Caças F-35A da USAF

Por Dan Grazier

O novo Diretor Executivo do Programa F-35, vice-almirante Mat Winter, disse que seu escritório está explorando a opção de deixar 108 aeronaves iniciais em seu estado atual, porque os recursos para atualizá-los para a configuração totalmente capaz de combater ameaçariam os planos da Força Aérea de aumentar a cadência de produção nos próximos anos.

Estas são provavelmente as mesmas 108 aeronaves que a Força Aérea precisava atualizar no início de 2017. Sem ser atualizadas, essas aeronaves se tornariam “órfãos da produção concomitante ou simultânea”, os aviões deixados no ciclo de aquisição depois que as Forças os compraram com pressa, antes de terminar o processo de desenvolvimento.

Não foi dito até agora o que se fará com os 81 caças F-35 comprados pelo Corpo de Fuzileiros Navais (USMC) e Marinha dos EUA (US Navy) durante esse mesmo período. Se eles forem deixados em seu estado atual, quase 200 F-35s ficarão permanentemente inaptos para o combate porque o Pentágono prefere comprar aeronaves novas do que atualizar as aeronaves que os contribuintes americanos já pagaram. O que torna isso particularmente irritante é que as aeronaves que seriam deixadas para trás por esse esquema são os F-35 mais caros comprados até agora.

Quando a conta para todas as aeronaves compradas em um estado imaturo é adicionada, o total chega a quase US$ 40 bilhões. Isso é muito dinheiro para gastar em jatos de treinamento e aeronaves que simplesmente serão usadas como peças sobressalentes.

O Pentágono e Lockheed Martin têm assegurado ao povo americano há anos que o preço para o F-35 está caindo. Grande parte desse esforço fazia parte da campanha para convencer o Congresso a aprovar a Quantidade de Compra Econômica (Economic Order Quantity), ou a compra por bloco de vários anos dos componentes do F-35. Eles alegaram que isso levaria à mais economia de custos. Mas é difícil ficar entusiasmado com a perspectiva de economizar US$ 2 bilhões quando o programa pode ter desperdiçado até dez ou talvez vinte vezes esse montante.

As atualizações são incomumente complexas para o F-35 devido ao processo de projeto que está sendo usado para o programa. O programa está desenvolvendo o F-35 em várias fases, chamados de Blocks. Cada Block possui mais capacidades do que a versão anterior.

De acordo com o site da Lockheed Martin, o Block 1A/1B combinava recursos básicos de treinamento com alguns aprimoramentos de segurança.

O Block 2A continuou sendo uma versão de treinamento, com a capacidade de compartilhar dados entre aeronaves.

Os Blocks 2B e 3I são as primeiras versões com alguma capacidade de combate. A única diferença significativa entre os 2B e 3I é o processador do computador da aeronave.

A primeira versão que se espera que tenha capacidades de combate completas é o Block 3F. Esta versão ainda não foi completada e espera-se que comece testes de combate realistas no próximo ano.

O Corpo de Fuzileiros Navais declarou polemicamente a Capacidade Operacional Inicial (IOC) com as aeronaves Block 2B em 2015. Mas esta versão não está pronta para o combate. O escritório de testes do Pentágono disse repetidamente que todos os pilotos que voam os F-35 Block 2B que se encontram em uma situação de combate “precisariam evitar o engajamento da ameaça e exigiriam auxílio de outras forças amigas”. Em outras palavras, os 108 aviões F-35 em questão, ou qualquer um dos aviões Block 2B, precisariam fugir de uma luta e precisam do apoio de outras aeronaves.

Treinadores muito caros

Chegar ao custo de exatamente quanto dinheiro foi desperdiçado na compra de caças potencialmente incapazes é um pouco de desafio. Existem várias maneiras de calcular o custo dos sistemas de armas. Para torná-lo ainda mais difícil, os números foram deliberadamente obscurecidos pelo Pentágono e pela indústria da defesa ao longo dos anos. Usando os próprios números da Lockheed Martin para entregas de aeronaves, é possível fazer alguns cálculos para começar a ter uma idéia sobre a quantidade de dinheiro que pode ter sido gasto com esses órfãos do desenvolvimento simultâneo em potencial.

