Malvinas 35 anos: por que as bombas não explodiram? (PARTE 7)
Há 35 anos argentinos e britânicos se enfrentaram na gélidas águas do Atlântico Sul para disputar a posse das ilhas Malvinas (Falklands, como se referem os britânicos). Foi durante esse conflito que a Força Aérea Argentina (FAA – Fuerza Aérea Argentina) entrou pela primeira vez em combate contra um inimigo externo. O batismo de fogo ocorreu no dia 1º de maio de 1982. O blog do Poder Aéreo está publicando em partes um artigo exclusivo sobre os vetores, os armamentos e as táticas empregadas pela FAA para atacar e destruir os navios da Força-Tarefa britânica. Para ler as partes anteriores clique nos links abaixo.
Parte 1- Introdução
Parte 2 – Vetores e armamentos
Parte 3 – As Táticas
Parte 4 – Espoletas
Parte 5 – O primeiro ataque
Parte 6 – ‘Bomb Alley’
O dia da Pátria
No dia 25 de maio (aniversário da independência Argentina) dois navios britânicos foram detectados próximo à ilha Borbón (Pebble Island), na entrada norte do Estreito de San Carlos. Na tarde do mesmo dia seis jatos A-4B Skyhawk baseados em Rio Gallegos, divididos em duas esquadrilhas (Zeus e Vulcano), foram designados para atacar os dois alvos. Por problemas técnicos uma aeronave de cada esquadrilha abortou a missão.
Voando por rotas distintas, a Esquadrilha Vulcano chegou primeiro à cena e partiu para cima da fragata HMS Broadsword (Tipo 22). Segundo a versão britânica a proximidade de uma aeronave com a outra acabou por confundir o sistema de mísseis GWS-25 Seawolf da fragata e este teve que ser reiniciado. Aproveitando a queda do sistema, os pilotos argentinos lançaram suas bombas MK-17 impunemente, mas nenhuma delas explodiu. Uma delas quicou no mar e danificou o convoo na popa do navio, arrancando o nariz do helicóptero Lynx que aí estava apeiado.
Logo em seguida chegaram ao mesmo local os dois A-4B da Esquadrilha Zeus (tenente Velazco no C-212 e alferes Barrionuevo no C-207). De forma surpreendente estes aviões estavam armados com três bombas BR-250 cada um (ao contrário das MK-17 até então utilizadas por eles). Todas as bombas foram lançadas contra o contratorpedeiro HMS Coventry (Tipo 42). Pelo menos duas delas atingiram o navio e lá permaneceram. Passados alguns segundos ocorreu uma explosão (há quem mencione duas explosões). Vinte minutos depois o navio emborcou (a história do afundamento do HMS Conventry foi narrada em um post no blog do Poder Naval – para ver o post clique aqui).
É justo afirmar que uma combinação de fatores permitiu que o ataque ao contratorpedeiro Coventry se transformasse num sucesso para a FAA. O ângulo entre a trajetória da bomba e o eixo do navio era de aproximadamente 40º, considerado ideal pelos idealizadores do ataque. Esta situação não foi fruto de uma manobra proposital da aeronave, mas sim uma mudança inesperada de rumo do navio. Mudança esta que surpreendeu o comandante da Broadsword, que não pôde disparar seus mísseis Seawolf contra os aviões atacantes após ter que reinicializar o sistema.
O fato dos aviões da Esquadrilha Zeus levarem três bombas cada um também aumentou a probabilidade de acerto. Das nove bombas lançadas, pelo menos duas atingiram o Coventry. Isto dá uma relação de 0,2. Se fossem três bombas (uma por avião como é o caso da MK-17) essa relação não seria atingida.
O fato é que, independentemente dos motivos, a fama da BR-250 se espalhou pela FAA e o preconceito frente a ela (principalmente dos pilotos de A-4B) se esvaiu. A partir daquele momento os esquadrões de ataque passaram a empregar principalmente bombas Expal (com diferentes tipos de espoletas modificadas) contra os navios da frota.
Invencible
No final do mês de maio a aviação naval argentina contava somente com um míssil AM-39 Exocet. Foi tomada a decisão de empregá-lo contra um objetivo de alto valor. Este era o porta-aviões HMS Invencible. Para potencializar o efeito do ataque a FAA se juntou à missão e disponibilizou quatro A-4C armados cada um com três bombas frenadas por paraquedas Expal.
