Aviação de caça argentina pode acabar operando o jato Pampa no lugar dos Kfir
Roberto Lopes
Exclusivo para o Poder Aéreo
O Ministério da Defesa argentino tem pronto um plano de investimento, caso as próximas rodadas de negociação entre a Força Aérea Argentina (FAA) e a IAI (Israel Aerospace Industries) em torno da forma de pagamento de 14 caças supersônicos Kfir C-10 – previstas para acontecerem em solo israelense –, não cheguem a desfecho positivo.
Nessa hipótese a ideia é redirecionar a verba que seria alavancada junto ao Tesouro argentino para o início do pagamento dos Kfir – cerca de US$ 100 milhões –, de forma a obter a aceleração do programa Pampa III. Esse projeto prevê a produção, na Fábrica de Aviões Brigadeiro San Martín, da província de Córdoba, de 40 exemplares da última versão do jato subsônico de treinamento avançado IA-63 Pampa (cópia do conhecido Alpha Jet europeu, desenhado nos anos de 1960, que os militares argentinos começaram a usar na metade final da década de 1980).
Os Pampas III sairão por US$ 500 milhões, mas os préstimos dessa aeronave ainda são uma incógnita. O roll out do protótipo está previsto para outubro de 2015, e o início das entregas de série para o segundo trimestre de 2016, inicialmente à razão de quatro aparelhos ao ano.
Quando começarem a entrar em operação, os Pampas III vão se juntar aos 19 Pampas II que já operam no Grupo 4 de Caça, pertencente à IV Brigada Aérea, da província de Mendoza. Todas as aeronaves da versão II serão elevadas ao padrão III.
Se a Argentina não conseguir comprar o Kfir israelense, o plano é equipar tanto o Grupo 4 quanto o Grupo 6 de Caça (VI Brigada Aérea), de Buenos Aires, com o jato de treinamento.
Nessa situação, a aviação de caça argentina cairá ao nível de sua congênere boliviana, que emprega o treinador subsônico chinês K-8 Karakorum (“Pedra Negra” num dialeto da China Ocidental), não só para o adestramento de seus pilotos de combate, também para missões de interdição e para a simulação de missões de superioridade aérea.
K-8 e Pampa III são, por sinal, bastante parecidos.
O jato chinês é meio metro mais comprido e, vazio, 133 quilos mais leve. O Pampa decola com 15% a mais de peso, alcança uma velocidade máxima operativa 19% maior e possui um alcance 16% superior ao do K-8. Porém, as capacidades de um e de outro são semelhantes. Nenhum deles permite, por exemplo, o adestramento dos pilotos no lançamento de mísseis BVR (sigla em inglês de Beyond-Visual-Range, que significa alcance além do horizonte).
Boicote – A IAI pediu cerca de US$ 350 milhões, amortizáveis em sete anos e meio, por 12 Kfirs monoplace e dois biplace, que começariam a chegar à Argentina no segundo semestre de 2016, em diferentes estágios de modernização. Ao menos meia dúzia deles precisaria ter os seus sensores e sistemas eletrônicos atualizados nas oficinas da fábrica cordobesa.
Na metade final de 2016, os jatos Mirage III argentinos que hoje, de forma limitada, ainda cumprem missões, já terão saído da escala de vôos para entrar na galeria da história da Fuerza Aerea Argentina. Segundo o cronograma da cúpula da FAA, a partir do terceiro quadrimestre de 2015 as últimas aeronaves desse tipo começarão a ser desativadas, numa sequência que deve estar completada antes de junho do ano seguinte.
O Ministério da Defesa argentino pretende esticar a vida útil dos caças A-4AR Fightinghawk (suas principais plataformas de combate) enquanto for possível, mas, até esse momento, não tem nenhum plano para superar as dificuldades que se apresentam à modernização da aeronave, no âmbito daquilo que o ministro da Defesa, Agustín Rossi, costuma definir, singela e cautelosamente, como “logística internacional”.