A indústria de defesa gosta de usar o custo da “Unit Recurring Flyaway”. Este é apenas o custo do material da célula mais o custo para que ele seja montado. Este número, às vezes, não inclui o custo do motor e não inclui o suporte e equipamentos de treinamento, peças sobressalentes, atualizações de software ou taxas contratuais necessárias para efetivar o funcionamento da aeronave.

Sob o melhor dos casos, as únicas aeronaves que permaneceriam órfãs do desenvolvimento simultâneo são os 108 aviões da Força Aérea, F-35A modelos Block 2B e 3I. Sem saber exatamente quando as 108 aeronaves em questão foram construídas, é impossível saber exatamente quanto foi gasto para adquirí-las. Mas, usando informações publicamente disponíveis, é possível calcular um valor razoavelmente aproximado, uma vez que a Força Aérea adquiriu seus primeiros 108 F-35As em lotes de produção inicial de baixa cadência 1-9 (Low Rate Initial Production lots 1-9).

F-35A Lightning II aircraft receive fuel from a KC-10 Extender from Travis Air Force Base, Calif., July 13, 2015, during a flight from England to the U.S. The fighters were returning to Luke AFB, Ariz., after participating in the world's largest air show, the Royal International Air Tattoo. (U.S. Air Force photo/Staff Sgt. Madelyn Brown)
F-35A Lightning II

Usando os números da Lockheed Martin/USAF (que são muito inferiores aos custos reais) para os primeiros 108 F-35A comprados, o povo americano gastou aproximadamente US$ 14,117 bilhões para comprar aviões de combate que nunca serão totalmente capazes de combater, a menos que a Força Aérea gaste o dinheiro para atualizá-los.

Quando você conta com o custo do motor e do equipamento de suporte necessário para adquirir uma aeronave que realmente é capaz de operar, os montantes em dólares são muito diferentes dos anunciados pelo Pentágono e Lockheed Martin. Este número pode ser chamado de custo unitário de aquisição (Procurement Unit Cost).

Ao simplesmente multiplicar o número de aeronaves compradas por lote pelo custo médio da unidade de aquisição para o ano correspondente, os americanos gastaram aproximadamente US$ 21,4 bilhões para os 108 aviões F-35A órfãos. Isso é um pouco mais do que foi gasto em toda a luta de quatro anos contra o ISIS.

O que resta saber é o que acontecerá com todas as aeronaves Block 2B restantes nas outras Forças. Durante o período em questão, o US Marine Corps comprou aproximadamente 53 aviões F-35B Block 2B e a Marinha comprou 28 variantes F-35C  Block 2B.

O Project on Government Oversight (POGO) enviou perguntas ao Escritório do Programa Conjunto F-35 e à Lockheed Martin sobre se as aeronaves da Marinha e do Corpo de Fuzileiros serão atualizadas para a configuração de software 3F totalmente capaz de combater, juntamente com as outras modificações de simultaneidade, como reforços estruturais.

Até agora, nenhuma resposta foi recebida de qualquer escritório. Quando os custos de compra de todas as variantes dos F-35 comprados entre 2007 e 2014 (o prazo aproximado, são adicionados os primeiros 108 aviões F-35A), os contribuintes gastaram US$ 39,4 bilhões.

O resultado natural do desenvolvimento simultâneo ou concomitante

O risco de as Forças estarem presas com aeronaves menos que capazes é aquele que o Pentágono adotou conscientemente quando os líderes decidiram sobrepor o desenvolvimento e os testes do programa com a produção. Essa sobreposição é o que é conhecido como “concurrency” ou concomitância.

