Caça Gripen, da Saab, terá versão com dois assentos
Dan Jangblad, vice-presidente mundial: reunião com prefeito de São Bernardo do Campo discutiu investimento de US$ 150 milhões em fábrica de aeroestruturas
Por Virgínia Silveira | De São Bernardo do Campo
A versão de dois assentos (biposto) do caça sueco Gripen NG, escolhido para ser o novo avião de combate da Força Aérea Brasileira (FAB), poderá ser inteiramente desenvolvida no Brasil pela indústria aeroespacial do país. A informação foi confirmada por Dan Jangblad, vice-presidente mundial da Saab, fabricante do caça.
O executivo, junto com uma comitiva de representantes da Saab, reuniu-se ontem com o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e alguns empresários do setor aeroespacial brasileiro, para discutir o investimento de US$ 150 milhões que será destinado à construção de uma fábrica de aeroestruturas para o Gripen no município.
A oportunidade de o Brasil participar de forma ainda mais substancial do desenvolvimento do Gripen surgiu porque o modelo biposto – normalmente usado para treinamento de pilotos de caça -, não será fabricado pela Suíça, que encomendou 26 aeronaves da Saab e nem pela Suécia, com 60.
“Os dois países deverão utilizar a frota mais antiga do Gripen C&D para treinamento de seus esquadrões”, disse uma fonte que acompanha de perto o fornecimento do caça ao Brasil. Dos 36 aviões que serão fornecidos à FAB, a um custo de US$ 4,5 bilhões, oito terão capacidade para transportar dois pilotos e o restante será na versão monoposto, de apenas um assento.
“Esta é a grande oportunidade de o país atingir o domínio completo do desenvolvimento de um caça supersônico, pois a versão monoposto já está em fase mais adiantada de construção”, disse a fonte. O modelo biposto será maior que a versão de um assento, exigindo uma nova estrutura.
“A versão biposto dará uma carga de trabalho ainda maior para a brasileira Akaer, que já acumula uma importante experiência no desenvolvimento da estrutura do Gripen”, disse Sergio Vaquelli, líder da equipe técnica que já trabalha no projeto de implantação da nova fábrica de aeroestruturas da Saab em São Bernardo.
A Akaer foi a primeira empresa contratada pela Saab para trabalhar no programa do Gripen NG, com o desenvolvimento das fuselagens posterior e central, bem como as asas e as portas principais do trem de aterrissagem do avião.
A Saab já iniciou a fase de definição da divisão de trabalho das empresas da cadeia aeroespacial brasileira no desenvolvimento do caça. Pelo acordo entre Saab e o governo federal e a FAB, 80% do Gripen será produzido no país.
Segundo o vice-presidente mundial, Embraer, Mectron, Atech, AEL Sistemas, Akaer e a subsidiária da GE no pais vão participar do fornecimento das partes mais complexas do caça, envolvendo integração de sistemas e armamentos, montagem final, data-link, componentes e manutenção de motores, sistemas aviônicos e desenvolvimento de aeroestrutura.
O Valor apurou que a Saab já fez uma reunião preliminar de alto nível com a Embraer para discutir a participação da brasileira na parte de integração de sistemas do Gripen e montagem final do avião. As atividades da Embraer no caça serão desenvolvidas em sua fábrica em Gavião Peixoto (SP), onde concentra projetos de defesa e também opera uma pista de ensaios em voo para aeronaves militares.
A Inbra Aerospace, segundo o diretor Sergio Vaquelli, será uma das sócias brasileiras da nova fábrica, que deverá se tornar uma Empresa Estratégica de Defesa (EED), com 60% de capital nacional, conforme a lei federal 12.598. A área de engenharia da nova empresa será liderada pela Akaer.
Vaquelli disse que a fábrica de aeroestruturas não irá fornecer somente para o Gripen – assim não se sustentaria no longo prazo. “Ela também poderá fornecer componentes para outros programas da Saab e da Embraer, que compra muita coisa de fora porque não existe capacitação no Brasil”, disse.
O presidente da Inbrafiltro, Jairo Cândido, disse que a nova empresa será a primeira fábrica de aeroestruturas de nível 1 (peças mais complexas de um avião, como asas e fuselagem) da América Latina. Atualmente, diz, o parque aeroespacial brasileiro só fornece componentes de nível 2 e 3.
FONTE: Valor Econômico