P-47s da FAB na Itália, da Esquadrilha Azul, do 1 Grupo de Caça, prestes a decolar para uma missão na Itália
P-47s da FAB na Itália, da Esquadrilha Azul, do 1 Grupo de Caça, prestes a decolar para uma missão na Itália

Participação do Esquadrão brasileiro foi elogiada pelos aliados

Seis de outubro de 1944. Naquele dia, desembarcada na Itália os 350 membros do 1° Grupo de Caça da Força Aérea Brasileira (1º GAVCA). Até o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa, em maio do ano seguinte, os pilotos, mecânicos e pessoal de apoio viveriam ali uma longa trajetória de combates contra forças nazi-fascistas.

O 1º GAVCA realizou a primeira missão como unidade independente já no dia 11 de novembro de 1944. Nas asas dos caças P-47 Thunderbolt, os pilotos brasileiros participaram de 445 missões até o fim do conflito.

Os feitos de um dia específico, 22 de abril de 1945, são lembrados até como o “Dia da Aviação de Caça” na Força Aérea Brasileira. Naquela data, um grupo de apenas 22 pilotos realizou 44 voos, com onze esquadrilhas de quatro caças P-47 fustigando alvos entre as 8h e 17h. Em todos os ataques, os brasileiros lançavam bombas em pontos estratégicos e passavam a procurar novos alvos, como blindados e caminhões, durante retorno à base.

MUSAL pintura P-47 Thunderbolt aviao FAB

Para tornar o esforço possível, pilotos chegaram a voar duas ou até três missões em um só dia. “Só quem esteve em combate sabe o que é voar mais de uma missão no mesmo dia”, escreveu o Major-Brigadeiro do Ar Rui Moreira Lima, em seu livro “Senta a Pua!”.

Para se ter uma ideia do imenso esforço, a cada missão realizada a bordo dos caças P-47 Thunderbolt, os pilotos chegavam a perder até 2 quilos, em razão do forte calor e do desgaste físico. Eles também enfrentavam a morte, que poderia vir dos disparos da incansável artilharia antiaérea inimiga.

Apenas uma baixa aconteceu, e já na última missão. O Tenente Coelho mergulhou sobre um alvo e, atingido, precisou saltar de paraquedas. Internado em um hospital alemão, dias depois recebeu a rendição de um oficial inimigo e a tarefa de proteger a vida dos feridos até o fim da guerra.

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Recorde – Engana-se quem pensa que o esforço acabou ali. Por mais três dias, depois de 22 de abril, os pilotos brasileiros voaram o suficiente para colocar dez esquadrilhas no ar diariamente. No mês de abril, eles quebraram recorde de missões na campanha da Itália: 135 em apenas 30 dias, o equivalente a 31% dos seis meses anteriores.

Entre 6 e 29 de abril de 1945, o Primeiro Grupo de Aviação de Caça do Brasil realizou 5% das missões de ataque dos países aliados na região na Itália, mas foi responsável por 15% dos veículos inimigos destruídos, 28% das pontes atingidas, além de 36% dos depósitos de combustível e 85% dos depósitos de munição danificados.

Naquele mês, dois de seus pilotos foram feridos: Capitão Pessoa Ramos e Aspirante Diomar Menezes. Os tenentes Marcos Coelho de Magalhães, Armando Coelho e Goulart saltaram de paraquedas sobre território inimigo e só retornaram ao final do conflito. Já o Tenente Dornelles acabou abatido e faleceu em seu caça P-47 apenas nove dias antes do término da guerra. Conhecido pela bravura, ele realizou 89 missões de combate.

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Esforço – A história de heroísmo começou com a recusa dos brasileiros em abandonarem o combate. Após quatro meses, o Primeiro Grupo de Aviação de Caça teve de desativar uma de suas quatro esquadrilhas, por falta de pilotos. A unidade tinha agora metade do efetivo de aviadores que desembarcaram em Nápoles no ano anterior. Mortes e baixas por saúde exigiam cada vez mais empenho e dedicação.

