Saab destaca Gripen como exemplo de inovação e quer o Brasil no projeto
Na quarta-feira passada, 23 de novembro, a Saab apresentou o caça Gripen como exemplo de inovação sueca, na Arena de Pesquisa e Tecnologia do Open Innovation Seminar (evento realizado no Grand Hyatt Hotel, em São Paulo). O Poder Aéreo esteve presente à exposição feita pelo diretor de Tecnologia da Saab, Pontus de Laval, num painel que contou também com apresentações da IBM e da agência sueca Vinnova.
Foram apresentadas as inovações da Saab no desenvolvimento de aviões de caça ao longo do tempo, e de Laval procurou deixar bem claro, desde o início, que a empresa não é um gigante como a norte-americana Lockheed Martin, mas que conta, em compensação, com um sistema denominado “Triple Helix” para garantir a inovação nos seus produtos.
O Gripen é, segundo o diretor da Saab, um exemplo de aplicação do “Triple Helix”, em que a primeira parte envolvida é o público (na forma de agências e governo), que entende as necessidades do país. A segunda parte é a indústria, que busca suprir essas necessidades com tecnologia, cumprindo os requerimentos estabelecidos. E a terceira é a academia, que pesquisa o desenvolvimento tecnológico (por exemplo, um novo conceito de radar) e o aplica em simulações e na prática com a indústria. A aplicação do “Triple Helix”está, segundo de Laval, no cerne da proposta da Saab para o programa F-X2 da FAB, em que é oferecida a nova geração (NG) do Gripen. Trata-se de um convite ao Brasil para desenvolver uma nova geração do Gripen em conjunto com a Suécia.
O diretor da Saab afirmou que a capacidade de desenvolver o caça no Brasil é a chave da proposta. Não se trata apenas da produção de partes e componentes, mas de desenvolvimento conjunto agora e ao longo do ciclo de vida da aeronave. Ele apresentou brevemente os principais pontos da proposta sueca para o programa F-X2 do Brasil, organizados em três grandes conjuntos:
1 – Produtos e serviços do Gripen NG
- 36 caças Gripen NG, capazes de voar em supercruzeiro (velocidade supersônica sem uso de pós-combustor) e equipados com radares AESA de última geração.
- Pacote com armamentos brasileiros e de países não alinhados.
- Total apoio operacional e o menor custo comprovado ao longo do ciclo de vida.
- Centro de simulação de combate em rede.
2 – Transferência de tecnologia, desenvolvimento e produção
- Parceria Suécia-Brasil em marketing, desenvolvimento e fabricação, com até 40% do desenvolvimento do Gripen NG feito no Brasil.
- Até 80% das células dos caças Gripen NG serão produzidas no Brasil, com linha de montagem completa no País.
- Offsets (compensações) de mais de 175% do valor do contrato e cooperação no KC-390.
- Capacidade total para manutenção, reparo e revisão, incluindo o motor.
3 – Compromissos do Governo Sueco
- Transferência garantida de tecnologia, incluindo desenvolvimento conjunto de data link
- Treinamento de pilotos e pessoal de apoio (Engineer), com desenvolvimento conjunto de táticas
- Comprometimento com o Gripen NG em linha com as entregas para a FAB.
- Avaliação de aquisição do KC 390 e do Super Tucano.
- Financiamento total do contrato.
Outro aspecto destacado por Pontus de Laval é que, dentro desse sistema de desenvolvimento e pesquisa (Triple Helix), consegue-se um retorno em valor da tecnologia (technology spillover) que pode ser calculado. No caso do Gripen, o cálculo comprovado é que para cada dólar investido no projeto houve um retorno de 2,6 dólares. Entre os benefícios aplicados em outras áreas, está a tecnologia de aparelhos celulares da Suécia.
Por fim, os benefícios do desenvolvimento conjunto, segundo de Laval, vão além do caça. Isso porque há muitas oportunidades no Brasil que podem beneficiar ambos os países. Como exemplo, citou a tecnologia de radares e de sistemas de segurança. Para o diretor da Saab, a abertura da Suécia a esse tipo de cooperação envolve tanto indústrias quanto a academia. Dentro dessa visão é que foi inaugurado o Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro – CISB – na cidade paulista de São Bernardo do Campo. O CISB está conectado (link) ao sistema de inovação sueco em Gothenburg.