A verdade é que, em razão da política hostil de Buenos Aires em relação aos governos do Reino Unido e dos Estados Unidos, muitos fornecedores americanos de itens militares proíbem a venda de componentes que seriam utilíssimos à manutenção dos Fightinghawks.
Esse boicote também vem retardando a prontificação do protótipo do Pampa III.
Nos planos de sua nova aeronave, os argentinos tentaram compensar o pequeno porte e as limitações operacionais do aparelho com um recheio eletrônico sofisticado – mais aperfeiçoado que o do K-8 – como painéis digitais multifuncionais e sistema de transmissão de informações para o capacete do piloto de concepção israelense.
Mas há problemas ainda não resolvidos, devido, especificamente, ao tal bloqueio político que muitos governos ocidentais fazem à transferência de sistemas de combate para a FAA.
Nesse momento, a Fábrica de Aviões de Córdoba tenta contornar meia dúzia de dificuldades pontuais, entre elas, as da obtenção de um trem de aterrissagem e de atuadores hidráulicos com a confiabilidade dos melhores equipamentos do gênero produzidos no Ocidente.
No lugar dos tradicionais assentos ejetáveis Martin Baker, de desenho britânico, os argentinos selecionaram o russo NPP Zvezdá K-36L/3.5Ya, um modelo menor do conhecido (e bem conceituado) K-36L.
Mi-17 – Os problemas de falta de fundos para importar um lote de Kfir C-10 e para turbinar a produção dos Pampas não são, entretanto, os únicos com os quais se debatem, no momento, os brigadeiros argentinos.
O governo de Buenos Aires está enfrentando dificuldades consideráveis para captar cerca de US$ 50 milhões no sistema financeiro da Rússia, de forma a viabilizar a importação de quatro helicópteros pesados russos Mil Mi-17. Os argentinos já compraram (e pagaram na totalidade) duas aeronaves desse modelo, hoje alocadas à VII Brigada Aérea, de Buenos Aires, mas necessitam de um total de seis para missões SAR, de apoio à campanha antártica e de transporte de pessoal e carga.
Há outras faturas que aguardam a disponibilidade dos cofres da Força Aérea Argentina.
A modernização de seus cinco quadrimotores Hércules C-130 custará US$ 75 milhões. A primeira aeronave começou a ser remodelada nos Estados Unidos, mas as demais devem receber o mesmo conjunto de melhorias na indústria aeronáutica de Córdoba.
A Argentina também manifestou interesse em seis jatos cargueiros Embraer KC-390, compra que deve superar a casa dos US$ 300 milhões.
No Congresso argentino também circula a informação de que os 24 caças Embraer Gripen NG, que a FAA deseja, não sairão por menos de US$ 2,9 bilhões – isso, claro, se a fabricante brasileira conseguir superar todos os vetos à utilização de componentes de origem britânica. O que parece ainda bastante incerto.
VIxe… os foristas hermanos (e alguns brasileiros que douram a pílula brasileira por aquelas bandas…) vão ter um chilique….
A última matéria sobre o assunto do Bob Lopez…os caras surtaram.
Sds.
Falta pouco para que a FAA passe a utilizar o 14-Bis em sua aviação de caça.
Adquiridos do Brasil, mediante financiamento do BNDES a perder de vista, com direito a ToT irrestrita.
Sob protesto britânico, claro.
Pampa…. caça… hihihihihihi… dhuasdhuashauhdauhsuashuad 😀
[]’s
E querem os gripens ainda…
Acho que vão acabar usando Mig-21 ……
Probres mortais ,durangos até o osso ,cheios de vetos e caçando comprar Gripen’s sendo que nem as peças necessárias p/ seu próprio vetor estão conseguindo !!
Plítica externa lixo da nisso( e olho grande também), cuidado Itamaravilha !!
Sds.
