VÍDEO EXCLUSIVO: A história do caça F-5 – HOTAS, um novo radar, por que tirar um canhão?
DOMANDO O TIGRE: A HISTÓRIA DO CAÇA F-5 – PARTE 32
O CONCEITO HOTAS
Na década de 1950, os projetistas do caça britânico BAC Lightning inseriram alguns comandos extras na manete de potência e no manche do caça. Eram comandos do sistema do radar e do controle de tiro, também chamado de controle de fogo. O objetivo era permitir que os pilotos operassem esses sistemas sem precisar tirar a mão dos controles.
Este arranjo evoluiu posteriormente para o que foi denominado conceito HOTAS – sigla em inglês para hands on throttle and stick, que significa mãos na manete de potência e no manche.
Na visão moderna do conceito HOTAS praticamente todos os comandos necessários para voar e combater estão no manche ou na manete de potência. Não é de se surpreender que um piloto de caça opere, atualmente, até duas dezenas de sistemas sem tirar as mãos dos comandos de voo.
O CONCEITO HOTAS NA FAB
O F-5 modernizado foi a terceira aeronave de combate da FAB a usar esse conceito, ou a quarta, se considerarmos um equipamento precursor do HOTAS e que era instalado nos caças Mirage III recebidos no início da década de 1970. Era uma espécie de joystick que ficava atrás da manete de potência. Com o tamanho de um punho de manche, comandava diversas funções do radar, como os tipos de varreduras, modos de operação, acoplagens, entre outras. Mas, como era preciso tirar a mão da manete, não pode ser considerado exatamente um controle do tipo HOTAS, embora ajudasse bastante o piloto a manter a mão esquerda próxima da manete enquanto alterava as funções do radar.
De qualquer forma, se levarmos em conta aeronaves da FAB que exploraram completamente o conceito HOTAS antes do programa F-5BR, foram duas: o AMX e o A-29. Portanto, seja com o sistema precursor do Mirage III, seja com o sistema bem mais moderno do AMX e do A-29, a FAB já sabia muito bem o que queria e, principalmente, como queria quando o projeto de modernização do F-5 começou. Todo o cockpit do Tigre foi redesenhado para se encaixar no conceito HOTAS.
RADAR MULTIMODO
O principal sensor do Programa F-5BR era o radar multimodo. O consórcio Embraer/Elbit ofereceu tanto o israelense Elta ELM2032 como o italiano Grifo da FIAR. No início, havia esperança de que a FAB selecionasse o radar Elta ELM2032. Este radar havia sido escolhido para a modernização dos F-5 chilenos e marroquinos. No entanto, a FAB acabou por escolher o modelo italiano Grifo, empregado na modernização dos F-5 de Singapura.
A família de radares da série Grifo se desenvolveu a partir do telêmetro Pointer, empregado pelos AMX italianos. Programas de modernização de caças MiG-21 e seus derivados, como o F-7 e o J-7, assim como alguns programas de modernização de caças Mirage III e 5 empregaram radares da família Grifo.
O Grifo-F foi desenvolvido especificamente para o F-5, possuindo os mesmos componentes da versão Grifo-M, mas com uma antena elíptica para se ajustar ao cone do nariz do Tiger II. Mesmo assim, o nariz do F-5 da FAB teve que sofrer mudanças estruturais que serão detalhadas mais à frente.
MAIS DETECÇÃO
Com uma antena maior o alcance de detecção aumentou sem que houvesse a necessidade de aumentar a potência do radar. Se a opção escolhida fosse o aumento da potência, a unidade geraria mais calor e seria necessário um maior poder de resfriamento, o que tiraria potência dos motores.
O Grifo-F opera na banda X e é um radar multimodo com capacidade look down/shoot down, ou seja, capaz de detectar e gerar soluções de tiro para alvos abaixo da aeronave, cujos retornos de sinal precisam ser separados do retorno do solo. Desenvolvido antes da popularização dos radares de varredura eletrônica ativa, o Grifo-F possui uma antena de varredura mecânica. Os três principais modos são: ar-ar, ar-superfície (que inclui capacidade marítima e mapeamento de terreno) e modo navegação.
De acordo com o fabricante o alcance em condições ideais, no modo ar-ar, é de cerca de 55 quilômetros no padrão look-up e de cerca de 37 quilômetros para o modo look-down. Ainda na arena aérea, o radar possui capacidade para operar em conjunto com mísseis além do alcance visual. No modo marítimo, dependendo das características do alvo e dos parâmetros ambientais, o alcance pode chegar a 140 quilômetros.
POR QUE TIRAR UM CANHÃO?
Como a FAB solicitou uma antena de maior área (e consequentemente maior alcance), houve a necessidade de se recuar a caverna de sustentação do suporte da antena em 33 centímetros, para manter o formato do nariz da aeronave. Com o recuo, houve perda de espaço no nariz do F-5 para alojar os equipamentos associados ao radar.
Em tese, o segundo canhão do F-5 monoposto poderia ser mantido, mas com prejuízo para a vida em fadiga de determinados componentes estruturais do nariz. A redução era estimada em 30%.
Além disso, mantendo o segundo canhão os componentes do radar teriam que ficar muito próximos uns dos outros, aumentando a temperatura do conjunto e exigindo maior capacidade de resfriamento. Isso, como já mostramos, roubaria mais potência dos motores. Com o espaço liberado pelo canhão houve maior separação dos componentes, demandando menos resfriamento.
No caso do F-5 F, biposto, este já utilizava apenas um canhão, o qual precisou ser removido, ficando a versão de dois lugares sem nenhum armamento de cano – o que, de qualquer forma, não é incomum em diversos modelos de caças.
NOVAMENTE, MAIS DETECÇÃO
Outro benefício trazido pelo recuo da caverna onde é instalada a antena do radar foi para a movimentação da antena. Com as mudanças, ela passou a ser capaz de varrer num azimute de cerca de 60 graus para cada lado, um ganho considerável em comparação com os 45 graus da antena do antigo radar APG-159. Assim, o radar do F-5 modernizado consegue cobrir um volume maior de espaço aéreo.
Grosso modo, esta foi a mesma solução adotada para os F-5 de Singapura. Outra possibilidade que a Singapore Aerospace considerou foi adotar um nariz mais longo. No entanto, esta opção acarretaria problemas de estabilidade longitudinal e foi abandonada.
Nesse equilíbrio de prós e contras da retirada de um canhão, versus maior espaço para a antena e equipamentos do radar, outro argumento pode ser adicionado: a capacidade superior do novo radar em prover a solução de tiro, em combates aproximados, gera maior precisão dos disparos, compensando em boa parte o emprego de um único canhão.
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