A expectativa do estabelecimento de mais uma base aérea russa na Síria demonstra o comprometimento do governo de Moscou com o regime de Assad e a defesa de seus interesses geopolíticos na região

Russian_Sukhoi_Su-25_at_Latakia

A Rússia se prepara para estabelecer uma segunda base aérea na Síria. De acordo com o jornal The Times e Al-Rai (Kuwait), a nova base aérea será na localidade de Shairat, 35 km a sudeste da cidade de Homs, região central da Síria.

Outras 50 aeronaves seriam baseadas ali, além de uma brigada de forças especiais Spetsnaz. Já há pessoal russo em Shairat, bem como helicópteros e tropas preparando a base. No momento a base está sendo utilizada pela Força Aérea Síria e seus aviões MiG-23, MiG-25, e Su-22 ali baseados. Além disso, Moscou está prestes a enviar um grande número de sistemas TOS-1 para a Síria.

Uma fonte da área de Defesa na Rússia informou ao site lenta.ru que Shairat é necessária para o lançamento de operações no sul e no leste da Síria.

Com o propósito de apoiar a ofensiva nas imediações de Palmira e mais para o leste, em direção Deir-es-Zor, Latakia fica muito longe, especialmente quando se trata do uso de helicópteros e aviões de ataque [Su-25]. Estes precisam estar baseados mais próximos de seus alvos a fim de garantir que eles sejam destruídos em tempo hábil, disse a fonte. A forças russas usaram em ocasiões anteriores Shairat como base operacional avançada.

Su-25 raio de combate na siria

O Ministério da Defesa russo não comentou sobre os relatórios que citam a expansão das operações.

O periódico russo Svobodnaya Pressa já havia relatado anteriormente que informe (de novembro de 2015) apresentavam informações sobre o emprego de quatro bases para lançar ataques contra os rebeldes sírios. Além do aeroporto internacional de Bassel Al-Assad (Hmeimim), na província Latakia, destacamentos de helicópteros foram levados para a base aérea Tiyas entre Homs e Palmira, bem como paras as bases de Hama e Shairat, perto Homs.

No dia 17 de novembro o Estado-Maior apresentou para o presidente russo Vladimir Putin informações mostrando as operações aéreas sírias contra a cidade de Mkhi. A apresentação mostrou também que perto Shairat há uma unidade de artilharia russa que conta com seis obuseiros rebocados Msta-B da 5ª Bateria de Obuses da 120º Brigada de Artilharia de Campanha.

O ex-chefe da Divisão Principal de Cooperação Militar Internacional do Ministério da Defesa russo, general Leonid Ivashov, disse que o momento para estabelecer uma segunda base aérea na Síria chegou.

-O Cenário padrão é um regimento, uma base aérea. Nosso pequeno grupo em Latakia (Hmeimim) foi o primeiro passo. A nossa presença permanente na Síria exige um maior desenvolvimento da infra-estrutura e aumento o tamanho do destacamento aéreo.

“Agora é necessário expandir a presença russa na Síria, a fim de aumentar o número de ataques aéreos, para enviar aviões de caça adicionais, a fim de fornecer proteção para as aeronaves de ataque, e basear aeronaves de coleta de inteligência eletrônica para localizar alvos para aeronaves e mísseis de cruzeiro. Eu não descartaria o envio de Il-20M (comando e controle aéreo), mas também as aeronaves de alerta aéreo antecipado A-50. O componente de Transporte Militar também será elevado para propiciar o transporte de munições e outras cargas.”

ataque russo a refinaria do EI

“Todas estas medidas são sensíveis já que é óbvio que a presença russa na Síria é uma questão de longo prazo. Também é lógico esperar o envio não apenas de meios aéreos uma vez que surgiu nova ameaça na forma de invasão do exército turco no norte da Síria para criar uma chamada “zona tampão”. Não se trata de um bando de milicianos armados, mas sim duma força militar bem organizada. Por isso será necessário enviar algo para atacar unidades terrestres no caso de uma tentativa de invasão turca.”

SP: Certamente nós não estamos falando de foguetes balísticos táticos ...

Sim, precisamos de meios de saturação de área, LMR e sistemas TOS. Se eles vão ser transferidos para os militares sírios ou operados de forma independente, esta é uma questão separada.

SP: Recentemente surgiu a informação de que, durante o verão de 2012, por ordem do presidente russo e do ministro da Defesa a missão de aconselhamento militar na Síria foi dissolvida. As forças do governo sírio sofreram derrotas mais pesadas a partir do início do verão de 2012…

A Missão de aconselhamento militar foi atacada por Anatoliy Kvashnin enquanto ele era o chefe do Estado-Maior… Não é nenhum segredo que o Ocidente estava ativamente recomendando a nossa saída. Mas apesar da ordem de Serdyukov a missão consultiva não foi totalmente desativada.

