‘O Gripen é ótimo. A concorrência está falando besteira’, diz Saab
Em entrevista ao site de VEJA, vice-presidente da companhia que venceu a licitação dos caças afirma que uma boa aeronave não precisa ser 100% nacional e ainda alfineta seus concorrentes: o Gripen é melhor
Na última quarta-feira, o governo brasileiro causou surpresa ao anunciar, após cerca de duas décadas de espera, o nome do fabricante dos caças que vão reequipar a Força Aérea Brasileira (FAB). As atuais aeronaves que servem a Aeronáutica são os sucateados Mirage 2000, que se aposentarão em 31 de dezembro. A sueca Saab foi a empresa escolhida para o contrato de cerca de 4,5 bilhões de dólares do Ministério da Defesa — e deverá desenvolver 36 caças para a FAB.
As aeronaves Gripen NG ainda estão no papel, o que as deixa atrás das concorrentes do contrato, Dassault (com o Rafale) e Boeing (com o Super Hornet F18), no quesito horas de voo. Mas o governo brasileiro insistiu que se tratava do melhor custo-benefício para o país, tendo em vista que o Gripen custará menos e sua manutenção é mais barata.
Após o anúncio da decisão, a companhia francesa e a americana demonstraram frustração, em notas enviadas à imprensa. Mas os franceses foram além, afirmando que o Gripen não pode nem ser comparado a um Rafale. Em entrevista ao site de VEJA, o vice-presidente de Aeronáutica da Saab, Lennart Sindahl, afirmou que a Dassault não tem razão. “Eles estão dizendo besteira. O Gripen carrega mais munição, tem um radar melhor, é mais acessível financeiramente, o que vai consumir menos dinheiro do contribuinte brasileiro”, afirmou Sindahl. Confira trechos da entrevista.
A decisão do governo brasileiro os pegou de surpresa?
Não diria que foi completamente de surpresa. Mas nós estávamos começando a discutir a possibilidade de a decisão ser tomada no ano que vem. No dia do anúncio eu estava com a força aérea sueca fechando um contrato de venda de 60 aeronaves Gripen. No momento em que saí da reunião, comecei a receber mensagens do Brasil informando que algo havia acontecido sobre a questão dos caças. Duas horas depois, recebemos uma carta do governo afirmando que havíamos sido selecionados. Claro que ficamos muito felizes.
O Gripen é um caça que contém muitas partes feitas em outros países, como Estados Unidos. Alguns analistas dizem que metade da aeronave é estrangeira. Como vai se dar o processo de transferência de tecnologia considerando essa questão?
O Gripen é uma aeronave sueca no sentido em que estamos em total controle de sua tecnologia e produção. O que fazemos diferente com o Gripen é que selecionamos nossos fornecedores cuidadosamente em cada segmento. E é uma das razões que faz com que possamos produzir um caça tão bom quanto os outros, com o preço substancialmente mais favorável. A maior parte dos nossos concorrentes prioriza um produto 100% nacional. Mas isso também significa que o caça fica mais caro em todos os sentidos, inclusive na manutenção. Vou pegar o exemplo do trem de aterrissagem. Em vez de construirmos na Suécia, vamos ao maior e melhor fornecedor para comprá-lo. Vamos ao fabricante que só sabe fazer trem de aterrissagem. É um pouco o que a Embraer faz. Só assim se consegue sucesso no negócio da aeronáutica, quando se tem bons fornecedores. Poderíamos fazer tudo sozinhos, mas sairia muito mais caro e o resultado não é, necessariamente, melhor.
O fato de ser uma aeronave com tantos componentes de fora não tira da Saab o controle, de alguma forma, sobre essa tecnologia?
Não. Temos o total controle. Isso significa que quando trabalharmos com o Brasil, não haverá nada escondido dos olhos e ouvidos dos brasileiros. E ninguém precisará pedir permissão a outro país para modificar o produto. Os caças entregues à FAB serão de total controle dos brasileiros.
Mas as turbinas, que são parte importante da aeronave, por exemplo, são da GE.