Um contraponto irreverente da IBM
A apresentação mais “bem comportada” de Pontus de Laval foi seguida pela palestra irreverente do cientista-chefe do laboratório brasileiro da IBM, Fábio Gandour, provocando risadas e surpresas na plateia e entre os palestrantes, com várias piadas dirigidas aos representantes da Saab e da Vinnova. Aproveitando o gancho da apresentação da Saab, Gandour destacou, entre outros aspectos, o esforço de seis anos que teve para implantar o laboratório brasileiro, convencendo a IBM de que o Brasil era a “bola da vez”. E que, por isso mesmo, merecia a instalação de um novo laboratório que não ficasse preso ao velho sistema de adaptar os produtos da matriz, e sim que contribuísse com inovações brasileiras.
Logo de início, Gandour provocou de forma bem humorada o diretor da Saab dizendo que, após sua apresentação, estaria torcendo para a vitória do Gripen na disputa dos caças da FAB: justamente porque quer ver a inovação sair do “powerpoint” e virar realidade. A pergunta-chave a esse respeito, e que para Gandour pode ser estendida à relação de outros países com o Brasil é: para quem interessa mais a inovação nesse relacionamento entre os dois países, à desenvolvida Suécia ou ao Brasil em desenvolvimento? A resposta a essa provocativa pergunta fica para os leitores do Poder Aéreo.
Vinnova, a agência governamental sueca para sistemas de inovação
A apresentação final do painel ficou a cargo do Dr Ciro Vasques, que gerencia o programa de cooperação bilateral entre a Suécia e o Brasil na Vinnova.
A Vinnova tem seu foco em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento envolvendo universidades e pequenas empresas, visando o longo prazo e buscando parcerias internacionais. Aproveitando a questão levantada pelo executivo da IBM, Vasques lembrou que a Suécia é um dos países com a maior quantidade de grandes empresas de projeção mundial per capita, tendo apenas 9 milhões de habitantes. Isso mostra que suas empresas tradicionalmente olham para fora do país, buscando oportunidades de mercado, de desenvolvimento e de inovação em conjunto com outros países.
Mas, segundo Vasques, não existe uma resposta única para o desenvolvimento de todos os países. Diversas inovações não vêm de grandes empresas, mas de pequenas iniciativas, e o Brasil é uma grande inspiração para muitas empresas e países europeus. No caso da cooperação entre Brasil e a Suécia, que está dentro do escopo da Vinnova, o objetivo é encontrar e explorar complementaridades.
Nesse contexto, foi lembrada a realização em Estocolmo, em 9 de novembro, do “Terceiro laboratório de aprendizado de inovação”. O evento, que é uma mesa redonda de discussão e de relacionamento de profissionais, atraiu mais de vinte participantes brasileiros e sessenta suecos.
O objetivo do encontro foi investigar futuras oportunidades de cooperação entre empresas, instituições e organizações brasileiras e suecas, prosseguindo uma cooperação estratégica industrial, para inovação e alta tecnologia, iniciada em 2009 pelos governos dos dois países. Pelo Brasil, a responsabilidade é da agência ABDI e pela Suécia é da Vinnova.
Entre as áreas de negócio abordadas no encontro para conecção de organizações interessadas, estavam os parques científicos e incubadoras de negócios de serviços e de desenvolvimento de tecnologia da informação, com foco na Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, no Brasil. Também as áreas de saúde e farmacêuticos, além de cooperação industrial, estiveram no foco do evento.
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A Saab tem um histórico de aeronaves incríveis. Sempre desenvolveu de forma muito clara e objetivas aviões de excelente desempenho. Hoje eles buscam parceiros para continuar com essa história de sucesso. Para um país como o Brasil que supostamente quer se tornar uma grande potência esse seria um grande salto. Vejamos, o Brasil hoje não tem condições de desenvolver uma aeronave como o Gripen NG. Esse seria um caminho óbvio para o país conquistar tecnologia de ponta. Alguém acredita que a Turquia vá ter um caça de 5ª geração? Ou que a Coreia do Sul faça isso sem o aval… Read more »
Marcos,
Concordo com quase tudo, mas tenho uma pequena ressalva quanto a sua afirmação: “Não existe atalho que não custe caro.”
