IAI Eitam – Os olhos da Força Aeroespacial de Israel
Sérgio Santana*
A atualmente designada Força Aeroespacial de Israel dispõe da capacidade de Alerta Aéreo Antecipado e Controle desde 1978, quando completou a incorporação de quatro aeronaves Grumman E-2C Hawkeye do chamado “Grupo 0”, cujo radar AN/APS-138 podia detectar 600 alvos (incluindo alvos terrestres) a no máximo 402km. Curiosamente, e ao contrário da grande maioria dos Hawkeye, os exemplares de Israel podiam ser reabastecidos em voo.
Durante o período operacional, os Hawkeyes israelenses alcançaram um excelente recorde de desempenho, sendo considerados como uma das chaves para a vitória do país durante a campanha “Paz na Galiléia”, em 1982.
Mas foram aposentados vinte anos depois. Três deles foram vendidos para a Marinha Mexicana, enquanto o quarto exemplo foi mantido para ser exibido no Museu da Força Aérea Israelense em Hatzerim, deixando a Força Aérea de Israel sem capacidade de AEW&C.
Essa situação começou a mudar em abril de 2003, quando a Gulfstream Aerospace assinou um contrato avaliado em US$ 473 milhões para o desenvolvimento de uma versão de seu jato executivo G550 dedicado àquelas missões.
O acordo, anunciado oficialmente quatro meses depois, inicialmente incluiu o desenvolvimento e suporte (por 20 anos) de quatro aeronaves G550 Conformal Airborne Early Warning e Control ou CAEW, com opção para mais duas.
Modificações estruturais
Para cumprir a nova missão, o G550 foi extensivamente modificado. Sua fuselagem esguia foi equipada com protuberâncias que geravam o mínimo de arrasto, abrigando as antenas do sistema Elta EL/W-2085, que funcionam em banda dupla (banda L / banda S, 1-2GHz e 2-4GHz, respectivamente) e é uma evolução do radar EL/W-2075, o primeiro sistema de rastreamento eletrônico de dedicado a funções de AEW&C, tendo sido instalado a bordo do “Condór”, um único Boeing 707-385C operado pela Força Aérea Chilena desde 1995.
Ao contrário do EL/W-2075, que tem cobertura de apenas 260 graus, o radar projetado para o G550 pode varrer uma área de 360 graus de cobertura, graças a quatro antenas: duas laterais cobrindo 135º cada, complementadas por duas outras na cauda e nariz, com 40º e cobertura de 50º, respectivamente.
Além de sua cobertura de 360º, o EL/W-2085 fornece trajetórias tridimensionais precisas, baixa taxa de alarme falso (isto é, é ativado somente quando determinados parâmetros de velocidade do alvo são detectados), tempo de revisitação alto (permitindo que alvos rápidos sejam continuamente rastreados) Contra Contramedidas Eletrônicas (tornando-o resistente a interferidores) e um Sistema Integrado de Identificação ou Amigo, capaz de determinar a trajetória de destino em até quatro segundos após a detecção.
O sistema opera em rastreamento automático, seleção de área de varredura e modos de detecção de alvos com alta agilidade. É amplamente divulgado (mas também altamente controverso) que 100 alvos aéreos, navais e terrestres podem ser rastreados simultaneamente (incluindo mísseis balísticos de teatro) e mais de uma dúzia de interceptações ar-ar ou ataques ar-solo podem ser gerenciadas em um alcance máximo de 370 km.
No entanto, como é o caso do sistema de missão da Condor, o EL/W-2085 trabalha em conjunto com o conjunto Elta EL/L-8382 de Medidas de Suporte Eletrônico/Inteligência Eletrônica, localizado nas pontas das asas e no radome.
O EL/L-8382 possui uma precisão do localizador de direção abaixo de 1 grau (em 360 graus possíveis), largura de banda instantânea de ~ 4 GHz, sensibilidade entre -70 e -85 dBm e cobertura de banda entre 500 MHz e 18 GHz, permitindo abranger uma ampla gama de emissões hostis. A informação é transmitida através do sistema de comunicação por satélite e de link de dados Elta EL/K-1891.
