Malvinas 35 anos: por que as bombas não explodiram? (PARTE 2)
por Guilherme Poggio
Há 35 anos argentinos e britânicos se enfrentaram na gélidas águas do Atlântico Sul para disputar a posse das ilhas Malvinas (Falklands, como se referem os britânicos). Foi durante esse conflito que a Força Aérea Argentina (FAA – Fuerza Aérea Argentina) entrou pela primeira vez em combate contra um inimigo externo. O batismo de fogo ocorreu no dia 1º de maio de 1982. O blog do Poder Aéreo está publicando em partes um artigo exclusivo sobre os vetores, os armamentos e as táticas empregadas pela FAA para atacar e destruir os navios da Força-Tarefa britânica. Para ler as partes anteriores clique nos links abaixo.
Parte 2 – Vetores e armamentos
Diante do desafio que surgiu (enfrentar uma das mais bem equipadas e preparadas marinhas do mundo) as opções da FAA não eram muitas. Os vetores mais indicados para a missão eram os IAI Dagger, versão israelense do Mirage 5, e o McDonnell Douglas A-4B/C Skyhawk. Estes últimos se assemelhavam muito ao modelo A-4Q da Aviação Naval Argentina, também empregado em ataques navais contra os britânicos.
A questão dos armamentos era mais delicada. O único artefato com guiagem disponível era o míssil ar-superfície Martín Pescador. Este míssil, ainda não totalmente operacional naquela época, foi ensaiado no mês de abril de 1982 pela FAA utilizando um avião IA-58 Pucará como vetor. Em função do tipo de guiagem (via rádio) e da distância de disparo a aeronave ficava demasiadamente exposta ao fogo antiaéreo. Por estas razões abandonou-se a possibilidade do emprego desse artefato na guerra.
Na ausência de armas guiadas a FAA avaliou o emprego de armamentos de queda livre. A FAA possuía basicamente quatro tipos de bombas de emprego geral de queda livre para uso em combate. A primeira delas eram bombas de 454 kg (1.000 libras) de origem britânica. Os argentinos denominavam estas bombas de MK-17. Embora fossem exatamente iguais às bombas empregadas pelos britânicos, estes últimos utilizavam a nomenclatura MK 13/15 para as suas. Estas eram bombas de alto arrasto que podiam ter cauda lisa ou frenada por paraquedas. As bombas MK-17 haviam sido adquiridas pelos argentinos 12 anos antes do conflito como parte do pacote de armas dos bombardeiros English Electric Canberra B.62/T.64.
Mais novas que as bombas MK-17 eram as bombas espanholas produzidas pela Expal (Explosivos Alaveses S.A.). Estas eram bombas de baixo arrasto baseadas na série norte-americana MK 80. Havia dois modelos: um de 250 kg e outro de 125 kg. As primeiras podiam empregar cauda lisa ou cauda frenada por paraquedas. As de 125 kg apenas cauda lisa. Elas foram adquiridas em 1978 ante a ameaça de um conflito fronteiriço com Chile. Há informações de que bombas espanholas de 500 kg de alto arrasto também faziam parte do inventário da FAA em 1982.
A terceira opção eram as bombas de fabricação nacional BR-BK de baixo arrasto de 125 kg. Estas eram produzidas pela Fábrica de Armamentos na cidade argentina de Córdoba. Essas bombas foram designadas somente para os IA-58 Pucará que operavam a partir das ilhas Malvinas (e consequentemente não estavam envolvidos nas operações aeronavais). Os motivos que levaram os argentinos a não empregar essa bomba em ataques navais serão discutidos mais adiante.
Outra opção que foi avaliada, mas não empregada no conflito, era a bomba israelense IMI Mod. 4 de 130 kg, adquiridas junto com os IAI Dagger poucos anos antes do conflito (detalhes sobre este caso também serão comentados mais adiante).
Há relatos de que a FAA também possuía, na época do conflito, algumas bombas de origem norte-americana de 1.000 libras AN-M65A1 que vieram com os bombardeiros Avro Llincoln. Em depoimento ao canal “The History Channel” o Brigadeiro Sergio Mayor (V Brigada Aérea – A-4B) informou que bombas AN-M65A1 foram empregadas nas Malvinas. Porém, não há outros documentos que atestam esta versão e é possível que o oficial-general tenha confundido as bombas norte-americanas com as bombas MK-17.
