Para Saab, batalha dos caças não está perdida

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Rumores apontam que o governo teria voltado a negociar a compra das aeronaves francesas Rafale; empresa sueca, no entanto, mantém o otimismo

 

Ana Clara Costa

Desde que a francesa Dassault fechou contrato para venda de 126 caças Rafale à Índia, a discussão sobre a licitação brasileira foi reacendida. Tudo porque o ministro da Defesa, Celso Amorim, dirigiu-se a Nova Délhi logo após a decisão e pôde pedir esclarecimentos diretos a seu homólogo indiano sobre a escolha. De lá para cá, fontes dos governos francês e brasileiro, ouvidos pelas agências de notícias, têm apontado que os Rafale serão a opção também do Palácio do Planalto. Na mesa de negociação, as outras fabricantes – que aguardam com certa ansiedade o desfecho da novela militar que já dura mais de quatro anos – recusam-se a desistir. Uma delas é a sueca Saab, que fabrica o caça Gripen. Ao site de VEJA, Bengt Janer, diretor da Saab-Brasil, garante que a companhia continua no páreo. Ainda que reconheça que a Suécia não dispõe do mesmo peso político dos Estados Unidos (sede da Boeing) e da França, o executivo demonstra confiança em que a sua é a melhor proposta.

Há cerca de dois anos, a Saab foi a companhia que obteve a melhor avaliação da Força Aérea Brasileira (FAB) no processo de licitação dos caças. Contudo, a opinião do órgão, por incrível que pareça, não é determinante na escolha. Tanto que a venda quase foi fechada em 2009 para a Dassault porque o ex-presidente Lula passava por uma espécie de “lua de mel” diplomática com o líder francês, Nicolas Sarkozy. Depois que as conversas entre ambos azedaram, a Boeing – outra empresa que participa da licitação com seus F-18 Super Hornet – intensificou seu lobby. Já no governo Dilma, a movimentação ganhou o apoio de um garoto-propaganda e tanto: o próprio presidente Barack Obama, durante visita oficial ao país, no início de 2011.

Desde então, o processo de licitação foi atropelado por cortes orçamentários, faxina nos Ministérios e problemas de ordem macroeconômica. A presidente Dilma decidiu, então, a deixar o assunto para depois. Mas essa fase pode estar no fim. De acordo com Janer, a expectativa da Saab é que algum tipo de definição saia já neste primeiro semestre. “Até onde sabemos, a decisão está na mesa da presidente”, afirmou o executivo em entrevista ao site de VEJA.  “Fizemos tudo o que o governo pediu para essa licitação – e justamente por isso estou confiante de que estamos bem no projeto.”

A visita do ministro Celso Amorim à Índia para conversar sobre o Rafale não alterou o andamento do processo de licitação, colocando novamente a Dassault em vantagem?
A visita, na nossa avaliação, foi uma coincidência. Viagens de ministros são planejadas com antecedência. Eles têm uma agenda a cumprir e não decidem uma coisa como essa do dia para a noite só porque um contrato de compra foi fechado na Índia. Além do mais, essa é uma decisão da presidente Dilma.

Em que estágio estão as negociações para a compra dos caças?
Até onde sabemos, a decisão está na mesa da presidente. Não há novidades sobre isso desde o início do ano passado, quando o governo afirmou que a licitação estava paralisada. Contudo, temos a expectativa de que haja uma decisão ainda no primeiro semestre.

Quais parcerias a Saab tem desenvolvido no Brasil no setor de Defesa?
Criamos no ano passado, em parceria com o governo sueco, o Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (CIBS), em São Bernardo do Campo (SP). A função desse centro é desenvolver projetos em parceria com universidades, empresas privadas e órgãos públicos – de modo a trazer ao país ideias inovadoras que surjam na Suécia e que possam melhorar o cotidiano da população. São projetos para as áreas de energia limpa, segurança pública e sustentabilidade. O curioso é que muitos deles vêm da indústria da Defesa e depois são aplicados ao dia a dia das pessoas. Além disso, oferecemos cem bolsas de estudos para brasileiros irem estudar na Suécia. Em resumo, estamos claramente administrando o centro como forma de buscar uma parceria de longo prazo com o Brasil, o que independe, inclusive, do resultado da licitação dos caças.

