FAB: gigante do transporte, nanica no combate
Características geográficas e geopolíticas definem o perfil da Força Aérea
Todos os anos a publicação britânica ‘Flight International’ edita o volume com o nome ‘World Air Forces’, ou simplesmente WAF para os mais íntimos. Por costume, eu leio esta edição todos os anos. Procuro sempre me atualizar do que se passa pelas forças aéreas do mundo ao longo do ano, mas ali encontro um resumo de tudo.
Vez por outra encontro alguns erros, como números extrapolados para mais ou para menos, alguns dados desatualizados e até alguns critérios classificatórios com os quais eu não concordo. Mas, no geral, é uma boa fonte de consulta.
Antes da publicação apresentar os números de cada força aérea, é feito um balanço mundial e regional. Há comparações do tipo: força aérea com mais aeronaves, com mais caças, com mais helicópteros, com mais aviões de transporte, etc. Ao todo são seis categorias, sempre listando um “ranking” com as dez primeiras.
Das seis categorias o Brasil aparece na honrosa sexta posição em duas: aviões de transporte/reabastecimento e “missões especiais” (ver tabelas abaixo). A primeira é fácil de entender, mas a segunda inclui aeronaves das mais diferentes classes, incluindo missões SAR, calibração, reconhecimento, vigilância marítima, AEW&C, etc.
Primeiramente, vamos avaliar a sexta posição no ranking de aeronaves de transporte. Ali o Brasil aparece com uma frota de 142 aviões, que representa 3% da frota mundial. Na frente do Brasil estão potências mundiais como EUA, Rússia e China que também são três países de larga extensão territorial. A Índia, ocupante da terceira posição, também é um país grande e possui uma Força Aérea em expansão. Quase empatado com o Brasil está a França que, segundo levantamento desta publicação, possui apenas quatro aviões a mais que nós.
Aqui está uma das distorções da publicação. Ela não considera as aeronaves de transporte VIP. Sendo assim, as aeronaves do GTE (Grupo de Transporte Especial – com sede em Brasília e responsável pelo transporte das autoridades do país) não entram na conta. Mas se os aviões VIP fossem considerados (são 17 só no GTE), o Brasil subiria pelo menos uma posição no ranking “transporte” (Fica a pergunta: e se fosse feito um ranking só de aviões VIP das Forças Aéreas? Será que estaríamos em primeiro?).
Olhando agora para a posição do país no ranking do grupo “missões especiais”, os cinco primeiros países são praticamente os mesmos, com apenas o Japão ocupando o segundo lugar (muito em função da sua grande frota de aviões de patrulha marítima) e a França não mais aparecendo entre os dez primeiros.
Considerando esta mesma classificação em anos anteriores, vê-se que a posição do Brasil nestas duas categorias variou um pouco, mas sempre esteve no topo dos respectivos rankings (embora com mudanças de critérios em alguns anos). Focando apenas no grupo de aeronaves de transporte, poderíamos dizer que o Brasil é uma potência? Na verdade não. A necessidade de uma aviação de transporte robusta e diversificada está fortemente vinculada às características geográficas do país.
Primeiramente trata-se do quinto maior país em extensão territorial. E em segundo lugar, perto de 50% do território está inserido na “Amazônia Legal”, uma área desprovida de grandes acessos rodoviários, grande número de comunidades isoladas e densa cobertura florestal.
Então temos uma capacidade de transporte aéreo adequada para as nossas necessidades? Mais ou menos. Esforços como a modernização de parte da frota de C-95 Bandeirante e dos C-130 Hercules são louváveis. Destaca-se também os modernos CN-295, que possivelmente terão outras encomendas em breve. Não posso deixar de mencionar que o maior programa aeronáutico do país é de um novo avião de transporte: o jato KC-390. Mas, como foi mencionado acima, a realidade é que um grande número de aviões de transporte (para não dizer os mais modernos) serve somente às altas autoridades do país.
