrer ao final da campanha de certificação, sobre a qual falaremos em outra matéria dedicada ao GFTC (Centro de Testes de Voo do Gripen).

Em resumo, pela análise do cronograma, contrastado às entregas já realizadas e à divisão entre as linhas de montagem sueca e brasileira, esta última deverá entregar 1 caça Gripen E em 2025, seguido de 6 em 2026 e nada menos que 8 em 2027 para cumprir os prazos. Na imagem abaixo, modificada a partir do cronograma já mostrado, os prováveis 15 caças da linha brasileira estão marcados em azul. A também provável última entrega, que será a passagem da aeronave 4100 oficialmente para a frota da FAB, está marcada num círculo verde:

Cronograma da FAB com marcações feitas pelo Poder Aéreo: no círculo verde, a provável entrega definitiva da aeronave de testes 4100; na área marcada em azul, as prováveis posições, no cronograma, dos 15 caças Gripen E da linha de montagem brasileira

 

Será que a cadência de entregas da linha brasileira conseguirá aumentar, com essa rapidez, para atender aos três últimos anos (2025-27) do cronograma?

Afinal, um ano se passou desde o início da montagem estrutural do primeiro exemplar, que acaba de ir para a etapa de montagem final e ainda tem um longo processo de instalação de componentes pela frente, além de testes de voo, até a entrega à FAB no segundo semestre de 2025.

Era essa a maior dúvida em minha cabeça ao chegar nas instalações da Embraer em Gavião Peixoto, no interior de São Paulo, enquanto o ônibus com a comitiva de jornalistas contornava parte da área ocupada pela pista de 5km de extensão, aproximando-se dos hangares e demais edifícios do complexo industrial, antes de parar próximo a um Super Tucano “espetado” junto à recepção (imagens abaixo). E esse desafio do cronograma seria, obviamente, minha principal questão na seção de perguntas e respostas, realizada entre as apresentações dos executivos da Saab e o início da visita ao chão de fábrica, juntamente com pessoal da Embraer.

Apresentações da Saab e seção de perguntas e respostas

Luiz Hernandez, diretor de cooperação industrial da Saab Brasil, apresentou no auditório os principais temas de transferência de tecnologia e perspectivas de desenvolvimentos futuros do programa, seguido de Häns Sjöblom, gerente geral da Saab em Gavião Peixoto, que falou sobre a linha de montagem, o Centro de Desenvolvimento do Gripen (GDDN) e o Centro de Ensaios em Voo do Gripen (GFTC) – estes dois centros serão temas de outras matérias desta série.

A eles se juntou, para a seção de perguntas e respostas, Walter Pinto Junior, vice-presidente de programas de defesa da Embraer, que além de responder pela empresa para o Programa Gripen falou sobre o KC-390. Ao ler isso, você já deve ter adiantado, em sua cabeça, o que escrevo agora: o KC-390 também é um tema para outra matéria, a ser publicada nos próximos dias, incluindo fotos de nossa visita à impressionante linha de montagem do jato de transporte militar. Já a próxima matéria desta série abordará em detalhes o que foi apresentado e respondido por Luiz Hernandez, Häns Sjöblom e Walter Pinto Junior na etapa inicial da visita. Temos muito conteúdo a absorver ao longo dos próximos dias (ainda bem que esta matéria foi publicada numa sexta-feira e você tem todo o final de semana para digeri-la).

Vale adiantar aqui um dado importante apresentado por Luiz Hernandez, relacionado à tela que fotografei acima (nessa fase inicial da Press Trip as câmeras e os celulares eram permitidos, depois ficaram trancados num armário e um fotógrafo da Saab passou a registrar nossa visita). É mencionado que o programa inclui o treinamento de 350 brasileiros na Suécia, e já informamos em matérias passadas que o pessoal da Embraer, hoje trabalhando tanto na linha de montagem quanto nos centros de desenvolvimento e testes de Gavião Peixoto, responde por boa parte desse número. Luiz afirmou que esse treinamento, que somou cerca de 600 mil horas, já está praticamente finalizado, com o pessoal de volta ao Brasil.

No momento, há funcionários da Saab sueca aqui no país, tanto na SAM (Saab Aeronáutica Montagens, onde são produzidas aeroestruturas do Gripen – clique aqui para matéria), na cidade de São Bernardo do Campo (SP) quanto em Gavião Peixoto. Porém, eles não são responsáveis por realizar o trabalho em si, nas linhas de produção. Quem coloca a mão na massa são brasileiros, e o papel dos suecos está mais para a consultoria, ajudando nas dúvidas e em problemas novos a resolver. Em breve, abordaremos aqui no site os programas de pesquisa e desenvolvimento que parte desses profissionais brasileiros realizam hoje, o que inclui não só pessoal da Embraer, mas também do Departamento de Ciência e Tecnologia da Aeronáutica.