A Argentina tem uma situação duplamente desesperadora pois politicamente viraram párias pela aplicação da influência Britânica como parceiro estratégico dos EUA e a falta de dinheiro pela crise econômica argentina. Neste quadro eles operam aquilo que conseguirem colocar a mão uma vez que o país se considera ocidental e só começa a usar equipamento russo. A longo prazo a Argentina tem é que recuperar sua situação econômica como país e militarmente conformar-se definitivamente que se quiser operar equipamentos de primeira linha terá que adquiri-los fora do mercado ocidental ou na Rússia ou na China enquanto as Falklands estiverem sob domínio… Read more »
Vivemos situação semelhante no passado, de equipar esquadrões de caça com treinadores a jato produzidos localmente, enquanto não se viabilizava o reequipamento com caças de verdade. De fato, o primeiro operador do AT-26 na FAB foi o 1º GAVCA, cujos dois esquadrões (na época eram efetivamente dois esquadrões) voaram o jato de treinamento entre o final de 1970 e o início de 1975, em outras palavras, entre a baixa dos AT-33 no grupo (que passaram a ser concentrados no 1º/14º GAV, e que já eram treinadores cumprindo o papel de caças desde 1967 devido à baixa dos F-8 Meteor) e… Read more »
Os Argentinos não podem reclamar… plantaram e agora estão colhendo. Mas por um ponto de vista pragmático, tudo tem solução, pode levar mais tempo e os desafios não serão fáceis, mas tem solução ou mesmo pode ser contornado e diversas situações. De bate-pronto posso citar 2 exemplos diferentes. 1 por embargo e outro por conjuntura político econômica. – O primeiro é a África do Sul (Apartheid), que sofreu embargo de quase tudo… foi embargada até em Olimpíadas o que a forçou a entrar no mercado negro (diamantes, ouro e Urânio para venda e toda sorte de produto para compra) e… Read more »
Nunão,
na boa, só é “semelhante” por não ter a presença do Supersônico. Mas a conjuntura toda dos Hermanos não chega nem perto de ser nem levemente semelhante a nossa na primeira metade dos anos 70. 🙂
Grande Abraço.
Oganza,
Nem estou levando em conta conjunturas de cada época para estabelecer comparações FAB-FAA, longe disso. Só estou mostrando que, de forma temporária, essa solução de equipar esquadrões de caça com jatos de treinamento em produção numa determinada época já foi vivida pela FAB. E também estou analisando essa substituição de Mirage velho por Pampa novo dentro do contexto argentino de hoje. Ver algo além disso nesse exemplo simplesmente explanado já é coisa de buscar interpretações, mas não foi minha intenção comparar nada.
Coitada da FAA. Ninguém merece caçar com Pampas ¬¬.
OFF TOPIC:
Relato sobre o acidente do C-130 na Antártica e as comissões que estavam embarcadas!
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/passageiro-relata-drama-durante-acidente-com-hercules-130-ao-pousar-na-antartica-14738320
Já até entendi porque houve o acidente… Muita urucubaca num lugar só!
Abraços!
Nunão,
ok entendi. 🙂
Mas se os colegas foristas se interessarem, essa foi uma fase interessante do nosso poder aéreo, inclusive o curioso caso de que quase não tivemos os Mirages III por conta da dívida do financiamento para a construção da Ponte Rio-Niterói que estava toda nas mãos de Bancos Ingleses, por muito pouco a FAB não operou os BAC Lightning. O que teria sido muito ruim para nós a longo prazo.
Grande Abraço.
Oganza, vai saber o que poderia acontecer caso tivéssemos adquirido o BAC Lightning. Às vezes, conforme o ponto de vista, talvez tivesse sido “melhor” do que o desenrolar histórico real ou a possibilidade que você coloca. Exercícios de “e se”, ou história contrafactual, embora sejam muitas vezes mais um exercício divertido do que prático, nem sempre têm como “realidades alternativas” algo pior do que se busca. Por exemplo: sou grande admirador do Mirage III, e até penso que, se operado em mais de um esquadrão na FAB de forma a gerar uma escala mais interessante para fornecimento local (nacionalização) de… Read more »
Dos candidatos avaliados em 67, o Lightning seria o último que eu escolheria. Sim, sua performance era fenomenal, mas ele era muito limitado, principalmente em alcance, algo intolerável no nosso caso. Fora os custos operacionais e limitações de pistas utilizáveis, por causa dos finos pneus de bicicleta que ele usava. Seria como comprar um Phantom II com 25% da capacidade.
