Japão desenvolveu míssil com cabeça de busca AESA para os caças F-2
Segundo matéria de sexta-feira passada (24 de fevereiro) da Aviation Week, o Japão está desenvolvendo um programa de 468 milhões de dólares para modernizar aproximadamente 60 caças F-2 com o novo míssil AAM-4B da Mitsubishi Electric Corp. O míssil é considerado um desenvolvimento da célula do AIM-7 Sparrow, o que pode parecer um contra-senso já que o Japão opera o AMRAAM, de desenvolvimento posterior. Porém, há uma característica que difere o AAM-4B de outros mísseis ar-ar: ele deverá contar com uma cabeça de busca com radar do tipo AESA, de varredura eletrônica ativa.
O antecessor AAM-4, desenvolvido desde a década de 1980 com o objetivo de fazer o Japão avançar no desenvolvimento de mísseis, e integrado desde 2007 a caças F-15J, tem o mesmo diâmetro de 200mm do velho Raytheon AIM-7 Sparrow, de guiagem semi-ativa. Porém, é equipado com uma cabeça de busca com radar ativo e um data-link, podendo ter a sua trajetória controlada pelo caça durante o voo, antes que o alvo entre no alcance de sua própria cabeça de busca. Nesse momento, o caça lançador pode se evadir tendo assegurado uma boa chance de que o míssil atinja seu alvo, por ter sido corrigida a trajetória dutante o voo. Isso já representava um avanço em relação ao AIM-7M que a Mitsubishi Electric ainda fabricava em 2010, ainda que o AAM-4 provavelmente não tenha sido adquirido em quantidade.
Já o novo AAM4B, conforme informações disponibilizadas quando do início de seu desenvolvimento, em 2001, deverá oferecer um alcance superior em 20% em relação ao AAM-4, e compatível com o AIM-120B+ cuja aparição era esperada para 2004. Mas a principal vantagem é que o AAM-4B poderá iniciar sua busca autônoma a um alcance 40% maior que os dois outros mísseis, devido à maior potência de transmissão do radar AESA num mesmo diâmetro de antena. Essa capacidade poderia superar o desempenho que era esperado para 2009 do míssil russo R-77 (AA-12 Adder).
Assim, um caça F-2 que lançar um AAM-4B poderia finalizar o acompanhamento do alvo para guiagem do míssil muito antes que um F-2 não modernizado. Assim, o caça poderia mudar sua direção de voo mais cedo. Também se espera que a cabeça de busca AESA do AAM-4B aprimore a capacidade de engajar um alvo que reflita a mesma frequência que o solo (o chamado “crossing target), permitindo aos pilotos de caças F-2 empregá-lo e realizar manobras de mergulho e mudança de direção que compliquem a situação para radares e mísseis inimigos.
Porém, não há indícios oficiais de que o AAM-4B seria comparável ao atual AIM-120 AMRAAM em produção, e um engenheiro de uma empresa ocidental produtora de mísseis disse duvidar, segundo a Aviation Week, que o desempenho alcance o do AIM-120 C-7 de exportação. Aparentemente, o AAM-4B tem como objetivo principal a substituição dos já ultrapassados AIM-7 – o que não foi feito nem pelo antecessor AAM-4 nem pelos AMRAAM adquiridos pelo Japão, dada a relativa pequena quantidade recebida.
Além dos benefícios tecnológicos e industriais do desenvolvimento local que deverão ser proporcionados pelo programa do míssil, em conjunto com a modernização do sistema de controle de fogo do caça F-2, espera-se um melhoramento significativo da capacidade japonesa de defesa aérea com um míssil ar-ar com essa nova cabeça de busca.
O desenvolvimento do programa deverá ser incrementado com o início do novo ano fiscal no Japão, em 1º de abril. São dois programas paralelos, um visando a integração do míssil AAM-4B, e outro para modernização do radar J/APG-1 para o padrão J/APG-2, necessário para explorar as vantagens do novo míssil, de forma a ampliar a capacidade do caça F-2 detectar ameaças a longo alcance.
Os dois sistemas vêm sendo desenvolvidos pelo Instituto de Pesquisa Técnica e Desenvolvimento do Ministério da Defesa do Japão, com ajuda da Mitsubishi Heavy Industries (integração do míssil) e da Mitsubishi Electric (radar), e as duas empresas estão responsáveis pelo trabalho de instalação. Segundo autoridades do ministério, o desenvolvimento foi feito sem problemas e está agora completo.
No ano fiscal de 2012, 16 caças F-2 deverão ter seu sistema de controle de fogo modernizado para a integração do AAM-4B. A pesquisa e desenvolvimento para modernização desse sistema foi iniciada em 2004. Sabe-se que o F-2 já utiliza um radar AESA, mas a principal diferença é que nos caças não modernizados as mensagens de correção da trajetória do míssil, antes que este entre no alcance de sua própria cabeça de busca, são mandadas pelos próprios feixes de radar. Na versão modernizada, será instalado um transmissor de data-link separado, o J/ARG-1. Já a modernização do radar AESA J/APG-1 para o padrão J/APG-2 está centrada em maior potência de emissão e um novo processador de sinal, mais veloz. A antena original deverá ser mantida, ainda que com algumas modificações que não foram reveladas.
