Há 70 anos, FAB afundava submarino nazista na costa do RJ
SSSS. SIGHTED SUB SANK SAME. O código em inglês dizia “Submarino avistado e afundado”. No dia 31 de julho de 1943, há exatos 70 anos, o então Aspirante Alberto Martins Torres foi o primeiro brasileiro a transmitir essa mensagem de vitória. O submarino nazista U-199 foi afundado a apenas 87 Km ao sul do Pão de Açúcar, cartão portal do Rio de Janeiro.
Apelidado de “Lobo Cinzento”, o U-199 foi responsável pela morte de pelo menos dez brasileiros. Eles eram tripulantes do navio pesqueiro Shangri-lá, afundado no dia 22 de julho de 1943 com tiros de canhão. O submarino também havia atacado o cargueiro americano Charles Wilson e afundado o navio britânico inglês Henzada, de 4 mil toneladas. Armado com canhões de 37mm e 20mm e capaz de portar 24 torpedos e 44 minas, o U-199 era, na época, uma das jóias tecnológicas da máquina de guerra nazista, projetado para ter um alcance suficiente para tentar interromper o fluxo de embarcações no Atlântico.
Enquanto o submarino caçava suas presas, tentava fugir de aviões e navios no seu encalço. E não era um alvo fácil. No dia 3 de julho, o U-199 foi avistado por um hidroavião PBM 3 Martin da Marinha dos Estados Unidos. A aeronave tentou atacar o submarino, mas acabou sendo abatida com tiros dos canhões de 37mm e 24mm. Toda a tripulação americana morreu.
Naquela manhã de 31 de julho, o Aspirante Torres estava no comando de um hidroavião PBY-5 Catalina da Força Aérea Brasileira. Ele sabia que naquele mesmo mês uma aeronave havia sido abatida pelo inimigo, mas não teve dúvidas: após ser alertado pelo rádio, encontrou o U-199 e partiu para o ataque.
“A menos de um quilômetro do submarino podíamos ver nitidamente as suas peças de artilharia e o traçado poligônico de sua camuflagem que variava do cinza claro ao azul cobalto”, descreveu posteriormente no seu livro “Overnight Tapachula”, lançado em 1985. O brasileiro manteve o mergulho e lançou seu armamento sobre o U-199. “A proa do submersível foi lançada fora d’água e, ali mesmo ele parou, dentro dos três círculos de espuma branca deixadas pelas explosões”. Era o fim da linha para o “Lobo Cinzento”.
Após voar baixo para evitar qualquer contra-ataque, o Aspirante Torres lançou um bote inflável para os tripulantes. Da tripulação de 61 homens, doze sobreviveram, entre eles o Comandante, o Kapitãnleutnant Hans-Werner Kraus. Eles foram salvos por um navio norte-americano e depois de passarem por uma prisão no Recife foram enviados aos Estados Unidos. O ataque contou ainda com a participação de um A-28A Hudson, pilotado pelo Aspirante brasileiro Sérgio Cândido Schnoor, e por um PBM 3 Martin da Marinha dos EUA.
Desde 1942, quando a Força Aérea Brasileira tinha apenas um ano de existência, vários pilotos brasileiros participaram de ataques a submarinos alemães e italianos. O Aspirante Torres, no entanto, foi o único que comprovadamente afundou uma embarcação desse tipo. O U-199 também foi o primeiro submarino do tipo IXD2 a ser afundado na guerra. Além das medalhas brasileiras, o feito também rendeu uma homenagem do governo dos EUA ao brasileiro, a Distinguished Flying Cross (Cruz de Bravura).
Tendo ingressado na Força Aérea Brasileira para ser Oficial da Reserva, Alberto Martins Torres combateu até o fim da Segunda Guerra Mundial. Após pilotar lentos hidroaviões na caça a submarinos, em 1944 ele foi voluntário para ingressar no 1° Grupo de Aviação de Caça e foi combater nos céus da Itália a bordo de aviões P-47 Thunderbolt.
