Entre a viabilidade técnica e o custo-benefício

Abrir a “janela do futuro”, enxergar as tecnologias que lá serão empregadas e, além disso tudo, garantir que as habilidades necessárias para atingir essas metas existam no presente, não é uma tarefa fácil. Na Saab Aeronautics esta tarefa foi entregue a Lisa Abom, vice-presidente e CTO (Chief Technology Officer).

Lisa assumiu sua atual posição dentro da estrutura organizacional da Saab no ano passado. Antes disso ela trabalhava no programa de desenvolvimento de estruturas aeronáuticas, sua paixão (ela possui PhD em física de materiais).

No último dia 10 de setembro, a executiva da Saab deu uma palestra para jornalistas brasileiros e colombianos no auditório do Museu da Força Aérea Sueca, localizado na cidade de Linköping (Suécia), e resumiu em meia hora quais são as tecnologias que influenciarão o futuro da aviação de combate.

Lisa Abom, vice presidente do CTO (Chief Technology Officer) da Saab durante palestra para jornalistas brasileiros e colombianos

Segundo ela, a Saab identificou três áreas-chave do desenvolvimento tecnológico. Uma delas diz respeito aos sistemas autônomos. Dentro dos sistemas autônomos encontramos as aeronaves não tripuladas. Lisa foi questionada sobre a possibilidade de a SAAB desenvolver um Gripen E remotamente controlado. Em outras palavras, um Gripen E não tripulado. Tal possibilidade, diga-se de passagem, já foi divulgada em palestras de executivos da Saab, há alguns anos, com o conceito de “Gripen opcionalmente tripulado” (clique aqui e aqui para acessar matérias publicadas a respeito).

Desenvolver um Gripen E não tripulado é perfeitamente viável. Nas aeronaves das gerações anteriores o piloto acabava ocupando 80% do seu tempo com questões relacionadas ao voo e à navegação. Os outros 20% eram dedicados ao quadro tático e aos objetivos da missão. Atualmente esta situação se inverteu. Funções como decolagem, pouso e navegação já são fortemente automatizadas ou necessitam apenas de intervenções humanas pontuais.

Como o Gripen E já possui muitas das tecnologias embarcadas de última geração, típicas das aeronaves mais avançadas do planeta, seria necessário apenas um trabalho de adaptação para torná-lo autônomo. Para a executiva da Saab essas modificações poderiam ser feitas dentro de três e cinco anos, dependendo apenas dos recursos financeiros para executar o programa.

Porém, a questão central está focada na real necessidade tática desta aeronave. Qual função ela executaria? Não seria mais viável fazer esta missão com uma plataforma mais simples e dedicada (como os atuais UAV)? Empregar uma complexa e relativamente cara plataforma como o Gripen E em atividades que, eventualmente, poderiam ser executadas por plataformas não tripuladas mais simples e menos custosas talvez não seja a decisão mais inteligente.

Em resumo, a Saab vê as plataformas autônomas como algo essencial no futuro, mas elas precisam ter custos condizentes com o perfil das missões que serão executadas. A possibilidade de transformar um Gripen E em aeronave não tripulada é tecnicamente possível, mas talvez não seja a melhor resposta para a situação.

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Luiz Trindade

Excelente idéia… O equipamento não ficaria restrito as limitações humanas do piloto.

Salim

Usar caça existente e meio piegas. Se vai fazer acerta desenho mais agressivo para manobras a grandes GS e alta velocidade. Existe vant que e um avião náo tripulado, talvez correto seria vant a jato de nova geração ou míssil telecomandados ( nazistas já tentaram isto ). Se colocar inteligencia artificial vão se juntar e exterminar o homem, já tem ate filme sobre isto do seculo pesado kkkkk

Tosse

Me fala um drone decola com 7 toneladas de pólvora, a 55k pés de altitude, a mach 2 com radar AESA em datalink?

Adriano RA

Interessante a informação no slide da apresentação: Suécia possui uma relação de pesquisadores/habitantes quase dez vezes maior que o Brasil.

MBP77

Também percebi o mesmo, mas não achei interessante… e sim, triste.
Sds.

Adriano RA

Perfeito!
Abraços

WVJ

Isso deve piorar e muito com a entrega, digo, fusão da Embraer.
Prof. Marcos Barbieri tirou todas as minha dúvidas, por favor pesquisem a respeito. Todos que gostam de aviões deveriam se interessar pelo assunto.

