por Guilherme Poggio

O Poder Aéreo esteve presente no último dia 9 de maio para cobrir o evento que inaugurou a linha de montagem dos Saab F-39 Gripen E nas instalações da Embraer em Gavião Peixoto/SP. O evento contou com a presença do presidente da República, ministros de Estado, além de outras autoridades nacionais e estrangeiras. E exatamente pela presença dessas autoridades, o evento teve a sua segurança reforçada.

Após o pouso do VC-1 (matrícula FAB 2101) que trouxe o presidente, um caça F-39E Gripen (matrícula FAB 4102) apareceu sobre a pista de Gavião Peixoto e pegou muitos de surpresa. Com o “PC” (pós-combustor) acionado, ele acabou roubando a cena naquele momento. A passagem foi seguida de uma curva para a esquerda, e logo o caça voltou, ficando de frente para os espectadores, e realizou mais uma passagem baixa em grande estilo.

Por fim, uma terceira passagem encerrou a apresentação aérea que poucos esperavam. Tenho certeza de que as futuras apresentações do Gripen durante os eventos de “portões abertos” da FAB não decepcionarão ninguém.

A aeronave possui um raio de curva pequeno e grande autonomia. Sendo assim, deverão ocorrer muito mais passagens e as apresentações estarão mais próximas do público. Tudo isso regado pelo belo som do seu motor GE F414.

Encerrada a demonstração do FAB 4102, o jato realizou um pouso curto na cabeceira sul e seguiu para um hangar distante do público. Quem estava bem perto de nós era o 4101, primeiro Gripen operacional da FAB. A aeronave foi exaustivamente fotografada pelos que ali estavam e serviu de fundo para diversas imagens produzidas pelos meios oficiais e mídias em geral, tendo à sua frente autoridades e militares.


Encerradas as atividades externas, todos os presentes se dirigiram ao hangar onde ocorreria a cerimônia de inauguração da linha de montagem final do Gripen, no Brasil. Como em qualquer instalação industrial (principalmente na área de defesa), o registro fotográfico era bastante limitado. Só foi possível realizar imagens na baia onde está instalada a linha de produção do Gripen. Na verdade este é um grande avanço, uma vez que no passado, não muito distante, nem mesmo uma área como esta era liberada para o registro com câmeras. A imprensa tinha que se abastecer das poucas e controladas imagens cedidas pela assessoria de imprensa.

Voltando ao tema da matéria, a linha de montagem final do Gripen está situada no hangar G-1350. Esta é uma das grandes edificações da planta da Embraer em Gavião Peixoto. A imagem abaixo mostra a localização do hangar.

E exatamente por ter muito espaço interno o hangar é compartilhado com as linhas de produção da aeronave de ataque EMB-314 Super Tucano e com a do jato executivo Preator 500. Ambas ocupam aproximadamente um terço da área da edificação e não há separação física entre elas. Somente há marcações no piso.

Já em relação à linha de montagem do Gripen, esta é totalmente separada do resto do hangar por uma baia de cor branca com aproximadamente cinco metros de altura que impede a visão de quem está fora, que fica sem saber o que ocorre ali dentro. Na ausência de imagens em determinados locais (por determinação da Embraer), o Poder Aéreo elaborou um arranjo esquemático do que foi visto para facilitar o entendimento e situar o leitor dentro do hangar. O arranjo esquemático é apresentado na imagem abaixo.

MONTAGEM TRIDIMENSIONAL

Como pode ser visto no esquema acima e nas duas imagens apresentadas, dentro da baia da linha de montagem do Gripen existem duas estações para a montagem dos grandes componentes estruturais do caça. Na verdade estas estações são grandes bancadas que envolvem a estrutura e permitem a união dos grandes componentes estruturais num primeiro momento e em seguida a montagem e instalação de componentes menores, tanto internamente como externamente ao caça.

A grande vantagem da bancada é que ela permite a execução dos trabalhos ao redor de toda a estrutura, com destaque para a simultaneidade de execução das tarefas tanto na parte superior da aeronave como também na parte inferior, dando um caráter tridimensional ao processo de montagem. Neste processo economiza-se tempo de montagem e ganha-se velocidade no processo fabril. Além disso, a bancada permite que os funcionários trabalhem de forma segura e não precisem subir na aeronave para executar muitas de suas tarefas.

A ideia da bancada não é nova e uma das primeiras empresas que adotou este equipamento na linha de montagem foi a americana Northrop, na década de 1950, para produzir tanto o jato treinador T-38 Talon como a família de caças F-5 (A, B, E e F). A Northrop desenvolveu o sistema NORAIL (Northrop Overhead Rail Assembly and Installation Line) para a montagem da fuselagem dessa família de aeronaves na fábrica de Hawthorne (Califórnia), conforme imagem abaixo (para mais detalhes, veja também a parte 6 da série de vídeos sobre a história do caça F-5).

Linha de montagem do T-38/F-5 na década de 1960 com o emprego das bancadas

As duas bancadas existentes na Embraer foram baseadas nas bancadas adotadas pela Saab na linha de produção do Gripen E em Linköping, na Suécia. O Poder Aéreo teve a oportunidade de visitar a linha de montagem da Saab em Linköping no ano de 2019. Abaixo, a foto mostra uma dessas bancadas onde aparece um JAS 39 E sendo montado. Salvo alguns detalhes, o arranjo é praticamente o mesmo. Notei que na Suécia o guarda-corpo possui um fechamento transparente (vidro ou acrílico) e no Brasil são barras de metal com o espaço entre elas vazado.

Bancada montada na Embraer
Bancaca montada na Saab

continua…

Clique nos links para acessar a parte 2 e a parte 3 desta matéria.

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