Gripen na Suíça: compra do caça da Saab é aprovada na Câmara
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Por 118 votos a 67, aprovou-se a aquisição de 22 caças Gripen por 3,1 bilhões de francos suíços – será criado um fundo especial para a aquisição das aeronaves, o que está sujeito a aprovação da população suíça por meio de referendo no ano que vem
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Nesta quarta-feira, 11 de setembro, a Câmara da Suíça (Conselho Nacional) aprovou a aquisição do caça Gripen, fabricado pela sueca Saab, pela Suíça. Após um debate iniciado por volta das 8h da manhã (horário local), em que ao longo de algumas horas puderam se pronunciar os que defendem ou são contra a compra, a votação foi iniciada às 11h, quando a própria abertura da votação foi aprovada por 119 votos a favor e 70 contra, o que foi considerado o primeiro sinal verde para o Gripen.
Às 11h01 a Câmara negou um encaminhamento que obrigaria o Conselho Federal (Poder Executivo) a considerar ofertas alternativas, por 116 votos a 72. Minutos depois, a esquerda buscou mudar o projeto, propondo redução do crédito para 3 bilhões de francos suíços e retirada da capacidade ar-solo do Gripen, emenda que comprometeria a capacidade de defesa do país e foi rejeitada por 112 votos a 55.
Às 11h15, os deputados decidiram “tirar o freio” que havia sido imposto em relação aos gastos de defesa, com 114 votos a favor contra 70 abstenções. Vale lembrar que, em março deste ano, a aprovação da compra do caça havia recebido apenas uma pequena maioria no Senado (Conselho dos Estados), o que levou à manutenção dos freios aos gastos de defesa, ameaçando a capacidade de financiar o projeto.
Dois minutos depois, às 11h17, foi dada a luz verde para a compra do Gripen por 3,1 bilhões de francos suíços, com 113 votos a favor e 68 contra. Às 11h20, foi decidida a criação do fundo especial para financiar a compra do Gripen, quando uma emenda da esquerda que colocaria um teto de 3,1 bilhões (para prevenir uso do dinheiro em outras coisas) foi recusada por 116 votos a 67, dado que o fundo já estava sendo criado unicamente para o Gripen.
O voto final veio às 12h, quando a Câmara reiterou sua aprovação à compra do Gripen por 3,1 bilhões de francos suíços (cerca de 3,3 bilhões de dólares ou 7,5 bilhões de reais). Essa votação final contou com 118 votos a favor e 67 contra. Concordou-se em estabelecer um fundo especial para a aquisição do caça, o que abre caminho para um referendo sobre esse assunto, no qual a população deverá se pronunciar no segundo trimestre (primavera na Suíça) de 2014.
Apesar da minoria que se mantém contra a aquisição na Câmara, ficou claro que a maioria considera necessária a substituição dos antigos caças F-5, e que foi convencida de que os riscos da compra do Gripen foram minimizados pelas melhorias realizadas nas negociações. O assunto agora irá para o Senado (Conselho dos Estados), que deverá votar na semana que vem. O futuro referendo, ao menos por hora, não parece trazer notícias favoráveis ao caça, pois a maior parte da população suíça se mostrou contrária à compra de caças, em pesquisa realizada na semana passada (nota do editor: veja primeiro link da lista ao final).
Quanto à votação da Câmara que aprovou o Gripen hoje, o resultado final pode ser visualizado abaixo:
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Destaques dos debates que antecederam a votação
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No fim das contas, apenas um punhado de deputados de direita, liderados por Walter Müller se opôs ao Gripen, relembrando o caso da compra dos caças Mirage no passado, em que assumiu-se um grande risco. Os opositores queriam que o Conselho Federal levasse em conta novas ofertas feitas pelos candidatos derrotados na disputa dos caças, o Eurofighter da EADS e o Rafale da Dassault, alegando que isso economizaria um bilhão.
Porém, o chefe do Departamento de Defesa Ueli Maurer replicou que foram apenas cartas veiculadas na imprensa, sem o valor de propostas de fato, incluindo modelos usados, e que o cancelamento da competição e compra de aeronaves dos candidatos derrotados poderia trazer consequências legais: a Suécia e o fabricante do Gripen, a Saab, poderiam demandar compensações.