Espera-se que o J/APG-2 tenha um desempenho comparável ao Raytheon APG-79 do F/A-18E/F Super Hornet, melhorando o baixo desempenho do J/APG-1 (considerado o radar AESA de empregado pioneiro em um caça).
Como o F-2 deverá se manter em serviço por 30 a 40 anos (o início de sua operação deu-se em 2000), pretende-se que o caça esteja apto a disparar vários mísseis ao mesmo tempo, contra diversos alvos. Embora esses números não tenham sido fornecidos de forma exata, o Ministério da Defesa já indicou que cada F-2 modernizado poderá transportar até quatro AAM-4. O próximo passo da modernização dos caças F-2 deverá ser a substituição do computador de missão, para possibilitar futuras atualizações – a pesquisa está em andamento, com previsão de ser completada em 2018. O caça foi planejado para receber contínuas modernizações ao longo do ciclo de vida, e isso tem ajudado o rearranjo, miniaturização e substituição de componentes. A manutenção também não tem trazido surpresas.
FONTE: Aviation Week (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)
FOTOS: JADSF (Força Aérea de Auto Defesa do Japão)
NOTA DO EDITOR: coincidentemente, no mesmo dia em que foi publicada a matéria da Aviation Week a Mitsubishi Electric Corporation, responsável pelo desenvolvimento do míssil AAM-4B, informou sobre um anúncio recebido pelo Ministério da Defesa do Japão de que a empresa foi suspensa de participação em futuros contratos. Clique aqui para ver a nota oficial. Segundo a empresa, isso se deu porque, em 27 de janeiro, foi revelado que a Mitsubishi Electric cobrou a mais (overcharged) por despesas o Ministério da Defesa, o Centro de Intelegência de Satelites do Gabinete e a Agência de Exploração Espacial do Japão em encomendas realizadas – isso foi descoberto por meio de investigações internas de empresas subsidiárias, a Mitsubishi Precision Co., Ltd., Mitsubishi Electric TOKKI Systems Corporation e a Mitsubishi Space Software Co., Ltd., além da afiliada Taiyo Musen Co., Ltd.
SAIBA MAIS:
Só de curiosidade, é dito que um radar de varredura eletrônica (antena conformal) também deve fazer parte do pacote de inovações do Amraam D. (???)
Quanto ao melhor alcance do radar do míssil isso é bom para o caso de caças convencionais que querem se evadir o mais cedo possível, e menos importante para um caça stealth, onde é interessante que o míssil ative ser radar o mais perto possível do alvo afim de reduzir o tempo de reação.
A Mitsubishi, portanto, já pode participar de licitações no Brasil, já que andou cobrando mais caro.
Por aqui, além de ser convidada a participar de muito mais licitações, pois cobra a mais, ainda eventualmente nem sequer da licitação precisaria participar, as compras seriam diretas. Argumentso não faltam: transferência de tecnologia, segurança nacional, etc.
A empresa poderia também participar do nosso programa de aquisições de helicópetros, que estará sempre aberto, e estará sempre aberto desde que evidentemente os preços possam ser aumentados.
O sonho é nossos Super Pumas possam cehgar a US$100 milhões a unidade. Seria a êxtase geral.
esse míssil será um “game changer”, é claro, se conseguir entrar em operação dado os casos de corrupção, que, infelizmente, não são uma especialidade só brasileira.
Ahá! O braZil fazendo escola hein…isso sim é transfeência de tecnologia…mas os japas ainda não sabem “propinar” como por estas bandas, lá, quando descobertos, se matam por hara-kiri. Aqui, se matam de rir…
Puxa! Os diretores da Mitsubishi precisam fazer estágio aqui no Brasil. Erro básico, deixaram o esquema ser descoberto muito facilmente.
é uma pena que uma notícia técnica tão interessante como essa (1o míssil AESA do mundo) seja manchada por um escândalo de corrupção.
Marcelo, Pode colocar a culpa sobre essa “mancha” na minha conta… Eu poderia ter colocado só a notícia sobre o míssil, mas não pude fugir à coincidência de encontrar a outra notícia divulgada no mesmo dia. Acho interessante relacionar mais de uma fonte para a discussão, o que pode ajudar a ter uma perspectiva mais ampla ou a ver outros lados nem sempre perceptíveis. Mas a nossa discussão pode ser tanto a respeito do tema do míssil quanto do que está na nota do Blog. Eu acho o fato do Japão dominar o desenvolvimento de uma célula de míssil (AIM-7)… Read more »
Tava demorando para trocarem a antena tradicional de manutenção muito mais complicada, ainda mais se tratando de mísseis que operam com cargas G muito superiores as de um caça.
Cabeças de guiamento RF AESA são uma necessidade.
Uma excelente iniciativa japonesa, como sempre na vanguarda.
Sempre lembrando que o F-2 é uma versão “tunada” do F-16, e consta ter capacidades muito ampliadas, como melhorias aerodinâmicas, fuselagem integralmente em materiais compostos (baixa assinatura radar) e eletrônica no estado-da-arte.
Uma pena ser tão caro por não poder ser exportado.
que legal, vader, é interessante ver que concordamos que quando um avião tem a sua estrutura em material composto, ele é mais “stealth”. O F-2, assim como o Rafale, é assim, diferentemente do Gripen