E quanto à aviação de combate? Acredito não ser necessário dizer que o Brasil não aparece no ranking dos “dez mais”, possivelmente nem mesmo entre os “cinquenta mais” (ver tabela ao lado).
Porém, aqui entra uma questão geopolítica. Olhando para o gráfico das Forças Aéreas em diferentes regiões do mundo (abaixo), percebe-se que a América do Sul é a região que menos possui caças, perdendo até mesmo para a África.
É sabido também que, além da quantidade ser baixa (em comparação com outros países), os caças supersônicos da FAB possuem mais de 30 anos. Na verdade, alguns deles passaram dos 40.
Ora, se a América do Sul é uma região onde “os vizinhos” não são tão fortes assim, por que a FAB deveria ser? Aí cabe outra pergunta. Além da sua defesa territorial, qual é o papel que a Força Aérea (e até mesmo as demais forças) deve ter na projeção do país como um Estado ativamente participante nas decisões mundiais?
FONTE DOS DADOS: Flightglobal
VEJA TAMBÉM:
Legal a matéria, Poggio.
Finalmente temos “reconhecimento” internacional.
Trágico que seja para o transporte de “otôridades”, pq as tropas ainda são transportadas em aeronaves de 30-40 anos. E o KC-390 ainda é projeto (ou lenda? 😀 )
Em Ingles fica mais engraçado: Brazil:Transport Giant, Combat Midget.
A matéria é boa para o contexto de “campanha” pela solução do FX-2…. mas questiono os números apresentados….. Também se mostras as quantidades mas não se fala (e nem poderia…) da disponibilidade destas aeronaves…. sabemos, por exemplo, que dos quatro KC-137 …somente dois tem condições de voo…. e muitos dos C-130 também não tem condições de voo ( O Juarez pode nos informar melhor…) Resumo da ópera….a FAB vive de remendos… e gambiarras….ora aqui, ora ali….. mantem-se os números relativos as quantidades de aeronaves… mas o que importa é a eficiência e prontificação destas…. que na média é muito baixa.… Read more »
Mas Baschera,
Se em termos de prontidão nossa média é menor que isso, o mesmo vale para as demais forças.
No frigir dos ovos dá na mesma, só que com números mais baixos. Ou você acha que todos os aviões de transporte da Rússia, China, Índia e outros que estão na tabela também estão em plenas condições?
Mas falando sério, realmente é incrivel que o Brasil que fabrica aeronaves a jato e exporta a todo o mundo, e participou com a Italia no projeto AMX, mesmo usando motores importados até agora não conseguiu projetar nem sequer um modesto caça supersônico de meio porte. Uma vergonha, mesmo.
Mas falando sério, realmente é incrivel que o Brasil que fabrica aeronaves a jato e exporta a todo o mundo, e participou com a Italia no projeto AMX, mesmo usando motores importados até agora não conseguiu projetar nem sequer um modesto caça supersônico de meio porte. Uma vergonha, mesmo. Prezado “joão.filho” Vamos por partes. A Embraer fabrica aeronaves a jato e exporta a todo o mundo porque existe mercado e este é o negócio que dá lucro para ela. Se caças dessem lucro ela também poderia estar lá, mas o mercado de defesa é bem diferente do mercado civil. Veja… Read more »
A tabela mostra que a Rússia ainda mantém um considerável poder, claro que bem abaixo dos USA, mais ainda assim entre os maiores do mundo.
Quanto a China, está poderosa, mas qual a proporção dos caças mais recentes ??
Quanto ao Brazil, bom, tudo o que posso dizer é a famosa frase do Raeder : Tudo o que podemos fazer é morrer com honra…
KKKKKKKKKKKK !!
🙂
Poggio,
Tenho plena consciência disto….. o que estamos carecas de saber é que a nossa taxa de disponibilidade é sempre muito baixa…. fruto das verbas nanicas e inconstantes.
Aliás, como bem sabemos, isto não é só um “privilégio” da FAB, mas da MB e do EB também !
Sds.