Outra possibilidade pouco convencional seria o emprego de bombas incendiárias contra a esquadra britânica. Segundo relatado pelo então vice-comodoro (tenente-coronel) Arturo Pereyra, encarregado do Departamento de Operações das FAS (Fuerza Aérea Sur – ativada para coordenar os meios em missões de combate), elas não foram utilizadas por “razões humanitárias”.
Também se avaliou o uso de torpedos aerotransportados. A Argentina possuía algumas unidades do velho torpedo norte-americano Mk 13, empregado pelos PBY Catalina. Logo após o início do conflito um programa de ensaios com o torpedo tomou forma, tendo como vetor um IA Pucará modificado. O último ensaio foi programado para o dia 14 de junho, mas com o encerramento das hostilidades o programa foi suspenso.
Por fim, deve-se destacar que a FAA ensaiou bombas de queda livre de 454 kg de origem francesa e bombas tipo cluster de origem soviética. Ambas foram enviadas pela Força Aérea Peruana. No entanto, não são conhecidos ataques reais empregando esses artefatos.
O quadro abaixo, elaborado exclusivamente para este artigo, resume as bombas de emprego geral da FAA disponíveis na época do conflito.
Exemplos do porque é muito melhor possuir doutrina e preparo, do que necessariamente o melhor equipamento. Caso os Pucaras tivessem já desenvolvido doutrina de uso de torpedos, poderiam ter atuado satisfatoriamente contra navios fundeados na Baia de San Carlos… seria impressionante ver esta experiencia ser levada a cabo 40 anos depois de Pearl Harbour… Um outro ponto que já comentei algumas vezes, os A-4 argentinos mesmo rusticos e ainda com bom valor para a época, tinham de operar vindos do continente no limite operacional e em taticas da 2a. guerra em rasantes com as ilhas sombreando as costas nos radares… Read more »
carvalho2008 . De certa forma os MB 339 da Armada Argentina (este era a versão mais moderna do Xavante) cumpriram essa missão a partir de Puerto Argentino. Lembrar que o primeiro avião a atacar a esquadra de desembarque em San Carlos foi um 339. . A questão dos Pucará não estarem preparados para esse tipo de missão com torpedos foi explicada no texto anterior. Não era atribuição da FAA o ataque naval e ela nunca se preocupou em integrar qualquer armamento naval aos seus aviões. . Concordo que seria muito útil um Pucará torpedeiro. Por várias oportunidades os navios britânicos… Read more »
Perfeito mestre Poggio, é que a atuação do MB 339 muito muito incipiente…pois o grupamento era muito pequeno de 06 aeronaves ( de um inventario total de 10)…operando numa pista mais remota em Peabble Island, sem qualquer infra estrutura minima. Não conseguiam nem dar partida no motor do bicho. Se estivessem uns hipoteticos 40 em Port Stanley, a infraestrutura seria muito melhor, permitindo uma real operação e ai sim exigindo que o GT adversario mantivesse uma distancia mais segura ocasionando assim que a face continental das ilhas ficassem abertas para a continuidade dos voos de ressuprimento argentino. As Caps dos… Read more »
Interessante a foto do Dagger com os tanques de 1.700 litros. Que eu saiba os israelenses nunca usaram ou fabricaram tal modelo. Então devem ser unidades francesas que vieram junto com o Mirage IIIEA. Em anos recentes, só se viu os tanques israelenses de 1.300 litros tanto nos Dagger quanto nos Mirage.
Aliás, o desempenho da plataforma do Mirage mostra o acerto da FAB em ter adquirido o modelo francês no início da década de 1970. Nem um dos outros modelos avaliados era tão versátil e possuía o mesmo alcance, especialmente o Lightning inglês.
Se a memória não me engana, o Perú repassou alguns dos seu Mirage V para a Argentina durante a Guerra.
Correto cvn76
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Mas eles não entraram em combate.
O Clésio está certo. Esses tanques não vieram de Israel.
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Cabe um detalhe aqui (que aparecerá numa parte do artigo mais para frente). Os Dagger não tinham como operar com os tanques de 1700 l dos Mirage III argentinos. Técnicos argentinos fizeram modificações nos Dagger para que eles pudessem usar os tanques dos Mirage. Por causa do corre-corre da guerra somente os Dagger que dividiam a base com os Mirage (em Rio Grande) receberam essa modificação (questão logística). Sim fica fácil saber de qual base partiam os Dagger pelo tipo de tanque.