Mais uma vez, ele fez história. O então Tenente Torres é até hoje o piloto de caça brasileiro com maior número de missões reais: 100. Foram 99 voos para atacar alvos na Itália e um único defensivo: a proteção aérea de um jogo de futebol realizado em Florença entre combatentes brasileiros e ingleses.
As missões na Itália renderam mais uma Distinguished Flying Cross, uma Air Medal (EUA) e uma La Croix de Guerre Avec Palme (França), além de diversas honrarias brasileiras, com destaque para Ordem do Mérito Aeronáutico.
Após a guerra, Alberto Martins Torres foi promovido ao posto de Capitão e saiu da Força Aérea Brasileira. A carreira na FAB foi uma aventura para o jovem criado por seus pais para ser Diplomata: antes de pilotar aviões, ele estudou no tradicional colégio São Bento e cursou o ensino superior em Filosofia e Direito, além de ser fluente em espanhol, inglês, alemão e turco.
Alberto Martins Torres faleceu no dia 30 de dezembro de 2001, aos 82 anos. Suas cinzas foram jogadas no mar a partir de um avião C-115 Buffalo escoltado, por um lado, por aviões de patrulha marítima P-95 e, por outro, por caças F-5 do 1° Grupo de Aviação de Caça.
FONTE / FOTO CENTRAL: FAB (Agência Força Aérea)
Nunão, vc sabe o que quer dizer este C5 no bico do aviao? pq eu tenho umas fotos do P 47 que esta aqui em Curitiba que vem grafado A-4.
sds
Galeão
Galeão, se não estou enganado, a letra indica a divisão do Grupo de Caça em 4 esquadrilhas (A, B, C e D, cada letra indicando uma cor, vermelho, amarelo, azul e verde, mas não sei a correlação exata de letra e cor)
Já o número é a indicação das aeronaves dentro de cada esquadrilha, pelo que lembro.
Linda história! Recomendo a leitura do último livro do João Barone, baterista dos Paralamas, sobre a participação do Brasil na 2GM. É interessante…..Abs
Te mandei uma foto dele, também é da Senta a Pua.
sds
GC
Sensacional essa matéria.
Outras curiosidades: o Ten. Torres voou 100 missões. Os pilotos americanos voavam no máximo 50, e retornavam aos Estados Unidos.
E o Cmdt. Torres era avô do ator Jonas Torres, que ficou famoso como o personagem “Bacana” da série “Armação Ilimitada”. Jonas Torres depois tornou-se para-quedista do US Army.
Galeão, Recebi a foto. Interessante é que esse P-47 de Curitiba está justamente com as marcações de aeronave voada pelo Torres. Tomei a liberdade de colocar a foto na matéria. Quanto às esquadrilhas, o Dalton (que costuma comentar no Poder Naval) me mandou e-mail com informações mais detalhadas. Segue trecho abaixo (no fim das contas, mesmo chutando, havia colocado a correlação certa…): Houve inicialmente 28 P-47Ds, dois como reserva e dois de nrs 1 e 2 para o comandante e oficial de operações respectivamente. Os demais 24 foram divididos em 4 esquadrilhas de 6 aeronaves cada, sendo: A1 a A6… Read more »
Boa Nunão, boa observação, eu nunca tinha observado isso, olha que vou sempre nesta praça, ai é a Praça do Expedicionario, do lado da cauda do avião tem um museu da 2a. guerra, vindo a Curitiba não deixe de visitar.
Agora quando eu for la, tenho uma história pra contar do piloto desta aeronave.
abraço
GC
Bela matéria.
Coisa de se linda de se ler…quanto mais descubro sobre esses “nossos homens e fantásticos e suas maquinas voadoras”, mas os amo e admiro..Qdo vejo meu avião P47 e o emblema Senta Pua, meus sentidos se aguçam para saber mais…linda materia…as medalhas e honrarias oferecidas ao pessoal FEB, foram merecidas,