Num determinado momento era uma missão poderosa. Quando eu era o chefe Direcção Principal, nós procuramos fortalecê-la.

Nossa cidade militar perto de Damasco tinha cerca de 450 pessoas, incluindo as famílias dos militares. Foi um acantonamento bastante grande e confortável que foi bem protegido pelos serviços especiais sírios. Nossos diretores operavam de forma eficaz e os sírios sempre escutavam nossos conselhos. Nós podemos ver claramente os resultados: o exército sírio, ao contrário do Iraque ou da Líbia, ainda está de pé.

Estava claro desde o início que Hmeimim poderia aceitar uma quantidade limitada de aeronaves, totalmente insuficiente para a guerra. Portanto, era necessário para encontrar uma saída. Naturalmente abastecer outra base aérea será complicado. A capacidade de transporte aéreo de cargas é limitada. Os turcos estão atrasando os navios russos que atravessam o Estreito de Bósforo. Além disso, as munições enviadas para Shairat terão de ser transportadas por via terrestre, o que aumenta o risco de emboscadas por parte dos rebeldes. O uso de bases aéreas do Iraque não foi respondido, mas elas estão muito longe e seu abastecimento também seria difícil. Além disso, o Iraque está sendo pressionado pelos EUA.

O coronel da reserva Viktor Murakhovskiy, membro do Conselho de Peritos do Colegiado da Comissão da Indústria Militar do Governo da Federação Russa e editor da revista Arsenal da Pátria, também acredita na possibilidade de que Shairat esteja sendo ampliada para incluir instalações militares russas.

Mas é preciso ter em mente que a base aérea também vai precisar de um batalhão de apoio técnico e um fornecimento estável de combustível e munições em grandes quantidades. Considerando-se que estes insumos estão sendo utilizados em milhares de toneladas, seria necessário implantar unidades para garantir a segurança rota de transporte.

SP: Há relatos de que as nossas aeronaves de transporte estão ativas em Shairat. No entanto, a província de Homs é palco de intensos combates entre as forças governamentais e os militantes. Como é que vamos garantir a segurança da descolagem e no pouso de nossas aeronaves de transporte?

Está claro que os rebeldes praticamente não possuem MANPADS. Eles utilizam principalmente canhões ZU-23 para defesa aérea, com alcance máximo de até dois quilômetros, o que significa que eles não podem prejudicar pouso e decolagem de aeronaves.

SP: A imprensa Ocidental informa que forças adicionais serão enviadas para Shairat …

Não há maneira de contornar isso. Se vamos estabelecer uma base lá, não podemos contar com os sírios para garantir a segurança dos embarques diários. Nós vamos ter que enviar colunas como fizemos no Afeganistão, com um destacamento de segurança completo incluindo veículos blindados para livrar a estrada de explosivos ou para estabelecer “checkpoints”. Quando Shairat estava sendo usada como uma base avançada apenas pequenas forças eram exigidas. Mas se quisermos criar uma base aérea totalmente nova, vamos precisar enviar componentes terrestres consideráveis, maior do que o que era necessário para proteger e defender Hmeimim (em Latakia) que fica perto da costa. E este é o problema. Mas eu não vejo qualquer problema em abastecer por via marítima toda a força. A Convenção de Montreaux é um tratado internacional e a Turquia não pode unilateralmente bloquear nossos navios e navios de guerra.

SP: Informes da imprensa relatam que Shairat é necessária para apoiar as operações no sul e no leste da Síria …

Nós ainda não eliminamos enclaves rebeldes entre Hama e Homs na Síria ocidental, a ofensiva no norte não vai especialmente bem. Estas são as instruções operacionais fundamentais. Atacar no leste significa atacar ao longo das estradas em um canal relativamente estreito. Não existem locais particularmente importantes lá em que a existência de exército da Síria e do estado como um todo depende.

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Em princípio, é o suficiente para limitar-se ao longo das rodovias  Damasco-Deraa e Homs-Hama. Uma vez que a região oeste estiver livre de rebeldes isto representará  um enorme sucesso. Isso permitirá que o estado sírio exista por um longo tempo. Portanto, atacar Palmira, Deir-es-Zor, Raqqah são tarefas secundárias.

FONTE: Svobodnaya Pressa (tradução e adaptação do Poder Aéreo a partir do original em russo, publicado originalmente no dia 3 de dezembro de 2015)

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