‘É um grande momento para pechinchar no mercado de caças’

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Opinião é de um analista do Lexington Institute, citado em reportagem da Reuters que traz também a opinião de executivos de empresas que disputam esse mercado – segundo a matéria, os cortes no orçamento dos Estados Unidos e outros países produtores de aeronaves de combate estão acirrando a batalha para exportações de caças

 

A competição está esquentando no mercado mundial de caças a jato. Segundo reportagem da Reuters, isso está levando a acusações de táticas agressivas na medida em que grandes fabricantes de armas se acotovelam na disputa de negócios de exportação, visando compensar cortes de gastos em seus próprios países.

São aguardadas decisões de compra nos próximos meses, na Coreia do Sul e no Brasil. Também é esperada a finalização de um grande contrato indiano com a França. Tudo isso poderá moldar o equilíbrio de poder no mercado de caças nos próximos anos. A demanda está crescendo devido a um “coquetel” de ameaças regionais, frotas em envelhecimento e grandes receitas com petróleo e commodities, aumentando os recursos de potências econômicas emergentes.

Ainda assim, os fornecedores deverão ter sangue frio em relação aos cortes de gastos em seus próprios países. Altos executivos dessas empresas e analistas disseram à Reuters que a batalha por contratos de exportação está se tornando pesada, em busca de contratos para manter abertas as linhas de produção.

Segundo Hakan Buskhe, chefe executivo da sueca Saab, “a competição está crescendo a cada dia. Eu acho que podemos ver, em diversas áreas, um ajuste de preços.” A empresa compete com a norte-americana Boeing e a francesa Dassault por um contrato brasileiro já bastante atrasado.

Para especialistas e lobistas, fornecedores dos dois lados do Atlântico estão jogando as “cartas do emprego” em casa. Em alguns casos, eles relembram enfaticamente aos políticos que trabalhadores em defesa também votam. Ao mesmo tempo, buscam contratos atrativos para conseguir novas encomendas.

O analista Loren Thompson disse que “é um grande momento para pechincar no mercado de caças.” Thompson é analista de defesa à frente do escritório de Arlington do Lexington Institute, baseado em Virginia, EUA. Os compradores (importadores) também estão ampliando suas exigências de generosas transferências de tecnologias para apoiar suas empresas aeroespaciais locais. Esse é um fator-chave em mercados como a Índia e o Brasil.

Buskhe, da Saab, afirmou também que ficou chocado quando descobriu que seu telefone foi “grampeado” recentemente na Suíça, e passou a tomar precauções extras. Ele disse que serviços de segurança da Suécia fizeram uma investigação, mas não falou sobre os resultados. A Saab produz o caça Gripen, e o acordo para a venda de 22 unidades à Suíça foi visto como um “salva-vidas” para a aeronave, cujo futuro foi posto em questão.

Com o acordo, que ainda pode ser submetido a um referendo popular, a linha de produção do caça fica garantida para a próxima década. Mas o caça é visto como “peixe pequeno” no mercado global, quando comparado a grandes competidores no Ocidente e na Rússia.

Demanda crescente

A situação da Saab, segundo analistas, espelha a indústria em geral. A competição se intensifica com muitos fornecedores do tempo da Guerra Fria procurando por muito poucas exportações. A Saab é um de três fabricantes de caças da Europa. Os outros dois são o consórcio Eurofighter, formado por quatro nações, e a companhia francesa Dassault. Já os EUA e a Rússia têm dois grandes fabricantes cada: Lockheed Martin e Boeing versus Sukhoi e MiG.

Mas o Teal Group, em Virginia (EUA) afirma que a demanda está crescendo. A organização prevê entregas de mais de 2.600 caças, a um valor superior a 174 bilhões de dólares, no período 2011-2021. Assim como as disputas no Brasil e na Coreia, o mercado-chave é o Oriente Médio. Além desses, há uma corrida armamentista em curso no Sudeste da Ásia, alimentada por disputas territorais e preocupações ligadas ao papel da China. Nesses dois mercados, destacam-se Kuwait e Malásia.

Além disso tudo, há uma grande pressão sobre os orçamentos ocidentais, com empresas norte-americanas tendo que lidar com aessa perspectiva. O analista Richard Aboulafia, do Teal Group, afirmou que “pressões sobre os preços estão crescendo na medida em que as linhas de produção estão ficando muito ralas, e há muita preocupação por parte da indústria.”

Caças dos EUA disputando na Coreia do Sul

Autoridades da Coreia do Sul devem visitar a fábrica e a base de testes do F-35 nas próximas semanas, disseram fontes familiarizadas com o assunto. Eles também visitarão a fábrica do F-15 da Boeing. Segundo a Lockheed, mais de 25 países expressaram interesse no F-35, e os executivos da empresa acreditam que a encomenda japonesa do caça deverá persuadir os sul-coreanos a fazerem o mesmo.

Já a Boeing, que tem investido em acrescentar características furtivas limitadas ao F-15, conta com mais de 40 anos de laços com a Coreia do Sul, além do preço inferior de seu caça. Mas as apostas não são altas apenas para a Boeing. O F-35 da Lockheed poderá ser o “caça dominante do mundo ocidental nas próximas décadas”, conforme afirmação do Instituto de Estudos Estratégicos do Reino Unido, feita na sexta-feira passada.

Dilema europeu

Essa possível dominação do F-35 representa um dilema para os europeus. Eles podem ser parceiros do F-35, tornando-se mais dependentes dos EUA, ou comprometer-se a construir novas aeronaves apesar da crise orçamentária da região.

Seis países europeus, incluindo dois que são parceiros do consórcio Eurofighter (Reino Unido e Itália) já são parceiros do F-35, enquanto França e Suécia permaneceram, até o momento, afastados de alianças. Ao mesmo tempo, uma grande presença russa na recente feira de Farnborough lembrou a indústria que a Rússia, cujos fabricantes sempre competem em preços, está querendo disputar novos mercados.

FONTE: Reuters (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)

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