Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Aéreo

Boa parte dos oficiais-generais de 4 estrelas das Forças Armadas está decepcionada com a timidez do Executivo, nas gestões Temer e Bolsonaro, durante os entendimentos para a absorção, pela gigante americana Boeing, do setor de aviões comerciais da Embraer.

O assunto foi discutido semana passada, à boca pequena, por esses militares, durante a última mostra de armamentos LAAD, no Rio de Janeiro.

A informação foi passada ao Poder Aéreo, sob a condição de anonimato, por um desses oficiais-generais que é leitor assíduo do blog. Diz ele:

“O Governo deveria ter precificado sua autorização para os entendimentos entre as duas companhias, e transformado isso no recebimento [pelo Brasil] de equipamentos militares”. E acrescenta:

“As Forças Armadas precisam de material sofisticado, e a Boeing fabrica diversos equipamentos que as nossas Forças desejam”, continua o oficial.

“Por que não exigir o fornecimento, a preço reduzido, de helicópteros de ataque e/ou transporte pesado para o EB e FAB? Ou a entrega de F/A-18 Super Hornet Block 3 para a MB? Ou de aviões reabastecedores para a FAB? Mísseis e outros equipamentos…”

Encontros e viagens – Para essa fonte, a chance que se ofereceu quando os dirigentes da Boeing precisaram da concordância de Brasília para ficar com a Embraer, já se perdeu – mas a verdade é que não há informações seguras sobre a pauta que tem orientado os vários contatos recentes entre o Ministério da Defesa do Brasil e o Pentágono (edifício-sede da Secretaria da Defesa dos EUA).

O titular brasileiro da Pasta da Defesa, general Fernando Azevedo, cumpriu visita oficial aos Estados Unidos entre os dias 26 e 29 de março.

Na terça 26 ele compareceu à Casa Branca para discutir temas bilaterais com John Bolton, Secretário de Segurança Nacional do governo Donald Trump. Mais tarde, nesse mesmo dia, Azevedo dirigiu-se ao Pentágono, onde manteve reunião com o secretário interino da Defesa, Patrick M. Shanahan.

De acordo com um comunicado divulgado em Brasília, Shanahan fez uma declaração formal, ao fim desse encontro, dizendo que visualiza “avanços concretos” com o Brasil, o que, segundo ele, inclui “cooperação e interoperabilidade, colaboração industrial de defesa, pesquisa e desenvolvimento, ciberespaço e espaço”.

A 29 do mês passado Azevedo atendeu a Conferência de Ministros da Defesa da Organização das Nações Unidas (ONU), oportunidade em que anunciou: uma equipe especializada no treinamento em ambiente de selva será enviada à Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO).

A MONUSCO tem como Force Commander o general de divisão brasileiro Elias Rodrigues Martins Filho (substituto do general sul-africano Derrick Mbuyiselo Mgwebi).

A agenda de conversas de Azevedo nos Estados Unidos tratou, ao que se sabe, de novidades de consequências ainda incertas para a Defesa brasileira, como a indicação do Brasil para Principal Aliado Não-OTAN (do inglês Major Non-Nato Ally), e trocas de informações a respeito de questões sensíveis, como a crise na Venezuela – onde os militares brasileiros podem fazer pouco, além de participar do acolhimento aos refugiados venezuelanos que conseguem alcançar o território brasileiro.

A viagem à Washington também proporcionou a oportunidade para assinatura, pelo Ministro da Defesa brasileiro, do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas entre Brasil e Estados Unidos, anunciado dias antes pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro, ali mesmo nos Estados Unidos.

O acordo trata da viabilização comercial do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), que é uma organização militar da Força Aérea Brasileira (FAB) no Maranhão.

Com isso, os Estados Unidos permitem que Brasil lance de Alcântara veículos e satélites de qualquer nacionalidade com componentes norte-americanos. Por sua vez, Brasília se compromete a proteger e resguardar essas tecnologias. O acesso a qualquer parte do Centro Espacial de Alcântara e o controle de todas as operações é do Brasil.

Mas essas visitas oficiais não esgotaram as chances de entendimentos militares bilaterais.

Centro de Lançamento de Alcântara

Diálogo e dúvidas – Na segunda-feira 1º de abril – tendo como pano de fundo a inauguração da LAAD 2019 – a Escola de Guerra Naval, no bairro carioca da Urca, sediou a 3ª edição do Diálogo das Indústrias de Defesa Brasil e Estados Unidos.

A primeira edição do Diálogo das Indústrias de Defesa Brasil e Estados Unidos ocorreu em 2016, para estabelecer um fórum de discussão que aprofundasse as prioridades de longo prazo e institucionalizasse a cooperação entre os dois países em matéria de defesa. O segundo encontro foi realizado em Washington, em 2017.

No Rio, mês passado, cerca de 200 representantes diplomáticos, dirigentes de empresas e representantes de indústrias nacionais e estrangeiras trocaram informações sobre o andamento de acordos que estão sendo desenvolvidos pelos dois países, e tiveram a possibilidade de identificar oportunidades comerciais. Estavam presentes, entre outras autoridades militares e civis.

A delegação brasileira foi chefiada pelo secretário de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa, Marcos Degaut; a dos Estados Unidos teve a liderança do ministro conselheiro William Bill Popp, chargé d’affaires americano em Brasília (diplomata que serviu na Colômbia e na África e é mestre em Estratégia de Segurança Nacional pela Escola Superior Nacional de Guerra, de Washington).

Mas essa é a parte visível do novo relacionamento político-militar do Brasil com os Estados Unidos, estabelecido por iniciativa de Bolsonaro.

Os temas mais sensíveis são mantidos em segredo.

O Ministério da Defesa brasileiro já conversou com os americanos sobre helicópteros de carga da Boeing tipo Chinook CH-47F ou caças??

Há, enfim, muitas lacunas para serem preenchidas, antes que as Forças Armadas possam organizar uma força expedicionária real – o que daria ao Brasil maior destaque no cenário internacional.

Trinta anos atrás, a cúpula militar brasileira sonhava com uma Força Naval comparável à da Espanha ou à da Australia, e com uma indústria de Defesa que pudesse rivalizar com a de países asiáticos emergentes no campo das Armas, como a da Indonésia.

Mas o tempo passou e o Brasil viu as Forças Armadas de Espanha, Austrália e Indonésia se distanciarem rapidamente, graças a políticas de Defesa que, além de bem definidas, foram implantadas com a consistência – e a persistência – de políticas de Estado.

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