Maquete 14-X na LAAD 2011 - foto Nunão - Forças de Defesa

Aeronave que voa a mais de 11.000 km/h coloca o Brasil na elite da engenharia aeroespacial e na iminência de superar tecnologicamente os Estados Unidos

Em um laboratório em São José dos Campos, interior de São Paulo, a aeronave mais avançada do Brasil ganha forma. Batizado de 14-X, o aparelho tem nome inspirado na mais famosa máquina voadora Brasileira, o 14-bis. Em comum com o avião de Santos Dumont, o 14-X tem o poder de garantir para o País um lugar no pódio da tecnologia aeroespacial. Não tripulado, o modelo é hipersônico, capaz de atingir dez vezes a velocidade do som (mais de 11.000 km/h).

As propriedades do 14-X colocam o Brasil no seleto grupo de nações – ao lado de Estados Unidos, França, Rússia e Austrália – que pesquisam os motores scramjet, que não têm partes móveis e utilizam ar em altíssimas velocidades para queimar combustível (no caso, hidrogênio). Outra característica do veículo desenvolvido pelo Instituto de Estudos Avançados da Força Aérea Brasileira (IEAv) é que ele é um “waverider”, aeronave que usa ondas de choque criadas pelo voo hipersônico para ampliar a sustentação. É como se, ao nadar, um surfista gerasse a onda na qual irá deslizar.

Maquete 14-X na LAAD 2011 - foto 2 Nunão - Forças de Defesa

O projeto nasceu em 2007, quando o capitão-engenheiro Tiago Cavalcanti Rolim iniciou mestrado no ITA e foi aprovado com uma tese sobre a configuração “waverider”. Cinco anos depois, a teoria está prestes a virar prática. O primeiro teste do 14-X em voo, ainda sem a separação do foguete utilizado para a aceleração inicial, ocorrerá neste ano. Em seguida, a Força Aérea planeja outros dois experimentos: um com acionamento dos motores scramjet, mas com a aeronave ainda acoplada, e outro com funcionamento total, quando a velocidade máxima deve ser atingida. “Se formos bem-sucedidos nesses ensaios, estaremos no topo da tecnologia, embora com um programa muito mais modesto do que o dos americanos”, diz o coronel-engenheiro Marco Antonio Sala Minucci, que foi diretor do IEAv durante quatro anos e é um dos pais do 14-X.

O grande desafio no desenvolvimento da tecnologia de altíssimas velocidades é a construção dos motores scramjet. Um engenheiro ligado ao projeto compara a dificuldade de ligar tais propulsores a “acender uma vela no meio de um furacão”. Por isso, o IEAv realiza os testes do primeiro protótipo no maior túnel de choque hipersônico da América Latina, no próprio laboratório do instituto. Diferentemente do que ocorre em turbinas de aviões, esse motor não usa rotores para comprimir o ar: é o movimento inicial, gerado pelo foguete, que fornece o fôlego necessário. No 14-X, os propulsores scramjet são acionados a mais de 7.000 km/h.

Maquete 14-X na LAAD 2011 - foto 3 Nunão - Forças de Defesa

“Esse será o caminho eficiente de acesso ao espaço em um futuro próximo”, diz Paulo Toro, coordenador de pesquisa e desenvolvimento do 14-X. As aplicações práticas vão além do lançamento de satélites ou dos voos suborbitais. Os EUA, que testam sua aeronave batizada de X-51, pretendem usar a tecnologia em mísseis intercontinentais. Entre os civis, a esperança é de que o voo hipersônico possa se tornar uma realidade em viagens turísticas. Ir de São Paulo a Londres em apenas uma hora não seria nada mau.

FONTE: IstoÉ, via Notimp (reportagem de Lucas Bessel)

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Daglian

O projeto é muito interessante e é desse tipo de engenharia que precisamos. Alta tecnologia, muito estudo, desenvolvimento da indústria nacional. Entretanto, e aqui afirmo que respeito muito quem atua/atuou neste projeto fantástico (é mais um puxão de orelha na IstoÉ), dizer que a “Aeronave que voa a mais de 11.000 km/h coloca o Brasil na elite da engenharia aeroespacial e na iminência de superar tecnologicamente os EUA” é forçar a barra quase como o comentarista Malaio fez ao dizer que o Rafale é o melhor avião do mundo. Vamos com calma. O projeto sem dúvidas é promissor, mas para… Read more »

Roberto Bozzo

Daglian, concordo plenamente. Este é um projeto fantástico mas falta muito, mas muito mesmo, para igualarmos os EUA em tecnologia aeroespacial, imagina ultrapassa-los.

