Para a Hawker Beechcraft os anos de bonança se transformaram em um pesadelo financeiro

 

A revista Flight International, na sua edição de 24 a 30 de abril, publicou um interessante retrato da (péssima) situação financeira da empresa Hawker Beechcraft, a mesma que compete com o seu AT-6 contra o Super Tucano da Embraer no programa LAS da USAF. Diante dos números apresentados e do peso dos seus donos, é possível entender o desespero da empresa para conseguir um contrato como este.

A Hawker Beechcraft completa 80 anos em 2012.  Se a data será uma celebração ou o último capítulo desta jornada dependerá das decisões que serão tomadas nas próximas semanas quando os gestores pretendem reestruturar a dívida da empresa baseada em Wichita, e que produz aeronaves executivas e para missões especiais.

Os números não são bons. De acordo com o relatório de gestão anual da empresa de 2011, a Hawker Beechcraft realizou vendas que somam US$ 2,44 bilhões, mas que evaporaram através dos US$2,5 bilhões dólares em custos de produção e dos US$ 94 gastos em Pesquisa e Desenvolvimento (P & D).

Em seguida, esses números pioraram; foram US$ 293 milhões de amortização parcial dos ativos e goodwill, outros 136 milhões em juros e 134 milhões dólares em “despesas não-operacionais” feitas para a perda pré tributação de 615 milhões. Os impostos comeram um pedaço também, com perda líquida de 633 milhões dólares. Em 2010, a linha base era de US$ 305  milhões em perdas; em 2009 era de US$ 452 milhões.

Criticamente, a dívida total no final de 2011 era de mais de US$ 2,3 bilhões. Considerando tudo, os ativos atingiam menos de US$ 2,8 bilhões.

Altos e baixos

As origens da crise estão em meados de 2000, com a explosão do mercado de aeronaves executivas. Em 2007, o Goldman Sachs e o fundo privado Onex Partners compraram o que era então a Raytheon Aircraft do fabricante de sistemas de armas por US $ 3,3 bilhões. Em retrospecto, a preço de compra foi otimista. A crise financeira de 2008 deixou o mercado de jatos executivos em farrapos e, enquanto empresas como a Dassault e a Gulfstream (fabricantes de grandes modelos de jatos executivos) estão vendo certa recuperação de seus mercados, o setor da Hawker Beechcraft (de pequeno a médio porte) permanece na depressão.

De acordo com a Hawker Beechcraft, os termos do empréstimo que a empresa tomou em 2007, após o “crash”, tornaram-se irreais. Um acordo alcançado com os credores em março deste ano, para a rolagem de US $ 120 milhões de juros da dívida, deu mais um fôlego para a empresa.

O recém-contratado CEO, Robert “Steve” Miller, que se auto denomina “o rapaz da reviravolta” e cujos pacientes tratados incluem a American International Group e a Chrysler, promete ação rápida: “Nas próximas semanas, esperamos decidir sobre qual caminho a seguir (…) colocando a empresa numa situação financeira sólida. ”

A empresa se recusa a comentar mais do que isso, mas não quer pensar no arquivamento do Capítulo 11. Ao contrário da American Airlines, a Hawker Beechcraft está satisfeita com os acordos feitos com os sindicatos.

Mas as opções de Miller para este “caminho a seguir” parecem estar limitadas a pedir por mais tolerância por parte de financiadores e solicitar que o Goldman e a Onex cavem mais fundo em seus bolsos para dar mais dinheiro. O relatório de 2011 da Hawker Beechcraft não poderia ser mais tenebroso. A gestão concluiu que existe uma substancial dúvida sobre a capacidade da empresa em continuar sendo interessante.

A dívida certamente limita o investimento, mas o problema é mais profundo. Miller aponta para três anos de “mudanças transformacionais agressivas”, e sugere que há pouca margem para redução de custos. Mesmo que 2011 tenha visto a última das baixas contábeis de ativos importantes e que mais despesas sejam cortadas, a empresa ainda é um fábrica de perdas.

O problema está mais acima. O analista de mercado e vice-presidente da Teal Group, Richard Aboulafia, resume o dilema da Hawker Beechcraft:  “A recuperação do mercado é anêmica na melhor das hipóteses”. A Hawker Beechcraft, diz ele, precisa se livrar dos encargos da dívida e de um fluxo de recursos sério dos seus donos e asim sinaliza para os seus clientes que a companhia possui um futuro.

O mercado para aeronaves executivas de  pequeno e médio porte pode eventualmente se recuperar, avalia Aboulafia, mas neste meio tempo a relativamente grande Embraer está ocupando o mercado com o seu modelo Legacy. Mercados de defesa estão fracos.

Além da falência, diz Aboulafia, uma opção para a Hawker Beechcraft seria ocupar uma fatia do mercado para aeronaves maiores, onde as vendas mais fortes e existem melhores margens – mas isso tomaria muito dinheiro. Uma segunda opção seria a sua aquisição

Enquanto isso, Miller insiste que nada mudará “o compromisso  da Hawker Beechcraft em construir, vender e atender os melhores aviões civis e militares para os nossos clientes”.

Nada, exceto o fim da jornada.

FONTE: Flight International (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)

FOTO: Mission Ready AT-6 (site de divulgação da aeronave nos EUA)

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Corsario137

Já vai tarde.

Blind Man's Bluff

Querem resgate, como todas as empresas (bancos) porcamente administradas. Empresas bem administradas nao necessitam resgate. Minha pergunta, pq resgatar entao as que nao sabem se administrar? Para que voltem a fazer caca? (2008)

Mauricio R.

Cuidado, esse seu comentário, no Brasil, se aplicaria a Avibrás.

Marcelo

Adeus Hawker. Essa foi vitima da Embraer nos jatos executivos leves e medios e tambem nos turbo helices de ataque. Nem com o governo americano comprando 800 T-6, a empresa conseguiu se capitalizar, entao…arrego. Ja vai tarde mesmo.

ernaniborges

Só falta a USAF querer que a EMBRAER se associe à Hawker Beechcraft para garantir a venda do ST.
Xô, azar !

[…] Hawker Beechcraft prepara pedido de concordata […]