O contrato da Saab com a Suíça, fechado também recentemente, pode ter algum efeito na escolha brasileira?
Espero que tenha um efeito positivo, pois o que propusemos é que a transferência de tecnologia permita até mesmo que a produção brasileira seja utilizada pela Suíça. Nossa proposta é de parceria total, em que 40% do desenvolvimento da aeronave e 80% da estrutura do caça sejam feitos no Brasil. Nossa ideia é estabelecer uma parceria entre a Saab e a indústria nacional brasileira para vender aeronaves para outros países. E a nossa política de transferência de tecnologia é a mais adequada ao que o Palácio do Planalto quer.

Mas há o fator político.
Sim, a Suécia talvez não tenha o peso político dos Estados Unidos ou do outro país (a França). Contudo, a tecnologia que temos e estamos dispostos a compartilhar é adequada às necessidades do Brasil. Nós ouvimos muitas vezes que a presidente Dilma quer que a parte de inovação seja desenvolvida no país e que as parcerias são essenciais. Foi isso que propusemos. Fizemos tudo o que o governo pediu para essa licitação – e justamente por isso estou confiante de que estamos bem no projeto.

FONTE: Veja.com / FOTO: Saab

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Mauricio R.

Uma pressãozinha, de leve como diria o Ibrahim Sued, faria bem, deixar esse assunto somente na especulação, na coincidência, sem assumir alguma posição; não fará bem p/ proposta da Saab.

-E aí ministro, vamos á Suiça???

Marcos

O desejo: F-18 (superioridade total)

O recomedável: Gripen (custo/benefício)

O alopramento: Rafale (transpherenphia de tecnolophia)

Ivan

Maurício,

“…vamos á Suiça???”

Nada mais justo.
Se foi a Índia saber do M-MRCA – Rafale, deveria ir conhecer os operadores dos outros concorrentes.

Visitar a Suíça para ver como foi montado o Tiger-Teilersatz TTE program, que elegeu o Gripen E/F como mais adequado para a Schweizer Luftwaffe.

Depois visitar a Austrália para ver como anda as entregas do F-18F Super Hornet.

Quem sabe dar um pulinho na África do Sul, para verificar com foi a integração dos Gripen C/D, bem como o andamento dos programas de offset.

Sds,
Ivan.

Marcos

Não espalhem não, que é absoluto segredo, mas é que o povo lá de cima já escolheu o Rafale, estão agora tentando achar uma justificativa para comprá-lo.

Ivan

“…pois o que propusemos é que a transferência de tecnologia permita até mesmo que a produção brasileira seja utilizada pela Suíça. Nossa proposta é de parceria total, em que 40% do desenvolvimento da aeronave e 80% da estrutura do caça sejam feitos no Brasil. Nossa ideia é estabelecer uma parceria entre a Saab e a indústria nacional brasileira para vender aeronaves para outros países.” Vamos ver se entendi direito: – Compramos apenas 36 (trinta e seis) caças Gripen EBr / FBr com um preço menor que os concorrentes e com custos operacionais igualmente menores; – Participamos do final do desenvolvimento… Read more »

Ivan

Marcos,

Sabemos disso desde 07 de setembro de 2009.

Mas não vamos nos furtar a defender o que achamos que é melhor para nosso país, afinal são nossos impostos que vão pagar a conta.

Sds,
Ivan.