Por mais estranho que pareça, a turbina de um caça é uma commodity. É possível comprá-la de muita gente. Isso significa que se a Saab precisar de uma turbina mais potente, ela vai até a GE e a encomenda. Já os franceses ficam à deriva porque não têm como comprar. Os únicos que usam a turbina do Rafale são os caças Rafale. Para melhorá-la, é preciso desenvolver uma nova. Nós temos uma longa tradição de trabalhar com turbinas americanas e nunca tivemos problemas de qualidade, fornecimento, restrições de exportação.
A Dassault reafirma que o Gripen é muito inferior ao Rafale. Em quê, exatamente?
Desculpe dizer, mas acho que os franceses estão dizendo besteira. Poderia sentar e discutir com eles todos os aspectos das duas aeronaves. Mas, no final, há um aspecto, apenas um, em que o Rafale é melhor: o fato de ele poder carregar armas nucleares. E o Gripen não. O Gripen carrega mais munição, tem um radar melhor, é mais acessível financeiramente, o que vai consumir menos dinheiro do contribuinte brasileiro.
Como será o caça que vai equipar a FAB enquanto o Gripen não fica pronto?
Nós sabemos das negociações que estão sendo tomadas entre a FAB e a força aérea sueca. Há uma possibilidade de entregar caças Gripen CD ao Brasil, que é a geração anterior da aeronave, que é usada pela Suíça, Hungria, República Tcheca, África do Sul e Tailândia.
Quanto o Brasil vai pagar por isso?
Eu não sei. A discussão é entre as duas forças aéreas. É um negócio separado que não tem a ver com a Saab. E é difícil dizer o preço porque isso depende dos componentes dos caças. Se há armas incluídas no pacote, se há treinamento de pilotos. Esses detalhes nós ainda não sabemos.
A Saab vai financiar os caças para o Brasil?
Não se trata exatamente de um financiamento. Mas consta da proposta a possibilidade de o Brasil começar a pagar apenas quando a última aeronave for entregue, em 2024.
E o Brasil vai adotar essa cláusula?
Ainda não temos nada definido. Tudo será discutido em 2014.
A planta da Saab será em São Bernardo?
Ainda vamos selecionar as indústrias parcerias. O que sabemos é que teremos uma planta em conjunto com a Embraer e vamos trabalhar com a Akaer no design do Gripen. Teremos uma planta em São Bernardo, sim. Mas ainda não definimos que tipo de equipamento, exatamente, será fabricado lá.
FONTE: Veja (reportagem de Ana Clara Costa)
FOTOS: Saab
COLABOROU: Marcos
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Pois é, a coisa foi surpresa para todo mundo, até para a Saab.
Como disse lá atrás, o que precipitou a decisão de Dilma foi a humilhação a que foi exposta por Hollande ao visitar Lula.
Esse C.O da Saab é muito educado até para falar algo da Dassault o cidadão não joga sujo.Já os franceses né…?
Estou me sentindo como se tivesse ganho o presente de Natal que desejava: a definição pelo caça, principalmente sendo o Gripen.
Além disso as notícias retalhadas completam o principal, como alguns detalhes do futuro negócio, dos tampões e do aparente encaminhamento dos KC-767.
Amém!!!
O que sempre me impressionou nos Suecos e Nórdicos, foi o profissionalismo e a competência, eu ja tive algumas experiências, inclusive com a Eriksson, e posso afirmar que sempre fiquei satisfeito não só com a tecnologia dos produtos, mas com o atendimento e suporte.
Não tenho dúvidas, foi a melhor escolha, e se a Embraer tiver competência, vai conseguir em breve não só melhorar seu menu de aviões civis, como desenvolver seu próprio caça, inclusive quem sabe um para treinamento.
Sds.
PessoAl do PA: parabéns pelo novo banner.
Ficou excelente mesmo!
Galera do P.A, será que não rola um comparativo entre as capacidades gerais do GRIPEN E DO F-5?
Só pra gente ter uma noção da evolução em termos gerais?
Abs.
