Saab Press Trip 2019 – parte 2
Entrega do primeiro Gripen E brasileiro
Por Guilherme Poggio
Linköping é uma cidade pequena para os padrões brasileiros (possui cerca de 150 mil habitantes), mas está entre as dez maiores cidades de toda a Suécia. Sua economia está fortemente ligada à fabrica da Saab (perto de 20% da população local trabalha ali) e boa parte dos empregos são de alto nível intelectual.
Nós, jornalistas brasileiros, chegamos à cidade no final da tarde do dia 9 de setembro após uma viagem de trem de aproximadamente duas horas desde Estocolmo. O hotel não era muito distante da estação e seguimos para o mesmo a pé. Após jantarmos num excelente restaurante português retornamos para o hotel. O dia seguinte prometia ser bastante agitado.
Museu da Força Aérea Sueca – Logo pela manhã do dia 10 de setembro partimos para o Museu da Força Aérea Sueca. Fomos muito bem recebidos por um oficial da reserva da Força Aérea apaixonado pela história da aviação de seu país. Ele foi nosso guia pelo museu. O local já foi motivo de matérias diversas no Poder Aéreo em tempos passados (veja, por exemplo, esta aqui e esta aqui).
Após a visita tivemos o privilégio de almoçar no próprio museu. Em seguida, no auditório, assistimos a uma interessante palestra proferida pela vice-presidente e CTO (Chief Technology Officer) Lisa Abom, sobre o futuro da aviação de combate do ponto de vista industrial. Um dos temas abordados por ela já virou matéria aqui no Poder Aéreo. Em breve teremos mais novidades.
A apresentação do Gripen E da FAB – O ponto alto do dia estava chegando. Partimos do museu e fomos para o lado oposto do aeroporto de Linköping, num hangar conhecido como H146. Este hangar é famoso entre a equipe do Poder Aéreo. Foi lá que vimos o primeiro Gripen E em 2016. Mas antes de entrarmos no hangar, um Globaleye preparava-se para decolar na pista. Uma verdadeira “ave rara” no mundo da aviação.
Dentro do hangar H146 recebemos nossas credenciais e ficamos instalados na área dedicada à imprensa (nacional e internacional). Estávamos num grupo de jornalistas brasileiros, conversando, quando se aproximou de nós nada menos que o Ministro da Defesa da Suécia. Ele veio falar diretamente com um conhecido jornalista sueco. Aproveitando a oportunidade, fomos entrevistá-lo também. A entrevista foi interrompida brevemente por um sonoro rugido de motor F414. Daqui a pouco isso será respondido.
Citei esse curioso fato do Ministro da Defesa sueco se dirigir a um jornalista (e não o contrário) para mostrar como o modo de vida lá é diferente do nosso. Fato curioso para nós, brasileiros, porque na Suécia as autoridades não se escondem da população em veículos oficiais blindados ou em áreas reservadas. As autoridades de lá sabem que o cargo que ocupam está vinculado diretamente a uma decisão popular, e que têm o dever de prestar contas à população. A imprensa funciona muitas vezes de ponte entre ambos.
Mas, voltando ao evento, por volta das 14h00 ele começou oficialmente. Autoridades brasileiras e suecas se revezaram no palco montado dentro do hangar e fizeram seus discursos. Ministros da Defesa dos dois países, executivos e representantes das empresas envolvidas no projeto (Saab, Embraer, Akaer, AEL, SAM) falaram sobre o programa e a cooperação entre os dois países.
Após os discursos formais fomos todos convidados para a área externa do hangar. Por sorte aquela chuva chata do começo da manhã havia dado uma trégua (em Linköping as quatro estações do ano podem dar as caras no mesmo dia). Recebemos instruções para não fotografar os prédios da fábrica da Saab no lado oposto da pista.
Repentinamente surge um Gripen no céu. Parece ser um Gripen E (os trilhos para lançamento de mísseis nas pontas das asas são maiores do que o a versão C). Assim que ele passa por nós a pintura na deriva na parte superior das asas o denuncia. Era o FAB 4100!
A passagem foi seguida de uma apertada curva e, pouco depois, o caça já veio para o pouso. Enquanto o 4100 taxiava em direção ao hangar do setor de ensaios em voo da Saab, um Gripen D da Força Aérea Sueca começava a sua corrida de decolagem (bastante curta, por sinal, demonstrando sua capacidade de decolar usando pouca pista).
A apresentação do Gripen D foi muito mais longa e contou com passagens rápidas e lentas (com alto ângulo de ataque), acionamento do pós-combustor, curvas apertadas, subidas verticais e voo invertido. Assim que o caça pousou voltamos para o hangar, porém numa área lateral àquela onde ocorreram os discursos.
A iluminação era mínima. Dava para ver apenas um palco ao centro do hangar e um telão logo acima dele. Efeitos de luz (acompanhados de efeitos sonoros) desenhavam a planta superior de um Gripen E no chão ao lado do palco. Flashes de luz refletiam nas asas e na fuselagem de uma aeronave. Subitamente o hangar clareou e o primeiro Gripen E da FAB foi revelado, de perto, para o público.
Seguiram-se mais discursos no palco e o recebimento da Permissão Especial de Voo do Gripen Brasileiro pelo Comandante da Força Aérea Brasileira, Tenente-Brigadeiro Bermudez. Pegando todo mundo de surpresa, o canopi do caça se abriu (sempre para o lado direito, como em todos os caças Gripen) e do seu interior sai o piloto de provas da Saab, Richard Ljungberg. Após a apresentação formal as autoridades se aproximaram da aeronave para as fotografias de praxe. Nós não tivemos a oportunidade de examinar a aeronave de perto naquele momento, mas a paciência é uma virtude…
Saímos do hangar e seguimos para uma sala reservada para entrevistas coletivas. Lá estavam, representando o FAB, o brigadeiro Malta (presidente da COPAC), o coronel Paulo e o coronel Leite. Pelo lado da Saab estavam o diretor e head da unidade de negócios Gripen Brasil, Mikael Franzén, o piloto de provas, Richard Ljungberg e o Senior VP e head de Aerunáutica, Jonas Hjelm. Já demos algumas informações colhidas nessa coletiva em matéria anterior. No futuro traremos mais.
A melhor parte veio após a entrevista coletiva. Tivemos a oportunidade de olhar de perto o 4100 sem aquelas dezenas de pessoas. Pudemos ver e apreciar cada detalhe da aeronave. Uma obra prima da tecnologia moderna. Tenho a certeza de que o futuro “escritório” da caça brasileira agradará muito aos seus pilotos.
O editor Guilherme Poggio viajou à Suécia a convite da Saab.
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