Gripen F de testes termina apresentações na Suíça, repercutindo na mídia do país

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A Defesa e a Força Aérea defenderam a escolha do Gripen à imprensa, que continua a destacar seus opositores –  Caso o Parlamento Sueco aprove o programa de armamentos em dezembro, o desenvolvimento do Gripen E será contratado no início de 2013 –  80% do Parlamento Sueco apoia o Gripen, segundo parlamentar, o que inclui a oposição ao Governo

 

Trazemos aqui uma compilação de algumas das diversas notícias que saíram nos últimos dias na mídia suíça, repercutindo as apresentações da aeronave de testes Gripen F, da Saab sueca, realizadas em conjunto com o show aéreo de Axalp.

Segundo o jornal suíço 24 heures e a SFTV suíça, o Governo Sueco quer concluir logo os contratos com a Saab, fabricante do Gripen, relacionados ao desenvolvimento e fabricação de 22 aeronaves da nova geração do caça para a Suíça. Declarações a esse respeito foram dadas pelo porta-voz do Departamento de Defesa, Proteção Civil e Esportes da Suíça (DDPS) Peter Minder.

O Parlamento Sueco provavelmente votará o programa de armamentos na segunda semana de dezembro. Caso seja aprovado, um primeiro contrato deverá ser assinado entre a agência governamental de exportações de armamentos FXM e a Saab, já no início de 2013, focando o desenvolvimento do Gripen E (monoposto de nova geração). Em meados de 2013, seria assinado o segundo contrato, referente à produção em série. Já a organização suíça de aquisição de armamentos, a Armasuisse, assinaria com a Saab um contrato referente apenas às compensações.

O porta-voz do DDPS também afirmou que, conforme o acordo-quadro assinado entre os dois países para a aquisição do Gripen, a responsabilidade recai sobre o Estado Sueco, que garante a entrega de 22 caças Gripen E pelo preço fixo de 3,126 bilhões de francos suíços.

Apesar das garantias suecas, a compra do Gripen continua sendo criticada por políticos suíços que se opõem à compra. Segundo alguns, não há no acordo possibilidades de sanções caso não sejam cumpridos os termos. Outros criticam o fato de partes do acordo-quadro não terem sido publicadas, relacionadas ao detalhamento dos preços (nota do editor: essas partes não foram tornadas públicas, segundo o texto do acordo, para não prejudicar esforços de venda do caça em outros países, mas o texto completo seria disponibilizado na íntegra, segundo o DDPS, para os membros do subcomitê de defesa que analisou e aprovou, embora com críticas, o processo de seleção que levou à escolha do Gripen – veja mais nas notícias dos links ao final).

Quanto ao programa de armas da Suíça, o Conselho Federal do país deverá submeter sua proposta ao Parlamento no início de novembro deste ano, devendo submeter em sequência, conforme agenda, à Câmara dos Cantões (início do segundo trimestre de 2013) e ao Nacional (no trimestre seguinte).

Como o Gripen E (monoposto) selecionado pela Suíça ainda não existe, a visita da aeronave de testes Gripen F (biposta) visou dar ao futuro cliente uma perspectiva real do mesmo

O jornal Tages Anzeiger e outras reportagens da SFTV destacaram o fato de que, como a escolha do Gripen é motivo de grande debate na mídia e no parlamento da Suíça, a visita do Gripen F foi uma oportunidade para os defensores e detratores do caça terem uma ideia concreta do que estão debatendo. A mídia (na sexta-feira) e os parlamentares da Comissão de Defesa (no dia anterior) tiveram a oportunidade de conhecer a aeronave de perto na Base Aérea de Emmen, de onde o jato partia para os voos de demonstração ao público sobre o campo de tiro de Axalp.

Representantes da Força Aérea Suíça e da Armasuisse se empenharam, em diversas entrevistas, no convencimento dos 80 representantes da mídia sobre os pontos-fortes da escolha do caça sueco. O diretor sênior do projeto Gripen dentro da Armasuisse, Jürg Weber, destacou a experiência e o histórico da Saab em aeronaves de combate, afirmando que eles “não são iniciantes” nesse ramo. Ainda segundo Weber, após a aprovação política do programa e conclusão do contrato, uma equipe suíça vai acompanhar o desenvolvimento do Gripen E e do novo radar AESA, com o objetivo de reduzir qualquer risco para os suíços.

