Quando MiGs encontram Sukhois
Traduções inéditas por Roberto F.Santana
De escaramuças medíocres até embates memoráveis, nos cantos mais esquecidos do mundo, já consta nas páginas da história da aviação militar o choque entre dois nomes da aviação russa.
São SU-7s se estranhando com MiG-19s (J-6) nos céus do Paquistão e da Índia ou MiG-29s cruzando o caminho de SU-27s em planícies Africanas.
Um desses bizarros encontros se deu no nordeste do continente Africano, durante o sangrento conflito entre Eritreia e Etiópia. Eis aqui, pequenos excertos tirados do livro “African MiGs”, onde Tom Cooper relata a história dos MiGs e Sukhois que serviram na África Subsaariana.
“Na manhã de 25 de fevereiro de 1999, a EtAF iniciou a operação “Sunset”, lançando uma série de ataques. O centro logístico em Harsele e reservatórios de água em Aseb foram atacados por MiG23BNs, bem como os aeródromos em Asmara e Aseb, e também vários pontos ao longo da fronteira.
Dois ERAF MiG29s decolaram e interceptaram dois EtAF MiG-23MNs na área de Badme, lançando pelo menos dois misseis R-27, ambos erraram o alvo. Logo depois, os pilotos dos MiGs foram alertados sobre o surgimento de dois EtAF SU-27s, pilotados por russos: os eritreus tentaram desengajar, mas os Sukhois os perseguiram disparando misseis R-27s. Dos seis mísseis lançados contra os MiG-29s que fugiam, pelo menos dois explodiram próximos aos MiGs, causando considerável dano em ambos. Um dos caças eritreus reduziu a velocidade e acabou sendo destruído por um único R-73. O piloto ejetou e foi capturado.
O outro ERAF MiG-29 conseguiu escapar mas acidentou-se em torno de seis quilômetros de Asmira, não se teve notícia do tripulante, o qual dizia-se ser o comandante da força aérea de Eritreia, Brig. Gen. Habte Zion Hadgu, mas nenhuma das forças oponentes emitiu reporte sobre seu paradeiro.
Apesar da perda de seus dois MiGs, os eritreus estavam de volta nos céus já na manhã seguinte tentando interceptar numerosos MiG-21s e MiG-23BNs. Logo depois das 12h, um ERAF MiG-29U – pilotado por um dos ex-pilotos da EtAF que ficaram na Eritreia em 1991 – interceptou dois MiG-23BNs, derrubando os dois MiGs com os seus R-73.
Entretanto, logo depois, dois SU-27s interceptaram o solitário caça eritreu, disparando dois R-27s. Apesar de alguns reportes indicarem que ambos os mísseis erraram e o contato visual com o Mig29 fora perdido, fontes etíopes asseguraram que o SU-27 pilotado por uma mulher, Capt. Esteher Tolossa, após errar com os R-27s, atacou com seus mísseis R-73 ou com canhão, e abateu o caça eritreu, entretanto essa vitória permanece como não confirmada. O fato é que, depois disso, somente um dos dois ERAF MiG-29UBs foi visto novamente e a Capt. Tolossa foi recebida como heroína quando voltou para sua base em Debre Zeit. Caso a sua vitória seja algum dia confirmada ela será a primeira piloto de caça que já abateu um caça a jato inimigo em combate.”
“No dia 16 de maio de 2000, um dos dois ERAF MiG-29s que tentavam atacar posições etíopes no fronte de Mereb-Setit acidentaram-se durante o pouso na base aérea de Asmira, possivelmente depois de uma luta contra dois Sukhois. Dois dias depois os eritreus foram mais bem-sucedidos quando um dos seus MiG-29s interceptou dois EtAF MiG21-MFs. Os pilotos eritreus aparentemente erraram seus R-27s, mas conseguiram abater pelo menos um caça etíope, usando canhão de 30mm*, durante o breve “dogfight”. Apesar disso, dois minutos depois, foi a vez do MiG-29 ser interceptado por um par de EtAF SU-27. Quando os Sukhois engajaram, um deles colidiu com um abutre africano (um pássaro muito grande) e teve que retornar à base com sérios danos. Isso não impediu que o outro SU-27-pilotado por um dos antigos “pilotos comunistas da ETAF” – engajasse o ERAF MiG29 num “dogfight” e finalmente abatê-lo com um par de mísseis R-73.”
EtAF: Força Aérea da Etiópia, ERAF: Força Aérea da Eritreia
*NT. Provavelmente um GSh-23 de 23mm.
Interessante, nao sabia deste dogfight entre um Su-27 e um Mig-29, alias, fica dificil imaginar o mesmo.
Quando observei os dois lado a lado, nao tive uma boa impressao p/ falar a verdade, com todo respeito aos admiradores dos cacas russos.
