Sem ‘KC’ a USAF fica no chão
O programa mais importante da USAF está atrasado e pode colocar em risco toda a logística dos EUA
Este KC-10, construído em 1982, aparece aqui exposto em Oshkosh com um padrão de pintura largamente utilizado no começo da sua carreira. O KC-10 é mais novo, pode transportar mais combustível e transferir mais rápido que o KC-135. Mas representa somente 11% da frota atual. Um novo “KC” tornou-se assunto crítico para a USAF (FOTO: Poder Aéreo/G. Poggio)
A Força Aérea dos EUA (USAF) está em busca de um novo avião que possa substituir a atual frota de aeronaves reabastecedoras. Até aí, não há nenhuma novidade. Esta informação comumente aparece nos noticiários especializados sobre o assunto.
O problema é que a escolha está se arrastando por muito tempo e os atuais “KCs” da USAF não vão aguentar mais. A maior parte da frota de aeronaves de reabastecimento aéreo da USAF é formada pelo modelo Boeing KC-135, além de um número menor de KC-10. Somando as aeronaves em uso corrente na USAF, mais as da Guarda Aérea Nacional e da Reserva existem cerca de 530 KC-135 e perto de 60 KC-10.
Um KC-135 pertencente à taxiando na Base Aérea de Peterson (Colorado) em abril de 1988. Já se passaram mais de vinte anos e os Stratotanker continuam sendo a principal força de reabastecimento da USAF (FOTO: Poder Aéreo/G. Poggio)
Os KC-10 foram entregues entre 1979 e 1987 e podem aguardar um pouco mais. A grande preocupação está exatamente com a frota de KC-135 que, além de ser mais numerosa, é mais antiga. A USAF recebeu o seu último KC-135 em 1965 (!).
Tudo o que podia ser feito para esticar a vida operacional do KC-135 da USAF já foi feito. Qualquer nova modernização destes aviões traria custos enormes para ganhos muito pequenos. Alguns dos KC-135, já cinquentenários, terão que ficar no solo em breve para a segurança das tripulações e das operações. E quando os reabastecedores não voam, a USAF também não voa, a não ser para defesa do próprio território (“Homeland Air Defense”).
Quando a frota de aeronaves reabastecedoras para, a aviação de combate também para. O que seria dos B-52, B-1B e B-2 sem reabastecimento aéreo? Como a USAF poderia fazer para deslocar rapidamente vários esquadrões de caças F-15 e F-16 para outro continente, como ocorreu na Guerra do Golfo de 1991?
Um B-1B aproximando-se para o pouso. Ao fundo, nas montanhas, o sistema de defesa do espaço aéreo norte-americano NORAD. Sem os “KCs” a frota de bombardeiros estratégicos perde grande poder (FOTO: Poder Aéreo/G. Poggio)
E não é só isso. A frota de reabastecedores também realiza muitas missões de transporte estratégico ou fornece combustível para que estas missões de transporte estratégico alcancem pontos mais distantes no globo. Como um C-5 Galaxy poderá chegar até o Iraque, de forma rápida, sem o reabastecimento aéreo?
A concorrência atual
Pode-se dizer que a concorrência do KC-X virou um verdadeiro embróglio, coisa típica de país do quarto mundo… A briga é de cachorro grande e envolve muito dinheiro. São 179 aviões a um custo estimado em 35 bilhões de dólares.
No final, a concorrência se resume ao KC-767 Advanced (uma variante do 767-200) da Boeing contra o KC-30B (derivado do Airbus A330-200) da Airbus, em associação com a Northrop Grumman.
Um pouco de lobby e política não faz mal a ninguém. Mesmo porque estes movimentos até garantem a existência das verbas para a conclusão dos programas. Mas este caso parece ter ido além do admissível, colocando em risco todo o processo da concorrência. E, mais do que isso, arriscam-se os interesses estratégicos dos próprios EUA, uma vez que os velhos KC-135 não aguentam mais.
Depois de ter cancelado o programa em duas oportunidades, a USAF recentemente relançou uma versão provisória do que seria o novo RFP (request for proposals). Novamente surgiram questionamentos. Desta vez é o consórcio Airbus/Northrop Grumman que acusa favorecimento ao concorrente. O embróglio da disputa pode ter atingido seu ápice no último dia 1º de dezembro, quando a Northrop Grumman informou o Pentágono de que estava se retirando da competição.
Em carta encaminhada ao Sr. Ashton Carter, o chefe de aquisições para o Pentágono, o CEO da Northrop Grumman, Wes Bush, informou que o DoD (Departamento de Defesa dos EUA) apresenta uma “nítida preferência” por uma aeronave menor e mais simples, com limitada capacidade multifuncional. Além disso, foram apontados encargos financeiros para a companhia “que nós simplesmente não podemos aceitar”, completou Bush.
Os problemas da concorrência KC-X devem esticar a vida dos atuais KC-10 até o limite, fazendo com que os mesmos voem além do programado (FOTO: Poder Aéreo/G. Poggio)
Com a saída da Northrop Grumman, apoiada pela Airbus, sobrou somente a Boeing. Será que a companhia de Seattle já levou essa concorrência bilionária?
NOTA: comentários podem ser feitos no post em aberto com o título “Um novo “KC” pelo amor de Deus!”