O diretor do projeto do Gripen na Força Aérea Suíça, coronel Fabio Antognini, procurou mostrar o impacto do Gripen nas missões suíças em tempo de paz, de tensão ou de conflito. O jato, com sua grande versatilidade, completaria perfeitamente o F/A-18 e, mesmo que não seja considerado o mais eficiente caça do mercado, cumpre todas as tarefas necessárias. Tanto Weber quanto Antognini destacaram sua experiência profissional (este último com 29 anos pilotando caças) em diversos outros programas anteriores, afirmando que foi “uma boa escolha” a seleção do Gripen pelo Governo Suíço.

O comandante da Força Aérea Suíça, tenente-general Markus Gygax, foi entusiástico sobre o Gripen: “No ar, o avião mostrou seu novo motor e o funcionamento do radar. Estamos no caminho certo.”

Mas os representantes do Governo envolvidos com o projeto também têm consciência da oposição à escolha. Christian Catrina, que chefia a política de segurança no Departamento de Defesa, disse que eles e o Gripen sempre enfrentaram um “voo com forte vento contrário”. Há os que criticam o Gripen por ter só um motor, e que por isso seria inferior aos caças bimotores.

Há os que criticam também a própria compra de caças, e se a Suíça precisa gastar no momento 3,1 bilhões de francos com a aquisição de 22 aeronaves. Roman Schürmann, jornalista e historiador especializado na Força Aérea Suíça, acha que não será possível explicar esse gasto à população. Mas como a esquerda é contra novos caças, o objetivo do Departamento de Defesa, segundo Christian Catrina, é convencer a classe média. O principal argumento é que o Gripen, por ser a opção mais barata, é o único caça que a Suíça pode adquirir sem arruinar o resto das Forças Armadas.

A diferença dos sociais-democratas suíços e suecos: na Suíça, a chefe do Comitê de Defesa se sentiu “ultrajada” pelo governo – já na Suécia, parlamentar de oposição destaca que Gripen tem 80% de apoio no Parlamento, o que inclui os oposicionistas ao governo, como ele

 

O jornal Basler Zeitung destacou que há muita diferença entre os sociais-democratas da Suíça e da Suécia, entrevistando expoentes de um e do outro no contexto da visita do Gripen F. No caso suíço, a parlamentar social-democrata Chantal Galladé, do Comite de Defesa, tem muita visibilidade na mídia por sua oposição ao Gripen.

Ela fala em “ultraje”  a respeito da divulgação do acordo-quadro com a Suécia, logo após o texto de aprovação do processo de seleção que escolheu o Gripen, por parte do Comitê, ter trazido também críticas e dúvidas quanto ao caça sueco.

Na divulgação do acordo, o chefe do Departamento de Defesa Ueli Maurer afirmou que as críticas já estavam ultrapassadas, pois os resultados das negociações com os suecos, e que resultaram nos itens acordados, respondem satisfatoriamente a todas as críticas levantadas, tornando-as obsoletas. Galladé afirma que não foi avisada que o acordo seria divulgado nem sobre as negociações e que, após todo o trabalho levantando as críticas, essas alegações foram chocantes e afrontosas.

Segundo Galladé, a Comissão de Defesa, como um todo, não estará pronta para discutir a aquisição antes de janeiro de 2013. O assunto é atualmente tratado por um subcomitê, que levanta dúvidas sobre necessidade de urgência do programa, se é realmente um bom acordo e sobre as compensações, disse Galladé. A parlamentar continua insatisfeita com as respostas do Governo.

Já na Suécia, os sociais-democratas, que são os maiores opositores do Governo, apoiam o desenvolvimento do Gripen E, de nova geração. O Basler Zeitung entrevistou Peter Hultqvist, líder do partido para política de segurança, que apoia a indústria de defesa do país, sem “mas” nem “ses”, bem diferente dos sociais-democratas da Suíça.

