Protótipo -1 do Saab JAS-39 Gripen no primeiro voo em 9 de dezembro de 1988
Protótipo -1 do Saab JAS-39 Gripen no primeiro voo em 9 de dezembro de 1988

Em 9 de dezembro de 1988, o piloto de testes chefe da Saab Stig Holmström decolou com o primeiro protótipo (39-1) do caça Saab JAS 39 Gripen, num voo de 51 minutos.

O Gripen foi projetado para substituir o caça Saab J37 Viggen, com todos os esforços focados no desenvolvimento de uma única plataforma capaz de cumprir as missões de interceptador/caça, ataque e reconhecimento, realizadas por quatro versões do Viggen.

Os requisitos preliminares para um sucessor do Viggen foram definidos em fevereiro de 1980 e em novembro daquele ano foi decidido que o General Dynamics (agora Lockheed Martin) F-16 seria usado como “benchmark” para performance, peso e capacidade de carga.

Fabricar uma aeronave na Suécia não foi uma escolha automática, já que a FMV – Försvarets materielverk estava considerando seriamente também os caças F-18 Hornet e o F-20 Tigershark.

No início de 1981, uma especificação técnica foi formulada e em abril do mesmo ano um RFP formal foi enviado à Saab, que formou um consórcio sueco, o Grupo Industrial JAS, com a Volvo, Ericsson e FFV (agora Celsius) Aerotech.

Protótipo -1 do Saab JAS 39 Gripen
Protótipo -1 do Saab JAS 39 Gripen

Antes disso, em abril de 1979, o relatório do MFK79 (Comitê da Indústria Aeroespacial Militar) foi apresentado, mostrando que 12.000 pessoas na Suécia trabalhavam na indústria aeroespacial e que a compra de uma aeronave militar no exterior iria devastar a indústria local. A maioria dos 12.000 empregos seria perdida a médio prazo.

Em novembro de 1981, o Comitê de Defesa de 1978 apresentou seu relatório, que dizia que a defesa aérea era essencial para as Forças Armadas e que uma indústria aeroespacial local capaz de projetar aeronaves era muito importante para a segurança nacional e independência.

A proposta do consórcio JAS, com a designação da empresa “SAAB 2110”, foi aceita na primavera de 1982, com um contrato assinado em junho para cinco protótipos com algumas modificações da proposta original, além de um lote inicial de 30 aeronaves e uma opção para mais 110 aeronaves.

Um Viggen modificado, ESS JAS, equipado com o Sistema de Controle Voo Eletrônico, apoiando o desenvolvimento do JAS 39 Gripen, voou pela primeira vez em 1982
Um Viggen modificado, ESS JAS, equipado com Sistema de Controle Voo Eletrônico, apoiando o desenvolvimento do JAS 39 Gripen, voou pela primeira vez em 1982

Protótipo -1 do Saab JAS-39 Gripen em voo

Dificuldades no software de controle de voo

No dia 2 de fevereiro de 1989, durante uma aproximação para o pouso, o protótipo de Gripen começou a oscilar com os ventos e após tocar na pista, tombou para a esquerda, capotou várias vezes e desintegrou-se.

O piloto, um experiente profissional de testes da Saab, Lars Radeström, sobreviveu com alguns ferimentos leves.

A sorte é que todo o acidente foi filmado por uma equipe de TV Sueca, que estava fazendo um programa sobre a rotina diária de um piloto de testes.

Um investigação do acidente foi levada a efeito e foram efetuadas mudanças no software de controle de voo e na administração do Programa.

Em resposta ao acidente, a Saab e a empresa americana Calspan fizeram algumas modificações no software da aeronave. Um jato Lockheed NT-33A foi usado para testar essas melhorias, o que permitiu retomar o programa de testes de voo quinze meses após o acidente.

Em 4 de maio de 1990, o segundo protótipo (39-2) levantou voo. Em 8 de junho de 1993, a primeira aeronave de produção 39.102, foi entregue para a FMV e a Força Aérea, numa cerimônia em Linköping.

