Apresentação de caças Gripen na Suécia - foto A Galante - Poder Aéreo

É bem provável que o Reino Unido vete equipamentos britânicos do Gripen no caso de uma venda à Argentina, segundo o site Defense News. Mas é pouco provável que a Argentina tenha dinheiro para comprar novos caças

Matéria publicada em 8 de novembro no site Defense News, a respeito das repercussões de anúncio do ministro da Defesa da Argentina Augustin Rossi sobre a intenção de seu governo em comprar 24 caças Saab Gripen, traz a opinião de que essa intenção aparentemente ignora um grande obstáculo para esse negócio: a Grã-Bretanha, adversário de longa data da Argentina. Os britânicos têm, segundo a matéria do Defense News, praticamente o poder de vetar exportações do caça como resultado do substancial número de sistemas de origem inglesa no Gripen. Mais de 30% da nova versão do caça sueco em desenvolvimento pela Saab é fornecida pela indústria britânica.

Itens como o radar de varredura eletrônica ativa da Selex ES, o trem de pouso, o assento ejetável, sistemas eletrônicos e outros subsistemas poderiam todos ser atingidos por um bloqueio britânico de exportações militares para a Argentina.

Em 2012, o secretário de negócios do Reino Unido Vince Cable invocou o banimento de vendas de qualquer artigo militar e tecnologias de uso dual para a Argentina. Essa licença para exportações ainda é válida e provavelmente permanecerá devido ao impasse entre as duas nações sobre a soberania nas ilhas Falklands / Malvinas.

Um porta-voz do Departamento de Negócios, Inovação e Capacitação do Reino Unido (UK Department of Business, Innovation and Skills) pronunciou-se a respeito: “Estamos determinados a garantir que nenhuma exportação de artigos licenciados da Grã-Bretanha ou comércio tem potencial de ser usado pela Argentina para impor um bloqueio econômico nos habitantes das Falklands ou inibir seus direitos legítimos de desenvolver sua própria economia.”

Já para o ministro argentino, a compra do avião por seu país depende da Argentina participar do programa do Gripen E assinado pela Saab e o Governo Brasileiro, pelo qual o Brasil comprará pelo menos 36 caças. O acordo envolve uma linha de montagem a ser estabelecida pela Embraer no Brasil, desenvolvimento conjunto de uma versão de dois lugares e exportação para outras forças aéreas da América do Sul.

Gripen NG Demo decolando de Malmen - foto 5 Alexandre Galante - Poder Aéreo

Ironicamente, segundo o Defense News, o Governo do Reino Unido apoiou a venda ao Brasil devido ao alto nível de materiais britânicos na aeronave.

Doug Barrie, analista sênior no Instituto Internacional para Estudos Estratégicos (International Institute for Strategic Studie) de Londres disse que, apesar de ser possível substituir sistemas de origem britânica no Gripen, isso não seria prático: “A Argentina não está nadando em dinheiro, e na realidade a substituição de sistemas-chave como esses que o Reino Unido fornece traria uma significativamente alta requalificação de custos.”

Fontes com conhecimento do mercado de caças da América do Sul disseram que a Saab foi procurada pelos argentinos diversas vezes no passado, interessados num possível contrato para caças Gripen, apenas para serem silenciosamente rejeitados pela empresa sueca.

Um porta-voz da Saab disse que a empresa sabe das notícias relacionadas a discussões sobre o Gripen, entre Brasil e Argentina, mas não tem nada de adicional para informar. Segundo 0 porta-voz, “o Brasil se tornará um parceiro próximo no programa de desenvolvimento e produção do Gripen. Porém, todas as exportações de Gripen continuarão a se submeter às atuais e bastante rígidas regulamentações de exportação. No que se refere a equipamentos do Reino Unido na aeronave, não há solicitação para mudar nenhum dos equipamentos nem planos para isso.”

O anúncio do ministro argentino, feito durante a cerimônia de apresentação (roll-out) do jato de transporte militar KC-390 da Embraer, no Brasil, causou alarme na Grã-Bretanha, que tem uma disputa de muito tempo com a Argentina sobre quem possui as ilhas Falklands, chamadas de Malvinas pelos argentinos.

Na semana passada, o assunto chegou ao Parlamento do Reino Unido e o Comitê de Defesa da Câmara dos Comuns tentou perguntar aos chefes das Forças Armadas, em 5 de novembro, sobre as implicações para a defesa das ilhas no caso de uma venda do Gripen para a Argentina.

A Argentina invadiu as Falklands / Malvinas em 1982, desencadeando uma guerra com a Grã-Bretanha. Após a derrota dos argentinos, passou a haver uma constante e cara presença de caças, tropas e navios de guerra britânicos, estacionados nas ilhas. Nos últimos anos, a disputa foi revivida pela presidente argentina Cristina Kirchener, que tornou a reivindicação das ilhas um dos pilares de sua política.

Os argentinos têm procurado substituir sua frota envelhecida de caças Dassault há um bom tempo. Mais recentemente, caças Mirage F1 de segunda-mão da Força Aérea Espanhola foram considerados, mas nada foi concretizado.

Gripen NG Demo decolando de Malmen - 7 - foto A Galante - Poder Aéreo

Poucas pessoas acreditam que uma discussão sobre o Gripen para a Argentina chegue a algum lugar, tanto devido à posição britânica sobre exportações de material militar ao país quanto pelos problemas econômicos argentinos. Ainda que não leve a nada, essa questão levantou preocupações na Grã-Bretanha sobre como a posição militar poderia mudar naquela parte do mundo caso a Argentina se reequipasse com caças mais modernos e mísseis.

O editor de Análises de Defesa Francis Tuser, afirmou que a questão do Gripen destacou que, caso um acordo dessa natureza siga em frente, haveria uma mudança “dramática e perigosa” na situação britânica nas Falklands / Malvinas. Tuser afirmou que, “apesar de haver um prazo de dez anos para um evento desses, ele teria a capacidade de mudar, num só golpe, a balança de poder no Atlântico Sul, e causaria uma mudança importante na postura de defesa do Reino Unido lá. Caso não seja levado em conta na revisão da estratégia de defesa e segurança de 2015, terá que ser tratado como prioridade, mas aí já poderá ser muito tarde ou pelo menos muito caro”.

FONTE: Defense News (tradução e edição do Poder Aéreo a partir de original em inglês)

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