Preparativos para o ataque à Síria foram rastreados por OSINT
Por David Cenciotti
Na noite entre 13 e 14 de abril, aviões dos EUA, Reino Unido e França lançaram uma primeira onda de ataques aéreos contra alvos terrestres na Síria.
O que se segue é uma recapitulação baseada em OSINT (Open Sources Intelligence), já que a maioria das aeronaves envolvidas nos ataques pode ser rastreada on-line através de informações de domínio público.
A ação “limitada” foi precedida pela atividade de coleta de informações realizada por muitos dos ativos que sobrevoaram o leste do Mar Mediterrâneo recentemente.
O primeiro sinal de que algo estava prestes a acontecer era a presença incomum de um drone RQ-4 Global Hawk que rastreava o Líbano e a Síria poucas horas antes de as primeiras armas chegarem às instalações químicas/infraestrutura do regime sírio.
1415z – USAF RQ-4B 10-2043 FORTE10 continues on task West of Syria & Lebanon pic.twitter.com/B3vkl9gjKq
— Aircraft Spots (@AircraftSpots) April 13, 2018
O RQ-4, indicativo “Forte 10” voou por várias horas a oeste do Líbano, provavelmente apontando seus sensores IMINT e SIGINT/ELINT para as baterias da Defesa Aérea Síria que estava em status de prontidão. O drone então se moveu para sudoeste, ao norte do Egito, onde foi acompanhado por um RC-135V indicativo Fixx74. Era cerca de 23h20 GMT e parecia que as duas plataformas ISR, depois de coletar informações de uma posição próxima, estavam abrindo espaço para os bombardeiros que chegavam.
A quick photoshop work just to have a rough idea of the area potentially covered by the Global Hawk using a EO/IR sensor suite range of 200km (according to some sources, at +53K ft the range should be 250-300km). The area surveilled is not circular: +/- 45° Field of Regard (FOR). pic.twitter.com/U3X7fStT5Y
— David Cenciotti (@cencio4) April 13, 2018
Aqui está a posição do Fixx74.
USAF RC-135V 64-14846 FIXX74 departed Souda Bay – On task over the Eastern Mediterranean North of Egypt pic.twitter.com/N0xPd0tiCH
— Aircraft Spots (@AircraftSpots) April 14, 2018
Entre as aeronaves que chegavam para conduzir seu bombardeio do Mediterrâneo, estavam os jatos Dassault Rafale da Força Aérea Francesa de Saint Dizier AB, na França, apoiados por aviões-tanque C-135FR e Tornados GR4 da RAF com seus mísseis Storm Shadow, lançados da base RAF Akrotiri no Chipre. Enquanto o transponder estava desligado, a presença dos bombardeiros e de seus aviões-tanque foi vazada por suas comunicações via rádio com agências civis da ATC, como a Athinai ACC, que ocorreu em freqüências não-criptografadas de VHF transmitidas pela Internet no LiveATC.net.
Curiosamente, pelo menos dois pacotes de 5 caças (cada um supostamente incluiu 4 x F-16Cs da 31FW e 4 x F-15Cs da 48FW carregados com mísseis ar-ar – na verdade, o segundo incluiu apenas 3 Vipers ao invés de 4) apoiados por aviões-tanque KC-135, desde cobertura DCA (Defensive Counter Air) para os bombardeiros e para os navios de guerra que lançaram TLAMs.
Após as primeiras ondas de ataques, que também envolveram os B-1s da Força Aérea dos EUA de Al Udeid, outro drone Global Hawk foi lançado de Sigonella para realizar o BDA (Battle Damage Assessment).
USAF RQ-4B 11-2047 FORTE11 departed Sigonella at 2335z – On task West of Lebanon & Syria likely conducting a Post Battle Damage Assessment task pic.twitter.com/O5e9UYJv3w
— Aircraft Spots (@AircraftSpots) April 14, 2018
Os ataques aéreos exigiram um enorme apoio de aviões-tanque. Havia 7 aviões-tanque KC-135 e KC-10 no ar no sul da Europa em direção ao Mar Mediterrâneo, algo incomum para uma noite de sexta-feira. No momento desta escrita, havia 13 (!) aviões-tanque no ar: alguns estão arrastando o segundo pacote dos F-15 e F-16s dos EUA de volta para Aviano na Itália, enquanto outros estão reposicionando para RAF Mildenhall ou Souda Bay após uma noite de operações:
UPDATE 2: 13 tankers now up this morning QUID290+291 KC-135’s abeam Lyon QUID292+295 Sicily QUID21 Adriatic QUID282+283 +QUID11 Southern Italy QUID288/289/290 KC-10’s near Cyprus & FAF4018/4042 @planesonthenet @KalteMalte53 @ItaMilRadar @Andy007_SR_A @Su39frogfoot @cencio4 pic.twitter.com/8w6yKan82p
— Buzz ??????? (@Buzz6868) April 14, 2018
USAF McDonnel Douglas KC-10A (86-0027) departed from Souda Bay AB making aerial refueling mission between Crete and Cyprus#SyriaStrike #Syria pic.twitter.com/fCAj1f9nHW
— ItaMilRadar (@ItaMilRadar) April 14, 2018
Outro avião interessante rastreado on-line após o ataque, é um Bombardier E-11A 11-9358 do 430th EECS (Expeditionary Electronic Combat Squadron), localizado em Kandahar no Afeganistão. A aeronave é um recurso BACN (comunicações aerotransportadas no campo de batalha): BACN é um sistema tecnológico de “gateway” que permite que aeronaves com sistemas de rádio e datalinks incompatíveis troquem informações táticas e se comuniquem.
Ao orbitar em grandes altitudes, os recursos aéreos equipados com BACN fornecem um elo de comunicação entre os aliados, independentemente do tipo de aeronave de suporte e em um ambiente sem linha de visada (LOS). O sistema BACN também é instalado a bordo dos UAVs Global Hawk EQ-4B. Embora não possamos ter certeza, é bastante provável que a aeronave também esteja envolvida nos ataques aéreos, fornecendo uma ponte de dados entre as partes envolvidas.
VELCR04 – 43,000ft over the Czech Republic
?? US Air Force
E-11A 11-9358 pic.twitter.com/X8gfFrnn3q— CivMilAir ✈ (@CivMilAir) April 14, 2018
No final, graças ao ADS-B, Mode-S e MLAT, tivemos uma boa ideia do que aconteceu durante a primeira onda de ataques aéreos na Síria. Obviamente não está completo, ainda é bem interessante.
H/T para @AircraftSpots @Buzz6868 @CivMilAir @GDarkconrad @ItaMilRadar @planesonthenet e muitos outros por fornecer detalhes, dicas, links e o que era necessário para preparar este artigo. Vocês são demais!
FONTE: The Aviationist