A missão estava marcada para o dia 29 de maio, mas problemas com o KC-130 de reabastecimento em voo acabaram por adiar a operação para o dia seguinte. Segundo as fontes argentinas, dos quatro A-4C que participaram, dois foram abatidos pouco antes de alcançarem o porta-aviões e os outros dois lançaram suas bombas sobre o alvo. Na versão britânica os pilotos argentinos atacaram a fragata HMS Avenger (Tipo 21) e as bombas caíram n’água.
A última grande oportunidade da aviação de ataque da FAA contra alvos navais durante a Guerra das Falklands/Malvinas ocorreu no dia 8 de junho. Informações provenientes do destacamento argentino em Puerto Argentino informaram a presença de navios britânicos próximos à localidade de Fitz Roy, sendo dois de grande porte e outros de menor porte.
Uma leva composta por duas esquadrilhas (“Dogo” e “Mastín”) de A-4B foi lançada a partir de Río Gallegos. Todas as aeronaves estavam armadas com bombas Expal BR-250. Os aviões identificaram dois navios de apoio da RFA. Os três A-4 da Esquadrilha “Dogo” lançaram-se sobre o RFA Sir Galahad. Três bombas explodiram em seu interior e outras três quicam na água e explodiram na costa. A aeronave que ocupava a posição número 2 na esquadrilha não conseguiu lançar suas bombas.
Logo em seguida os dois A-4 da esquadrilha Mastín, vendo o RFA Sir Gallahad envolto em fumaça, rumaram para o RFA Sir Tristan. Ambos lançaram todas as suas bombas contra o navio. Pelo menos uma o atravessou sem explodir. O navio ficou fora de serviço. Embora tenha sido rebocado de volta para a Grã Bretanha ele não pode ser recuperado. Já o Sir Gallahad ficou totalmente destruído e foi propositadamente afundado.
Ainda como parte da primeira leva foram lançados três Dagger (“Esquadrilha Perro”) a partir de Río Grande armados cada um com duas bombas Expal BRP-250 frenada por paraquedas (além de tanques subalares de 1.700 litros). Estes aviões seguiram para a região de Baía Agradable. Há controvérsias sobre o navio e sua efetiva localização quando se confronta as informações argentinas com as britânicas. Eventualmente este ataque imobilizou a fragata HMS Plymouth (Tipo 12).
Os ataques da segunda leva (Esquadrilhas “Mazo” e “Martillo”), que também empregaram bombas BR-250, foram pouco efetivos em função da presença de patrulhas de Sea Harrier no local. No entanto, uma lancha de desembarque foi afundada com o lançamento das bombas por um A-4 embora não haja confirmação da explosão das bombas.
Excelente.
O problema do navio britanico ter reiniciado o sistema de defesa foi que um navio cruzou a frente do outro em uma manobra evasiva e assim bloqueou o feixe que estava travando no alvo….quando isto acontecer, o computador perdeu a solução de tiro ….
carvalho2008, o sistema travou durante o ataque da primeira leva de A-4. O sistema foi reinicializado e estava pronto para disparar contra a segunda leva. Nesse momento que o Conventry cruzou a linha de tiro do Seawolf.
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Veja esse vídeo abaixo. Ele explica tudo com detalhes.
Vendo e lendo esses artigos alguns mitos foram derrubados, principalmente para minha pessoa.
Os argentinos foram muito profissionais na condução dos ataques aéreos.
Fizeram uma limonada com apenas o limão que possuía.
Caso tivessem mais KC130 e A4 nem de Exocet precisariam.
Bastava uma guerra de atrito que a GB não suportaria tantas perdas.
Fica claro que uma Força não depende só de caças, mas sim de um conjunto completo de sistemas , armas, tripulação, treinamento, táticas e pré preparo
Fica uma bela lição para futuras guerras.
Essa grande explosão no mar na segunda foto de cima para baixo, que parece ser produzida por um projétil de 114 mm, me leva a algumas considerações. Os canhões principais de grande parte dos navios de guerra são utilizados como forma de reforçar a defesa antiaérea de ponto. Basicamente são esses os canhões/calibres utilizados no Ocidente: -Canhão 57 mm: peso do projétil: 2,5 kg; cadência de tiro: 220 t/min; massa lançada em 5 segundos: 45 kg; distância entre cada projétil disparado: 270 m -Canhão de 76 mm SR: peso do projétil: 6,4 kg; cadência de tiro: 120 t/min; massa lançada… Read more »
Série de reportagens excelente! Parabéns ao ‘Poder Aéreo’.
Documentário bastante interessante:
https://www.youtube.com/watch?v=NKZh4rzaDmE
Bravos argentinos, isso daria um belo filme.Sem direção e produção inglesa é claro.
