Força Aérea Brasileira treina combate aéreo além do alcance visual em Anápolis
Por Samuel B.Pysklyvicz e Juliano Lisboa
A Força Aérea Brasileira está realizando nesta semana mais um exercício BVR na Base Aérea de Anápolis (BAAN), em Goiás. O treinamento conjunto tem o objetivo de instruir as unidades de defesa aérea na doutrina de combate além do alcance visual (BVR, do inglês Beyond Visual Range), em situações onde os pilotos empregam mísseis de maior alcance, como o Derby.
A FAB recebeu ontem jornalistas e fotógrafos para cobrir a operação. Leia a seguir a entrevista feita com o tenente-coronel aviador Ricardo Guerra Rezende, comandante do Esquadrão Pampa, 1º/14º Grupo de Aviação e mais fotos da operação.
“Acredito que a FAB dará um salto tecnológico e operacional muito grande com a chegada do Gripen NG”
Qual a diferença do exercício deste ano para os anos anteriores? houve alguma evolução?
Existem algumas adaptações em relação aos exercícios realizados no ano passado e no primeiro semestre deste ano.
Fizemos algumas alterações táticas no cenário e treinamos diferentes técnicas de voo nos adaptando às mudanças no cenário. O objetivo é raciocinar em diferentes situações com base no equipamento que voamos, para que possamos fazer frente às ameaças simuladas.
A doutrina empregada no exercício BVR é a mesma da OTAN? Houve alguma adaptação brasileira?
A Força Aérea Brasileira participou de exercícios Red Flag nos EUA e Cruzex no Brasil, mas não nos limitamos somente à doutrina americana. Temos também influência da doutrina francesa que adquirimos com o Mirage 2000, que voava até pouco tempo conosco.
Nossa doutrina é muito parecida com a da OTAN, com algumas adaptações para a nossa realidade.
Qual o alcance declarado do míssil Derby empregado nos F-5M da FAB?
Os armamentos que empregamos aqui, como os usados no mundo inteiro, não têm um alcance declarado fixo como “esse míssil pode abater um alvo a tantos quilômetros de distância”. Isso tudo depende de uma série de variáveis do cenário: velocidade do vetor, altitude, condições atmosféricas, manobras do alvo (defensor), ou seja, varia muito em relação ao aspecto do alvo.
Durantes os exercícios são simuladas ameaças com diferentes tipos de mísseis como os empregados por países vizinhos?
Sim, mas isso não quer dizer que estamos nos preparando para combater os países vizinhos. Nossos exercícios preveem o emprego de diferentes tipos de mísseis, altitudes e velocidades que se assemelham a aeronaves de maior performance que o F-5 e também de menor performance, que servem tanto para oponentes da América do Sul, como do mundo inteiro.
Qual é o impacto do emprego das aeronaves E-99 no exercício?
O E-99 é classificado como aeronave de alto valor porque ele nos dá o alarme aéreo antecipado das ameaças que estão se aproximando do nosso território, com a vantagem de poder detectar alvos voando em altitudes muito baixas, diferentemente dos radares baseados em terra.
O E-99 amplia a consciência situacional dos caçadores, mas quando entramos em combate não podemos esquecer que precisamos protegê-lo do inimigo.
Nós treinamos dois cenários: um deles envolve a defesa de pontos sensíveis que podem ser atacados pelo adversário e outro em que o alvo é o E-99, onde o objetivo é tirá-lo de cena para diminuir a consciência situacional do inimigo.
Os pilotos da FAB que foram para a Suécia voar o Gripen trouxeram alguma doutrina nova?
Eles não trouxeram doutrina nova porque a Suécia opera com a doutrina da OTAN, mas eles trouxeram novas ideias, com base nas capacidades do caça Gripen, que como todos sabem será nosso próximo caça.
Algumas coisas que eles aprenderam lá nós podemos começar a usar no F-5 e, quando houver a transição para o novo avião, estaremos com a doutrina um pouco mais consolidada, não precisando começar do zero.
Quantas horas de voo um piloto da FAB precisa treinar para ficar apto para missões BVR?
Não é uma questão de horas de voo, mas de sim de anos de experiência. A missão BVR é uma missão extremamente complexa com inúmeras variáveis que se modificam o tempo todo. Por exemplo: numa situação ofensiva você pode morrer, quando deveria estar defensivo, pois nem sempre se tem todos os dados à sua disposição. Cada segundo é precioso para o piloto.
Logicamente a hora de voo dá bagagem e experiência, mas além da formação normal de um piloto de caça, um piloto precisa ainda de uns 3 ou 4 anos voando missões BVR para estar confortável, com consciência situacional para tomar decisões acertadas na hora do combate. É um ambiente complexo e saturado e o piloto precisa de muita experiência para raciocinar corretamente.
Qual a sua expectativa em relação à chegada do Gripen NG?
Minha expectativa é a mesma da Força Aérea, levamos um bom tempo para concluir o Projeto F-X2, o Gripen NG foi escolhido pela FAB e pelo Governo.
O Gripen NG vai ser uma aeronave de 5a. Geração, com capacidade muito maior que o F-5, maior autonomia e aceleração, muito mais equipamentos para uma maior consciência situacional, ou seja, as expetativas são as melhores possíveis.
Acredito que a FAB dará um salto tecnológico e operacional muito grande com a chegada do Gripen NG.