Rico Zoho

Não é somente a Suecia. Israel, Holanda, Coreia do Sul, Singapura, Taiwan e Suíça também tem números deste tamanho. O Brasil não é o país de pesquisadores, mas bacharéis. Temos o maior número de cursos de direito no mundo.

Guilherme santos

Porque será ? Governo que tá aí ao invés de tentar mudar isso prefere cortar as bolsas da iniciação cientifica, bolsas de mestrado, bolsas de doutorado. E ai ? Onde vamos chegar ? Estudo na usp e tu não sabe quantos pesquisadores excelentes saem daqui parar estudar fora. AQUI NAO TEM APOIO NENHUM!

Jadson Cabral

“Governo prefere” cortar bolsas. Como que alguém que estuda na usp não entende o mínimo de economia?

Guilherme santos

Sempre tem o sabichão passa pano pra defender cortes na educação.

Edilson

O problema não é o corte no orçamento da educação, mas sim a forma como esses recursos são usados. Tem estudantes de universidades públicas que estão lá desde 2004 e ainda não se formaram! É são muitos, só gastando dinheiro público!

Daniel

Sexta geração?

Peter nine nine

A sexta geração, é apenas, para já, um conceito e, nesse conceito, o que se prevê não é uma aeronave singular, como um f16 4g ou f22 5g, mas sim uma rede de plataformas, tripuladas e não tripuladas, furtivas e não furtivas, grandes e pequenas, a operar em conjunto…. Enfim, toda essa parafernalha que actualmente se imagina para o futuro…. Portanto, sexta geração não será distinguida pelas características de um eventual “tempest” comparadamente ao que exista nesse futuro-presente, mas antes no conjunto completo, portanto, por exemplo um tempest, os seus eventuais “wingdrones”, etc… Os franceses querem por exemplo que um… Read more »

Vinicius Momesso

Como o avanço ‘exponencial’ da IA, fica cada vez mais exposto que o futuro da área militar tende a ser dominado por ‘modelos híbridos’.

Space jockey

Se não for stealth não vale a pena, e é muito caro. Melhor investir num UAV de verdade e furtivo.

Observador.

Ao meu ver, as duas melhores aplicações para os VANTs seriam:
* VANT de reconhecimento: Stealth, com capacidade de auto proteção e elevada autonomia e alcance.
* VANT suicida: Com baixa observabilidade, custo de produção e operação, podendo usado em enxame, para saturar as defesas e radares inimigos.
O restante, dá para resolver com bons AEW e caças multifunção, de preferencia Stealth.

MBP77

“… mas elas precisam ter custos condizentes com o perfil das missões que serão executadas.
… mas talvez não seja a melhor resposta para a situação.”
*
Para bom entendedor, meias frases bastam. 🙂
Estudo válido sobre tal versão e de execução técnica possível, mas de improvável materialização dadas essas questões suscitadas no texto.
Sds.

Sergio Prado

ARRASOU……

Antoniokings

Esse é o futuro. Veículos autônomos e com I.A.

Chris

Cara… Ainda não existe inteligencia artificial ! É tudo pré-programado. É uma realidade ainda muito distante… Alias, qdo realmente existir, nem de pilotos ou operadores vão precisar mais !

E sua Rússia não tem tecnologia própria pra nada disso… Até o Sistema Operacional “russo” Aurora… Foi desenvolvido por uma empresa… Finlandesa ! Por sua vez… Baseado no sistema MeeGo ! Por sua vez… Baseado em… LINUX !

Eles estão até com diversos problemas… Pois seus caças são cheios de peças ocidentais… Volta pra 2019 !

Felipe Morais

O Xings não é russo. Ele é chinês.

Apenas tem sonhos calientes com uma cidadania russa. Mas a certidão de nascimento dele está em mandarim.

Chris

Até o sistema operacional Baguet… Usado pelos militares russos.. É escrito em linguagem C e C++… Americano ! Eles não possuem nem o básico… Um compilador próprio !

Maurício.

Não é a mesma função, mas quando falam em aeronaves de caça não tripulada eu penso nisso: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcQkQxGJ93c3KTLF51H-Lw3BsB9s9LFLbgYpK6Wc0jVs-WpUyZLw

Luiz Trindade

Interessante os “deslikes” que recebi no meu comentário… Me pergunto: Será porque ainda tem gente com visão romantizada de pilotar caças ou é porque como foi comentado é caro manter um caça remotamente pilotado? E outra… Aonde esta escrito que seria pilotado autonomamente por IA? Vejo que tem pessoas que vivem para criticar sem ao menos ler com atenção a reportagem…

marco

Gripen autônomo? Kkk fale para os EUA transformarem o f35 em autônomo e ela vai rir da sua cara, discussão boba. Os autônomos menores e mais baratos nem se comparam com um grande e caro

WVJ

Tenho que concordar.
Porém, o Gripen não é caro. Qdo tirarem todos os sistemas de suporte à vida ficará bem em conta. Daí é aproveitar escala de produção e trazer o custo a um ponto viável.