O Sistema Elta EL/M-2160, composto de Receptor de Aviso de Radar, Sistema de Aviso de Aproximação de Mísseis, Medidas Direcionais de Infravermelho, lançadores de chaff e flare, localizados sob as naceles do motor, completa as modificações externas aplicadas ao G550 CAEW.
Internamente, o G550 tem sua seção dianteira ocupada por racks de equipamentos eletrônicos, enquanto a parte traseira contém seis posições para operadores de equipamentos, com estações de trabalho multifunção de 24 polegadas rodando programas baseados no Microsoft Windows, gerenciando todos os sensores e realizando a função de comando e controle. Além de um conjunto completo de UHF/VHF, o equipamento de navegação do G550 CAEW inclui o Sistema Diretor de Voo PZ-8500 e aviônicos do sistema Primus II Epic.
A fim de permitir que todos os sistemas de missões funcionem corretamente, a estrutura da aeronave foi adaptada com o resfriamento aprimorado do equipamento líquido e um gerador de energia melhorado.
O G550 CAEW é equipado com dois turbofans Rolls-Royce BR710-48, com capacidade nominal de 6.980 kg cada. A aeronave tem velocidade máxima de 938 km/h, velocidade de cruzeiro de 753 km/h e teto de serviço de 12.496 metros, com o teto máximo sendo de 15.544m. O G500 CAEW tem um tempo de vigilância (on-station) de mais de 7 horas a 926 km da sua base, ou, alternativamente, de mais de 9 horas a 185km do local de decolagem. A aeronave possui alcance é de 12.509km, podendo ser reabastecida em voo.
Os primeiros voos e a introdução ao serviço na Força Aérea Israelense
O protótipo do CAEW registrado como N637GA voou pela primeira vez em maio de 2006 nos EUA e foi levado para Israel em 19 de setembro de 2006 para a instalação dos aviônicos da missão. O último exemplar, N969GA, foi transportado para modificação em julho de 2007. O tipo foi oficialmente declarado operacional em fevereiro de 2008 e recebeu o nome hebraico Nachshon Eitam, em homenagem a uma espécie de águia marinha.
Contudo, a nova aeronave atuou em missões operacionais antes de ser declarada oficialmente operacional. Em setembro de 2007 o Eitam foi empregado na Operação Orchard, o ataque às instalações nucleares sírias pelos F-15Is israelenses e F-16Is.
Além disso, dois Nachshon Eitams voaram em apoio aos estágios iniciais da Operação Chumbo Fundido em Gaza entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, quando vetoraram os F-16 e geraram uma imagem completa do teatro operacional para os comandantes israelenses.
Desde então, o Eitam (operado pelo Esquadrão Nº 122 na Base Aérea de Nevatim) tem sido empregado em cada ação militar israelense que exija aeronaves, como nos mais recentes ataques.
*Bacharel em Ciências Aeronáuticas (Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL). Pesquisador do Núcleo de Estudos Sociedade, Segurança e Cidadania (NESC-UNISUL). Pós-graduando em Engenharia de Manutenção Aeronáutica (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG). Autor de livros sobre aeronaves de Inteligência/Vigilância/Reconhecimento. Único colaborador brasileiro regular da Shephard Media, referência em Inteligência de Defesa.
Horrível mas deve ser esplêndidamente funcional!
Avião lindo!
Muito obrigado pela matéria, achei interessante ele não ter as antenas em cima do avião, parece uma solução melhor que causa bem menos arrasto aerodinâmico e consequentemente gastando menos combustível, o fazendo permanecer por mais tempo no ar, acredito que até a FAB necessitar de novos aviões do tipo os israelenses terão sensores melhores, podendo rolar uma parceria.
Dada a geografia e o tamanho de Israel qualquer teco-teco com antena enxerga pra fora de seu território
E, pelo jeito, enxergou pouquíssimo na guerra no Líbano.
Não houve combates aéreos.
Vc leu ‘alvos terrestres’?
E por acaso a missão dele é rastrear tropas com ATGMs?
Você nem sabe o que avião fez, deixa de ser tro…
Mas em compensação enxergaram e muito no mesmo Líbano em 1982, durante a operação Mole Cricket 19. Pense numa surra…
2006-1982 = 24 anos.
