Comandante da Aeronáutica e os 4 primeiros F-39 Gripen operacionais da FAB

O site Defesanet publicou na semana passada três matérias sobre a Força Aérea Brasileira intituladas FAB NOTAS ESTRATÉGICAS (I, II e III).

O Poder Aéreo entrou em contato com o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior, para o esclarecimento do teor dessas matérias e as respostas do Comandante seguem abaixo:

FAB Notas Estratégicas III – Ajuste de curso na FAB

Trecho da matéria do Defesanet: “Um brigadeiro da FAB disse que a Força Aérea já estuda uma outra opção de aeronave para complementar a aviação de caça e não ficar dependente de um único fornecedor. As opções estudadas são a de um avião de combate leve a jato, ou mesmo o F-35, pois a fabricante Lockheed Martin está oferecendo o avião ao mercado internacional por quase o mesmo preço do caça sueco.”

Comentário do Comandante da Aeronáutica: Não acredito que qualquer brigadeiro da ativa da FAB tenha dado esta informação, pois todos sabem que a decisão já tomada pelo Alto-Comando da Aeronáutica (a quem cabe estas decisões estratégicas) é de buscarmos a contratação de um segundo lote de Gripen E/F, decisão esta que já comuniquei em diversas entrevistas, ocasiões formais e ordens do dia. O número estimado para um segundo lote é de 30 aeronaves, ainda não detalhadas entre as versões E e F.

Trecho da matéria do Defesanet: “Um ponto que tem incomodado a FAB é que o cronograma de integrações de armas e sistemas imposto segue os requisitos impostos pela Agência de Armamentos da Suécia, FMV, atendendo às demandas da Força Aérea da Suécia (Flygvapnet). O sócio brasileiro tem os seus interesses postergados.”

Comentário do Comandante da Aeronáutica: Desconheço qualquer incômodo à FAB, lembrando que quem fala em nome da FAB é seu comandante, que conhece bem a execução de projetos de desenvolvimento e os óbices que podem ser encontrados. Sobre a integração de armamentos e outros sistemas, a única novidade é que cancelamos a integração do POD Skyshield, tendo em vista sua obsolescência. Tal capacidade será suprida pela aquisição oportuna de outro POD interferidor, ainda a ser decidido.

Trecho da matéria do Defesanet: “O limitado número de células do F-5M/FM disponíveis e as suas restrições operacionais, pelas horas de voo já alcançadas, torna a entrada dos Gripen na força cada vez mais uma demanda prioritária.”

Comentário do Comandante da Aeronáutica: O phase-in X phase-out de frotas (KC-390 x C-130) e (F-39 x F-5M) é atividade corriqueira da FAB, analisada pelo Alto-Comando da Aeronáutica. Quaisquer atrasos nas entregas (o que pode ocorrer no caso de restrições orçamentárias) serão compensados com o replanejamento da curva de phase-out dos F-5 (ou C-130). Temos completo domínio sobre o suporte logístico das aeronaves F-5.

FAB Notas Estratégicas II – Retira caças da Amazônia e causa alarme

Comentário do Comandante da Aeronáutica: O Poder Aéreo tem características diferentes dos demais poderes [Terrestre e Naval]: Velocidade, Mobilidade, Flexibilidade, Penetração, Alcance e Pronta-resposta. Como base nestas características, não temos necessidade de estarmos na “área de operações” em tempo de paz ….. onde o ESTADO DE ALERTA é ZERO. Chegaremos a quaisquer lugar do território nacional, em menos de doze horas… não há guerra que seja realizada neste tempo.

A operação dos F-5, em Manaus, atendeu a uma diretriz da estratégia Nacional de Defesa (redistribuição de meios na Amazônia) que não se encaixa ao Poder Aéreo, muito menos com F-5 operando de forma altamente restrita, no aeródromo de Ponta Pelada.

Com o phase-out da frota de F-5, já iniciado, não temos recursos, nem é eficiente termos 4 unidades aéreas com poucos aviões…. Será muito mais efetivo tê-los em apenas duas. Também sinto pela desativação da Unidade Aérea na qual me formei Piloto de Caça, mas não podemos gerenciar a FAB com o coração eclipsando a razão.

FAB Notas Estratégicas I – IRIS-T – Integração no F-5 é uma necessidade real e imediata

Neste artigo, o Defesanet parte de uma análise simplista e com base em informações erradas. Logicamente, a integração dos IRIS-T poderia ser feita nos nossos F-5M, mas há que se estabelecer uma relação CUSTO X BENEFÍCIO desta integração, da curva de phase-out da frota, dos tempos e recursos gastos para treinamento de pilotos e manutenção etc.

Como pode ser notado no texto da nota, o site parte da premissa [errada] que todos os mísseis Python IV estão inoperantes ….. esta é uma premissa falsa para todo o raciocínio do articulista.

Neste caso, há sim interesse empresarial para que a FAB faça tal integração, exatamente como ocorreu na Tailândia. O assunto já foi estudado pela FAB e a decisão de não integrar no F-5 já foi tomada pelo Alto-Comando.

Estamos investindo nossos recursos na FAB do futuro. O F-5, por melhor que seja como plataforma, é frota do passado.


O Comandante da Aeronáutica finalizou os comentários citando trecho da Ordem do Dia de 12 de abril de 2021, quando assumiu o Comando da FAB:

“Sou um militar do meu tempo, atento à importância dos diversos meios de comunicação no objetivo maior de manter nossa sociedade bem informada, para que possa desenvolver sua análise crítica da atualidade, propor melhorias nas políticas existentes e aperfeiçoar a participação de cada cidadão.
Nesse sentido, as portas da Força Aérea estarão sempre abertas para informar, com precisão e oportunidade, sobre nossas atividades cotidianas ou fatos excepcionais, mas dentro de uma relação profissional e respeitosa, mesmo que tenhamos, ao final, perspectivas diferentes sobre o mesmo mundo.”

O Brigadeiro Baptista Junior também reiterou que nenhum meio de comunicação sério precisará lançar mão de declarações em “off”, pois sua sala e o CECOMSAER estão permanentemente disponíveis para o que é possível ser informado.

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