O Mirage III foi a melhor escolha, era o mais versátil de todos e um dos mais baratos. Pena que não os substituímos logo no início da década de 90 pelo F-16 ou o Mirage 2000.
Verdade Nunão,
o cenário estratégico e geopolítico da época era outro, mas mesmo assim são muuuuitas possibilidades… 🙂
No fim das contas e por uma visão operacional eu gosto da decisão pelos Mirages III. Ele possuía uma doutrina operacional mais flexível que Lightning e a FAB se beneficiou muito disso.
Mas no frigir dos ovos estou com o Clésio, onde talvez a falha ou infortúnio talvez tenha sido não termos ido para a geração seguinte de caças como o F-16 ou M-2000 ainda nos anos 90.
Grande Abraço.
Olá.
Nos anos de 1990, o Brasil era o que é hoje a Argentina: tinhamos acabado de dar um “calote” no FMI, nossa inflação estva absolutamente fora de controle e um presidente havia sofrido processo de impeachment. Estávamos “mal na fita” no cenário mundial.
Não daria para comprar os caça de primeira linha da época.
SDS.
Pegue um país pobre, mas honrado e com um povo orgulhoso, educado, criativo, trabalhador e, acima de tudo, empreendedor e liberal; Injete 20 anos de um populismo desvairado e doentio; Some mais 20 anos de uma ditadura louca e chauvinista; Depois entregue esse país por 10 anos a larápios da pior espécie; Por fim, entregue este mesmo país por 10 anos para a canalha pseudo-socialista-esquerdista mais escroque, revanchista e sanguinária que o mundo jamais produziu desde os tétricos tempos soviéticos. E voilá! Temos uma Argentina! Um país destroçado, que é sombra remota do que já foi, e um fantasma sombrio… Read more »
Vader, muito bom.
“…a elite pensante e investidora de outro.” – só aki que vc foi bem generoso… 🙂
Acho que faltou acrescentar que a mesma “elite pensante e investidora” é preguiçosa ideologicamente e sem convicção para se assumir como uma elite que de fato tem o$ podere$ e a$ ferramenta$ para fazer parte de uma real mudança.
E esse é talvez o maior problema hj dentre akeles em nosso país que podem fazer a diferença. As ferramentas eles tem, só precisam sair dessa inércia.
Grande Abraço.
Bem, se a argentina conseguisse instalar a família de radares ELTA 2032 nos Pampas III, junto com a compra de uma família de mísseis python e derby, seria o melhor cenário pra eles. Se não me engano, o novo modelo teria capacidade REVO. Inclusive, o único negócio que compensaria em relação aos argentininos era justamente esse pampa, pois, o unasur é uma piada pronta e sem graça. Gripen? Esqueçam. É bom se conformar. Ainda que o conluio político empenhado em estuprar e quebrar a população brasileira financiando negócios de alibaba em cuba, venezuela, ilhas cayman e Suíça (nos últimos dois,… Read more »
Voto para os Hermanos mandarem o ocidente pastar.
E fechar de vez com os chineses e Russos.
Pronto acabou a historia de ficarem se humilhando para os Anglos-Saxões.
Simples podem até mesmo operarem os Mig 21 mesmo e ponto final.
Puxa vida, como é simples resolver os problemas enfrentados pela Argentina, Soldat!
Eureka!
Que solução maravilhosa!
Trocar a democracia ocidental (problemática, sem dúvida) pelo obscurantismo russo e o autoritarismo chinês, e, como se ainda não bastasse, ter como brinde uma força aérea equipada com MiG-21.
Onde fica a fila? O Brasil não pode perder uma oportunidade dessas!