Muita coisa mudou, inclusive com uma surra que Israel levou do Hezbollah.
Mudou tanto que os Migs sírios nem decolam quando os caças de Israel chegam. 4 caças de Israel contra mais 20 ou 30 migs e mesmo assim eles não saem chão.
Putz o cara comemora feitos do Hezbollah! Paga a mensalidade deles também para sustentar a família dos mártires?
Como assim? Ele não está comemorando não. Simplesmente disse o que todos já sabem. O Hezbolah sim, deu uma surra na IDF. Dizer que não é o caso é tapar o sol com a peneira. Eu mesmo já conversei com vários soldados israelenses que me confirmaram isso, pois aqui sempre estamos fazendo treinamentos conjuntos.
Israel sim, possui tropas muito bem adestradas e mais pra lá de dedicadas. Mas, guerra no chão, contra unidades bem adestradas, equipadas e lideradas é coisa seria. As baixas acumulam, e a população civil israelense simplesmente não tem saco para baixas numerosas.
Abs
Com certeza é uma aeronave excepcional para a sua finalidade e somente os israelenses sabem de todas as suas potencialidades !! Com certeza essas aeronaves e suas respectivas bases aéreas serão ou poderão virar alvos para ataques de mísseis de precisão inimigos !!
Talvez fosse interessante uma matéria fazendo comparações entre as aeronaves de alerta antecipado ao redor do mundo.
Acho que em comparação com o A-100 russo, basta olhar para sabermos qual é o mais potente.
E muito mais potente, né?
Agora qual é o mais avançado já é mais difícil dizer, visto que os indianos pediram um radar israelense nos A-50 que eles compraram da Rússia.
Isso é apenas questão de gosto do cliente (preço, disponibilidade, custo de manutenção e etc.), visto que é impossível uma potência global como a Rússia, capaz de confrontar e derrotar os americanos, não ter um equipamento de ponta nessa área.
E o que dizem é que são dos melhores do Mundo.
Quem diz que são melhores do mundo? Você???O Sputnik???
Sim é questão de gosto, o cliente gosta do que ele acha melhor….
Tudo o que é russo é melhor do mundo, mas sai na rua e não encontra um produto fabricado na Rússia. E quando a acha ainda vem escrito: made in china.
IAF Phalcon AWACS is the Israeli IAI EL/W-2090 radar and other sub systems fitted onto Russian Il-76 aircraft.
Attempts to buy 2 additional Phalcons stalled due to steep price hike by the Russians for the IL-76 platforms. Now the deal is close to finalizing with a renegotiated deal of 800 million dollars for 2 Phalcon AWACS.
Sem dúvida.
Ótima idéia.
Um problema seria a diversidade das fontes. Acredito que cada um divulgue seus dados com bases em referências diferente.
JPC3, sou autor/co-autor de dois livros e de alguns artigos (além de um TCC) sobre aeronaves de AEW&C. Serão minhas fontes nessa proposta de texto…
Confio em você. Me refiro aos fabricantes divulgarem ou medirem dados de forma diferente.
Como, por exemplo, cada um divulgar o alcance máximo mas contra alvos de RCS diferentes. E também o fato de não termos certeza se eles fornecem dados verdadeiros, se escondem ou exageram números, por exemplo.
Eu discordo um pouco da sua opinião as vezes, mas respeito muito o seu trabalho. Já gostei de muita coisa que você escreveu.
Um abraço!
JPC3, agradeço a sua discordância eventual…São coisas assim que me permitem avaliar o que faço…Quanto aos dados, posso dizer o seguinte: o mundo das aeronaves de AEW&C é mais cercado de segredos, informações duvidosas e mesmo contrainformações do que se pensa…Mas dá pra calcular com boa margem de acerto coisas como alcance máximo e contra alvos de diversos RCS (que varia também com a posição do alvo…). Abraço…
Isso aí é melhor fazer video do que materia ,pois tem muita coisa
A Itália tem 2 desses aviões? Certo?
Sérgio, poderia fazer uma matéria desse tipo sobre o Sentinel R1. Aeronave de Reconhecimento da RAF. Eu e creio que vários colegas aqui tem curiosidades sobre ele. Abraço.