Matéria super legal Poggio ! Carambola a quantidade de avioes e helis de combate na Africa sao bem maiores do que aqui na América do Sul, tudo bem que lá também rola conflitos constantes e aqui é só paz e harmonia (graças a Deus),mas a diferença é considerável !! “Joao.Filho” Se a Embraer após o AMX tivesse se aventurado na construção de um caça teria com certeza feito uma máquina de guerra sem igual MAS a mesma (Embraer) iria à falencia assim como a Engesa foi com o excelente (à época, e creio ser totalmente atualizavel nos dias de hoje,… Read more »
Essas tabelas só mostram o que todo mundo já sabe: A FAB é uma força de Transporte, com capacidade secundária de Defesa(e põe secundária nisso).
[]’s
off topic
Airbus A-350 faz seu primeiro voo.
Aliás, assim já é o Exército com suas muitas centenas de caminhões e viaturas blindadas; a MB rapidinho vai seguir estes mesmos passos.
Seremos a maior capacidade táxi militar do planeta.
Ótima matéria. Vou reproduzir o que escrevi em outro post sobre a questão levantada no final da matéria:
“Não vejo a FAB nos dando proteção contra nossos vizinhos, nenhum deles, pois mesmo em coalizão não tem capacidade de enfrentamento conosco, mas vejo como possibilidade, o uso de territórios vizinhos como uma forma de chegar ao nosso território.”
Aliás até a quantidade de místicos 120 caças acho pouco, até porque nem todos estarão 100% operacionais em 100% do tempo.
Caros editores,
Vejam essa matéria:
http://www5.usp.br/28640/grupo-de-alunos-da-fau-disputa-final-em-concurso-internacional-da-airbus/
Muito boa pesquisa Poggio, parabéns!
E onde está mesmo a sociedade civil que não elabora um projeto de lei de iniciativa popular proibindo o GTE de manter a Colarinho Branco Linhas Aéreas? E a oposição, se está tão preocupada com a moralidade pública e diminuição dos gastos da máquina administrativa, porquê também não faz um projeto similar? Será porque também não vai querer matar a vaca de cujas tetas pretende mamar no futuro? Ah, antes que me encham o saco dizendo que estou fazendo apologia desses ou daqueles, eu também não concordo com o aparelhamento do GTE da forma como se faz nos últimos 20… Read more »
Se o povo fica indignado com 20 centavos a mais na passagem de ônibus, imaginem se soubessem quanto o GTE custa para nós contribuintes e quem tem voado em quais circunstâncias nos últimos 20 anos…
Os lideres brasileiros deveriam ler mais sobre a história da humanidade, falam tanto em ser player global, mais lembrando que não houve nenhum império na antiguidade e hoje sem um poder militar compatível com suas ambições, isso só prova a falta de ambição do Brasil!
Almeida. Não creio que a indignação do povo é apenas com os 20 centavos a mais na passagem mas sim com o crescente sentimento de ser roubado todos os dias, de 20 em 20 centavos por vez. Impostos, altas margens de lucro, salários achatados, tarifas de serviços que só sobem, aluguéis que disparam, tomate com preço de trufa e segue por aí. Os protestos, convém lembrar, também envolvem demandas por passe livre para universitários e fim de dupla função para os motoristas (algo que só enriquece os empresários indevidamente, ao custo da saúde dos motoristas, do aumento da morosidade do… Read more »
Senhores, esse assunto das manifestações sobre preço de passagem de ônibus já está saindo do tópico, que é focado na Força Aérea e o peso de suas aviações de transporte e combate.
Por favor, voltem ao tema, pois ainda que as funções do GTE levem a polêmicas sobre cidadania etc, a relação disso com manifestações sobre preço do busão está longe do foco técnico-operacional do debate.
Beleza Nunão, peço então que desconsiderem os 3 primeiros parágrafos e considerem apenas os 2 últimos, esses sim, dentro da temática do fórum.
O que vocês colegas foristas e editores acham da proposta de mais essa ação cívica do PA? Depois do abaixo-assinado pelos caças, a denúncia de mais esse mal uso de nosso dinheiro por nossa classe política?