Muito antes do Eurofighter – parte 5
A história da cooperação europeia no desenvolvimento de projetos de caças, de 1965 a 1985
Um substituto para o Jaguar
O Mirage 2000 da Dassault representou um salto tecnológico notável em relação a todos os caças anteriormente produzidos e desenvolvidos pela empresa francesa. Externamente, existiam muitas semelhanças com a família Mirage III/V, mas a comparação para por aí. Avanços significativos foram introduzidos nas áreas de propulsão (o motor M53 era muito mais moderno que a família Atar), estrutura (grande presença de materiais compostos, quantidade de longarinas nas asas, métodos construtivos), aerodinâmica (junção asa-fuselagem, para dar um exemplo facilmente identificável) e sistemas.
Mas o que chamou a atenção do Mirage 2000 foi sua instabilidade, causada pelo recuo do centro de gravidade (CG), proporcionando uma manobrabilidade fantástica à aeronave. Isto foi possível graças ao emprego de controles de vôo tipo fly-by-wire (FBW). A Dassault finalmente havia produzido uma aeronave tão capaz quanto o F-16.
O Mirage 2000 preenchia as necessidades do ‘Armeé de l’Air’ no quesito defesa aérea para as duas próximas décadas e, portanto, não havia a necessidade de um substituto no curto e médio prazo. Na Grã Bretanha, as necessidades da RAF para um interceptador de longo alcance (requerimento AST 395, publicado em 1971) foram preenchidas ainda em 1976, com a confirmação da versão ADV (Air Defence Variant) do Panavia MRCA, oficialmente conhecido como Tornado a partir de 1975. O Tornado ADV seria o substituto natural dos English Electric Lightning remanescentes e dos F-4 Phantom II.
Com as necessidades de defesa aérea satisfeitas, França e Grã Bretanha voltaram o foco para um novo caça de interdição do campo de batalha (BAI) e apoio aéreo aproximado (CAS). O futuro caça tático francês era designado ACT 92 (Avion de Combat Tactique 1992). Na Grã Bretanha, o documento AST (Air Staff Tarquet) 396 definia um substituto não só para o Jaguar, mas também para o Harrier.
Maquete do ACT92 na visão da Dassault em 1979 (FOTO: Dassault)
A RAF expressou suas necessidades para um substituto da dupla Jaguar/Harrier ainda em 1969. O futuro avião deveria dar ênfase ao apoio aproximado, em suporte às tropas terrestres em qualquer condição meteorológica, ter capacidade V/STOL, ser biplace e supersônico.
Projeto P.103, proposta da BAC para um caça V/STOL para a RAF em 1978 (DESENHOS: BAC)
A RAF exigia muito e, além de cara, a aeronave competiria com o Tornado ao invés de complementá-lo. Os estudos foram reavaliados e um novo documento (AST 403) foi produzido. Não havia mais a necessidade “all weather”, eliminando assim o segundo tripulante. A capacidade V/STOL não foi excluída, mas deixou de ser item obrigatório. Um ponto importante foi a maior ênfase na capacidade de combate ar-ar.
Na segunda metade da década de 1970, França e Grã Bretanha estabeleceram diversas conversas bilaterais com o propósito de formar uma parceria, assim como havia ocorrido no programa do Jaguar, mas os requerimentos dos dois países conflitavam em alguns pontos. Quando a RAF separou o programa de substituição do Harrier do AST 403 no início do ano de 1979, uma luz no fim do túnel apareceu para o estabelecimento de um programa conjunto.
Proposta da BAC para substituir o Jaguar, conforme requerimento AST 403. Projeto bem mais convencional que o anterior (IMAGEM: BAC)
continua na parte 6
LEIA TAMBÉM: