Mectron lança livro dos seus primeiros 20 anos e revela detalhes de seus programas
Alexandre Galante
A Mectron apresentou com exclusividade ao Poder Aéreo/Forças de Defesa na terça-feira (10.12.13), em São José dos Campos-SP, o livro que registra os 20 primeiros anos de história da “missile house” brasileira.
O livro “No caminho da precisão” descreve a história da empresa e de seus sócios, inclusive contando um pouco sobre o “grupo do míssil” que trabalhou no Iraque – prestando assistência numa pesquisa para o desenvolvimento de uma arma guiada – e foi surpreendido pela guerra de 1991, contra o Kuwait.
Durante a apresentação do livro pudemos conversar com três dos sócios-fundadores da empresa, Antonio Rogerio Salvador, Wagner Campos do Amaral e Azhaury da Cunha e também com André Paraná, da Odebrecht Defesa & Tecnologia (ODT).
No bate-papo fizemos muitas perguntas sobre a situação atual da Mectron e de seus programas de desenvolvimento, sua atuação no mercado internacional e as perspectivas da empresa após a aquisição pela ODT.
Começamos perguntando sobre o míssil ar-ar Piranha MAA-1, cujo primeiro lote foi entregue à FAB. Segundo os diretores da Mectron, o desempenho do míssil foi considerado satisfatório pela FAB e agora a empresa se dedica ao desenvolvimento do MAA-1B (Bravo), que terá melhores capacidades que a primeira versão.
Ao perguntarmos se o MAA-1B não compete com o A-Darter, foi dito que os dois mísseis são de nichos diferentes. O MAA-1B é mais barato e visa o emprego em aviões de combate de gerações mais antigas, enquanto o A-Darter se destina a caças de 4a. geração.
Com relação ao míssil antirradiação MAR-1, a Força Aérea do Paquistão também está satisfeita com o desempenho do arma e agora a Mectron trabalha para integrá-la ao caça chinês JF-17 (FC-1). A Mectron desenvolveu um planejador de missão e simulador de sequência de lançamento para os pilotos dos Mirage-III/ V ROSE paquistaneses, que permite o treinamento de todos os procedimentos para missões de supressão de radares inimigos. O painel do planejador é idêntico do Mirage III/5 modernizado pelo Paquistão.
Depois do bate-papo, fizemos um tour por algumas instalações da Mectron e pudemos conhecer a sala de integração de sistemas na qual o engenheiro Antonio Salvador brincou conosco apontando para uma caixa e dizendo: “Você pode não acreditar, mas dentro daquela caixa existe um Mirage 5”. Ele depois explicou que o “bus” de dados do Mirage 5 paquistanês estava ali dentro, possibilitando a integração do míssil nas instalações da Mectron. Quando o míssil foi levado para o Paquistão e plugado no Mirage 5 do Paquistão, funcionou perfeitamente!
Quanto ao míssil anticarro MSS1.2 AC, a Mectron está entregando um lote piloto de testes para o Exército Brasileiro (EB) homologar, enquanto o Corpo de Fuzileiros Navais deve receber um lote de combate. O CFN também está participando dos testes de tiro de homologação do EB.
Com relação ao míssil antinavio MANSUP, o desenvolvimento prossegue sem percalços e o próximo passo será integrar uma plataforma de navegação inercial nacional. O MAN-1 será totalmente compatível com o Exocet MM-40, usará as mesmas interfaces e será totalmente compatível com seu lançador. Desta forma o MANSUP poderá substituir o MM-40 com facilidade e custo baixo, o que facilitará a exportação para países que já empregam Exocet.
Após o desenvolvimento do MANSUP mar-mar, deve ser desenvolvida a versão ar-mar para lançamento a partir de aeronaves.
Uma empresa inspiradora
Os fundadores da Mectron, formados no ITA, após terem assistido à falência da Engesa e ao quase fechamento da Avibras, decidiram mesmo assim abrir uma empresa em 1991 para oferecer soluções de automação industrial no Vale do Paraíba em São Paulo. A ideia inicial não era participar mais de projetos militares, pois a experiência anterior não tinha sido boa.
Mas o destino prega peças e a Mectron foi convidada pela Marinha para desenvolver a modelagem em software que testou os sistemas antiaéreos oferecidos para a modernização das fragatas classe “Niterói”.
A Mectron depois acabou pegando a continuação do desenvolvimento do míssil Piranha, que já tinha passado por duas empresas, DF Vasconcelos e Órbita, que faliram. Mais tarde a empresa também foi encarregada de continuar o desenvolvimento do antigo míssil anticarro Leo, que virou o MSS1.2.
Enfrentando crescentes crises econômicas, alta inflação, a falta de investimentos e encomendas, a Mectron esteve diversas vezes perto de fechar, mas persistiu e conseguiu sobreviver devido à confiança e dedicação de todos os seus profissionais.
De 2007 a 2011, a Mectron conseguiu o apoio do BNDES, o que permitiu um maior aporte e melhor governança para os projetos da empresa. Com a aquisição pela Odebrecht Defesa & Tecnologia em 2011, a Mectron agora poderá crescer e disputar o acirrado mercado internacional de mísseis guiados.
VEJA TAMBÉM:
Prefiro aguardar o livro do FF*.
* Ten. Cel. Av. Franco Ferreira
Interessante. Certamente entrará na minha lista de compras, quando estiver disponível, junto da nova edição nacional de O Grande Circo.