Häns Sjöblom (foto acima) apresentou em primeira mão um novo vídeo sobre os trabalhos realizados em Gavião Peixoto, que já reproduzimos em matéria publicada na própria quarta-feira (clique aqui para acessar o vídeo) e algumas informações sobre a linha de montagem, incluindo a capacidade dela ser expandida para atender a novas encomendas brasileiras e de outros países latino-americanos (mais um tema para próximas matérias, evidentemente).

Sobre a situação atual, informou que a primeira célula de Gripen, cuja montagem estrutural foi iniciada à época da inauguração, em maio de 2023, passou para a fase de montagem final numa plataforma / estação de trabalho específica para esse fim. A plataforma que ela ocupava passou a abrigar uma segunda célula, que realiza hoje a segunda fase de montagem estrutural. E a primeira plataforma, que a segunda célula vagou, será ocupada em julho por partes da terceira célula a iniciar a montagem, e que já estão sendo recebidas.

Linha de montagem do Gripen, em Gavião Peixoto, fotografada em maio de 2023 ainda com duas estações de trabalho e apenas a primeira célula ocupando uma delas – foto G. Poggio

Ou seja, em relação à época da inauguração, quando foram apresentadas somente duas plataformas / estações de trabalho, e apenas uma célula ocupando a estação inicial (foto acima), o gerente geral da Saab em Gavião Peixoto certamente informou um progresso: a adição da terceira plataforma e a presença de duas células na linha, além de parte de uma terceira, em diferentes estágios de montagem.

Entre os materiais de apoio disponibilizados aos jornalistas para a visita, havia uma brochura de 11 páginas apresentando todo o esquema da linha de produção, com suas diversas fases, da qual reproduzimos abaixo a principal ilustração. Nela já era possível perceber, enquanto acompanhava as apresentações dos executivos da Saab, a adição da terceira plataforma de trabalho (número 5 na imagem abaixo) além de 10 aeronaves ilustradas em diferentes estágios de produção, testes e preparação para entrega.

Tendo isso em mente, quando o evento abriu para a fase de perguntas e respostas, questionei em português (e depois em inglês, especificamente a Hans Sjöblom, ainda não muito familiarizado com nossa língua)  se haverá necessidade de acrescentar mais plataformas à linha, dada a concentração das entregas de caças Gripen E nos dois últimos anos do cronograma atual da FAB.

Hans respondeu que não haverá mais plataformas (onde se encaixam os gabaritos ou “jigs”) na linha de produção de Gavião Peixoto. Disse que as estações de trabalho previstas atendem à cadência de produção necessária para cumprir o cronograma (mais tarde, na visita à linha, complementou que o ritmo de trabalho aumenta conforme as equipes ganham experiência). Finalizou afirmando que, caso surja a necessidade de aumentar ainda mais a cadência, existe a possibilidade de se acrescentar um turno de trabalho, mantendo-se a estrutura da linha.

Confrontando as afirmações a tudo que expus mais acima aos leitores sobre o cronograma de entregas, é óbvio que precisaria conhecer pessoalmente a linha de montagem para compreender a confiança do executivo da Saab. Assim, é hora de deixar para a próxima matéria os demais detalhes informados nas apresentações. Vamos seguir direto ao hangar onde está instalada a linha de montagem do Gripen no Brasil.

Dentro do hangar da linha de montagem do Gripen

A foto acima mostra as três plataformas / estações de trabalho, com todo o ferramental, gabaritos e demais sistemas de apoio instalados, no interior de um dos grandes hangares da Embraer em Gavião Peixoto. No canto superior direito da imagem está a estação temporariamente vaga, da primeira etapa de montagem estrutural, e que será ocupada em julho pelas partes atualmente em recebimento – fora do enquadramento, bem à direita, estava ainda embalado em plástico o conjunto da fuselagem central e asas. Na ilustração abaixo, que mostra as três etapas da montagem estrutural é a parte maior das quatro seções desenhadas da “Estação 1” (clique para ampliar a imagem).

Abaixo, ampliamos a foto panorâmica para mostrar as plataformas / estações 1 e 2 de montagem estrutural, para facilitar a visão do espaço ainda vago da primeira estação, em comparação com o espaço ocupado por uma célula em montagem na segunda.

Comparando a ilustração acima com a foto ampliada abaixo, percebe-se que a célula da estação 2 já está com as quatro seções unidas (fuselagem dianteira, unidade do armamento, fuselagem central das asas e fuselagem traseira). Fomos informados que a célula já passou pelo processo de selagem dos 12 tanques de combustível do caça, e no momento está em testes de pressão dos tanques e da cabine / cockpit.

