Traduções inéditas por Roberto F.Santana

Na manhã de 30 de setembro de 1942 , às 10h47, o 3º Staffel decolou, liderado pelo Hptm.Marseille. Eram oito Bf-109s que iriam dar cobertura para um grupo de Stukas. Três minutos depois, mais 15 aeronaves do III Gruppe os seguiram, oferecendo uma proteção extra durante o avanço da formação principal.

Às 10h55, uma força adicional de dez Bf-109s do III/JG 53, decolava para dar escolta direta.

Kommodore Neumann direcionava a missão do posto de comando, e guiava o Staffel de Marseille,  via rádio, fazendo um link solo-ar para interceptar um grupo de caças britânicos que tinha sido avistado ao sul de Imayid, o inimigo seguia para oeste.

Tão logo o Staffel de Marseille avistou o inimigo, as aeronaves britânicas rapidamente curvaram para o norte e se recusaram a entrar em combate. Próximo de Abu Dweis, o III/JG 27 avistou o inimigo  e Lt.Schroer  abateu um deles.

Durante essa missão, Hptm.Marseille voava um modelo novo de Bf-109, o modelo G. Seu Staffel não tinha feito mais contato com o inimigo e voltou, depois que os Stukas jogaram suas bombas. Às 11h30min, o rádio no posto de comando subitamente ganhou vida. Uma voz clara gritou :

– “Meu motor está pegando fogo!”

– “Quem está com o motor pegando fogo?” perguntou o rádio operador.

– “Qual é o problema, câmbio?”

Era Marseille, que falava: “de Elba 1 (indicativo de chamada de Marseille) – tem muita fumaça no cockpit, não consigo ver.”

No posto de comando, Eduard Neumann, verificou rapidamente o mapa e viu que ainda faltava uns 5 minutos para o Staffel alcançar as linhas alemãs.

Os pilotos que retornavam viram a fumaça que saia, do motor do novo avião de Marseille, crescer e ficar mais espessa.

“Mais 3 minutos, Jochen.”, disse Schlang  para o seu companheiro. “Nós te levaremos até lá”.

Eles voavam em volta de Marseille, em formação fechada, protegendo-o de qualquer tipo de intrusão. Schlang e Pöttgen o guiavam pela voz e Marseille fazia as correções no seu curso de vôo. Cuidadosamente  direcionavam  um colega e amigo em segurança de volta para casa.

Eram 11h35min, Schlang e Pöttgen continuavam a guiar seu líder, quando Marseille chamou, “Já estamos sobre nossas linhas?” Havia um tom de urgência em sua voz. “Mais uns 2 minutos, Jochen”, Pöttgen respondeu.

De uma distância de poucos metros, os colegas conseguiam ver, através da fumaça, o rosto pálido de Marseille.

Schlang então chamou:

– “Elba 1, corrija  um pouco a direita”. Marseille curvou colocando-se no curso correto.

Então veio a voz do Geschwaderkommodore, que não podia mais esperar:

– “Você vai conseguir?  Elba 1?”

– “Dê o fora daí agora!”

Nenhuma resposta.

O avião de Marseille estava derivando e baixando cada vez mais.O grupo, então passava sobre a mesquita de Didi Abd el Rahman.

Tinham conseguido alcançar as linhas alemãs.

“Tenho que sair agora”, disse Marseille, “Eu não aguento mais”.

Estas foram as últimas palavras que ouviram de Marseille.

Quando os dois 109 que estavam mais próximos se afastaram um pouco, Marseille rolou seu Messerschmitt no dorso para que ficasse em uma posição mais favorável ao salto.Tão logo o canopy voou, Schlang e Pöttgen viram um vulto emergir da fumaça. Marseille foi instantaneamente carregado pela corrente de ar, viu-se um solavanco, como que tivesse levado um soco. Os dois pilotos circulavam para monitorar e proteger o colega que descia em queda livre.

“Jochen saiu”, disse Pöttgen com alívio. Então uma voz alta:

“O paraquedas!” gritou Schlang horrorizado.

O corpo de Marseille mergulhava mas o velame branco do paraquedas não era visto. Eram 11h36, quando uma série de gritos eram ouvidos pelo rádio. Estavam todos tomados pelo choque.

Finalmente, se ouviu: “Jochen está morto!”

No posto de comando, os fones de ouvido cairam das mãos do Kommodore Neumann. Sem acreditar no que estava acontecendo, olhava para seus homens que somente acenaram com a cabeça e se retiraram lentamente.

Marseille saltou de seu avião e caiu uns 200 metros. Seu paraquedas não abriu. Caiu quase que na posição horizontal e bateu no solo do deserto com o rosto para baixo.

Quebrado e sem vida, estava o corpo da Águia da África na areia do deserto. Da mesma maneira que tinha abatido 158 inimigos, agora, ele, invicto, era a vítima.

Oberarzt Dr.Bick, o médico do regimento Panzergrenadierregiment 115, viu a queda do piloto de caça alemão, naquela manhã. Pegou um carro do staff e correu para o local da queda. Ele foi o primeiro a encontrar o piloto morto, algumas centenas de metros dos destroços do 109. O que segue, é seu reporte ao Panzerarmee Afrika:

“O piloto jazia por sobre seu estômago, como se estivesse dormindo. Seus braços estavam sob seu corpo. Quando cheguei perto, vi uma poça de sangue que saia de seu crânio esmagado, a matéria cerebral estava exposta. Notei um horrível ferimento acima do quadril. Com certeza, não poderia ter sido resultado da queda. O piloto deve ter batido na aeronave quando saltou.”

“O paraquedas estava a poucos metros do morto. O pack (mochila do paraquedas)  tinha um corte de uns 40 centímetros. Uma parte do velame tinha saído. A alça de segurança e liberação do paraquedas estava enterrada ao lado corpo e ainda estava na posição ‘safe’.

“Cuidadosamente virei o corpo do jovem piloto. As belas características de seu rosto abaixo de sua testa estavam quase intactas. Era o rosto de uma criança cansada.”

Abri o zipper de sua jaqueta de voo, vi a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro com folhas de Carvalho e Espadas e imediatamente reconheci quem era. Seu livro de orações também me dizia quem jazia na minha frente:

Hauptmann Marseille

FONTE: German Fighter Ace Hans- Joachim Marseille , Franz Kurowski. Schiffer Military History

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