Matheus, anotado !
Quando comandava o 2°/6° GAV recebemos a visita de um Brigadeiro da RAF, Comandante do Grupo 2, a fim de conhecer nosso R-99 e como operávamos, visto a similaridade das aeronaves. A RAF iria enviar o Sentinel ao Afeganistão, e necessitava saber um pouco mais sobre a sua operação. Durante essa visita consegui um intercâmbio, a fim de voar nos E-3D. Enviamos dois oficiais e dois graduados para a RAF Waddington. O Sentinel é o JSTAR inglês,
Pense num bichão bonito…
Com as antenas internas na aeronave, não corre a tripulação risco de ficar exposta a uma taxa alta de irradiação eletromagnética?
Tallguiese, creio que em sistemas de geração avançada como este o risco é quase inexistente, ao contrário do que acontecia com o radar Liana do Tupolev Tu-126 Moss, cujo funcionamento afetou várias gerações de operadores ao longo dos anos com altas doses de radiação. Há muitos relatos de leucemia e câncer…Ainda hoje os sistemas russos do tipo parecem ofecerer algum risco à tripulação, visto que o Beriev A-50 Mainstay possui um revestimento fino isolante de ouro em algumas de suas janelas.
Acho que a radiação é muito elevada, não importa onde a antena está.
Estão muito próximo da fonte de radiação.
Até onde eu saiba ondas eletromagnéticas emitidas por radares são transmitidas em linha reta como FM e sinal de TV, portanto penso que estando atrás da antena não há perigo de exposição aos feixes do radar. Só estou conjeturando, pois não sou um especialista no assunto.
Conan, as ondas eletromagnéticas são emitidas em fachos denominados “lóbulos”. Existe o lóbulo principal (que pode ser direcionado) e os secundários (que vão em várias direções). Em um radar AESA, como é o caso, estes últimos são minimizados, porque poderiam denunciar a presença da aeronave. E, de fato, a emissão é para o exterior da aeronave…
Corre esse risco sim. Desde que iniciamos a operação com os E-99 nos fizemos essa pergunta. A EMBRAER e a SAAB não possuíam uma resposta precisa. Um dos nossos oficiais, especialista em Comunicações, Engenheiro Elétrico, realizou um estudo sobre o tema no seu Mestrado no ITA (PPGAO – Programa de Pós Graduação em Aplicações Operacionais). Mas já havia passado o comando, e não tive ciência do resultado.
A mesma soluça usada.no Condor da.FACh.
Qualquer Força Aérea que deseje não tiver em seu inventário aeronaves AEW&C ou equivalente ficará em desvantagem em sua capacidade defensiva.
Parece que ele foi montado na base da gambiarra ( encaixo uma coisinha ali, outra lá, outra acolá, etc). Mas, sendo eficiente……..
João, você acha mesmo que empresas como a Gulfstream e a IAI enterrariam recursos numa gambiarra ? ??. O único vetor projetado para AEW&C foi o Grumman E-2 Hawkeye. Os demais tem sido adaptações…
Acredito no ERiEYES + EMB-195-E2 , a FAB vai estar noutro nivel… uma avanço face ao muito bom R-99 ERJ-145.
Estava indo bem mas parei em “Microsoft Windows”.
Existe hoje uma tendência em usar softwares comerciais. Mas obviamente há segredos envolvidos…
Parabéns pelo trabalho, Sérgio!!! 😉
Mas fiquei com dúvidas… Quantos destes aparelhos a Hel HaAvir possui no inventário, apenas os quatro primeiro aparelhos pedidos, ou completou com as outras duas opções, ou seja, são seis unidades operacionais?! São todas do modelo Eitam CAEW, ou alternam com o Shavit SEMA? Se sim, quantos de cada?
A ideia aqui é tentar fazer um paralelo com os quantitativos dos nossos E-99 e R-99 já que, ao que parece, são equivalentes aos nossos em função (AEW&C e RS/ELINT/SIGINT).
Grande abraço!!! 😉
O design deve ser muito significativo para a funcionalidade, uma vez que fizeram dois modelos diferentes. Isso encarece à beça o processo.