O programa F-35 é um dos programas com mais concomitância da história. As Forças terão cerca de 800 aviões F-35 na mão ou na linha de fabricação antes que o projeto seja totalmente comprovado através dos testes nos aviões atuais. Isso é algo que o antigo chefe de aquisição do Pentágono, Frank Kendall, chamou de “prática abusiva de aquisição”.

Embora o programa F-35 ainda esteja tecnicamente em “produção inicial de baixa cadência”, isso realmente é verdade somente em um sentido estritamente legalista. A Lockheed Martin deverá produzir mais de 90 aviões F-35 em 2018. Isto, com os 266 anteriormente comprados e contratados (todos os F-35 comprados para os EUA até 2017), parece ir um pouco além do “mínimo necessário para fornecer representantes de produção para teste operacional e avaliação (OT&E) — conforme determinado pelo DOT&E para Grandes Programas de Aquisição de Defesa ou programas de interesse especial — para estabelecer uma base de produção inicial para o sistema e fornecer uma produção eficiente até a cadência total” estabelecido nos regulamentos de aquisição do Departamento de Defesa.

O perigo de comprar centenas de aeronaves antes de um programa produzir um projeto estável e totalmente testado tem sido bem conhecido há anos. A concomitância, como um analista da RAND Corporation explicou em testemunho perante o Comitê da Câmara sobre Reforma do Governo em 10 de maio de 2000, está enraizada “na política do processo de aquisição”. Como o POGO apontou anteriormente, esta prática serve para limitar as opções políticas disponíveis para reestruturação de programas que experimentam falhas de teste significativas ou excessos de custos. Quando o Pentágono faz compromissos substanciais de aprovisionamento bem antes do desenvolvimento ou os testes estarem completos, ele aumenta severamente os custos políticos de cancelar o programa devido a todo o dinheiro já investido e a todos os trabalhos já criados.

O Dr. Michael Gilmore, Diretor de Teste Operacional e Avaliação, já aposentado, avisou que as Forças provavelmente teriam que enviar aeronaves de volta aos depósitos de manutenção para serem modificadas. A lista de modificações já é bastante extensa. A Força Aérea lista 213 itens de mudança em seu pedido de orçamento do ano fiscal de 2018. As modificações necessárias vão muito além de meros upgrades de software. Elas incluem atualizações estruturais sérias, incluindo correções para o trem de pouso, assentos de ejeção e as estruturas da fuselagem da aeronave.

Algumas aeronaves teriam que passar por este processo várias vezes antes de poderem estar na configuração completa de combate.

Este é um processo caro. O Government Accountability Office (GAO) identificou US$ 1,8 bilhão de custos de reajuste para o programa em 2016, com US$ 1,4 bilhão em problemas já conhecidos e outros US$ 386 milhões de correções antecipadas que ainda não foram identificadas. Esses números são quase certamente muito menores do que o custo real para modernizar a aeronave já comprada porque, à medida que o processo de testes continua, é natural que mais e mais problemas sejam revelados.

Espera-se que o programa F-35 custe US$ 406,5 bilhões em custos de desenvolvimento e compras somente. O custo real para atualizar as aeronaves da geração anterior deve ser muito maior do que o que está sendo divulgado publicamente, se o Pentágono considerou mais barato comprar aeronaves novas.

Conclusão

No total, o Congresso autorizou — e o Pentágono gastou — quase US$ 40 bilhões comprando aproximadamente 189 aviões F-35 que, em sua configuração atual, nunca poderão operar da maneira como se esperava quando os dólares dos contribuintes foram usados ​​para comprá-los. Este não é o caminho certo para fazer negócios.

Qualquer programa futuro deve respeitar o verdadeiro espírito do modelo de negócios “voar antes de comprar”, a não ser que, claro, nem o Congresso nem o DoD nem os fabricantes realmente se preocupem com a produção de um sistema efetivo e acessível.

FONTE: The Project On Government Oversight (POGO), publicado em 12 de outubro de 2017

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