Interessante notar que essa matéria é o destaque da página inicial do site da Veja neste momento:
http://veja.abril.com.br/
Será que o Gripen irá aparecer como capa de alguma destas revistas de grandes massas?
Du måste svälja mig!
(Vocês vão ter que me engolir !) Ao menos é o que diz o tradutor do google…
Sr. Sindahl, o Gripen é ótimo, sim. Mas só as Suecas são maravilhosas ! Aliás, até agora, ninguém do Poder Aéreo investigou se elas estão no pacote de transferência… Pode ser de “prateleira”, não precisa ser “fabricação nacional”…
Simples e conciso.
Um verdadeiro soco no estômago dos críticos e croasant’s que terão que engolir a seco o NG.
Sds.
Curioso como logo no primeiro parágrafo já dava pra notar que se tratava de algo publicado na veja. Não fazem nem questão de fingir isenção como seria de se esperar de jornalistas.
SENHORES EDITORES ! EXTRA ! EXTRA !
http://oglobo.globo.com/pais/suecia-confirma-envio-ao-brasil-de-modelo-mais-antigo-de-caca-11127544
Em relação ao duelo escandinaia versus dassault, basta comparar o que efetivamente a Suecia já nos propiciou em tecnologia e o descaso dos franceses com nossos mirage. Quantos misseis a FAB conseguiu disparar com os desdentados mirage (perdão Justin, não é nada pessoal)? Naquele malfadado episódio do avião venezuelano, porque só conseguimos interceptar com um único 103 dotado apenas com canhão orgânico? Por que a outra aeronave do único elemento em alerta mal conseguiu decolar e teve que abortar o voo? Talvez tenha sido esta a única missão de interceptação real exercida por eles no Brasil e foi um verdadeiro… Read more »
Realmente, Mayuan. Para quem lê e não entende vai pensar que a FAB conta apenas com aeronaves Mirage 2000 em seu inventário.
O viking já manja tudo de Brasil.
De forma sutil acusou seus adversários derrotados de praticarem o famoso “chororô de perdedor”.
Gostei desse cara.
O que mais gostei sobre a vinda do Gripen é que ele ainda nem chegou e já fez seu primeiro abate: o eterno mimimi (justo ou injusto) de muitos aqui no forum. Acho que mudamos todos pra melhor.
Gripen C/D chegando. Já é muito bom e já vai calar a boca da dassault.
A humilhação da Dilma pode ter pesado muito, mas, mais do que isso, pesou o período do ano. Solta no meio dos feriados, a notícia será esquecida rapidamente.Se tiver repercussão positiva, eles retomaram ela como alavanca eleitoral. Se for negativa, teria sido lançada e esquecida antes do período eleitoral.O limite era agora. Tenha certeza: motivou a decisão não a preocupação com a FAB e com a segurança, mas a preocupação com a repercussão que a decisão, ou, o que seria pior, a indecisão, poderia tomar na corrida eleitoral. Os franceses perderam uma ótima oportunidade de ficarem calados. Lição: em jogo… Read more »
“Nós temos uma longa tradição de trabalhar com turbinas americanas e nunca tivemos problemas de qualidade, fornecimento, restrições de exportação.”
Err… Conta outra!!!
A “turbina americana” foi o motivo central pelo qual o antecessor do Gripen, o JAS-37 Viggen, não foi exportado p/ a Índia.
No mais, tdo nos conformes, mas olho vivo c/ a Embraer.
Acredito que somente Venezuela, Coreia do Norte e Iran (teriam restrições de exportação).
No mais, aguardando o desenvolvimento das negociações do contrato. 🙂
[]’s
“Não se trata exatamente de um financiamento. Mas consta da proposta a possibilidade de o Brasil começar a pagar apenas quando a última aeronave for entregue, em 2024.”
Fui só eu que vi isso aqui? Última aeronave em 2024?
Os prazos não vão depender do contrato? Na entrevista de Amorim e Saito se falou em 48 meses para a primeira entrega e se especulou 12 caças por ano, se isto se confirmar, o período de entrega seria entre 2018 a 2020.