A situação preocupou o comando das forças aliadas. Foi sugerido que a unidade, a única de caça da FAB em combate, fosse desativada. Seu efetivo seria distribuído nos grupos de outros países. Os brasileiros se recusaram. Na prática, a resposta brasileira significava voar mais, com maior frequência, arriscando a própria vida num esforço físico cada vez maior.

Essa história de heroísmo aconteceu no contexto da grande ofensiva aliada já perto da rendição dos nazistas, ocorrida dia oito de maio. A todo custo, os aliados tinham de dominar a região do Vale do Pó para impedir que o exército nazista, em retirada, formasse uma nova linha de resistência. Já experientes, os pilotos tinham a exata noção das consequências da decisão de voar mais.

A maioria dos brasileiros chegaria ao final da guerra com mais de 50 missões. Para se ter uma ideia, um piloto americano retornava aos Estados Unidos depois de 35 missões, ficando fora de combate por seis meses. Entre os brasileiros, o Tenente Alberto Martins Torres alcançou a marca de 100 missões de combate. E ele já era veterano do combate contra submarinos no Atlântico Sul.

Reconhecimento – Em 1986, o Primeiro Grupo de Aviação de Caça, unidade da FAB ainda ativa, sediada no Rio de Janeiro (RJ) e equipada com caças F-5, se tornou a terceira unidade não pertencente às Forças Armadas Americanas a receber a Presidential Unit Citation, comenda do governo dos Estados Unidos.

A recomendação foi do Coronel Ariel Nielsen, comandante do 350th Figther Group, unidade a qual os brasileiros estavam subordinados durante a campanha na Itália. Ele escreveu em sua recomendação:

Militares da FAB em foto da USAAF, na capa da revista japonesa Koku Fan
Militares da FAB em foto da USAAF, na capa da revista japonesa Koku Fan

“Nas perdas que sofreram nessa ocasião, como também em muitos ataques anteriores, tiveram seu número de pilotos reduzidos à metade em relação às unidades da Força Aérea dos Estados Unidos. Porém, um número igual de surtidas, operando incansavelmente e além do normal no cumprimento do dever. A manutenção dos seus aviões foi altamente eficiente, a despeito das avarias sofridas pela antiaérea e o desgaste despendido na recuperação dos aviões. Este grupo entrou em combate na época em que a oposição antiaérea aos caças bombardeios estava em seu auge. Suas perdas têm sido constantes e pesadas e não têm recebido o mínimo de pilotos de recompletamento estabelecido. Como o número de pilotos cada vez diminuía mais, cada um deles teve que voar mais de uma missão diária, expondo-se com maior frequência. Em muitas ocasiões, como Comandante do 350th Fighter Group, eu fui obrigado a mantê-los no chão quando insistiam em continuar voando, porque eu acreditava que eles já haviam ultrapassado os limites de sua resistência física.”

Baixas – Durante o conflito, mais de três mil militares brasileiros foram feridos e 450 morreram em combate. Entre eles o Aspirante a Oficial Aviador Frederico Gustavo dos Santos e os Tenentes Aviadores John Richardson Cordeiro e Silva, João Mauricio Campos de Medeiros, Aurélio Vieira Sampaio e Luiz Lopes Dornelles, todos do Primeiro Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira. Outros quatro faleceram em acidentes. Os restos mortais de oito deles estão no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Rio de Janeiro (RJ).

Entre os meses de outubro de 1944 e maio de 1945, onze pilotos brasileiros saltaram de paraquedas das suas aeronaves. Cinco foram feitos prisioneiros, três conseguiram esconder-se até o final da guerra e outros três conseguiram saltar sobre território amigo. Outros sete aviadores foram afastados das missões por motivos de saúde.

Em apoio à Força Expedicionária Brasileira (FEB), a FAB também enviou à Itália uma Esquadrilha de Ligação e Observação (1°ELO).

MUSAL pintura P-47 Thunderbolt aviao FAB

FONTE: Agência Força Aérea

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