Por incrível que pareça a proposta da SAAB para o F-X2 é a mais barata, incluindo aí toda a ligação com a indústria nacional e ganhos de conhecimento e propriedade intelectual.
Aparentemente o “atalho” já está no preço e este não é o mais caro.
Sds,
Ivan, um antigo gripeiro.
Ivan,
O atalho que me referi é das outras propostas e ideia. Tais como: Caça 5ª da turquia, suposta participação no PAK, transferência de tecnologia do Rafale…
De fato o Gripen é a melhor proposta com maiores benefícios. E o Brasil deveria agar com toda a força e não ficar buscando um atalho para o CS.
Grande Abraço!
Faço minhas as palavras do Invencible. Particularmente, como aeronave simplesmente, pronta, feita, acabada, testada, e linda, preferia o SH. Mas como projeto de futuro (com arrasto tecnológico incrível) e aeronave (sim, o gripen não é de papel, como dizem alguns), é induvidoso que a proposta sueca é tentadora.
Francamente, escolher a proposta francesa, reflitirá, a mim, um acordo de 5ª, não geração, mas categoria, e odiosas vantagens particulares “stealth”…
Quantos representantes relevantes de nosso governo, políticos estavam nessa apresentação?
Isso poderia ser um termômetro de a quantas vai o interesse de nossa classe política no desenvolvimento do país……
Sou SH. Acho que o SH e o GP operam facilmente no SP, certo?
Tenho poucas informações para analisar um cenário Boing vs Saab e agora a suposta venda do ST para os EUA. Mas, confesso uma queda pelo GP.
ahh … além do ST, tem o KC360.
Antonio M, nessa apresentação específica eu não sei, mas em outra que eu compareci, no dia seguinte (e amanhã deverá sair matéria a respeito), os suecos chegaram a programar uma segunda apresentação de um sistema justamente para mostrá-lo a quatro representantes de instituições do Governo, que estavam no evento.
Dario, SH não opera no SP, é muito pesado.
O Gripen ainda não tem versão naval, mas se tiver e o Brasil comprar certamente vão levar os limites do SP em conta na hora do desenvolvimento.
Pelo material que li no blog, o Gripen Naval não chega a 20t carregado então, poderia operar plenamente no Opalão pois pelo jeito não haveria restrições para sua operação no elevador, catapultas etc.
Ozawa disse: 1 de dezembro de 2011 às 10:46 Faço minhas as palavras do Invencible. Particularmente, como aeronave simplesmente, pronta, feita, acabada, testada, e linda, preferia o SH. Mas como projeto de futuro (com arrasto tecnológico incrível) e aeronave (sim, o gripen não é de papel, como dizem alguns), é induvidoso que a proposta sueca é tentadora. Francamente, escolher a proposta francesa, reflitirá, a mim, um acordo de 5ª, não geração, mas categoria, e odiosas vantagens particulares “stealth” Leia mais (Read More): Saab destaca Gripen como exemplo de inovação e quer o Brasil no projeto | Poder Aéreo – Informação… Read more »
Grato pela informação caro Fernando “Nunão” De Martini !
Resta que sejam sensibilizados …..
Até os caras chegarem, a marinha encomendar os dela, estes também chegarem o opalão poderá estar saindo de operações. Se a MB sonha com sub nuclear ela não vai ter grana pra manter NAe. Logo, caças para a marinha é a menor das preocupações.
Fora isso, o Gripen é sim perfeito!
Abraço!
Sou sempre a favor da solução estratégica, mesmo que isso traga um certo prejuízo momentâneo ao País. Já pensou a FAB e a Marinha com o GP, um novo PA, made in Brazil, com sistemas e mísseis nacionais. Alguém tem que falar isso pro ” Amendoim ” ou falar com a ” Vilma “.
Faço minhas as palavras do Juarez. Infelizmente a Suécia acredita mais no Brasil do que este.
O Gripen NG seria uma excelente solução PARALELA. Se pudéssemos entrar no projeto Gripen e ao mesmo tempo ter os 36 SH voando, seria o melhor dos mundos. E são duas aeronaves que praticamente compartilham as turbinas.
Mas não podendo ter os dois, e não tendo – como não tenho – confiança nenhuma em nossas “lideranças” políticas, prefiro ficar com um pássaro na mão do que dois voando.
Sds.