Na edição 2011 do “Domingo Aéreo” do Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP), uma visita foi bem marcante para muita gente: as instalações dos bancos de ensaios de motores, com seus painéis mesclando instrumentos antigos e modernos, com suas câmaras blindadas ondem rugem os turbojatos, turbofans e turboeixos, com seu ar de lugar um tanto secreto, cuja finalidade não é perceptível para quem vê de fora um edifício aparentemente comum.

A foto do alto é do interior da câmara onde são ensaiados os motores a jato. Na ocasião, estava preso ao suporte um motor General Electric J-85, empregado no caça bimotor F-5 da FAB. Para se ter uma ideia da dimensão da câmara, o motor está posicionado mais ou menos na altura de uma pessoa. Segundo os militares do PAMA-SP que monitoravam as visitas, esse banco de ensaios pode realizar os testes em motores de até 30.000 libras de empuxo.

Nas fotos abaixo, vê-se o túnel que recebe os gases de descarga das tubeiras dos motores. Esses gases geralmente alcançam temperaturas de 700ºC. O túnel diminui essa temperatura para 300ºC, assim como o ruído, antes de encaminhar esses gases a uma chaminé, onde são expelidos a temperaturas significativamente mais baixas. Ainda segundo o pessoal do PAMA-SP, pouco ruído vaza para o exterior.

 

Andar calmamente por aquela câmara, com um motor a jato pendurado, faz pensar em como deve ser o mesmo lugar com o motor funcionando a pleno, com a pós-combustão ligada. Certamente o lado de fora do recinto é bem melhor e mais seguro, pois é bem fácil perceber a grossura das paredes da câmara, assim como as portas que as separam das salas de monitoramento. Janelas com vidros múltiplos garantem o isolamento acústico e, assim como as paredes, a proteção dos técnicos que monitoram o funcionamento dos motores. No caso de uma eventual explosão, esta ficaria restrita à câmara.

No painel abaixo, que fica instalado numa sala ao lado da câmara (reparar na janela ao lado do painel, que pode ser vista também nas fotos mais acima, para comparação) são verificados os diversos parâmetros de funcionamento dos motores a jato, em mostradores específicos. Câmeras de alta resolução captam imagens dos motores, de modo a mostrar detalhadamente problemas como vazamentos, por exemplo.

Numa outra câmara, servida por outra sala de monitoramento, são ensaiados os motores turboeixo, que equipam aeronaves de asa fixa dotadas de propulsão a hélice e helicópteros. Na ocasião, estava sendo testado o motor Lycoming T-53 de um helicóptero UH-1H (o popular “Huey”, ou “Sapão”). O painel é bem mais antigo que o utilizado para os testes dos motores a jato (segundo o pessoal que o opera, remonta em boa parte à década de 1940), mas cumpre seu papel normalmente. A principal diferença em relação aos itens monitorados dos motores a jato, é que esse banco de ensaios mede também o torque, que é uma característica dos motores turboeixo.

Com alguma frequência, circulam informações sobre uma possível desativação futura do PAMA-SP, com suas funções sendo absorvidas por empresas privadas ou tendo seus equipamentos, maquinário e pessoal transferidos para um novo parque, que centralizaria atividades realizadas pelo PAMA-SP e por outros PAMAs da FAB. Uma visita à grande instalação que é o Parque de Material Aeronáutico de São Paulo mostra que essa mudança seria uma tarefa bastante complexa, com custos não desprezíveis. E quem penetra nos segredos dos bancos de ensaios de motores, com suas grossas câmaras e equipamentos pesados, percebe que esta deve ser uma instalação de transferência bem difícil.

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Guilherme Poggio

Parabéns por mais essa matéria Nunão. Poderia ir para a revista também.

No topo da foto do painel do banco de provas de motores a jato está escrito “Focal”. Essa é a empresa especializada em serviços de revisão, reparos e manutenção de motores aeronáuticos comprada pela Avio.

http://www.aereo.jor.br/2011/04/26/compra-da-focaleng-marca-ingresso-do-grupo-avio-no-mercado-nacional/

ricardo_recife

Parabéns novamente por mais uma excelente reportagem sobre o PAMA-SP e a modernização dos F-5. Mais uma vez vou destacar que acredito que o pessoal da FAB está tirando leite de pedra, conseguindo colocar de forma heroica a força no ar. Olhem na fotos com cuidado, quantos mostradores são digitais? Quantos monitores de computador existem no banco de provas? Consigo ver apenas um mostrador digital onde tem escrito Focal, todos os outros são analógicos. Computadores, nenhum! Nas fotos finais, nos painéis de banco de ensaios, da para reconhecer claramente uma tecnologia de pelo menos trinta anos. Posso brincar dizendo que… Read more »

Tadeu Mendes

Amigos,

Enquanto recreamos (tentamos) os passos dados pela Alemanha nazista ha mais de 60 anos atras na area de ensaio de motores, o mundo assiste como alguns jovens de um Instituto Tecnologico exibem talento na area de Robotica+IA.

http://www.youtube.com/watch?v=_d0LfkIut2M

Tadeu Mendes

The Rise of the Machines.

sergiocintra

Passei pelo parque por volta de 73, tinham nos depósitos, armazéns à direita da entrada principal, caixas e caixas de motores zerados de A-20/6, B-26, C-47, P2v, T-6 e outros, com as inscrições orginais dos fabricantes (principalmente Pratt & Whitney) e outros revisados e armazenados. Mas a bancada de teste não era nesse nível -óbvio. Os selos brancos e amarelos nos painéis e mostradores (analógicos) referem-se as datas de revisão dos mesmos (padrão ISO). Esse é um parque americanizado, que contou com a colaboração do pessoal de infraestrutura da Base Aérea de Wright-Patterson no treinamento e formação da infraestrutura, se… Read more »

sergiocintra

OK! Nunão

A matéria postada dos F-2000 franceses é de exatos 2 anos, coincidência.
A minha curiosidade é qto. ao “desprendimento” francês quando falamos de “transferência”, mas v. me fez raciocinar que os tempos são outros e as necessidades desse tipo tem-se um imperativo fator comercial. A terceirização dessas atividades, deslocou um pouco o meu sentido. Alias fica até facil, pois a Força cobra o fornecedor dos serviços. Este na verdade vai brigar com os fabricantes qto. a soluções.
Preciso da “jaca” funcionando e pronto.
Não visto camisa alheia, mas tenho um pé atrás com os franceses.
Grato.

Justin Case

Nunão, boa tarde.

Já que você comentou, a informação sobre o Mirage III é que a revisão geral da aeronave era feita no PAMA-SP.
Tínhamos capacidade de realizar revisão geral em quase tudo, incluindo o radar.
De itens importantes para os quais não tínhamos adquirido a capacidade de efetuar o terceiro nível de manutenção estavam o motor, seus acessórios e alguns itens aviônicos mais complexos, como o head up display, por exemplo.
Nossos vizinhos argentinos adquiriram a capacidade de realizar a revisão geral dos motores.
Abraços,

Justin

Justin Case

Sobre a possibilidade e conveniência de terceirizar a manutenção, não há problema algum em tempo de paz.
A situação complica quando você tem que realizar operações fora de sede ou operações de guerra.
É complicado levar as empresas, sua infraestrutura e seu pessoal, principalmente, para operar em condições de risco ou submetidas a um ambiente que extrapola as relações normais de trabalho.
Abraço,

Justin