‘Ah moleque, eu sou sinistro!’
Alexandre Galante
O título deste post é uma expressão usada pela juventude carioca, por aqueles que sabem que são bons em alguma coisa ou que se destacam em alguma atividade. Se o caça Gripen falasse, certamente ele usaria essa frase quando foi declarado vencedor do Programa F-X2 da Força Aérea Brasileira.
A Suécia é uma nação orgulhosa da sua história e sempre procurou manter a neutralidade diante dos grandes conflitos mundiais, como a Segunda Guerra Mundial. Mas isso nunca foi uma tarefa fácil, pois a Suécia possui fronteiras extensas, uma população pequena e um produto interno bruto que não se compara ao das grandes potências. A ameaça de invasão e de aniquilação de seu povo esteve quase sempre presente.
Para agravar a situação, durante a Guerra Fria a Suécia teve que investir em sua defesa para dissuadir a União Soviética, que tinha intenções expansionistas claras, com grande probabilidade de invadir seu território. Como barrar o grande e poderoso urso?
Surpreendentemente, contra todos os fatores adversos, desde o pós-guerra a Suécia produziu uma série notável de caças que se destacaram pelo design, simplicidade e inovação, além da capacidade de combate.
Os aficionados mais novos podem não conhecer, mas os mais antigos lembram do belo Saab Lansen, equivalente ao também elegante Hawker Hunter inglês. E o revolucionário delta Saab Draken, que já na década de 1960 usava link de dados e foi considerado superior ao Mirage III francês?
A Svenska Flygvapnet (Força Aérea Sueca) sempre teve que usar a criatividade para possibilitar que um pequeno orçamento pudesse prover a proteção de um país com grandes fronteiras e população pequena, de cerca de 9 milhões de pessoas em 2012.
Os suecos sempre souberam que no primeiro dia de guerra com a União Soviética suas bases aéreas seriam neutralizadas, por isso desenvolveram a estratégia de dispersão, desdobrando suas unidades aéreas pelo país, empregando rodovias como pistas de pouso e decolagens e usando as grandes florestas de coníferas como camuflagem, para ocultar edifícios de comando e comunicações e depósitos de combustível e munições.
O caça Saab J35 Draken era excelente, mas não tinha as características adequadas para desdobramentos em estradas, por causa das elevadas velocidades de pouso e decolagens.
A Svenska Flygvapnet precisava então de uma nova aeronave capaz de realizar as missões de ataque, reconhecimento, defesa aérea e treinamento operacional. E ela também precisava operar em bases avançadas e com apoio reduzido, em pistas e estradas com trechos cobertos de neve.
A aeronave precisaria também decolar e pousar curto, com características próximas de operação em porta-aviões.
Nasceu então o Viggen, cujo primeiro protótipo voou em 8 de fevereiro de 1967. Foi o primeiro caça europeu dotado de canards que melhoravam sensivelmente a manobrabilidade e a atitude para pouso curto: o Viggen conseguia pousar numa pista de 400 metros, usando também o reversor de empuxo da turbina Volvo Flygmotor RM-8, versão militarizada da Pratt & Whitney JT-8D-22, usada nos jatos B727. Ele decolava usando somente 500m de pista!
O Saab Viggen quando entrou em serviço usava a última tecnologia em radar e mísseis ar-ar, graças ao auxílio norte-americano, que tinha grande interesse que a Suécia fosse capaz de dissuadir e se possível deter, pelo menos por alguns dias, o avanço soviético no norte da Europa, em caso de uma Terceira Guerra Mundial.
O desempenho do Viggen só não era melhor porque não existia ainda, naquela época, a tecnologia FBW (“fly-by-wire”) de estabilidade relaxada, que só viria a ser empregada no seu substituto, que começou a se estudado em 1979.
O substituto deveria ser uma aeronave com moderada carga alar, empregando material composto na sua construção e um radar multimodo. Ele também deveria ser capaz de substituir as quatro versões do Viggen!
Além disso, a aeronave deveria ser mais leve e mais barata, para poder ter alguma chance de exportação, mas a carga de armamento e o raio de ação deveriam ser os mesmos do Viggen. Estudos indicavam que o avanço da tecnologia permitiria que os objetivos de projeto fossem atingidos e que um caça leve com grande capacidade seria possível.
Nasceu então o Gripen JAS39, e um consórcio foi formado pela Saab-Scania, Volvo Flygmotor, Ericsson e FFV Aerotech para projetá-lo e produzí-lo.
Como no caso do Draken e do Viggen, foi buscado no exterior um motor capaz de ser licenciado, desenvolvido e otimizado pela Volvo. Três possibilidades foram estudadas: P&W 120, GE F404 e RB199. No final, o escolhido foi o GE F404, que equipava o F/A-18 Hornet.
O Gripen JAS39 acabou usando a mesma configuração de delta com canards do Viggen, mas agora com canards totalmente móveis. A tecnologia FBW empregada era da Lear Astronics norte-americana, que era muito sensível e precisou de ajustes, depois de alguns acidentes. No final, com as mudanças no software das leis de controle, o Gripen foi declarado estável.
O bem-sucedido desempenho do Gripen na Svenska Flygvapnet e a parceria britânica da British Aerospace estabelecida em 1995 ajudaram a tornar o avião um sucesso de exportação e hoje ele voa também nas cores da África do Sul, Hungria, República Tcheca e Tailândia.
O Gripen NG
O Gripen NG é um demonstrador de tecnologias para uma futura versão melhorada do JAS39 Gripen, com motor GE F414 mais potente, com maior capacidade de combustível, maior carga útil, aviônicos atualizados e um novo radar AESA. O demonstrador foi apresentado em 23 de abril de 2008.
O novo Gripen NG (Next Generation) é propulsado por uma turbina GE/Volvo Aero F414G, uma evolução do motor do F/A-18E/F Super Hornet. Ele tem 20% a mais de empuxo (22.000 libras), permitindo a velocidade supercruise de Mach 1.1, armado com mísseis ar-ar.
Comparado com o Gripen D, o peso máximo de decolagem do Gripen NG aumentou de 14.000 para 16.000kg (30.900-35.300 libras), com um aumento de peso vazio de 200kg (440 lb).
A principal mudança externa em relação ao Gripen original foi a realocação do trem de pouso principal, aumentando a capacidade interna de combustível em 40%, resultando no aumento da autonomia de traslado para 4.070 km (2.200 milhas náuticas). O raio de ação para combate aéreo (com 4 mísseis BVR, dois WVR e dois tanques) é de 1.300km. O nova configuração do trem de pouso também permite a adição de dois pilones sob a fuselagem.
Com a vitória do Gripen NG na Suíça e no Brasil, e as encomendas da própria Suécia, o desenvolvimento do Gripen NG está garantido e o novo caça se tornará mais um na longa linhagem de caças bem-sucedidos da Saab.
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