Em 8 de agosto de 1993, este Gripen foi destruído em um acidente durante uma exibição aérea em Estocolmo. Novamente, o piloto de teste Lars Radeström perdeu o controle do 39.102 durante uma passagem em baixa altitude quando a ela estolou, obrigando-o a ejetar. Mais tarde, o Saab descobriu que o problema era uma alta amplificação das entradas rápidas e significativas do manche do piloto. Estes “inputs” fizeram a aeronave oscilar fora de controle – o termo técnico para isso é Pilot-Induced Oscillation (PIO).

A investigação subsequente e a correção de falhas atrasaram os testes de voo por vários meses, sendo retomado em dezembro de 1993.

Quatro protótipos do Saab Gripen, menos o
39-1, perdido em acidente por defeito no software de controle de voo, posteriormente corrigido

No ar novamente

Em 3 de junho de 1992, o Parlamento Sueco concedeu à FMV a aprovação para a encomenda do segundo lote de caças Gripen, de 110 aeronaves, incluindo o desenvolvimento e produção de 14 aeronaves biplace JAS 39B.

Em 29 de dezembro de 1993, os testes de voo começaram novamente depois de 18 semanas de paralização, quando Claes Jensen, piloto de testes chefe, levantou voo no segundo protótipo, 39-2. Aquele era o voo número 1.024.

Na primavera de 1994, as entregas de produção da aeronave continuaram, com as primeiras aeronaves sendo entregues para treinamento das equipes de solo.

O segundo lote de Gripen era equipado com aviônicos atualizados e novo hardware no sistema de controle de voo.

A última aeronave do primeiro lote de 30 aeronaves foi entregue em 13 de dezembro de 1996.

Em 16 de junho de 1997, um terceiro lote de Gripen foi encomendado, sendo 50 monoplaces e 14 biplaces, aumentando o número total de aeronaves para 204.

As primeiras 120 aeronaves (incluindo 14 biplaces) foram designadas JAS 39A e JAS39B. As demais 84 aeronaves (14 biplaces) foram designadas JAS 39C e JAS 39D.

Protótipo 39-2 do Gripen repintado de preto testando alto ângulo Alpha

MÚSICAS QUE FAZIAM SUCESSO QUANDO VOOU O PRIMEIRO GRIPEN

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JT8D

Interessante a informação de que o Gripen foi projetado para ser melhor que o F-16

Alexandre Fontoura

O F-16 serviu de benchmark para o programa do Gripen.

GripenBR

O Gripen preto com randome branco fica muito bonito.

Alexandre Fontoura

Esse protótipo repintado de preto (ficou conhecido como Black Beauty) chegou a ser levado a 110º nos testes de High AoA. Mas é uma manobra muito desconfortável para o piloto. Com os dois acidentes envolvendo um dos protótipos e o primeiro avião e série, atribuídos ao software do FCS, e mais os testes de High Alpha, pode-se afirmar que o Gripen tem um hoje um sólido sistema de FCS.

carcara_br

O primeiro delta canard europeu de quarta geração, inaugurou uma tendência…

Flanker

O Rafale voou pela primeira vez dois anos antes, em 1986. Tiveram períodos de desenvolvimento bem diferentes, com o sueco entrando em serviço no final de 1997 (versões A/B) e o francês em 2004 (versão F1 – apenas com capacidade ar-ar).

Marcos Cooper

O único erro na escolha do Gripen,foi a demora na finalização do Programa FX-2. A FAB tem nas mãos o que de melhor poderíamos contar e economicamente manter.
Bem-vindo Gripen!

Rodrigo M

Considerando a “expectativa de vida” de um avião de caça, pode-se prever que quando o último Gripen sair de operação, já terão se passado uns 70 anos de seu primeiro vôo.

Maurício.

Rodrigo, isso não quer dizer muita coisa, o F-15 já tem quase meio século desde seu primeiro vôo, nem por isso Israel deixou de comprar mais, o F-16 é muito mais velho que o Gripen e ainda continua firme e forte por aí.

Comando Adler

Interessante como levam várias décadas no desenvolvimento de caças.

Marcos

É verdade que a primeira versão do Gripen não fazia REVO?

Mauricio R.

E também não operava com combustível JP-4, usava Jet A-1, até o bocal do tanque de combustível é diferente.
Qndo das ações sobre a Líbia, os suecos não operavam a partir da base aérea de Sigonella, na Sicília, mas de um aeroclube próximo.

