Do Hornet ao Super Hornet – parte 3
Processo de aquisição de material de defesa nos EUA
Antes de darmos continuidade a o texto, é de extrema importância entender o processo de aquisição de material de defesa dos EUA e como isso afetou a credibilidade do programa do Super Hornet. Somente uma pequena introdução sobre o assunto será dada aqui, visto que o tema é bastante longo e abrangente.
Nos países desenvolvidos existem políticas para a aquisição de material de defesa. Na maioria deles, estas políticas são unificadas para as Forças Armadas. Nos EUA não é diferente. Lá, desde 1971 existe um conjunto de documentos, comumente conhecidos como “série 5000”, que governa estas aquisições. Os dois principais documentos são a diretiva DoD 5000.1 e a instrução DoD 5000.2.
Com o passar do tempo esses documentos foram revistos com o propósito de adaptá-los às mudanças. Uma das grandes modificações ocorreu exatamente em 1991, quando Cheney era o Secretário de Defesa e o Super Hornet foi escolhido como próximo caça naval de ataque.
Além dos dois principais documentos citados acima, foi criado o manual DoD 5000.2-M. A “série 5000”, que totalizava não mais do que 60 páginas, saltou para 900! Em grande parte, foram reunidas diretivas e instruções que faziam parte de documentos separados. Críticos desta revisão acusaram-na de ser extremamente rígida em seus critérios.
A “série 5000” define o ciclo de aquisição de um determinado equipamento. Em 1991, este ciclo era dividido em cinco etapas que avaliavam um determinado programa desde a sua concepção, passando pela produção e introdução em serviço até o seu processo de manutenção e operação (a revisão de 1991 excluiu a última etapa, que abrangia a modernização ou a substituição do equipamento).
Para novas aquisições, a ordem das etapas deveria ser respeitada. Para projetos em andamento que necessitavam apenas de atualizações e melhoramentos era permitido saltar etapas economizando-se tempo desde que certos requisitos fossem atendidos.
Voltando ao caso do Super Hornet, em julho de 1991 a Diretoria de Aquisição de Material de Defesa concluiu que o F/A-18 E/F poderia passar da etapa II para a etapa IV – desenvolvimento industrial. Esta decisão foi tomada sem que fosse apresentada uma análise de custo e operacional denominada COEA (Cost and Operational Effectiveness Analysis). Este estudo era mandatório segundo o recém aprovado manual DoD 5000.2-M.
Como a USN, apoiada pelo DoD, passava a imagem de que o F/A-18 E/F era uma evolução do F/A-18 C/D, na visão dela não havia necessidade da COEA. Em seu lugar, foi feito um estudo mais simples comparando-se as vantagens do Super Hornet com o Hornet. E este estudo simplificado foi aprovado por toda a cadeia de decisão da USN e do Departamento de Defesa.
Mas o Senado norte-americano não engoliu os argumentos da dupla USN/DoD. Foi feita então uma auditoria interna no programa F/A-18 E/F. A auditoria, concluída em maio de 1992 e entregue no mês seguinte, além de levantar diversos pontos conflitantes, procedimentos não seguidos e / ou ignorados e etapas não cumpridas, descobriu o que todos já sabiam: o Super Hornet era outra aeronave que mantinha a mesma designação. Em uma de suas conclusões a auditoria afirmou que:
“(..) the F/A-18 E/F will not be a modification of existing aircraft but rather new production. Additionally, the changes are significant and comprehensive.(…)”
Dentre os diversos procedimentos e regulamentos ignorados, estava a COEA. Na COEA deveriam constar (ou não) todas as vantagens técnicas, operacionais e econômicas do F/A-18 E/F frente a alternativas (que não foram apresentadas), como uma versão do F-14 ou mesmo o Rafale-M.
No entanto, o estudo da auditoria não foi suficiente para convencer os congressistas e no quarto trimestre do ano fiscal de 1992 o programa foi aprovado. O contrato final de U$ 3,715 bilhões para o desenvolvimento do programa foi assinado no final de 1992.
De Hornet 2000 para Super Hornet
A proposta da McDonnell para substituir os A-6 Intruder previa uma aeronave que, externamente, possuía semelhanças com o antigo Hornet. Até por esse motivo o projeto deixou de lado o nome Hornet 2000 e passou a ser chamado de Super Hornet.
A verdade é que o Super Hornet é uma nova aeronave. Em primeiro lugar, somente 15% da sua estrutura é compatível com a da versão anterior. A maior parte das semelhanças estruturais está na parte anterior da fuselagem.
O comprimento total da aeronave é 1,2 metros maior que o seu antecessor. As asas foram completamente redesenhadas, ganhando uma área de 100 pés quadrados a mais. Com isso a quantidade de combustível interno aumentou e dois novos cabides para armamentos foram adicionados.
Por ser uma aeronave maior, toda a estrutura da fuselagem, o trem de pouso e outros componentes mecânicos ou estruturais foram alterados para suportarem o aumento do peso bruto da aeronave.
O sistema de controle de voo foi modificado para incorporar novas funções e controles do grupo propulsor. Além disso, a substituição dos motores F404 pelos F414 permitiu um aumento de 35% no empuxo e uma redução no consumo de combustível.
O programa de desenvolvimento seguiu como o esperado e o primeiro protótipo voou em 29 de novembro de 1995. Seguiram-se os ensaios em voo no ano seguinte. Entre fevereiro de 1996 e abril de 1999 os modelos iniciais foram submetidos a rigorosos testes denominados EMD (Engineering Manufacturing Development). O modelo E/F mostrou-se superior ao seu antecessor nos aspectos relacionados a raio de curva, razão de subida e aceleração em velocidades subsônicas. No entanto, no desempenho transônico/supersônico o velho Hornet leva vantagem. Em comum, os modelos C/D e E/F apresentam brusca desaceleração em manobras aéreas.
Continua na parte 4
- Ver 1ªparte, ver 2ª parte
Poggio, sem querer ser chato ou purista, mas há alguns errinhos de digitação no texto, por sinal uma excelente matéria! (apague este comentário se quiser)
Abs.
Erros corrigidos, Felipe. O Poggio havia me pedido para revisar as várias partes da matéria mas essa aí eu acabei deixando passar.
Agradeço o aviso.