Diego

Eu acompanho esse site a um tempo, e vou comentar pela primeira vez, esse pode sim ser o futuro, remove da equação a vida do piloto, mas pra fazer sentido o vetor tem q ser stealth

Carlos Campos

Eu acredito que agora que o Brasil tem toda tecnologia para produzir o Gripen localmente devíamos aprender a fazer o recheio como por exemplo o radar dele, mesmo que seja arsenieto de gálio e não nitreto é um grande passo, assim como a FAB fazer um sistema que nos daria indepência na AS em relação a GPS, o ITA e a FAB fazerem estudos de design furtivos, temos 30 anos para fazer tudo isso, aí o Gripen seria substituído por um caça autônomo furtivo com várias partes feitas no Brasil.

Renato

Não convém usar o desenho de um caça tripulado para um não tripulado. Pois o fato de ter um cockpit implica em certas dificuldades na construção e organização do espaço da aeronave. Já sem cockpit não convém lidar com essas desvantagens. O desenho de um caça não tripulado é outro totalmente diferente.

WVJ

O inimigo não saberia de longe qual é pilotado ou não. Taticamente isso pode vir a ser útil.

Rommelqe

Esse conceito – empregar uma aeronave tripulada ja totalmente desenvolvida como base para uma nao tripulada- me parece ter mais vantagens do que desvantagens. Pensando apenas nos aspectos mais a simples, a reduçao em custos e massa de itens voltados ao tripulante (desde o proprio assento paineis hud/wad, onboogs, etc), resultam na possibilidade de aumentar autonomia, de quantidade de armamentos, etc. Se analisarmos itens mais complexos, tais como a nao necessidade de um investimento intensivo em aerodinamica e reparametrizaçao de alguns de algoritmos de controle, tornam essa opçao aparentemente bem atrativa. Agora se algum dos adeptos do tema “pintura de… Read more »

ALEXANDRE

Interessante, sera que o Brasil entra no projeto?

RENAN

Vamos analisar no ponto de vista financeiro. Basta retirar tudo que existe de suporte a vida, tudo que fornece informações áudio visual ao piloto. Retirar o próprio piloto. Em alguns caso pode se reduzir a blindagem da aeronave. Pronto quantas toneladas se ganha? Mais leve pode ter uma relação peso versos empuxo muito melhor. Ou mesmo levar mais equipamentos ou combustível. Segundo seu operador não necessita ser um piloto caro, logo teremos uma nova categoria de pilotos, pilotos de ARP. Mais barato de sustentar podendo ser um cívil ou mesmo um militar temporário. Terceiro com menos equipamentos a manutenção se… Read more »

Carta Branca

Um Gripen não tripulado seria uma ótima opção de UCAV de superioridade aérea, seria performance de gente grande por um preço pequeno. Embora UCAV de superioridade aérea mais simples e baratos são concebíveis, dificilmente conseguiriam enfrentar adversários que apenas um caça de origem enfrentaria, nas mãos de um piloto habilidoso, ou uma inteligência artificial extremamente avançada, pode enfrentar até aeronaves “acima do seu peso”. Tecnicamente, a indústria já possuí capacidade de modelar e escrever uma inteligência artificial para UCAVs suficientemente avançada, mesmo aqui no Brasil, incluindo rotinas táticas, decisões estratégicas de combate além de decisões de prioridade, cálculos de sobrevivência… Read more »

Igor Alves Rodrigues

A versão não tripulada do Gripen poderia ser usada para Alerta aéreo antecipado e Guerra Ant-Submarina, operando a partir de porta aviões Stobar. Com os operadores ficando em uma sala do porta aviões, essas aeronaves resolveriam o problema de tais navios e, assim, o Brasil poderia construir um desse tipo aqui mesmo, em nossas empresas construtoras de navios.

Vladmir Avellar de Oliveira

Num segundo lote, bem que a FAB poderia solicitar a inclusão de pelo menos 12 Gripen não tripulados. Pilotos não teriam que sofrer a força G ao extremo e manteriam uma altíssima manobrabilidade em suas missões.