Caças suecos vêm para preencher vulnerabilidade brasileira no setor, dizem especialistas
- Aviões F-5, da FAB, são os primeiros a serem produzidos no mundo e operam desde os anos 70
- Caças atuantes hoje no Brasil são inferiores, em radar e alcance, aos Sukhois venezuelanos, comprados da Rússia em 2006
- Venezuela e Chile possuem Força Aérea mais moderna do que a brasileira; afirmam profissionais do setor. Avaliação é de que Brasil deve incrementar frota por questões como água, petróleo e Atlântico Sul
MARIANA TIMÓTEO DA COSTA
SÃO PAULO — A opinião de especialistas do setor é praticamente unânime: a Força Aérea do Brasil encontra-se numa situação vulnerável e, por isso, a compra dos 36 caças Gripen NG é considerada fundamental. Atualmente, em relação aos vizinhos, a frota de caças brasileira é, segundo especialistas, inferior à de Venezuela e Chile. Em 2006, o governo de Hugo Chávez comprou 24 Sukhois russos, caças de combate considerados de ponta, num investimento de US$ 5 bilhões. O Chile gastou cerca de US$ 1 bilhão e hoje possui uma frota de 36 F-16s americanos, também bastante modernos. Enquanto isso, com o desativamento, no próximo dia 31, dos 16 Mirages atuantes no território nacional, o Brasil ficará apenas com 57 F-5s e 43 AMXs que, apesar de terem sido modernizados por empresas como a Embraer, com tecnologia israelense, não são considerados aviões de completa superioridade aérea _ ou seja, possuem limitações para defender e monitorar o espaço aéreo brasileiro. Os F-5 da FAB são os primeiros a serem produzidos no mundo, têm quarenta anos de idade.
Segundo Alexandre Galante, diretor da Aeronaval Comunicação, que edita, entre outros, o site Poder Aéreo, a Suécia (fabricante dos Gripens) deve inclusive enviar “caças-tampões” ao Brasil de gerações anteriores ao NG, já que esses só chegarão em 2018.
— Para que o país não fique completamente desprotegido. O Brasil tem uma extensão territorial, uma larga costa e uma posição estratégica na geopolítica mundial que não permite essa vulnerabilidade — alerta Galante que, improbabilidades à parte, diz: — Perto dos Sukhois venezuelanos, nossos F-5 são limitados em alcance e no radar. Se os bolivarianos quiserem tomar a Amazônia, hoje conseguem.
Segundo Galante, além das questões de segurança territoriais em si — como plataformas de petróleo, a Amazônia —, o país ocupa uma posição estratégica no Atlântico Sul, área do mundo que vem sendo cada vez mais atacada por piratas e grupos terroristas atuantes na África Ocidental. Os ataques a plataformas de petróleo no Delta do Níger e no Golfo da Guiné, por exemplo, vêm se intensificando ao longo dos anos.
— Por enquanto eles atuam em mares da África Ocidental, mas nada impede que isso se expanda. O Brasil vive falando que não gostaria de uma presença maior da Organização do Atlântico Norte (Otan) no Atlântico Sul, mas, para isso, precisa estar presente nesses mares — avalia.
Nelson Düring, editor-chefe do portal Defesa Net, recomenda à opinião-pública que pense na questão da defesa dentro de um conceito mais atual, que pode não ser de guerras ou confrontos com países vizinhos, mas sim de proteção de infraestrutura, segurança de grandes eventos e estratégias de cooperação internacional. Os “invasores” podem não ser países, mas sim, diz ele, gangues marginais, por exemplo. Segundo Düring, é preciso pensar a defesa dentro desta nova ordem mundial. Os caçam funcionam, portanto, como uma garantia para o Brasil.
— Os caças terão radares para patrulhar, por exemplo, grandes eventos, uma pena que vão chegar somente em 2018, após a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Além disso, funcionarão como plataforma de inteligência e sensores. Se pensarmos que quase todos os voos para a América do Sul passam em nosso território, é importante disponibilizarmos este tipo de serviço de segurança — avalia o especialista.
Os Gripens também serão instrumentos importantes de cooperação internacional. A África do Sul — outro país estratégico para o Atlântico Sul — já usa uma geração anterior dos mesmos caças e já trabalha, junto com o Brasil, no desenvolvimento de mísseis que se adaptarão muito melhor e mais rápido em caças dos mesmos modelos.
João Roberto Martins Filho, especialista em estratégia militar da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), lembra que a função principal dos caças é ter capacidade rápida de estabelecer a defesa inicial no caso de uma invasão aérea. O rápido deslocamento é capaz de neutralizar ataques.
— É muito importante o país ter capacidade de se defender de situações vulneráveis, caso ele seja pressionado. Devemos lembrar que o Brasil possui riquezas como petróleo, a biodiversidade amazônica, uma costa extensa e rica, além da água doce, um dos recursos naturais considerados estratégicos hoje no mundo. Ter bons caças deve fazer parte de qualquer boa estratégia nacional de defesa — explica.
FONTE: O Globo