Ozawa

Reitero as sábias palavras do Daglian, e em especial, meus efusivos cumprimentos aos autores do projeto nacional de grande importância. Ocorre que, ante as preocupações do Daglian de se dar ao fato uma magnitude além da que tem, a elite política acredita ou (quer acreditar) nessas hipérboles ufanistas, a ponto de adotá-las como pretexto para reiteradas postergações e procastinações dos projetos de reaparelhamento das FFAA em curso, em especial o da FAB. Talvez nosso(a) guia… imagine: “_Para quê a pressa ? Com nossa indústria aeronáutica equivalente às melhores do mundo, ‘se eu querer’ (na mais típica demonstração de arrogância retórica… Read more »

Marcos

É… o cara forçou muito com esse “na iminência de superar tecnologicamente os Estados Unidos”.

No mais, já vimos muito disso por aqui: o Drone da CBT, o blindado Osório, o VLS, bem lembrado pelo Daglian, entre outros.

Nick

O X-51 andou falhando nos testes, é bom não ter muitas expectativas com o 14-X, pelo menos inicialmente. E mesmo que falhe inicialmente, que se persista até que venham os resultados.

Imaginem um missil HiperCruise Stealth com alcance de 11.000km 🙂

[]’s

joseboscojr

Os EUA e outros países já testam veículos de grande porte em condições reais há pelo menos 10 anos.
Sinto jogar areia no ventilador dos mais entusiasmados e ufanísticos compatriotas mas se o Brasil sai na frente é da turma da segunda divisão e é praticamente impossível passar em primeiro na linha de chegada.
Mas antes tarde do que nunca.

Groo

Aeronave que voa a 11.000 Km/h que ainda não voou? Quando essa aeronave voar eu comemoro assim como comemorarei o FX, Submarino Nuclear, VLS etc.

Vader

Essa Isto É é simplesmente impressionante…

Ô revistinha…

De qualquer modo, parabéns aos envolvidos. Esperemos que o projeto chegue até seu termo.

Marcos

Se “faiá”, vão culpar os americanos.

Lembro de quando houve a explosão do VLS: denúncias de todo tipo de que haviam americanos no local próximo, etc e tal.

Almeida

Parabéns aos brasileiros que, apesar de todas as adversidades que temos, ainda estudam muito e seguem a difícil carreira de cientista/pesquisador por aqui. E parabéns às instituições envolvidas, por darem condições para que estes heróis nacionais possam tocar seus projetos.

Quanto à matéria, acredito que a intenção do jornalista foi dizer que estaremos à frente dos EUA nesta área específica. O que, mesmo assim, é um pouco exagerado porém bem mais modesto.

Almeida

Lembrando que um projeto como este, mesmo que “falhe”, ainda assim traz INÚMERAS conquistas na área de pesquisa científica, com o uso regular do novo túnel de vento, capacitação dos técnicos e engenheiros neste tipo de testes, etc etc

É sempre um ganho, independente do resultado.

joseboscojr

Almeida, Sem dúvida os pesquisadores merecem felicitações por estarem envolvidos em tecnologia de ponta num país sem tradição nesse tipo de tecnologia. O que não merece felicitação é o tom ufanista do artigo, que longe de informar, desinforma. A culpa não sei de quem (minha não é), se é do porta-voz do instituto de pesquisa ou do jornalista responsável (ou do ruído entre o emissor e o receptor). rsrrs Dizer que estamos na iminência de superar os americanos em termos de tecnologia hipersônica é de uma insensatez e de um mal gosto sem tamanho que demonstra ou falta de conhecimento… Read more »

joseboscojr

O pior é que desinformação cresce igual praga. Por conta de um artigo desses e amanhã vai ter um monte de gente falando que estamos mais avançados que os americanos, e até provar que nariz de porco não é tomada… E a desinformação corre solta. Me lembro de ter ido a uma exposição de equipamentos do Exército Brasileiro há algum tempo e o que mais ouvi foi os militares quando questionados acerca dos armamentos dizendo para os visitantes que esse e aquele e aquele outro era “um dos mais modernos do mundo”. Essa expressão “um dos mais modernos do mundo”… Read more »

Vader

joseboscojr disse:
30 de março de 2013 às 21:04

“Não somos mais (ou pelo menos achamos que não somos) uma republiqueta das bananas e não temos porque ficarmos eternamente tentando competir com os EUA para que possamos polir nossa fragilizada auto-estima mesmo que para isso devamos alterar os fatos.”