Justin Case

Amigos, Só uma das dúvidas que tenho, quanto ao desenvolvimento: Se está previsto que o Brasil faça (e pague?) 40% do desenvolvimento do NG: – Se o Brasil escolher outro ou se o F-X enrolar de novo, quem vai fazer/pagar o desenvolvimento do Gripen suíço? Ou vão desenvolver/cobrar duas vezes, lá e aqui? Será que a Suécia vai pagar duas vezes para que seja desenvolvido no Brasil e na Suíça (???) e vai sair de graça para os clientes? É. Pode ser. Eles são bons de coração, nadam em dinheiro e não têm nenhum interesse comercial. E nem pensam em… Read more »

Grifo

Se o Brasil escolher outro ou se o F-X enrolar de novo, quem vai fazer/pagar o desenvolvimento do Gripen suíço?

Caro Justin Case, se a escolha “enrolar” um percentual maior do desenvolvimento vai ser feito lá, e um percentual menor aqui. Se enrolar até 2015, nada mais vai sobrar para ser feito aqui – exceto os itens exclusivos da versão brasileira.

Em contraste, já sabemos que 0% do Rafale será desenvolvido aqui.

O Bengt Jáner, como você deve saber, é brasileiro e não sueco.

Justin Case

Entendi, Grifo.

Então, não havendo contrato aqui até a assinatura do contrato na Suíça, vão ser desenvolvidos aqui apenas os itens exclusivos da versão brasileira, como no Rafale. Isso não é 0%, mas é muito menos do que 40% sugeridos pela SAAB.
Consequentemente, o pacote suíço também vai variar, dependendo da decisão aqui, é isso?
Já está definido quem vai pagar o desenvolvimento, ou isso também tem que ser negociado?
Abraço,

Justin

Justin Case

Grifo,

Quanto ao Bengt, sabemos que é brasileiro, mas pensei que ele falasse em nome da empresa, como representante comercial.

Justin

Grifo

Caro Justin Case, pelo que entendo o deadline não é a assinatura do contrato na Suíça, e sim os milestones de desenvolvimento do avião. Não dá para desenvolver de novo o que já foi desenvolvido. O que não tiver sido desenvolvido poderia ser passado da Suécia para o Brasil mesmo após a assinatura do contrato com a Suíça. Se houver uma decisão aqui antes da assinatura do contrato com a Suíça, entendo que o pacote da Suíça pode mudar. Depois da assinatura do contrato obviamente não, ou pelo menos exige uma renegociação. Pelo que entendi também o fator primordial na… Read more »

DrCockroach

Pode virar e revirar, mudar o foco como queira, mas no fim temos uma empresa colocando empresas brasileiras como parceiras num contrato de exportacao de um caca de de 4.5 geracao o que, sabemos, seria extraordinario. Jah a outra empresa aquela nao oferece nada em termos de exportacao e ainda, tenta por meios nebulosos, melar a exportacao p/ Suica. Se o Brasil (Dilma) optar pelo Gripen, os contratos serao negociados praticamente simultaneamente. Por fim, gostei da setenca dele como segue: “Além do mais, essa é uma decisão da presidente Dilma.” Ou seja, sabemos que o MinDef trabalha p/ ter o… Read more »

DrCockroach

P.S.: setenca = sentenca

Grifo

Já está definido quem vai pagar o desenvolvimento, ou isso também tem que ser negociado?

Caro Justin Case, acho que só quem pode responder isso é a SAAB, mas pelo que eu entendo o desenvolvimento é normalmente pago na proporção da participação nele de cada país. E a propriedade intelectual é dividida também na mesma proporção

Assim, imagino que se o Brasil vai fazer 40% do desenvolvimento do avião, dentro da proposta da SAAB para a FAB devem estar embutidos 40% dos custos de desenvolvimento.

Se o FX-2 “enrolar”, o Brasil vai desenvolver menos, mas também tende a pagar menos.

