Embraer EMB-326 Xavante (AT-26 na FAB)

EMB-326 Xavante

A fabricante italiana Aermacchi determinou a inspeção dos xavantes com mais de 90% de fadiga ‘antes do próximo voo’. O documento é do dia 9 de dezembro de 1999. Mas o Pamaf, responsável pela manutenção das aeronaves em Recife, levou mais de oito meses para analisar o alerta. O estudo só foi concluído no dia 16 de agosto de 2000. Dois meses antes, o xavante FAB 4626 caiu no mar do Ceará com 114,12% de fadiga

Por Dante Accioly

A Força Aérea Brasileira (FAB) descumpriu uma determinação da empresa italiana Aermacchi e liberou para voar sem inspeção obrigatória o Xavante AT-26, prefixo 4626, que caiu no litoral cearense no dia 4 de julho de 2000. Sete meses antes, a fabricante da aeronave havia emitido um “Boletim de Serviço de Alerta” sobre o risco de fissuras em “asas de aeronaves envelhecidas”. O caça do Esquadrão Pacau perdeu a asa esquerda em pleno voo e provocou a morte do tenente Alexandro Prado.

O alerta da Aermacchi foi incluído como prova em um Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado pela Base Aérea de Fortaleza em agosto de 2000, ao qual O POVO teve acesso com exclusividade. Mantido em sigilo pelo Comando da Aeronáutica por quase 18 anos, o boletim contraria a versão da FAB e do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) de que o Xavante 4626 estava com todas as inspeções em dia.

No “Boletim de Serviço de Alerta”, a Aermacchi determina “uma alteração nos critérios” utilizados para a inspeção das longarinas principais, estruturas internas que sustentam as asas dos Xavantes. De acordo com a fabricante, “a medida de precaução visa a um maior aprimoramento da segurança do vôo”. O objetivo é identificar “corrosões”, “danos”, “defeitos de superfície”, “fissuras” e “rachaduras” nas “extremidades inferiores e superiores das asas”.

Os engenheiros da Aermacchi ressaltam que as regras de inspeção são de “observância obrigatória” e devem ser adotadas de acordo com o grau de fadiga de cada avião. Para Xavantes com desgaste superior a 90% o alerta é categórico: eles precisavam ser recolhidos para a vistoria “antes do próximo voo”. No dia do acidente, o fadigômetro do 4626 registrava 114,12% — quase 25 pontos percentuais acima do limite imposto pela Aermacchi.

O boletim da empresa italiana foi publicado no dia 9 de dezembro de 1999. De acordo com o IPM, a nova instrução chegou ao Parque de Material Aeronáutico de Recife (Pamarf), responsável pela manutenção dos Xavantes, no dia 25 de abril de 2000. A FAB teve mais de dois meses para recolher o 4626 e evitar um desastre. Mas o caça permaneceu em atividade até o dia 4 de julho, quando perdeu a asa em pleno voo e foi engolido pelo mar.

SOBRE A REPORTAGEM

Esta é a primeira de uma série de reportagens que O POVO publica sobre o acidente aéreo que matou o tenente Alexandro Prado. O jornal teve acesso a documentos sigilosos, que a Força Aérea Brasileira tenta manter em segredo há quase 18 anos. As matérias montam as peças de um quebra-cabeça que envolve burocracia militar, problemas de manutenção nas aeronaves e risco para os pilotos.

FONTE: O POVO online

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