Único remanescente da primeira turma ITA continua dando aula
O único remanescente dos 13 integrantes da primeira turma de formandos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) vive rodeado de aviões. Mas nunca, nunquinha, pilotou um. “Eu queria ser piloto, mas fui reprovado na escola de pilotagem. Não adianta, não nasci para isso”, lamenta Newton Soler Saintive. “Para ser piloto, é preciso um dom. Que eu não tenho.”
Aos 83 anos, Saintive é professor, desde 1989, de uma escola de formação de pilotos. Dá aulas teóricas, de aerodinâmica. “Eu explico como o avião voa”, resume. Carioca de Santa Teresa, vive em São Paulo desde que se formou engenheiro, em 1950. “No começo, até pensava que voltaria (para o Rio) um dia. Depois de um tempo, criei laços aqui e não me vejo mais em outro lugar que não São Paulo”, diz.
Quando chegou à cidade, estranhou um pouco a “terra da garoa”. “Sentia falta dos amigos e, principalmente, da praia”, lembra ele, em seu apartamento no bairro do Paraíso, zona sul da capital, onde vive com a terceira mulher. “Para mim, São Paulo era fria à noite, mesmo que o dia fosse quente. Eu não estava habituado.
Depois da formatura do ITA, trabalhou por 11 anos na Força Aérea Brasileira (FAB). Fazia manutenção das aeronaves, em uma oficina no atual Campo de Marte, na zona norte da cidade. Seu chefe? “Era o Faria Lima, que depois viraria nome de avenida”, frisa. “Um homem muito rígido, muito trabalhador, um dínamo. Mas muito justo. Sob seu comando, ninguém ficava parado”, afirma Saintive.
Em 1962, já capitão, decidiu abandonar a carreira militar. Foi trabalhar na Willys, fábrica de automóveis. Divertia-se entre Aero Willys, Gordinis e outros veículos hoje fetiche de colecionadores. Pouco tempo depois, mudaria de emprego novamente: foi trabalhar na manutenção de aeronaves da Sadia. De lá, foi para a Metal Leve. Depois, para a Blindex. “Na última, fiquei até me aposentar, no fim dos anos 1980”, recorda-se.
A carreira de professor foi desenvolvida em paralelo. De 1958 a 2005, com interrupções, deu aula para pilotos da Vasp. “Foi uma maneira de nunca me afastar da aviação”, admite Saintive. Desde 1989, também leciona na EWN Aviation Ground School, que fica perto do Aeroporto de Congonhas, na zona sul. “Pilotar mudou muito ao longo de tantos anos. Hoje em dia é muito mais seguro. O piloto voa menos, aliás. Ele é mais um gerente de sistemas”, diz, referindo-se a tantos botões e tanta automatização nas aeronaves atualmente.
Reconhecido no meio, Saintive tem quatro livros publicados. Um deles, o Aerodinâmica de Alta Velocidade, já está em sua décima edição. No ano passado, o ITA comemorou 60 anos. Saintive foi convidado de honra da festa e recebeu uma homenagem.
FONTE: O Estado de São Paulo, via Notimp