Racionalização e descarbonização à Francesa: a formação dos caçadores

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Segundo a Força Aérea Francesa, a substituição dos jatos de treinamento Alphajet pelos turboélices PC-21 gera uma economia de 70% em combustíveis, agregando também novos modos e simulações no voo e em solo

quase 14 anos (em 15 de julho de 2009) o Poder Aéreo publicou uma das primeiras matérias que acompanham o processo de reestruturação da Força Aérea Francesa, especialmente em sua Aviação de Caça, conforme aviões de combate como o Rafale entram em operação e outros mais antigos dão baixa, com diversas mudanças nos esquadrões e alas.

Cerca de 10 anos depois daquela matéria chamada “Racionalização à Francesa” (que abriu uma longa série que pode ser acessada ao final desta) foi iniciada uma profunda mudança também na formação de seus pilotos de caça, com a introdução do turboélice Pilatus PC-21 em substituição do jato de treinamento Alphajet, na função do último degrau do novo piloto de combate antes de chegar à primeira linha – ou seja, antes de voar caças como Mirage 2000 e Rafale.

Nesta quinta-feira, 6 de julho de 2023, a Força Aérea Francesa publicou uma nota detalhando algumas das vantagens percebidas no treinamento desde 2019, e destacou uma bastante em voga: uma economia de 70% na queima de combustíveis utilizados na formação de tripulações de aviões de caça, em linha com esforços coletivos para mitigar as ameaças ambientais e realizar a chamada “transição ecológica”.

Segundo a nota, as mudanças feitas com a introdução do treinador avançado Pilatus PC-21, o que inclui uma nova sistemática nas fases anteriores (primária e básica), com redução do número de bases dedicadas ao processo, tornaram a formação de caçadores 70% mais eficiente quanto ao consumo de combustível.

Segundo o tenente-coronel Thibaut, comandante da Escola de Aviação de Caça (EAC), “as fases de aprendizado realizadas no TB-30 Epsilon em Cognac e depois no Alphajet, sucessivamente em Tours e Cazaux, foram reunidas em uma só. Com o comissionamento de 26 turboélices Pilatus PC-21, nossos alunos , uma vez orientados para a Aviação de Caça, são treinados num mesmo avião, em Cognac”.

Todo o processo agora ficou limitado a duas bases. A primeira é a Base Aérea 701 de Salon-de-Provence, onde é realizada a formação inicial em voo a todos os futuros pilotos das três aviações da Força Aérea Francesa (helicópteros, transporte e caça) com aeronaves Cirrus SR22. A segunda é a Base Aérea 709 de Cognac-Châteaubernard, para onde vão os que foram selecionados para a caça e transporte, que passam a voar o Grob 120. A base também abriga o Pilatus PC-21, para o qual avançam os pilotos selecionados para a caça.

No PC-21 são realizadas as fases básica e avançada dos cursos voltados especificamente a pilotos de caça, desde o aprofundamento dos fundamentos da pilotagem (gerenciamento de avarias, acrobacias, voo em formação, navegação
– voo noturno), temas  táticos básicos como interceptação simples e emprego de armas na fase avançada.

 

O objetivo da reestruturação / racionalização foi encurtar os tempos de treinamento e reduzir seu custo, ao mesmo tempo em que se faz uma transição ecológica geral na Escola de Aviação de Caça. Com as entregas das aeronaves PC-21 entre 2018 e 2023, assim como dos três sistemas de treinamento em solo (simuladores), todo um novo sistema de treinamento foi estabelecido, no qual 40% do treinamento do piloto aprendiz, ou seja, 140 horas, agora ocorre em terra, com os simuladores, sendo os  60% restantes realizados em voos reais.

Em comparação, quando a aeronave utilizada era o Alphajet, a relação voo simulado/voo real era de 20/80. Essa mudança reduziu tanto poluição sonora quanto o consumo de querosene de aviação e as emissões de CO2, conforme destacado na recente nota divulgada.

