Divergência sobre taxa de juros ameaça compra de caças suecos
A pedido de Levy, Defesa tenta renegociar contrato, mas enfrenta resistência
Por Geralda Doca
BRASÍLIA — A compra dos 36 caças suecos modelo Gripen NG para a Força Aérea Brasileira (FAB), anunciada no final de 2013, está sob ameaça. A pedido do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a presidente Dilma Rousseff solicitou ao governo da Suécia uma revisão da taxa de juros prevista no contrato. O ajuste fiscal e a redução das taxas de juros vigentes na Europa foram os principais argumentos. A fim de evitar o cancelamento do contrato, caso não haja um acordo entre os países, chegou ao Brasil ontem uma comissão de suecos, com representantes da fabricante Saab.
O grupo se reuniu com o ministro da Defesa, Jaques Wagner, que tenta negociar uma taxa intermediária, segundo a assessoria da pasta. Os juros previstos no contrato são de 2,54% ao ano, e Levy quer reduzir o percentual para 1,54%. Jaques Wagner teria proposto uma taxa de 1,98% ao ano. Quando o governo anunciou que havia escolhido o modelo Gripen NG, a empresa Saab estimou que o contrato de fornecimento dos 36 caças seria no valor de US$ 5,4 bilhões.
MEDO DE NEGOCIAÇÃO VOLTAR À ESTACA ZERO
A assessoria de imprensa da Aeronáutica informou apenas que o assunto está sendo conduzido pela Defesa com a equipe econômica. Nos bastidores, porém, há temor de que haja retrocesso e as negociações voltem à estaca zero.
A FAB esperou por mais de uma década pela definição da compra. A Força Aérea aposentou os caças Mirage, e atualmente dispõe dos caças F-5, que foram revitalizados, mas são aeronaves consideradas obsoletas. A entrega do primeiro Gripen, previsto para substituir o F-5, está programada para 2019 e o último, para 2024.
Ainda de acordo com a assessoria do Ministério da Defesa, a decisão final será da presidente Dilma, que está disposta a manter o contrato. Além da perda do tempo se a compra for revista, a desistência implicaria no pagamento de multas. A Defesa alega que o contrato não está ameaçado, e que o prazo para que os dois países cheguem a um acordo termina apenas em outubro. A reunião de ontem, que entrou pela noite, não chegou a um acordo.
O contrato de aquisição dos caças suecos prevê a transferência de tecnologia para a indústria nacional, além do treinamento de pilotos e mecânicos brasileiros. Essa fase do processo está pendente, aguardando a definição em relação ao contrato de financiamento.
As negociações entre a FAB e a fabricante Saab para a assinatura do contrato começaram após o governo brasileiro optar pela compra dos caças suecos. Além do sueco Saab Gripen NG, participaram do processo de seleção o americano Boeing F-18/F, da Boeing; e o francês Rafale F-3, da Dessault.
Em novembro do ano passado, a FAB informou que dois capitães haviam feito os primeiros testes com os caças suecos. Gustavo de Oliveira Pascotto e Ramon Santos Fórneas voaram por 50 minutos em aviões Gripen D, acompanhados por pilotos da Força Aérea da Suécia. Os Gripens voaram em uma área de instrução sobre a Suécia e o Mar Báltico.
Após a decolagem, os aviões atingiram 10,6 mil de altitude em um minuto e meio, uma taxa de subida de 118 metros por segundo. O pouso ocorreu na base de Satenas, na Suécia.
Antes de escolher o Gripen, o governo brasileiro, ainda na gestão do ex-presidente Lula, havia sinalizado que compraria o francês Rafale. Na comemoração do 7 de Setembro em 2009, Lula aproveitou a presença do presidente da França, Nicolas Sarkozy, em Brasília, para anunciar a disposição do Brasil. Mas o negócio não foi fechado.
FONTE: O Globo