[]s!
Su-27 vs MiG-29, algo como F-15 vs F-16? Mas o pior de tudo é saber que dois povos pra lá de miseráveis detinham uma capacidade ar-ar muito, mas muito, maior que um certo paístrópicalabençoadopordeusmasquebelezatemcarnaval…
Aiton Senna correu muitas vezes com carro “xinfrim” se considerado em relação aos seus adversário, e no entanto mostrou que tinha capacidade para obter vitória.
A comparação dos carros de F1 com jatos de caças esta longe de se igualar, mas muito próximo dos que sujeitos que pilotam essas maquinas com extrema competência. Se for fazer uma comparação em termos de aeronaves novas a Venezuela do tio chaves esta melhor que a nossa, agora se eles tem pessoal com capacidade de opera-las no potencial máximo ai é outro papo.
Só existiu um Senna…só um…
Só existiu um Manfred Albrecht Freiherr von Richthofen…só um…
Só existe um Edwin Eugene Aldrin Jr…só um…
Fato: A FAV está bem suprida de equipamento.
O que fica evidente nesses relatos acima é o fraco desempenho do míssil R-27, já que aparentemente ele não conseguiu nenhum acerto direto e perdeu o alvo na maioria das vezes.
Porém, convém lembrar que os alvos eram aeronaves soviéticas, e sendo soviéticas é provável que os sistemas de ECM, chaff e flare tenham capacidade de derrotar mísseis do próprio país, afinal todos os dados para desenvolver as defesas estavam disponíveis na época da sua concepção.
Prezados Hamadjr e Giordani RS,
É interessante notar, que no mesmo capítulo, Tom Cooper ressalta que, ainda que os pilotos russos e ucranianos, ambos mercenários, que voaram no conflito, independente das aeronaves que voaram, não conseguiram uma melhor performace que os bem menos experientes etíopes e eritreus no uso do míssel R-27.
Prezado Clésio Luiz,
Seu comentário merece atenção maior e muito poderia ser dito.
Dos vinte e quatro R-27 disparados, sabe-se de dezesseis.Desses, somente um impacto direto,três ou quatro explodiram por aproximação e detonação da espoleta, os resultados dos outros continuam sem confirmação, para quatro abates confirmados e um sem confirmação.
Completando,
Pelo menos dez sendo que provavelmente dezoito, erraram ou falharam, atingindo um inexpressivo kill ratio de apenas 16.6%.
O autor dedica ainda um longo parágrafo, justificando essa baixa perfomace dso R-27 citando causas como:
Transporte inadequado dos mísseis.
Condições de estocagem abaixo das normas.
Nível de treinamento de pessoal de manutenção ruim.
Outros.
Interessante notar que isso é justificavel se compararmos com um texto de um oficial da FAB sobre os Sidewinder no Super Tucano, publicado aqui no PA.
Lembrei exatamente deste texto!
Prezado Giordani RS,
É de se pensar na iminente aquisição da FAB.
Delicados e caros mísseis franceses de médio alcance, operados em úmidos e calorentos aeródromos da Amazônia.
É uma maneira totalmente nova de se pensar em superioridade aérea.
Muito se há para fazer.
RF Santana,
Cada vez mais faz sentido a frase do NJ sobre o F-35: “É demais pra nós…”
O contexto da frase nunca foi sobre o F-35, mas em todo um choque cultural/tecnologico pelo qual a FAB terá de passar com a aquisição(um dia talvez) de um Futuro…caça… de…combate…
Fora do tópico: Alguém indica um bom site com fotos dos Mirages/Daggers/A-4´s argentinos sendo abatidos? Fotos do HUD dos Sea Harrier´s?
O desempenho dos R-27 só não foi pior do que do AIM-7 Sparrow durante a guerra do Vietnã eu tinha até pouco tempo um artigo sobre isso, o Sparrow era tão ruim que quando poderosos F-4 americanos perseguiam velhos MIG-15, e armavam seus misseis eles simplesmente caiam dos cabides no meio das florestas, inclusive varias aeronaves de caça americanas eram abatidas por causa disso já que o F-4 na época não tinha canhões, e como os misseis não armavam eram abatidos por rajadas de canhões de caças norte vietnamitas como MiG-21, MIG-17 a situação só melhorou quando a versão F-4E… Read more »
“O desempenho dos R-27 só não foi pior do que do AIM-7 Sparrow durante a guerra do Vietnã”.
Com uma diferença. O AIM-7 Sparrow é um míssil do final da década de 50/60, o R-27 é duas décadas mais velho.
O AIM-7 Sparrow era muito, muito ruim. O R-27 consegue ser muito pior.
Abs,
Ricardo.