A chamada “Simulação embarcada” também é um diferencial do Pilatus PC-21 em relação ao antigo Alphajet, otimizando o aprendizado e minimizando o número de aviões no ar. Com a “simulação a bordo”, o sistema aviônico apresenta, numa tela do painel que faz as vezes da tela de radar dos aviões de caça (sendo que o PC-21 não é equipado com radar) “aviões fantasmas”, ou simulados, durante o voo.

Os pilotos podem operar em rede, o que é uma capacidade que depois vão encontrar em aeronaves como o Mirage 2000D, Mirage 2000-5 ou Rafale. Os recursos de simulação ar-ar incluem disparo de mísseis e alerta-radar, e a simulação terra-ar inclui disparo de canhão e lançamento de bombas em semi-mergulho ou nivelado.

O sistema, durante uma missão, pode apresentar nas telas alvos ar-ar, incluindo curso, nível e velocidade e emular ameaças superfície-ar.  Assim, o piloto-aluno já recebe noções básicas que serão aprofundadas no esquadrão de transformação operacional (onde fazem a conversão para a primeira linha voando os próprios caças de primeira linha, como Mirage e Rafale) e no esquadrão de caça para onde seguirão.

Com os sistemas embarcados, pode-se desta forma utilizar as missões para trabalhar habilidades no aluno como interceptar ou reunir aeronaves sem que haja mais aviões efetivamente voando. Segundo o comandante da EAC, “no  Pilatus PC-21 podemos ensinar aos pilotos-alunos os fundamentos do trabalho de radar, o que não era possível no Alphajet.

Antecipar esse aprendizado antes da chegada do novo caçador a um esquadrão operacional possibilita gastar menos horas de voo no Mirage 2000 ou no Rafale.”

O número previsto inicialmente para a frota de PC-21 na Força Aérea Francesa era de 17 aeronaves para recebimento até 2020, as quais, em conjunto com todos os sistemas de simulação, permitiriam formar anualmente 30 pilotos e 10 navegadores para a Aviação de Caça. Posteriormente, esse número foi ampliado para 26 aviões.

Um dos pontos destacados pela força é que a aeronave se aproxima de caças de última geração em seu painel / aviônica, o que garante um alto nível de representatividade das missões táticas graças às suas capacidades de simulação. Além disso, trata-se de uma aeronave muito manobrável, suportando fatores de carga de -4G a +8G, bastante próximos às capacidades de caças de primeira linha como o Rafale.

O painel inclui três telas de cristal líquido e visor ao nível dos olhos, e a aeronave é equipada com sistema anti-g, sistema embarcado de geração de oxigênio, podendo também utilizar óculos de visão noturna. O PC-21 é equipado com motor PT 68B de 1 600 HP, propulsando uma hélice de cinco pás. Possui dois assentos ejetáveis do tipo zero-zero, canopi resistente ao impacto de pássaros, ailerons hidráulicos, compensador automático do leme, é capaz de decolar em até 490m, pousar em 600m de pista, e a taxa de ascensão ao nível do mar é de 1295 m/min.

Abaixo, outras características do Pilatus PC-21 em serviço na Força Aérea Francesa:

  • Peso máximo para taxiamento: 3120 kg
  • Peso máximo de decolagem e pouso: 3100 kg
  • Capacidade interna de combustível : 544 kg
  • Altitude máxima: 25000 ft – 7 620 m
  • Velocidade máxima 370 nós – 689 km/h – 0,72 Mach
  • Fatores de carga: máxima positiva  + 8,0 G e máxima negativa – 4,0 G
  • Alcance máximo: 1300 km
  • Tempo de  voo em cruzeiro: 2h20

 

Confira abaixo algumas das matérias que trataram, ao longo de praticamente 15 anos, dos programas de reestruturação franceses que incluem Rafale, Mirage 2000D, Pilatus PC-21, desativação de outras aeronaves e assuntos relacionados:

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