Nas duas imagens a seguir, veja detalhes da célula atualmente na Estação 2 (que é o segundo caça a ocupar a linha de montagem), a primeira foto sem trabalhadores em volta para apreciar melhor os detalhes da célula nesse estágio, e a segunda com a equipe trabalhando. Falando em equipes, as fotos mostram relativamente poucas pessoas realizando as tarefas, mas a Saab informou que a linha envolve cerca de 200 funcionários, sendo 95% deles brasileiros. Desse total, 60 estão dedicados especificamente à área de produção (operadores, supervisores, gerentes) e os demais 140 em trabalhos de suporte de engenharia de produção, suprimento, logística, qualidade e funções administrativas, dentre outras.

Voltando às fotos, você se lembra que falei da existência de um conjunto fuselagem central / asas já entregue e ainda embalado em plástico, e que no mês que vem deverá ser colocado no espaço vago da estação 1?

Esse conjunto, que está fora de quadro na foto panorâmica mais acima, é visível na foto abaixo entre as pernas da mesa à direita da imagem, coberta por um plástico de proteção azulado. O conjunto está no chão da fábrica, e o ângulo da foto coincidentemente o enquadrou no vão de uma mesa (mas não se engane, é uma parte com mais de três metros de comprimento e outros tantos de largura, e que ainda vai receber as partes externas das duas asas quando chegar à estação 1).

Quando esta célula das imagens acima, atualmente na estação 2, finalizar esse estágio de produção, será retirada da plataforma (há pontes rolantes no alto do hangar) e colocada sobre uma espécie de carrinho triciclo, também referido como “dummy” (substituto do trem de pouso na linha de montagem), para seguir à etapa 3 marcada na ilustração que repetimos abaixo. Nessa fase, é feita a medição geométrica da estrutura, garantindo que a montagem está precisa, no alinhamento previsto.

A célula é então levada para fora do hangar para ser limpa e receber pintura interna e verniz anticorrosivo numa cabine de pintura em outro edifício (etapa 4 da ilustração). Ela retorna à linha de montagem para ocupar seu espaço no estágio 5 da ilustração, que é o de instalação elétrica e mecânica.

É por esse processo que acabou de passar a célula do primeiro caça da linha brasileira, que na foto abaixo está sobre o “dummy”, sendo rebocada.

 

No canto direito da foto, apenas a título de curiosidade, é possível ver os painéis de comunicação da época de inauguração da linha, assim como o nariz de um jato executivo da Embraer em produção, temporariamente abrigado no local. Em pouco tempo o jato executivo, ainda em finalização, terá que liberar essa área para o primeiro caça Gripen de Gavião Peixoto avançar aos estágios 6 e 7 de produção, que correspondem às estações 2 e 3 da etapa de montagem final (instalação de componentes, sistemas e subsistemas e teste de funcionamento de software).

Esses estágios estão marcados com os números 6 e 7 na ilustração acima e falaremos mais deles daqui a pouco. Voltemos ao estágio 5 e à recentemente ocupada estação 1 da etapa de montagem final.

Na foto a seguir, vemos na parte de baixo da imagem a estação 2 de montagem estrutural, onde está o segundo caça em produção (que já vimos em enquadramentos próximos) e mais acima a estação 1 da etapa de montagem final. É possível perceber que, diferentemente das outras duas plataformas, onde o nariz da aeronave em construção aponta para a saída do hangar, a célula que ocupa a estação fica em posição perpendicular às demais. Essa plataforma também é mais elevada que as outras duas, cujos pisos ficam ao nível das asas, enquanto nesta o nível é um pouco mais alto.

As diferenças estão relacionadas a facilitar o acesso dos trabalhadores aos diversos locais de instalação elétrica e mecânica, em sua maior parte na fuselagem: cerca de 35 quilômetros de cabos e 300 metros de tubulações (das mais variadas, como sistema hidráulico, de combustível, de arrefecimento) são instalados na célula.

Tudo isso para prepará-la aos estágios seguintes da montagem final, que serão ocupados por ferramental dedicado às etapas de instalação de aviônicos, APU (unidade auxiliar de potência), motor, rádio, estabilizador vertical, na futura estação 2 dessa etapa. Para ter ideia do andamento dos trabalhos e do ganho de ritmo, espera-se que o motor seja instalado no próximo mês de agosto.

Em seguida a essas atividades, são feitas as instalação de software e realizados os testes diversos na estação 3 da etapa (por exemplo, do sistema hidráulico e elétrico, com acionamentos seguidos do trem de pouso e suas portas, superfícies de controle, freios aerodinâmicos, sistema retrátil de reabastecimento em voo etc).  Esses estágios estão descritos na ilustração a seguir:

Nas fotos a seguir, o primeiro Gripen da linha de Gavião Peixoto é visto na plataforma / estação 1 de montagem final (estágio 5 de montagem, conforme a ilustração principal mais acima). É possível perceber que a célula recebeu a pintura interna da fuselagem e o verniz anticorrosão, ficando pronta para receber todos os cabos e tubulações mencionados. Você pode comparar, por exemplo, a pintura do interior do cockpit / cabine com as imagens mais acima da segunda aeronave, que atualmente ainda está no segundo estágio da montagem estrutural.