Há mais de 70 anos que a Força Aérea Sueca vem voando caças da Saab, e o partido vem apoiando, segundo o entrevistado, os desenvolvimentos das aeronaves. E por isso apoiam o Gripen E, levando em conta que não se pode ficar atrás dos desenvolvimentos feitos por outros países em seus caças, especialmente a Rússia. Apoiar a Saab significa apoiar milhares de empregos (segundo o jornal, mais de 13.000 só na Saab) que seriam perdidos caso a Suécia optasse por comprar novos caças em outros países.

Além disso, caças estrangeiros seriam mais caros, segundo Hultqvist, cujo partido analisou todas as diversas opções de renovação da Força Aérea Sueca. A Suécia sempre desenvolveu aeronaves de combate para suas próprias necessidades, e o Gripen E é necessário para o futuro, sendo ao mesmo tempo a solução de melhor cust0-benefício, conforme o parlamentar. Ele também destacou, nesse apoio à indústria militar em um país pequeno, o impacto positivo na indústria civil.

Hultqvist foi questionado sobre o apoio dos sociais-democratas suecos ao Gripen E, enquanto suas contrapartes suíças (que, ao contrário dos suecos, não estão ligados a questões de política industrial e se consideram pacifistas na maioria) simplesmente advogam que a Suíça não precisa de qualquer novo caça. Ele respondeu  que só pode falar pelos suecos e acrescentou, a esse respeito, o dado de que 80% dos membros do Parlamento Sueco são a favor do Gripen E, o que inclui praticamente todos os membros do seu partido, que é de oposição, no parlamento.

Evidentemente, os suecos ficariam felizes se a Suíça comprasse os caças, disse o parlamentar, que destacou que para os suecos é importante manter uma Força Aérea forte, falando novamente do vizinho russo e das responsabilidades dos suecos no Báltico.

Sobre seu encontro com sua contraparte suíça, Chantal Galladé, que é contra a aquisição do Gripen, o parlamentar sueco não quis revelar o que disse a ela. Mas disse que os parlamentares suecos continuam abertos para conversar com os suíços.

Por fim, para quem entende alemão, um vídeo com entrevista do comandante da Força Aérea Suíça, Markus Gygax

Clique na imagem acima para acessar vídeo no site do Tages Anzeiger, com cenas de detalhes do Gripen em terra e alguns voos. No vídeo, o comandante da Força Aérea Suíça Markus Gygax, aparentemente com muito bom humor, fala do Gripen.

Mas o conteúdo completo do que ele disse só está ao alcance dos leitores que entendem bem o alemão. Se algum leitor quiser nos dar alguma ideia do que ele falou, fique à vontade!

No vídeo, também pode ser visto que os pilotos usavam capacetes com pintura especial (que pode ser vista na foto ao lado, com piloto chefe da Armasuisse  Beni Berset e o chefe dos pilotos de teste da Saab, Richard Ljungberg), que simboliza a crescente cooperação entre a Suíça e a Suécia. Vale lembrar que, na apresentação em Axalp, o jato teve um piloto suíço nos comandos, com a presença do sueco no posto traseiro.

FONTES: 24 heures, SFTV , Basler Zeitung, Gripen BlogTages Anzeiger (também vídeo)

COMPILAÇÃO, TRADUÇÃO E EDIÇÃO: Poder Aéreo

FOTOS: Departamento de Defesa da Suíça, Basler Zeitung e Saab via Gripen Blog

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Guilherme Poggio

A guerra da SAAB agora é para conquistar corações e mentes na população suíça.

Marcos

O Brasil deveria estar junto disso. Não está.
A FAB originalmente, após três anos de análise, havia o escolhido o Gripen
como um vetor adequado, de menor custo e melhor transferência de tecnologia.
Dai, do nada, os políticos se meteram no meio e inventaram um tal de “estratégico”, que ninguém sabe o que lá é isso.

Vader

A culpa é dos políticos sim, mas o lobby sujo da Dassault, a empresa mais sem vergonha da Terra, também contribuiu.