Mirage 2000: se aposentando no Brasil, mas ainda interceptando na França
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De três interceptações de aeronaves sem contato rádio feitas num mesmo dia pela Força Aérea Francesa, duas foram realizadas por caças Mirage 2000C e Mirage 2000-5. A terceira foi feita por um Rafale
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Na última segunda-feira, 12 de agosto, a Força Aérea Francesa divulgou nota a respeito de nada menos do que três interceptações de aeronaves realizadas por seus caças no espaço aéreo francês, num mesmo dia. As três missões ocorreram na quinta-feira anterior, 8 de agosto, num período de menos de duas horas.
A última das missões do dia foi realizada por um caça Rafale, mas as duas primeiras contaram com caças da família Mirage 2000, sendo que uma delas envolveu um Mirage 2000C equipado com radar RDI – ou seja, modelo similar ao que é hoje operado pela Força Aérea Brasileira e que, por aqui, tem sua retirada de serviço programada para o final deste ano.
O alerta de defesa aérea francês é chamado de “permanência operacional” e os caças podem ser acionados tanto para interceptar um intruso que represente ameaça militar quanto aviões civis com perda de contato rádio, e foi este o caso das três interceptações do dia 8. Às onze da manhã, foi informado ao centro nacional de operações aéreas (CNOA) que um avião comercial proveniente da Grã-Bretanha perdeu o contato rádio. Em poucos minutos, um caça Mirage 2000-5* da Base Aérea de Creil decolou e interceptou a aeronave. Às 11h48, foi a vez de um Mirage 2000 RDI** de Orange interceptar um avião comercial proveniente da Itália e que se dirigia à Espanha. Por fim, às 12h09, um Rafale de Mont-de-Marsan interceptou aeronave vinda da Alemanha em rota para a Espanha. Por volta das 12h30, os três caças já haviam retornado às suas bases.
Perdas de contato rádio podem significar tanto uma falha técnica como algo mais grave, como um sequestro a bordo. Por isso, esses eventos são tratados com o máximo de precaução, mobilizando os meios da defesa aérea. Em 2012, um total de 128 perdas de contato rádio foram relatadas, das quais 36 resultaram em interceptações. No primeiro semestre deste ano, esses eventos já somam 76 perdas de contato, 20 das quais foram respondidas com interceptações da Força Aérea Francesa.
FONTE / FOTOS: Força Aérea Francesa (tradução e edição do Poder Aéreo a partir de original em francês)
*NOTA DO EDITOR 1: os caças Mirage 2000-5 são operados pelo Esquadrão 01/002 “Cigognes”, baseado em Luxeuil (provavelmente a aeronave de alerta estava desdobrada em Creil). A versão operada pela França é uma modernização realizada em meados da década de 1990 em jatos Mirage 2000 C, incorporando sistemas similares aos que vinham sendo desenvolvidos para o Rafale.
Os caças receberam painel com telas digitais, novos computadores de missão e um radar RDY, compatível com os mísseis BVR (além do alcace visual) MICA. São operados apenas pelo Esquadrão “Cigognes”, que completou sua conversão para o modelo em 1999. Por serem de uma versão capaz de empregar os mais modernos mísseis ar-ar franceses (embora tenham capacidade ar-solo limitada quando comparados aos Mirage 2000D, dedicados a essa arena), não deverão ser aposentados tão cedo apesar do significativo acúmulo de horas de voo.
**NOTA DO EDITOR 2: chamados de Mirage 2000 RDI para diferenciá-los dos modelos equipados com o radar RDY mais novo, são de fato os modelos Mirage 2000 C (monoposto) e B (biposto). Essas versões são praticamente iguais aos “F-2000” que a Força Aérea Brasileira opera hoje e que deverá aposentar até o final do ano, e foram os primeiros representantes da família Mirage 2000 a entrar em operação, em meados da década de 1980.
Nos últimos anos, esquadrões que voavam os Mirage 2000 C/B na Força Aérea Francesa têm sido desativados, dentro da racionalização pela qual passa o “Armée de l’air”, reequipando-se gradativamente com o Rafale e reduzindo os tipos (e quantidades) de caças em operação. Resta apenas o Esquadrão 02/005 “Ile de France” operando em quantidade o Mirage 2000 C/B , cuja principal função hoje na França é a conversão operacional. O esquadrão forma pilotos capazes de empregar o Mirage 2000 operacionalmente, além de compor, como missão secundária, o sistema de defesa aérea e policiamento aéreo da França. A maioria dos caças Mirage 2000 C/B recebidos pelo Brasil entre 2006 e 2008 veio dos excedentes deste esquadrão.
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