Infelizmente caro Bosco, um século de antiamericanismo não se apaga da noite para o dia. O brasileiro precisa reaprender a ser brasileiro, depois que a República tirou o orgulho dele (no Império do Brasil não era assim).

Saudações.

Blind Man's Bluff

Quanta tempestade em copo d’agua. Afinal, o que importa que pensem ou deixem de pensar que o Brasil está a frente ou atrás dos Yanks? Quando foi que o povo passou a ter alguma influencia num país racista como Brasil? kkk O legal dessa nota é que, em algum tempo o Brasil poderá com essa tecnologia, escolher seu parceiro de desenvolvimento para um futuro cruise missile, seja ele land-attack ou anti-shipping que, junto com a tecnologia dos UCAVS, prometem ser os guerreiros do campo de batalha do futuro, aposentando muitos dos vulneraveis e cada vez mais inviáveis financeiramente, ‘carrier strike… Read more »

joseboscojr

Blind, Bota “algum tempo” nisso. Se pensarmos que não haverá nada operacional nesse sentido nos EUA nos próximos 10 anos, esse “algum tempo” é para além de 2040. Sem falar que mísseis hipersônicos não são tudo isso que o senso comum imagina não. Eles possuem um nicho muito específico e em geral é relativo à guerra assimétrica. A maior vantagem desse tipo de arma é poder ser usada contra “alvos de tempo crítico”, que tenha que ser neutralizados dentro de um prazo específico de tempo. Na verdade já há defesa eficaz contra esse tipo de míssil, que claro, deverá ser… Read more »

joseboscojr

O que deverá ditar o fim dos super-porta-aviões não será nenhuma arma específica, mas sim o crise financeira mundial e a eventualidade do F-35B se mostrar plenamente capaz e superar as expectativas. Um F-35B afinado poderá ditar o fim (ou pelo menos, a redução da quantidade) dos supergigantes em detrimento de porta-aviões menores (e talvez em maior quantidade) e mais baratos. Outro fator será relativo à tecnologia hipersônica, mas não em relação a um míssil anti-navio, mas sim concernente ao desenvolvimento de um bombardeiro hipersônico. Um país dotado de bombardeiros hipersônicos capazes de lançar um ataque de manhã cedinho em… Read more »

joseboscojr

Pegando o gancho do Blind e totalmente off-topic, para o desgosto do Nunão. rsrrs A dependência de super-porta-aviões dos americanos tende a diminuir na medida que: desenvolverem bombardeiros hipersônicos; o F-35B exceder às expectativas; houver grande distribuição de canhões de grande alcance (incluindo os “eletromagnéticos”) na frota; houver grande disponibilidade de mísseis de cruzeiro na frota (mais do que já há); se desenvolver UCAVs SVTOL (o que é bem menos complicado que desenvolver um caça como o F-35B); desenvolverem uma aeronave radar não tripulada de grande autonomia (por exemplo, um dirigível). Uma frota dotada de um ou mais “navios de… Read more »

joseboscojr

Nunão, Numa configuração stealth um F-35C consegue colocar 2 toneladas de carga a 1000 km de distância mais ou menos. Quatro mísseis Tomahawk Block IV fazem o mesmo a distância de 1800 km a um vigésimo do custo (chute). Um dos programas que visam substituir o Tomahawk prevê um míssil com 2000 km de alcance com uma carga útil de 1 t. Aviões eram importantes antes dos sistemas de orientação de precisão, já que podiam levar toneladas de armas de modo a que pelo menos uma poderia chegar perto do alvo. Hoje, pairam dúvidas tendo em vista que um alvo… Read more »