Maurício.

A Band tinha um programa com o nome de: Os vídeos mais incríveis do Mundo, e nesse programa quase sempre aparecia a acidente com o Gripen 39-1.
https://youtu.be/k6yVU_yYtEc

Gustavo

Interessante lembrar que das 204 unidades de Gripen combinadas (A/B/C/D) em 2015 tinham 134 em serviço, dos quais 31 eram unidades A e B modernizadas para o padrão C/D entre 2008 e 2015. O estoque de Gripen A e B da Svenska flygvapnet é interessante para países como Uruguai, por exemplo. São aeronaves que com pouco investimento em upgrades se mantem altamente modernas, capazes e por menos de 35 milhões de dólares. Muito mais baratas de se manter que um F-16 MLU também. e por um preço de um J-10 Chines por exemplo. Enfim, hoje eles tem algo em torno… Read more »

Marcos Cooper

Não é interessante não! A Suécia não pode se dar ao luxo de desfazer de qualquer Gripen. Lembre-se que eles propuseram nos ceder 12 aeronaves para a FAB utilizar como transição até a chegada dos nossos E/F,mas no último momento se recusaram. Se nem pra nós,parceiros e cliente,não foi possível,imagina pro Uruguai…

Gustavo

que eu saiba o acordo com o Brasil não saiu porque o Brasil não quis o leasing com a opção de compra ao final. Queriam comprar apenas.
A SAAB fez diversas propostas e o Brasil recusou todas. Fomos nós que não aceitamos e não tivemos o “tampão”.

Alfredo RCS

Se recusaram por causa das instabilidades politicas iniciadas pela Russia. A Suecia, que trata com seriedade as ameaças da Russia, preferiu deixar claro que nao iriam tolerar o avanço do discurso expansionista russo, novamente. Se nao fosse esse fato, teriamos os 12 gripens emprestados ja naquele momento.

Antunes 1980

Alguém poderia me informar quais são os atuais e futuros operadores, incluindo todas as versões do Gripen, e também a quantidade de vetores por país ?

Gustavo

Suécia: Entre 97 Gripen C/D + 60 Gripen E encomendados República Checa: 14 Gripen Hungria: 14 Gripen Africa do Sul: 26 Gripen (17 em operação) Reino Unido: 1 Gripen Tailandia: 11 Gripen (buscaram comprar 6 unidades mas acho que o negocio não saiu) Brasil: 36 Encomendados Total 163 nas forças aéreas hoje 259 quando considerado o Brasil e as unidades adicionais da Suécia. São ao todo, 22 países que se interessaram pelo Gripen em algum momento, mas alguns já decidiram por outras opções, como Portugal. Segue a lista abaixo: Argentina (E/F from Brazil, subject to UK veto) Austria (C/D or… Read more »

Antunes 1980

Ótimo ! Grato

Solskhaer

Parabéns meu jovem Gripen, me tornei seu fã. Espero ainda vê-lo por essas bandas do Planalto Central logo.
Mas vou avisando, ainda sou muito fã do Mirage 2000!

Luiz Floriano Alves

A tecnologia aerodinâmica e de armamentos está a 30 anos defasadas. Quando recebermos o primeiro estaremos com um aparelho obsoleto na primeira linha da FAB. Para unidades novas de fábrica, isso não é comum, em outras forças aéreas..

Rinaldo Nery

Mais uma bobagem sobre a aquisição do F-39.

Marcos Cooper

Não é sério isso,ou é ? Caramba,quanta besteira em tão poucas linhas! Falta de informação,que somente a preguiça explica,já que aqui neste espaço existe muita,mas MUITA informação sobre o andamento do projeto. Busca se informar e conhecer o caça e os homens da Força Aérea por trás do programa de aquisição da aeronave.

Thiago Telles

Eu era moleque de uns 13 anos e ja entusiasta aficionado qdo vi a primeira matéria sobre o voo do gripen em uma revista de aviação especializada de meu irmão mais velho. Lembro claramente o apelo de economia na hr voo q seria semelhante a de um pequeno jato civil. O tempo voa e agora estamos quase recebendo essa plataforma…. Nostalgia

jose

todo começo é difícil. acidente do protótipo – https://youtu.be/SK0vL2FG5gM