Na última foto da sequência, a equipe de jornalistas confere o andamento dos trabalhos de montagem final, em cima da plataforma / estação 1 desta etapa. Eu sou o sujeito de camisa branca, ao lado de Julio Granzotto, supervisor de produção da Embraer que explicou detalhes das atividades realizadas.

Julio Granzotto, supervisor de produção da Embraer (ao centro da comitiva de jornalistas, de calça marrom e camisa verde), aponta para detalhes da montagem final do Gripen na linha de Gavião Peixoto

Essa etapa de instalação elétrica e mecânica ocupa boa parte das 8 a 9 mil horas / homem alocadas para todos os estágios mostrados aqui, além das fases posteriores (pintura da camuflagem, calibração final de sistemas de navegação, de controle, combustível, entre outros, passando aos testes de motor em pista e aos testes de voo). Para esta primeira célula, onde a equipe brasileira começou a aplicar o conhecimento absorvido na linha sueca, onde recebeu treinamentos teóricos e principalmente “on the job” (com a mão na massa), foi necessário um ano para chegar a esse estágio. As demais etapas absorverão mais um ano até a entrega prevista para o segundo semestre de 2025.

Porém, fomos informados que a equipe vem ganhando ritmo a cada etapa realizada na primeira célula (e que agora são repetidas na célula seguinte), e que o tempo total entre o primeiro estágio da montagem estrutural ao último da montagem final tende a diminuir significativamente a cada aeronave. E com isso voltamos ao tema da minha pergunta, pensada a caminho das instalações de Gavião Peixoto e formulada ainda durante a apresentação inicial, porém só respondida completamente ao ver a linha de montagem em pleno funcionamento.

É possível cumprir o cronograma, afinal? E o que virá depois?

Tecnicamente, a resposta é à primeira pergunta é sim – embora o desafio não seja pequeno. Minhas dúvidas se baseavam na visão da linha ainda em seus estágios iniciais de implantação, da inauguração do ano passado, com apenas duas estações de trabalho instaladas e somente uma célula na fase de montagem estrutural. Observando agora, pessoalmente, a terceira estação instalada (foto repetida abaixo) e o ganho de ritmo, as dúvidas começam a se desanuviar, aproximando-se da imagem de céu limpo de Gavião Peixoto no dia da visita.

É bem possível que em meados 2025, quando o primeiro caça Gripen de Gavião Peixoto já estiver fora deste hangar, pintado em tons de cinza e realizando os testes para a entrega, poderemos ver até cinco células de caças Gripen ocupando cada um dos cinco estágios de montagem inicial e final, desde o fundo até a porta do hangar (marcados com os números 1, 2, 5, 6 e 7 na ilustração da linha de produção). Células cercadas de dezenas de funcionários unindo partes numa estação, testando as selagens em outra, instalando cabos numa terceira, motores e trens de pouso na seguinte, e testando softwares e sistemas na quinta.

Se em 2025, quando esperamos ser convidados para presenciar o primeiro caça Gripen finalizado pela linha brasileira (e já fora do hangar), essa imagem de cinco células no interior do edifício for uma realidade, creio que a resposta do gerente geral da Saab em Gavião Peixoto, Häns Sjöblom, soará ainda mais convincente para mim do que já soa agora.

A dúvida a responder daqui a um ano deverá ser a seguinte: o que virá depois? Afinal, se em 2025 presenciarmos um ritmo bem  estabelecido para cumprir esse exigente cronograma de 1 entrega em 2025, 6 caças em 2026 e nada menos que 8 em 2027 – ou mesmo que ocorra algum atraso e alguns exemplares fiquem para 2028 – teremos uma linha de produção devidamente “azeitada” e pronta para novos cronogramas.

A melhor notícia seria que, depois da conquista desse ritmo, viesse a produção de cerca de 14 caças adicionais ao primeiro lote de 36 aeronaves para a FAB, cuja negociação foi informada no final do ano passado, ou mesmo de um segundo lote. Os investimentos numa linha de montagem brasileira que começa a acelerar, em Gavião Peixoto, merecem ter essa continuidade garantida pelo Brasil.

O ideal é que visitássemos novamente a linha, em 2025, já com notícias publicadas de novas encomendas, assim como novos cronogramas com mais silhuetas de aeronaves desenhadas. Em outras palavras, novos desafios para essa linha de montagem cumprir.

*O editor viajou a Gavião Peixoto a convite da Saab.

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