Contrários à venda a Chávez, EUA desconfiaram de Super Tucanos da Embraer, revela WikiLeaks
RIO – Quatro anos depois de ter bloqueado a venda de aviões Super Tucano, da Embraer, para a Venezuela, o governo dos Estados Unidos concluiu que a transação com o grande desafeto do governo americano na América do Sul não significaria um apoio político do Brasil ao regime de Hugo Chávez.
“É provável que o desejo do Brasil vender Super Tucanos tenha sido motivado pelo fato de o fabricante, Embraer, ter colocado pressão sobre o governo brasileiro para aprovar a encomenda no sentido de proteger empregos industriais na época de eleições (reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva), e não baseado em qualquer política brasileira em relação à Venezuela”, diz um telegrama enviado pelo então embaixador dos EUA em Brasília, Clifford Sobel, em junho de 2009.
Os comunicados referentes a esse tipo de negócios mostram, ainda, que o Brasil alertara os EUA de que se Washington proibisse a venda – como aconteceu – Chávez compraria o mesmo tipo de aeronaves, ou modelos ainda mais avançados, da Rússia (como de fato acabou acontecendo). E advertiu que isso provocaria um desequilíbrio entre as forças aéreas da região.
O Brasil chegou a argumentar, ainda, que a venda dos aviões da Embraer à Venezuela ajudaria o governo brasileiro a ter ainda mais influência sobre Chávez – algo de interesse dos EUA. Além disso, lembrou que, se houvesse algum problema, tanto o Brasil quanto os EUA poderiam manter no chão a frota venezuelana negando apoio e peças de reposição, assim como os EUA tinham feito no caso dos F-16 venezuelanos.
A transação havia sido concluída em 28 de outubro de 2005, quando a Embraer assinou um contrato de US$ 169,7 milhões com a Força Aérea da Venezuela, depois que os fabricantes de peças dos EUA forneceram garantias, por escrito, que o governo americano nada tinha contra a venda.
Uma série de telegramas, entre março de 2004 e fevereiro de 2009, mostra que os EUA demoraram a confiar no Brasil em termos de vendas de armamentos para terceiros países, pressionando com insistência para que o país adotasse os mesmos procedimentos dos Regulamentos Internacionais de Tráfico de Armas (ITAR, na sigla em inglês) do governo americano.
Inspetores americanos realizaram várias visitas à Embraer, à Avibrás (mísseis e carros de combate) e à Companhia Brasileira de Cartuchos (fabricante de munição). Eles agiram de forma minuciosa. Por fim, em junho de 2009, um telegrama da embaixada americana enviado ao Departamento de Estado concluiu: “Os controles brasileiros são baseados em políticas que têm como fim não contribuir a conflitos, e observam os padrões tanto da ONU quanto outros internacionais”.
FONTE: O Globo
COLABOROU: Júlio
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