A proposta de estudar novas ofertas dos derrotados de Müller contava com apoio dos Verdes, mas foi rejeitada por 116 votos a 72. Houve deputados que defendiam que a Suíça não precisava de novos caças, pois a Europa estaria em paz desde a Queda do Muro de Berlim, advogando também que o Gripen seria o caça menos eficiente e que existiria “apenas no papel”. Outros afirmavam que a conta de todos os custos (manutenção, ciclo de vida) chegaria a 10 bilhões de francos suíços, dinheiro que deveria ser aplicado em agricultura e outros setores.
Houve também quem alegasse que o Gripen era muito barulhento em relação aos F-5 Tiger II que está substituindo, mas Ueli Maurer replicou que a quantidade será bem menor: 45 jatos F-5 darão lugar a apenas 22 caças Gripen, relativizando o impacto sonoro. Maurer lembrou que esses novos caças, somados aos 33 modelos F-18 que a Suíça já possui, farão com que a frota total de aviões de combate da Força Aérea Suíça chegue a 55 aeronaves. Ele também ressaltou que a Suíça conseguiu um contrato especialmente vantajoso frente à Suécia, com garantias governamentais, e que a Saab é um fabricante sólido.
No fim das contas, todos os ataques ao Gripen não tiveram sucesso e, com a aprovação da compra pela Câmara, os oponentes do caça terão que se concentrar no referendo popular. Os opositores deverão lançar um referendo compra a lei que estabelecerá um fundo para financiamento da aquisição dos caças, fundo este que será composto por 300 milhões de francos retirados, anualmente, do orçamento de Defesa.
A compra do Gripen certamente levantou muitas questões, mas as condições de compra foram muito aprimoradas graças à pressão do Parlamento, na opinião dos deputados Thomas Hurter e Hughes Hiltpold, do Comitê de Defesa. Por exemplo: a Suíça deverá pagar 1 bilhão de francos adiantados, ou 40% do total da compra, o que é significativamente melhor do que os 67% originariamente pedidos pelos suecos. Também poderão ser feitas deduções nos pagamentos. A Suíça vai monitorar o cumprimento das especificações quando da entrega da primeira aeronave, em 2018, e em caso de não cumprimento o contrato poderá ser cancelado, com um reembolso. Ficou claro que todos os Cantões serão beneficiados com compensações industriais, e Ueli Maurer garantiu que as áreas suíças de língua francesa receberão 30% das transações de compensação.
FONTES: 24 heures, Tribune de Genève e Basler Zeitung (compilação, tradução e edição do Poder Aéreo a partir de originais em francês e alemão)
IMAGENS: Departamento de Defesa da Suíça
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Ótima notícia. Aliás, um show de democracia.
Quanto ao tal referendo, acredito que na hora em que a população for devidamente esclarecida dos benefícios da proposta acabará por aprovar a iniciativa do governo suíço.
Povo é povo em qualquer lugar, mas o de lá é bem mais esclarecido que os que moram “Ao Sol de Parador”. 😉
Mais um passo dado pelos suiços. Estão avançando, e dando exemplo para um país que quer se considerado como um dos grandes.
Aqui só temos audiências intermináveis com o comandante da FAB e MD. E a presidente que já deveria ter fechado à muito tempo essa aquisição, simplesmente não sabe o que fazer. Ou não quer fazer(o que seria irresponsabilidade absoluta).
[]’s
É Vader,
Essa é a diferença entre um país maduro politicamente bem como sua sociedade e o que vivemos aqui.
Infelizmente não vejo esse tipo de comportamento aqui nas próximas 2 gerações pelo menos, do jeito que as coisas estão caminhando…
Só para comparar, nosso natimorto FX-2 nasceu em … 2003, isso mesmo? Se sim, são dez anos sem uma escolha. Alguém saberia citar quando iniciou-se o Programa de Substituição dos Tiger?
O programa suíço iniciou oficialmente em 2008 após aprovação parlamentar conseguida no ano anterior.
2008 é, por coincidência, o mesmo ano de início oficial do atual F-X2 brasileiro (já o F-X1 começou pra valer por volta de 2001 com o pedido de informações para os interessados e “morreu” em 2005).
Documento de 2008 do Depto de Defesa da Suíça, em italiano (pra quem preferir, tem em alemão e francês):
http://www.vbs.admin.ch/internet/vbs/it/home/documentation/news/news_detail.16820.nsb.html
Lembrando que o F-X suíço também foi adiado por certo período
http://www.aereo.jor.br/2010/08/26/f-x-suico-adiado-ate-2015/
OK Nunão, ambos são de 2008, porém o programa suiço está com o “climb” positivo e o brasileiro ingeriu FOD na taxiway…
Só para comparar e lembrar que nada temos. Ainda.