A HISTÓRIA DO CAÇA F-5 – PARTE 23

CORTESIA

Em meados de 1981, quatro caças Mirage IIIEA da Força Aérea Argentina realizaram uma visita à Base Aérea de Canoas. Eles foram acompanhados por um C-130B para dar apoio. Foi uma data histórica, pois a base nunca havia recebido aeronaves militares argentinas.
A visita não tinha objetivos operacionais, como voos conjuntos ou combates dissimilares. Foi apenas uma cortesia. Como lembrança da hospitalidade, os argentinos pintaram ao lado da tomada de ar dos Mirage visitantes a bolacha do CATORZE, o Esquadrão Pampa, baseado em Canoas.

Um ano depois estes mesmos Mirage entrariam em combate com os britânicos pela posse das Ilhas Malvinas e com a bolacha pintada na fuselagem. Um desses aviões que esteve no Brasil, matrícula I-019, foi abatido erroneamente pela antiaérea argentina quando tentava pousar em emergência na pista do arquipélago.

ROJÃO DE FOGO!

Na manhã de 3 de junho de 1982 dois jatos F-5 do Primeiro Grupo de Aviação de Caça se preparavam, na Base Aérea de Santa Cruz, para uma missão de navegação a baixa altura. Seria apenas mais uma surtida de treinamento de rotina. Mas repentinamente, quando os pilotos se preparavam para a decolagem, surgiu um mecânico ao lado da aeronave líder. Ele abriu o cofre de munição e deu um golpe no canhão, armando-o.

Pelo rádio, o então capitão Dias recebeu o comunicado “Rojão de Fogo!”. Ou seja, aquela passou a ser uma missão real de interceptação. Os dois caças se alinharam com a pista 04 de Santa Cruz. Em contato direto com o Centro de Defesa Aérea de Brasília veio a ordem: “subir até o nível três dois zero com pós-combustão”.

O “boom” sônico ecoou por toda a cidade do Rio de Janeiro e ambos os caças seguiram rumo ao mar, vetorados pelo Centro Brasília. Mas como o radar tridimensional da região estava fora de ação, os controladores de terra só conseguiam identificar a posição do alvo, sem saber a real altitude dele.

Bombardeiro Vulcan acompanhado por dois F-5E da FAB, em 3 de junho de 1982 – Arte Aicro Junior

Voando a Mach 1,3 os dois caças varriam o céu com seus radares de bordo. Porém, o radar APG-153 não tinha capacidade look down e os pilotos não perceberam que o alvo passou cerca de dez mil pés abaixo deles. Como o Centro Brasília informava que estavam praticamente juntos ao alvo, o capitão Dias decidiu colocar seu F-5 de dorso. Assim conseguiu ver a enorme asa triangular de um bombardeiro Vulcan da RAF (Real Força Aérea britânica) voando abaixo dele.

Os dois F-5 partiram para a cauda do Vulcan. A ideia inicial era escoltá-lo até a Base Aérea de Santa Cruz, mas a aeronave britânica tinha pouco combustível, pois a sonda de reabastecimento em voo havia quebrado durante sua missão. Os caças da FAB então escoltaram o Vulcan até que este pousou no aeroporto internacional do Galeão, quase sem combustível. Em seguida os F-5 rumaram para Santa Cruz.

O grande bombardeiro possuía um míssil antirradar Shrike sob a asa, que havia sido armado e por alguma falha não foi disparado em sua missão sobre as Malvinas. Havia o risco deste míssil se desprender e buscar algum alvo na cidade do Rio de Janeiro, o que felizmente não aconteceu.

A tripulação do Vulcan foi bem recebida no Brasil, permanecendo na Base Aérea do Galeão por mais oito dias. Em 11 de junho a aeronave decolou para a Ilha de Ascensão. Mas o míssil Shrike ficou no Brasil.

GUERRA ELETRÔNICA

Em 1984 a FAB adquiriu dois casulos de interferência eletrônica do tipo Caiman. Os casulos faziam parte do pacote de equipamentos eletrônicos destinados à implantação do CINDACTA II. Coube ao então Centro Tecnológico da Aeronáutica o projeto de adaptação do casulo aos caças F-5, sendo que o “14” foi a unidade escolhida para receber os equipamentos.

A FAB pretendia criar uma unidade especializada em supressão de defesas antiaéreas na região Sul, assim como eram as unidades Wild Weasel da USAF, a Força Aérea dos Estados Unidos. A plataforma seria o AMX, mas como ele ainda não estava operacional coube ao 14 desenvolver a doutrina de guerra eletrônica.

O projeto se arrastou até o ano de 1987, quando finalmente o primeiro F-5, equipado com um casulo Caiman, voou pela primeira vez. Três jatos F-5 foram adaptados para receber o casulo e os resultados dos voos foram muito satisfatórios.

O 14 continuou a empregar o Caiman até o ano de 1990, quando suas aeronaves originais foram entregues ao 1º Grupo de Aviação de Caça. O Esquadrão Pampa passou então a operar os caças F-5 usados que pertenceram à USAF e o programa do Caiman foi deixado de lado.

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