A Mectron é uma prova de que se o governo resolve investir, temos total condição de desenvolver uma completa indústria de defesa, basta querer.
Interessante o Mirage modernizado paquistanês. Aquela sonda deve ser a mesma que Israel empregou nos Kfir e Phantom e que foi empregada no AV-8C dos Marines.
O prefácio será escrito pelo Maurício!
(Não resisti…)
Off-Topic: Embraer vende uma centena e meia para a American.
Clésio,
De fato, não só as soluções para essa modernização do Mirage paquistanês são interessantes como gostei bastante da narrativa sobre a integração do MAR-1 ao caça.
O trabalho no Iraque não deu em nada, se é que mesmo sem a guerra daria em algo, mas aí o governo brasileiro bonzinho, junto da FAB, apareceram e levaram o pessoal pela mãozinha; aliás continuam levando.
Assim é fácil brincar de fazer míssil, c/ o governo provendo tanto fundos como tecnologia.
Agora então, atrelada a principal empreiteira, a favorita da petralhada, vai ficar difícil é prover tecnologia; pq o din-din tá logo alí fácinho.
Eu gostaria de saber é o que a OD&T planeja para a Mectron nos próximos cinco…. dez anos… quanto vai investir, que projetos estão na pauta, etc.
Pegar o carro com os pneus novos e o porta malas cheio de verbas do BNDES e do GF eu também sei fazer….
No mais, parabéns ao Galante pela matéria !
Sds.
Lamentáveis como sempre, o comentário de alguns. Parabéns à Mectron que ainda bem não pensa como muita gente e acredita que dá para fazer alta tecnologia no Brasil. Como se nos Eua, todas as verbas para desenvolvimento de armas não viessem do governo. Será que seria muito pensar antes de Escrever?
Que chato isso…
Mas a maioria tem comentários que valem muito a pena ler.
Concordo com você Marcelo! lamentável alguns comentários.
Fato é que a Mectron é uma empresa feita por brasileiros, que se arriscaram desde o começo na tentativa de produzir conhecimento e tecnologia.
Empreender no Brasil no setor de Defesa é praticamente suicídio, e os criadores da Mectron foram “loucos”, audazes e corajosos para fazer o que tantos outros seque se arriscariam.
Eu acredito que muitos têm uma visão limitada sobre a Mectron porque a empresa pouco divulgou sua história e seus desafios ao longo desses anos.
Infelizmente, por causa da sensibilidade do tema e de limitações contratuais, muitas informações não podem ser passadas.
Mas agora com a aquisição pela ODT esperamos que a Mectron passe a divulgar mais informações sobre seus projetos.
Não podemos nunca esquecer que o mercado internacional de defesa é disputado com unhas e dentes e nunca houve o menor interesse dos concorrentes dos países centrais de que um país do hemisfério sul tivesse uma indústria de mísseis.
“Será que seria muito pensar antes de Escrever?”
Que tal começar por vc???
“…e acredita que dá para fazer alta tecnologia no Brasil.”
Nossa como estou ancioso para que este dia chegue!!!
Pq até no momento a “alta tecnologia” em questão ou é antiga, das próprias ffaa; ou é da Denel; ou é antiga e da MBDA.
“Como se nos Eua, todas as verbas para desenvolvimento de armas não viessem do governo.”
a) as verbas veem do governo e são p/ atender as necessidades percebidas das ffaa.
b) lá existe concorrência.
Este tipo de negócio é altamente competitivo. Uma empresa como esta não pode se dar ao luxo de estar tecnologicamente defasada e de creditar sua sobrevivência exclusivamente às benesses do governo. O MAR foi uma aposta que parece ter dado certo e conquistou um nicho no mercado internacional tendo em vista que alguns países não têm acesso a mísseis congêneres, ou se têm, apostam na diversidade de fornecedores. Não acho interessante o desenvolvimento paralelo do Piranha II e do A-Darter. Tudo bem que o Piranha I é de um outro segmento, mas o Piranha II e o A-Darter são do… Read more »
Com a devida vênia, parece que seu conhecimento nesse segmento permite especular a possibilidade do desenvolvimento de um míssil balístico de alcance intermediário utilizando o motor S-50 desenvolvido na parceria AEB/DLR, que esta sendo montado pela Avibrás para colocação em órbita de microsatélites. Construído em polímero, propelido por combustível sólido, pesa cerca de 13 tons. Poderia transportar uma ogiva termobárica ou caso haja vontade política até mesmo uma similar da “W-87”. Um vetor desses traria um elemento de dissuasão em toda a “Amazônia Azul”.
Bosco,
O piranha 2 nao seria de 4 geracao e o ADarter de quintA?
Sds
GC
O calcanhar de aqules para a Mectron, é a incapacidade de as FAs brasileiras darem o devido suporte na forma de encomendas sustentadas de seus produtos. O MAR-1 por exemplo só segue em frente por causa do Paquistão. E o A-Darter? Será que a FAB vai encomendar mais que as 2 dúzias que normalmente encomenda quando faz uma “grande” compra de lote de misseis? No mais, considero a Mectron uma empresa verdadeiramente estratégica de Defesa. Deve receber sim suporte por parte do Governo na forma de recursos para desenvolvimento de novos produtos e encomendas sustentadas para suas FAs. E torcendo… Read more »
Mas a Mectron não havia falido e os projetos de propriedade intelectual da FAB não haviam sido transferidos para a SIATT?