“champs em 21/12/2013 as 8:29 Fui só eu que vi isso aqui? Última aeronave em 2024?” Champs, Certamente tudo isso vai ser negociado, e datas diferentes vão pulular entre uma e outra fonte, assim como enganos. O que a Saab havia divulgado em Brasília, numa apresentação para políticos no início deste ano, é resumido no cronograma abaixo, que mostra entregas estendendo-se por sete anos (a maior parte no terceiro e quarto anos) e primeiro pagamento após a última entrega, ao qual se segue cerca de 14 anos de pagamentos. Assim, se pensarmos nesse cronograma, caso uma primeira entrega de umas… Read more »
Colombelli frisou o que eu já havia dito aqui, quando da visita do Hollande. É isso aí, decidiu simplesmente porque era a melhor hora pra decidir.
Quanto à tão criticada (pela imprensa leiga ou tendenciosa) “turbina” norte americana, faltou o cara da Saab dizer que pelo menos 80% (OITENTA POR CENTO) da FAB voa, DESDE 1940, com motores norte americanos. E que nem na ditadura isso foi um problema.
De Super Tucano à Hércules, passando por Blackhawk, é quase tudo GE ou PW.
Além disso, quem acompanha sabe que o Gripen NG pode usar tanto a GE 414G quanto a EJ200 da Rolls-Royce.
Pois é Almeida, até a Venezuela consegue voar seus F-16 com turbina americana.
Vejo esta história de componentes americanos há anos.
Mas nós não só operamos aeronaves com estes componentes aos montes, como ainda as fabricamos com eles e exportamos para terceiros.
Os EUA iam nos vender F-18 se quiséssemos, cheios de componentes americanos.
Será este alarmismo não é um pouco demais?
O pior é que a realidade insiste em desmentir esta história, mas o assunto tem os seus fiéis e a discussão retorna.
Valeu Nunão, realmente o prazo casa com da apresentação da Saab.
Em relação à Suécia, eu não tenho dúvida que eles podem estender suas encomendas, existem matérias sobre o Gripen NG, aqui mesmo no Aéreo, que falavam em encomendas para Suécia a partir de 2022.
Para os suecos não existe pressa alguma em receber estas aeronaves, já para nós, considerando o calendário de desativação do F-5 (2017 até 2025), em 2024 já precisaremos estar no segundo lote de Gripens.
Sds
O Gripen pode não ser essa maravilha toda, que alguns pensam:
“Brazilian officials say they chose Gripen E for its price (credible), for its performance (“barely sufficient”) and for its industrial offsets (dubious end result).”
(http://www.defense-aerospace.com/articles-view/feature/5/150434/brazil%E2%80%99s-gamble-on-gripen-offsets.html)
Maurício, tirei essa “pérola” do artigo linkado: ” why Brazil dropped its long-standing preference for a twin-engined fighter to go for the low-cost, single-engined option. “ O artigo é muito interessante, mas não sei de onde o autor tirou a frase acima, logo no primeiro parágrafo. Desconheço uma “preferência de muito tempo” da FAB por bimotores. Simplesmente calhou do F-5 dos anos 70, um caça de baixo custo fabricado pelos EUA, ser um bimotor (havia outras opções disputando com ele), e com condições de aquisição muito vantajosas, assim como foi o Gloster Meteor nos anos 50 (queria-se caças americanos monomotores… Read more »
Nunão,
Mais adiante no artigo, o próprio autor liga essa suposta preferência da FAB, ao risco inerente em voar sobre a Amzônia ou o Pré Sal; em um monreator.
Maurício, Como você diz, é suposta. É muito mais opinião do autor do que requisito da FAB. O que ele fala antes é de uma preferência praticamente histórica (long standing), o que não é o caso nem quando esse “long” é mais curto e foca só no F-X e F-X2, pois no F-X original os bimotores eram minoria e longe de serem os preferidos (eram uma minoria russa), e não adianta ele desviar o assunto mais à frente em relação a um argumento falho dito antes. Essa tese não se sustenta. E, quanto a esse “risco inerente”, acho muito relativo… Read more »