DrCockroach

Prezado Justin, Se a sua preocupacao eh um marketing “otimista” da SAAB, nao tenho problemas, talvez seja, mas ainda teremos um resultado positivo com a venda p/ Suica. Com relacao ao custo do desenvolvimento. Infelizmente nao tive acesso a proposta, e tampouco recebo algo da SAAB, mas se procede que o preco serah fixo, a preocupacao dos custos de desenvolvimento (imbutidos) deixam de ser dos compradores (FAB/Brasil) e passam a ser da SAAB e parceiros de risco dela. Exemplificando, se uma empresa de risco brasileira se atrasar na entrega de algo ou exceder o custo do desenvolvimento, isto passa a… Read more »

Nick

Seria extremamente irônico empresas brasileiras fornecerem componentes para os Gripen E/F Suiços e Gripens E/F Suecos, e ao mesmo tempo estarmos recebendo os Rafales de prateleira. 🙂

[]’s

Marcelo

espero que o colega Marcos seja um ótimo insider e que esteja certo, para que acabe esta novela do FX2 e recebamos logo os nossos 36 Rafales com a devida transferencia de tecnologia.

Daglian

De novo a tal da ToT…

Acredito que isso já foi discutido aqui, mas, caso a escolha seja pelo Rafale, haveria aumento do orçamento da FAB?

luis

Probalibidade de Propina:
Com os americanos – 0% (vide a manchete de hoje, 19 de fevereiro da Folha de S. Paulo).
Com os suecos – 0% ( Vide o historico do país).
C0m os Franceses – Probabilidade alta. Vide o historico de Serge Dassault.
Porque nosso Mini Ministro da Defesa correu para a íNDIA para buscar argumentos para justificar uma hipotetica compra da Jaca?
Para a Suiça êle não foi e nem irá.

Justin Case

Luís, bom dia.

As suas conclusões sobre propina parecem muito generalizantes e discriminatórias.
Todos os países desenvolvidos têm que cumprir acordos internacionais e leis internas que penalizam severamente qualquer iniciativa de propina. Todo o dinheiro gasto na fase de promoção comercial e negociação contratual tem que ser rigorosamente e documentalmente justificado.
Há organismos não-governamentais que avaliam o nível de corrupção em cada país.
Acho melhor cuidarmos da nossa casa e tentar melhorar o nosso índice antes de dispararmos acusações contra outras sociedades.
Abraço,

Justin

Marcelo

é luis…
na Rep Tcheca e na Hungria pesam acusações sim de corrupção contra a SAAB. Então…
O presidente da Boeing foi condenado por corrupção no caso do 767 tanker com a USAF…
então, os seus preferidos não são nem mais nem menos honestos que os franceses…

Grifo

Senhores, cada caso é um caso, mas em termos de percepção de corrupção, estas são as posições do ranking (“Corruption Perception Index”) feito pela Transparência Internacional:

http://cpi.transparency.org/

4 – Suécia
8 – Suíça
24- Estados Unidos
25 – França
73 – Brasil
95 – Índia

Quando alguém fala que a Suécia pagou propina para a Suíça, acho muito difícil de acreditar. Já alguém da Índia recebendo um “por fora”…

luis

Senhores, é público e notorio a péssima experiência da FAB, ao longo dos tempos, na utilização de material françês. Nem se compara com material de procedencia americana. A logistística americana é a melhor do mundo. Seus manuais são iguais ou melhores que os manuais alemães. Quase tudo já foi testado em combate. A superioridade do F-18 E/F Block II International Roadmap sobre os demais concorrentes, é incontestável. Nas Considerações Finais do relatório da FAB para o MinDef está, resumindo, o seguinte: Se compramos o Gripen, vai acontecer isto; Se comprarmos o Super Honet, vai acontecer isto; Se comprarmos o Rafale,… Read more »

Luis

O ideal seria o pacote da Boeing, com 36 unidades e alguma ToT, mais o do Gripen NG, para a substituição de todos os F-5 e fabricação local.

Mauricio R.

A Hungria renovou o leasing de seus Gripens.