Todos foram bravos, mas entre eles um foi além de bravo, tolo: A Argentina.
Somente se a Inglaterra for atacada com armas nucleares por um inimigo superior como a Rússia ou China, é que a Argentina poderá recuperar a Ilha; e olhe lá. Caso contrário vai ficar “a ver navios” e navios ingleses e norte-americanos rumando cada vez mais para as Falklands.
Por fim, “não chores por mim Argentina”
Bye, Bye.
não seria conveniente para os britânicos pousarem uns harriers na cabeça de ponte que se formou na praia para fazer um CAP mais perto dos navios ?
Li também na internet que a FAA fez voos com os Mirages iii antes da levas de ataque como um decoy contra os Harriers fazendo CAP na área .
Li também na internet que a FAA fez voos com os Mirages iii antes da levas de ataque como um decoy contra os Harriers fazendo CAP na área .
Verdade. Não só os Mirage como os LearJet também. Um dos Lear aproximou-se tanto da esquadra britânica que foi abatido por um míssil Sea Dart
Pessoal Por favor, então vai por terra a teoria de que só as bombas dos A4 da Marinha da Argentina explodiam no alvo? Pq me lembro das discussões anteriores que diziam que só a Marinha sabia como fazer as bombas explodirem nos navios. Fico imaginando se os A4 estivessem armados com mísseis Gabriel de Israel será que o resultado teria sido diferente? Poxa era ou é tão difícil assim colocar uma sonda de reabastecimento em uma aeronave? Pensando em colocar os mirage 3 para fazer a escolta dos A4 e dos Dagguer. Outra dúvida que eu nunca consegui entender… Por… Read more »
Por favor, então vai por terra a teoria de que só as bombas dos A4 da Marinha da Argentina explodiam no alvo? . Sim, isso é uma lenda urbana. Na verdade os A-4 da Marinha atuaram muito pouco no conflito. O grosso dos trabalho foi feito pela FAA. . Poxa era ou é tão difícil assim colocar uma sonda de reabastecimento em uma aeronave? . Não era uma tarefa fácil e rápida de se fazer. Ainda mais num conflito de pouco mais de 50 dias. Além disso seriam muito mais aviões para apenas dois reabastecedores. Mais aviões com capacidade REVO… Read more »
Num hipotético ataque de míssil da classe do Exocet, numa distância de cerca de 950 m percorrido em 3 segundos, há os seguintes “agrupamentos” de projéteis disparados pelos respectivos canhões: 127 mm: 3 projéteis 114 mm: 2 projéteis 100 mm: 4 projéteis 76 mm: 7 projéteis 57 mm: 11 projéteis. Levando-se em consideração que todos os canhões adotam projéteis com espoleta de proximidade e que em tese apenas um projétil seria capaz de neutralizar o míssil Exocet, fica claro que por esse critério o canhão de 57 mm seria o mais letal. Em compensação os projéteis mais pesados têm área… Read more »
Leo, Um Sidewinder tem uma ogiva com massa equivalente a de um Hellfire, que é utilizado como míssil antinavio pela USN. Claro, no caso o Hellfire é utilizado contra embarcações de menor tonelagem mas pelo menos nos permite supor que a ogiva tem um grande poder de destruição, apesar de serem diferentes. A ogiva do Sidewinder é uma ogiva de fragmentação anelar enquanto a do Hellfire II é mais apropriada para alvos na superfície (ogivas diferentes de acordo com a versão do míssil). Dependendo de onde atingir, um Sidewinder poderia fazer um estrago grande e até desabilitar um navio de… Read more »
Meste Bosco
Muito obrigado!!!
Correção: à reflexo laser = ao reflexo laser.
Perdão!!
Bela matéria.
Mestre Poggio
Muito obrigado!!!
Sensacional este material todo. Parabéns Poggio
Roberto Santana
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Este (F-86) não era o foco da pesquisa. No entanto, não encontrei nada que mencionasse os velhos Sabre em 1982.
Os A-4 e os Dagger nesta época(1982) ainda eram aeronaves de 1° linha. Ambos eram empregados ( estavam já sendo substituídos por aeronaves mais modernas) nas forças de seus países de origem ( US Navy e IDF) nas missões de ataque a superfície. Equivaleriam, a grosso modo hoje, ao F-18 C e ao Mirage 2000_5. Naquela época já haviam mísseis antinavios de menor porte de origem israelense e mesmo americana, além de bombas guiadas por feixe laser, que poderiam ter sido utlizados, maximizando o potencial de acerto e a gravidade dos danos.As bombas utilizadas não eram adequadas a ataque antinavio(… Read more »